“TXAI”, os espíritos da floresta, por Milton Nascimento e por mim

Relembrando esse disco, com outros olhos: agora com os olhos de ver e ouvir. Revisitando letras de músicas e atirando mais uma vez uma “rede protetora” sobre as nossas matas.

 

Txai:
“Mais que amigo,
Mais que irmão
a Metade de mim que existe em você
e a metade de você que habita em mim”

“Que bom que pela vida,encontrei algumas pessoas
que posso chamar de TXAI “

https://www.youtube.com/watch?v=rc0MNd8Y_cs]

 

PEGADAS

Odonir Oliveira

São pegadas essas que deixo aqui

São pegadas as que deixas aí

São incursões de ti em mim

São passos molhados

pelas águas

pelas lágrimas

pela paixão.

Pegadas é só o que se deixa

na natureza, então.

 

“Txai” foi o 25º da carreira de Milton Nascimento, lançado em 1990 com produção de Marcio Ferreira, seu empresário e amigo. O álbum marcava uma nova etapa na carreira de Mílton: a identificação com a música dos índios, num projeto com várias gravações ao vivo feitas no Acre, Rondônia e outros pontos da Amazônia dos quais nem o próprio Milton lembrava os nomes, “tal foi o esquema de viagens”, declarou na época. O disco ganhou muito destaque quando ocorreu no RJ a ECO 92.

https://www.youtube.com/watch?v=P0V5wVcHzaY]

TXAI

Txai é fortaleza que não cai.
Mesmo se um dia a gente sai,
fica no peito essa dor.

Txai, este pedaço em meu ser.
Tua presença vai bater
e vamos ser um só.

Lá onde tudo é e apareceu
como a beleza que o sol te deu
é tarde longe também sou eu.

Txai, a tua seta viajou,
chamou o tempo e parou
dentro de todos nós.

Já vai ia levando o meu amor
para molhar teus olhos
e fazer tudo bem,
te desejar como o vento,
porque a tarde cai.

Txai é quando sou o teu igual,
dou o que tenho de melhor
e guardo teu sinal.

Lá onde a saudade vem contar
tantas lembranças numa só,
todas metades, todos inteiros,
todos se chamam txai.

Txai, tudo se chama nuvem,
tudo se chama rio,
tudo que vai nascer.

Txai, onde achei coragem
de ser metade todo teu,
outra metade eu
porque a tarde cai
e dona lua vai chegar
com sua noite longa,
ser para sempre txai.

Praticamente ignorada em termos fonográficos – afora um pioneiro projeto do percussionista mineiro Djalma Correa em registrar os sons dos índios (mais de 50 horas recolhidas, foi editado apenas um LP pela Philips/Polygram, há 15 nos) e com trabalhos isolados – e independentes – de cantoras-antropólogas autodidatas como Marlui Miranda (que participa agora da faixa “Nozanina”) e Priscila Emmer, o canto dos índios brasileiros – em sua riqueza tão grande quanto o desconhecimento para nossos poluídos ouvidos – tem, graças a Milton Nascimento, em sua grandeza intelectual de estar sempre aberto a grandes causas e movimentos, a oportunidade de ser (re)avaliado por imensas faixas de público que, de outra forma, desprezaria cantos quase guturais, de povos como os Kayapó de A-K Ukere (“Baú Métoro”), Painter (“Hociepereiga”), Yanomani, Waiapi (“Awasi”) e Kampa (“Benke”)

https://www.youtube.com/watch?v=ig-l9Kir93g]

ESTÓRIAS DAS FLORESTAS

A brisa acorda a brasa que dormia 
o rio aquece sua água fria 
onde a onça bebe, a serpente espia 
a mata estranha o que traz o dia 

A lua vai indo, nos deixa sem guia 
sol não aparece e a coruja pia 
a gente se encolhe na manhã vazia 
já não há quem fale e quem é que poderia 

A noite de volta, qual é a magia 
que desperta o medo que eu escondia 
qual é o mistério qual a maestria 
que pára a orquestra em plena sinfonia 

O sol de repente traz a luz tardia 
e a alegria espalha em cantoria 
onde havia espanto só há ousadia 
foi só brincadeira de um curumim.

