“Life is a box of chocolates”, por Ana Rosenblatt

Enviado por Giorgio Xenofonte

“Life is a box of chocolates”, por Ana Rosenblatt

Minha amiga Jô se mudou com a família. Foram morar – ela, o marido e a Rafinha, de um ano de idade – em cima da síndica. Que fumava. Embaixo do quarto da Rafinha. Que era alérgica. Sentiu cheiro de treta?

A Jô me ligou, com sangue nos olhos, “me ajuda a entrar com uma ação pra proibir minha vizinha de fumar dentro de casa”. “Não, miga. Faz o seguinte: compra uma caixa de bombom”.

Comecei a explorar o problema. Descobri que a vizinha também tinha uma bebezinha em casa e que não queria que ela convivesse com a fumaça do cigarro. Por isso ela só fumava em um cômodo da casa – justamente embaixo do quarto da Rafinha.

O que parecia pra Jô um cenário bélico, pra mim era o contexto ideal pra que elas se entendessem. As duas tinham filhas pequenas. As duas concordavam que as meninas deviam ficar longe do cigarro. As duas eram vizinhas. Quem quer investir em treta com vizinho?

Construí junto com a Jô um passo a passo pra que elas tivessem uma conversa produtiva e lá foi ela se apresentar pra vizinha. Levou munição pesada: bombom num braço, Rafinha no outro, sorriso nos lábios, coração acelerado. A Jô é boa de briga, não tava acostumada com esse tipo de abordagem.

Ela tocou a campainha e se apresentou. Apresentou a Rafinha. Conversaram sobre bebês. Conversaram sobre alergia. Tudo correu lindamente. Queria ser uma mosquinha pra ver a cena. Acho que as duas combinaram que a vizinha ia fumar na varanda da sala. Na verdade confesso que não me lembro do combinado. Fiquei tão focada no processo que esse detalhe me escapou. Só sei que as duas chegaram num ponto comum. Foram vizinhas felizes por muito tempo.

A história podia acabar aqui. Só que não. Meses depois daquele primeiro encontro, no meio de uma conversa qualquer, a Jô manda essa:

“Lembra da vizinha do cigarro? Cruzei com o marido dela no elevador. Tava felizão. Tem duas semanas que ela parou de fumar”.

(Post publicado no blog www.mediandoporai.com , iniciativa de 9 mulheres (mediadoras) para divulgar a MEDIAÇÃO e suas possibilidades tanto como alternativa ao excesso de judicialização quanto como maneira de se resolver impasses na sociedade atual)

 
Redação

2 Comentários

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  1. muito legal…

    lembrou-me certa pousada de Terê……………………….

    suíte de 500 a diária, completíssima e com cinzeiros pra tudo que é lado, até no banheiro

    mesmo concluindo que podia fumar à vontade ou em qualquer lugar, como estava com minha esposa que não fuma, resolvi fumar apenas na varanda que também mostrava 2 cinzeiros. Numa olhada ligeira contei 5 cinzeiros no local

    tudo arrumadinho, limpinho, cheirosinho, esposa se sentindo em casa, que bom, e lá vou eu fumar na varanda

    escolho a poltrona do canto, mais ventilada e com puff, e acendo o primeiro

    duas, três, quatro tragadas e trimmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm alô! seu Geraldo?

    sim!

    – estou vendo daqui que o senhor está fumando.

    sim!

    – por favor, seu Geraldo, evite fumar

    como é que é!? dou uma de Gilmar – tem cinzeiro pra tudo que é lado aqui e nenhum aviso de proibição ou recomendação

    – é que a fumaça está invadindo a varanda ao lado, seu Geraldo

    então devo fumar apenas dentro da suíte?

    – não, seu Geraldo, evite também e principalmente

    tá bom

    assim que desligou, peguei todos os cinzeiros e joguei dentro da piscina que ficava logo abaixo da varanda

    – vi daqui que o senhor jogou os cinzeiros na piscina

    sim!

    – fez bem, seu Graldo! decoração quem fez foi minha falecida esposa, fumante, e só de pensar em alterar ou retirar alguma coisa já me partia o coração

    ficamos 7 dias lá e não fumei, nem dentro, nem fora, nem nas visões

  2. Certa feita eu queria

    Certa feita eu queria terminar um namoro e não sabia como abordar o problema, pois a garota era uma boa pessoa e gostava sinceramente de mim. Que fazer, eu havia cansado dela. Então, certo dia, depois de fazermos amor num motel ela acendeu um cigarro. 

    – Porra meu, assim não dá!

    – Que foi benzinho?

    – Chega. Hoje foi o último dia que nos encontramos. Não quero mais ver você. 

    Levantei e vesti a roupa para ir embora. A garota começou a chorar.

    – O que foi que eu fiz.

    – O que você sempre faz. Acendeu esta porcaria.

    – Mas, mas, mas… soluços.

    – Nem mas, nem meio mas. Acabou. Estou com o saco cheio de colocar minha língua num cinzeiro.

    A garota apagou o cigarro e se desmanchou em lágrimas. Fiz ela se vestir e fomos embora, cada qual para sua própria existência. Ela me ligou algumas vezes, mas parou de fazer isto quando afirmei que pretendia ir a Telefônica mudar o número do meu telefone. 

    Isto ocorreu há quase duas décadas. Encontrei esta mesma garota há alguns anos. Ela estava bem casada, feliz e tinha um filho. E havia parado de fumar. 

    As vezes é preciso meter pimenta malagueta e quinino na porra da Box of Chocolates, para que a vida siga um curso melhor.

     

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