 

“A citação do curitibano Carlos (Frederico) Marés (de Souza), advogado, ex-presidente de Fundação Cultural de Curitiba, na ficha técnica, como um dos colecionadores (junto ao Núcleo de Direitos Indígenas, Associação dos Seringueiros e Agricultores da Bacia do Rio Tejo etc), é justa. Através de Paulo César Botas, ex-dominicano, ex-diretor da Fundação Cultural, Milton conheceu Marés (batizou inclusive um de seus filhos) e do interesse que Carlos sempre teve pelas causa indígenas (chegou a ser cogitado para presidir a FUNAI e integra ainda movimentos ligados a questões dos direitos dos índios) nasceu, por certo, a semente deste difícil, caro e importantíssimo projeto que agora se consolida. Muito se falará, temos certeza, de “Txai”, um álbum com poucas faixas em condições de serem tocadas no rádio”.

 

Com informações de: http://www.millarch.org/artigo/txai-o-canto-dos-povos-da-floresta-com-nascimento

Imagens da internet

AS GAIVOTAS

Odonir Oliveira

Vejo gaivotas

Trombeteando sementes de flores do campo

Aspergindo perfumes de estrelas cintilantes.

Mas como, se não estamos no mar?

No meu mar

Há rios lagos lagoas

E gaivotas

Livres.

 

https://www.youtube.com/watch?v=_mBF46l79T0]

QUE VIRÁ DESSA ESCURIDÃO

Que dirá a seu filho, o pai? 
Que dirá para a filha, a mãe? 
Que virá dessa escuridão? 
Será bem, será maldição? 

Será Deus ou será mortal? 
Nos trará arma ou missal? 
O punhal fere o coração 
O veneno morde a canção 

Quero saber, mas sem matar 
O que já existe em mim 
Quero conhecer seu mundo, sim 
Se não for perder o meu mundo nu 
O meu mundo de fogo ou cru 

Ou assim, ou me deixe em paz 
Minha casa sem solidão 
Minha mesa de peixe e pão 
Minha tribo, irmã, irmão 
Na aventura que sei viver 
Com segredos que não contarei 
Pra você. 

Que dirá a seu filho, o pai?

 

 

NOZANI NA

por Marlui Miranda

[video:https://www.youtube.com/watch?v=CDdjU3mt480

 

ESPÍRITOS DA FLORESTA

Odonir Oliveira

 

Espíritos domesticam

olhares, sentires e ficares,

pelo cheiro, pelo vento,

pelo sons do mato do sertão.

Espíritos atraem por rochas, por águas, por céus.

Espíritos nas florestas

polinizam almas inquietas.

Para sempre.

 

Milton Nascimento na ECO 92  (do mesmo disco)

[video:[video:https://www.youtube.com/watch?v=d5jk4sG32Ek

 

AQUELA FIGUEIRA

Odonir Oliveira

 

Na vereda

encontrei aquela figueira.

Fiquei ali.

Copa magnífica.

Dos verdes, todos.

De denso, o tronco.

De lastro, histórias

De expressão, singular.

Estáticas, ambas.

Incomum.

Raízes para sempre em mim.

BENKE

Benke, foi um menino da tribo Ashaninka que Milton conheceu quando foi em viagem à Amazônia a convite da “Aliança dos Povos Indígenas”. Houve uma ligação muito forte e bonita entre os dois.

[video:https://www.youtube.com/watch?v=5Hj0wNFHhS8

 

Post dedicado aos espíritos das florestas brasileiras que vagueiam, com seu manto protetor, seduzindo corpos e almas em favor de suas matas.

 

OBSERVAÇÃO: Dedico também ao meu aluno Felipe T. que cursa o 1º ano de engenharia na POLI-USP, SER HUMANO da melhor qualidade. 

Trecho de seu e-mail, recebido nesse instantinho: Bom , agora mais adaptado à Poli , consegui fazer novos amigos , organizar meu tempo de estudo e ser aceito na empresa junior da Poli! Comecei a trabalhar 🙂 

Estou muiitooo animado , principalmente , porque poderei colocar em prática o que estou aprendendo nas aulas. 

Bom , estou muito feliz agora !
E tudo isso foi graças a uma incrível professora que tive, que não apenas me ensinou a escrever, mas também que me motivou a ser um melhor ser humano e a nunca desistir !

Obrigado por ter sido parte da minha vida !!! 
Sem você acho que não estaria onde estou !!”

Do seu eterno aluno,

Felipe T

Querido Felipe, cada gesto seu no caminho do SER HUMANO me engrandecerá, pode ter certeza, viu. Beijo.

 

Redação

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        1. O menino que levitava

          Ao clarear do dia o menino abria olhos arregalados

          de beber o mundo.

          Mas era pouco.

           

          Montava seu cavalo alado

          Como se dançasse com ele.

          Era doce o menino.

          E partia ao encontro de seus marimbondos

          de suas rãs

          e lagartixas.

          Morcegos eram como flores do campo.

           

          A tarde tinha a estrela vésper sempre a sua espera

          E nela menino, cavalo e aventuras seguiam,

          bebendo cada folha, cada árvore, cada trilha.

          Mas era pouco.

           

          Depois, pisar na água era barulho celestial

          Era cócega

          Era música

          Era verso

          Era poesia.

           

          Desmanchar rotas citadinas

          Mergulhar no escuro de grutas cavernas, barcos e estradas.

          Era pouco.

          Porque o menino ria, ria, mas ria tanto,

          que de prazer

          levitava.

           

          E de baixo, em terra firme,

          Ninguém o alcançava.

          E não era pouco!

           

          Odonir Oliveira

           

        2. Vidas desgovernadas

          No colo da noite, em sonhos, minha mãe me veio com voz de nunca esquecer; usou o termo “desgovernado” que era comum em suas frases; lembrou-me também a expressão “trem desgovernado’; fiquei a rememorar suas falas e compreender quão fortes são os signos ,,, mais ainda as palavras cofres que instigam, desvelam, coroam uma vida inteira. Acordei como o trem desgovernado na boca de minha mãe. Minha velha era rainha do fraseado mineiro, dos ditados seculares de seu pai, meu avô, repetidos ‘ad eternum’. Minha mãe e o “trem desgovernado’, então..

  1. O apanhador de desperdícios

     

    Uso a palavra para compor meus silêncios.
    Não gosto das palavras
    fatigadas de informar.
    Dou mais respeito
    às que vivem de barriga no chão
    tipo água pedra sapo.
    Entendo bem o sotaque das águas
    Dou respeito às coisas desimportantes
    e aos seres desimportantes.
    Prezo insetos mais que aviões.
    Prezo a velocidade
    das tartarugas mais que a dos mísseis.
    Tenho em mim um atraso de nascença.
    Eu fui aparelhado
    para gostar de passarinhos.
    Tenho abundância de ser feliz por isso.
    Meu quintal é maior do que o mundo.
    Sou um apanhador de desperdícios:
    Amo os restos
    como as boas moscas.
    Queria que a minha voz tivesse um formato
    de canto.
    Porque eu não sou da informática:
    eu sou da invencionática.
    Só uso a palavra para compor meus silêncios.

    Manoel de Barros em Memórias inventadas para crianças, Ed. Planeta, p. 13

  2. TXAI
    TXAI

    Odonir,

    a floresta, a mística indígena, a Natureza são temas caros ao meu íntimo. Representam, na minha expressão pessoal, conexão importante com o sagrado e alguns dos canais para acessá-lo.

    Quando menina tinha um “amiguinho” que me fazia cia. (fui filha única e depois a mais velha frente a três bebês por alguns anos): um indiozinho. Eu o via e conversava com ele. Mais velha segui fascinada, sempre, pelos caboclos, sua música, sua combatividade sem agressão, sua firmeza sem violência nos cultos afrobrasileiros. Meu amiguinho não mais foi visto à medida que eu cresci, mas está registrado na minh’alma.

    Quando vou para meu retiro anual busco conexão com todos os elementos trazidos em teu post. Piso descalça o máximo que posso a terra, o mato. Amanheço na escuridão da mata com os pirilampos, ouvindo os bugios, sob a observação de aves e roedores que não poderia nomear, porque desconheço as denominações, mas que avisto movimentando-se, prescrutando a presença daqueles humanos em busca de elos, de conexão, do Amor Primordial perdido. Busco a proteção da floresta, nos elementais, nos caboclos, em guardiões de cuja existência sequer desconfiamos. Ao longo do ano, frente à violência do mundo, a energia paulatinamente se dissipa mas a lembrança da conexão – uma vez vivenciada – permanece e no ano seguinte, a resgato, recarregando para uma nova jornada anual.

    Ontem desejei ardentemente estar de volta a este chão que me alimenta. Em busca de paz, de amor incondicional, de serenidade para (re)tomar meu rumo.

    E como uma resposta àquela impossibilidade, me deparo com teu post, tão lindo, tão carinhosamente construído.

    Fui, canção a canção, poema a poema, acalmando meu coração, pelo que te agradeço. Da mesma forma que para mim, Oxalá possa teu post, amorosamente, acalentar outros tantos corações.

    Nozani Na é uma lindeza!

    Obedecendo à regra de ouro de sempre retribuir, te deixo uma canção que costumamos cantarolar sentados sobre a relva – depois de chegarmos ao local em que nos reunimos para celebrar – a pedir respeitosamente permissão para ali estar junto com os que, efetivamente, habitam aquelas paragens e as guardam do desequilíbrio do mundo.

    Acho que já a trouxe aqui, mas segue ainda assim.

    Canção do Indígena

    Um meigo Tuxaua
    Chega até nós
    Unindo as mãos
    Ele ergue a voz
    Em prece de Amor
    E de Alegria
    Espalha ao redor
    Divina energia
    Que trouxe das matas e das cordilheiras
    Dos rios das fontes
    E das cachoeiras
    Das flores, das aves
    De todos os irmãos
    Que habitam a floresta
    Em evolução
    As nuvens se fendem
    Em imenso clarão
    Quando ajoelhado
    Ele beija o chão
    E canta feliz
    Sua prece canção:
    Tupã, Tupã, Tupã
    Tupã, Tupã, Tupã
    Tupã, Tupã, Tupã
    Tupã, Tupã, Tupã…

    1. Sertão das águas

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=gg1qtDWIo_Y%5D

       

      Vem e me abraça me leva
      pra beira do igarapé,
      mapas escorrem das mãos
      que vão me fazer cafuné.
      A vida começa agora,
      ilhas de mel, são rios de mel,
      remansos e correnteza.
      Sertão das Águas,
      o amor quando quer é bater e valer,
      inunda os dias de sol,
      pode chover se quiser.
      Lá no sertão, quando vem a noite chover estrelas,
      pingos de luz, são gotas de luz,
      teus olhos na corredeira,
      sertão veredas do Grão-Pará.
      Sertão canoa das populações ribeirinhas
      que vivem dos frutos da mata
      e que não podem a floresta ver destruída.
      Não venha o fogo queimar,
      nem trator correr, arrastar
      pra que a vida queira pulsar e correr.
      Rede que embala o amor
      e lambuza de tamba-tajá,
      lábios com fino licor,
      sede de se lambuzar.
      O meu pensamento voa,
      chega primeiro a minha voz,
      cai nos meus braços,
      aperta os laços, desfaz os nós.
      O grito dessas pessoas
      no fundo dos seringais,
      devia ser escutado
      em Beléns e Manais.
      Corre nas veias remar e seguir a viagem,
      viver só carece coragem;
      esperança que a paz
      reine na floresta.
      Não venha o fogo queimar,
      nem trator correr, arrastar,
      pra que a vida queria pulsar e correr.
      Sertão das Águas,
      o amor quando quer é bater e valer,
      inunda os dias de sol
      e pode chover se quiser.
      O meu pensamento vai,
      chega primeiro a minha voz,
      cai nos meus braços,
      aperta os laços, desfaz os nós.
      O grito dessas pessoas
      dos fundos dos seringais,
      precisa ser escutado
      em Beléns e Manais.

      Milton e Ronaldo Bastos

       

  3. “Ouça o canto do vento”

    Que os espiritos da floresta a proteja e também tome conta de nossos idiozinhos, ja que os homens, que se consideram tão grandes, tão importates, não sabem o valor de tudo isso. 

    O projeto Txai deveria ser levado às escolas e universidades. O ultimo video, com a linda musica Benke, é exuberante. 

    Parabéns duplo!

  4. YANOMANI e NÓS (Pacto de vida)

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=w22N_qpQ33c%5D

     

    Ter de resistir à dor, à dor. 
    Sem comprender por que à dor, à dor. 
    Ter de suportar viver à dor, à dor. 
    E sem merecer a dor, a dor. 

    Se é esse o meu destino, quem é o algoz que o traçou. 
    Quem me contaminou. 
    Quem me doou a dor. 

    Homem não existe para ser só animal. 
    A sua história é mais que corporal. 
    Abre o sentido para ter, a liberdade. 
    Com todo mundo que é seu igual, 
    e solidário. 
    Pensará… 
    Amará… 
    Sonhará… 
    Saberá… 
    Que a felicidade da cidade não tem que o mato matar. 

    Ai a dor vai nos unir, 
    O fim da dor começa é assim, 
    É o filho que não para de crescer, 
    A fruta que vai madurar, 
    Aquela mão, aquela paz, morena, é aquele olhar 
    Que é sempre, verde verdejá 
    É aquele gesto humano, 
    É aquela voz humana, 
    É aquele amor humano, que chega e diz que vai ficar.

    Milton Nascimento e Fernando Brant

  5. Pintando florestas

    PERALTAGEM

    O canto distante da sariema encompridava a tarde.
    E porque a tarde ficasse mais comprida a gente sumia dentro dela.
    E quando o grito da mãe nos alcançava a gente já estava do outro lado do rio.
    O pai nos chamou pelo berrante.
    Na volta fomos encostando pelas paredes da casa pé ante pé.
    Com receio de um carão do pai.
    Logo a tosse do avô acordou o silêncio da casa.
    Mas não apanhamos nem.
    E nem levamos carão nem.
    A mãe só falou que eu iria viver leso fazendo só essas coisas.
    O pai completou: ele precisava ver outras coisas além de ficar ouvindo só o canto dos pássaros.
    E a mãe disse mais: esse menino vai passar a vida enfiando água no espeto!
    Foi quase.

    Manoel de Barros em Memórias inventadas para crianças, Ed. Planeta, p. 22

     

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=rH75RWWlefA%5D

  6. Nível do Rio Negro desce mais de sete metros em outubro
     

    Do G1 AM

    Rio Negro desceu o total de 7,26 m desde dia 1º de outubro.

    Cenário mudou em partes da capital; Lago do Aleixo secou na Zona Leste.

    A descida dos rios muda a rotina de ribeirinhos e a paisagem em algumas áreas de Manaus. Nesta quarta-feira (28), o Rio Negro baixou  3 cm e chegou a cota de 15,92 m. De acordo com a medição realizada no Porto Privatizado de Manaus, o nível desceu o total de 7,26 m desde o dia 1º de outubro.

    No Centro, Zona Sul e Leste da capital é possível ver o quanto o nível do Rio Negro baixou. Casas flutuantes e barcos de famílias que viviam sobre o rio ficaram encalhados próximo a Ponte do São Raimundo, desde a última semana. Já no Lago do Aleixo, é possível ver a terra – que antes ficava sob a água – rachada. Moradores do local enfrentam dificuldades para pescar e se locomover.

    A redução de chuvas e o calor intenso causados pelo fenômeno El Niño contribuem para a rápida queda do nível do rio, segundo especialistas.

     

    De acordo com o superintendente do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Marco Antônio de Oliveira, a vazante pode durar algumas semanas. “A atenção tem que ser dada para região do Alto Rio Negro, onde só vai finalizar no mês de janeiro ou fevereiro. A tendência é que o rio continue caindo na região de Barcelos até São Gabriel da Cachoeira. Agora, no Rio Amazonas e Solimões já é um final de vazante. O rio não deve descer mais que no ano de 2010, pelo menos por enquanto”,  disse ao G1.

     

    Escolas
    Por conta da cheia e agora da seca dos rios, a solução foi mudar o calendário escolar. Para 3 mil alunos de 29 escolas de Manaus, as aulas começaram em janeiro e vão ser interrompidas no fim deste mês.  A mudança não deve afetar o número de dias de aula.

    “O rio é que manda. A seca e a cheia são elas que fazem com que a gente planeje uma educação que possa atender esses alunos em situação diferenciada”, disse Edilene Pinheiro, chefe da Divisão de Educação da Zona Rural, à Rede Amazônica.

    Descida do Rio Negro em Manaus afeta navegação  (Foto: Leandro Tapajós/G1 AM)

    Navegação
    O emissor de passagens fluviais, Nazareno Marques, de 39 anos, que trabalha na orla da Manaus Moderna – porto no Centro da capital -, afirma que a vazante ajudou a diminuir o fluxo de passageiros nas embarcações.

     

    “A venda deu uma caída por causa da seca e dessa fumaça. Esta muito ruim de navegar. As pessoas estão com medo de viajar. Tem a questão da crise também. Ela afetou essa parte de turismo. P pessoal gostava muito de viajar pra passear, agora atrapalhou bastante.  Atrapalha muito aqui. Atrasa muito as viagens, para longe o barco, fica longe para carregar bagagem até o navio. A gente está esperando uma melhora em novembro e dezembro. Lá pelo dia 15 de novembro o rio deve começar a encher. Ano passado foi melhor, não secou tanto e a crise não estava tanto”, disse Marques.

    Barcos estão atracados em meio a barro na
    Manaus Moderna (Foto: Diego Toledano)

    Com a descida dos rios, bancos de areia se formam e prejudicam a navegabilidade no Rio Negro e em outros cursos d’água. Há 10 dias, a Marinha determinou restrições à navegação em um trecho do Rio Solimões, no Amazonas. A medida, que é parcial, ocorre em razão de risco de acidentes com embarcações no período da seca.

    O capitão dos Portos, Alfred Dombrow Júnior, decretou impraticabilidade parcial no Rio Solimões, no trecho conhecido como Ilha do Meio, que fica situado a pouco mais 85 km (46 milhas náuticas) no sentido do Terminal Fluvial do Solimões (Tesol), em Coari.

    O trecho alvo de restrição é usado como rota por embarcações que escoam parte da produção de petróleo e Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) – gás de cozinha – da província petrolífera de Urucu da Petrobras.

    (*Colaborou Indiara Bessa do G1 AM)

    Vazante do Rio Negro muda paisagem em Manaus (Foto: Leandro Tapajós/G1 AM)

    Marcas na Ponte do São Raimundo mostram onde chega o volume de água (Foto: Leandro Tapajós/G1 AM)

     

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