Aí o personagem cai, cai e cai até se tornar barato. É o chamado fenômeno do “overshooting”, que exagera os movimentos para baixo ou para cima. No momento em que fica barato, as pessoas começam a refazer seu julgamento. Redescobrem virtudes que tinham sido esquecidas e a valorizar os feitos. E aí, entra-se no segundo fenômeno, o da segunda chance.
Segunda chance – Precisaria pesquisar mais para saber como é o fenômeno da “segunda chance” em outros países. No Brasil, trata-se de componente intrínseco no ânimo da opinião pública brasileira. Até Paulo Maluf teve a segunda chance, quando eleito prefeito de São Paulo. Lula conseguiu em pleno episódio do mensalão. Após a maxidesvalorização de 1999, FHC teria conseguido sua segunda chance, não fosse o desastre do apagão. Então, Dilma terá a sua. Especialmente porque mantém intactas várias virtudes públicas (hoje soterradas pelo “overshooting” das manifestações): é tida como séria, responsável, sinceramente empenhada em melhorar o país.
O segundo tempo
Ingressando no segundo tempo do jogo, haverá um duplo sentimento da opinião pública. Terá condescendência com o inevitável; e será rigorosa com tudo o que soe teimosia.
Tenderá a apoiar Dilma nos grandes embates. Mas será implacável se persistirem alguns dos aspectos criticados da sua personalidade: teimosia, centralização administrativa, espírito autocrático, condescendência com auxiliares medíocres.
Para se fortalecer, paradoxalmente Dilma terá que abrir mão de poder. Não se entenda por tal reduzir seu poder de governar, mas o de intervir no dia-a-dia dos Ministérios. Necessitará de Ministros com luz própria para restabelecer a interlocução com os diversos setores da sociedade. Ministros que recebam as orientações de Dilma, agreguem sugestões e se ponham a campo. Em suma, um exército composto por generais com luz própria obedecendo ao comandante maior.
Terá que trazer empresários de peso, figuras de peso do meio jurídico, interlocutores de peso dos movimentos sociais, articuladores de peso nas relações políticas. Especialmente, economistas de peso na área econômica. E pessoas que saibam dizer não, quando necessário.
Não se pode tergiversar com nenhuma vulnerabilidade, por menor que seja, porque a grande batalha ainda nem começou: a da economia. Nos próximos meses, haverá deterioração ainda maior das contas externas. Dilma terá que enfrentar opções complexas, entre crescimento magro, inflação alta e contas externas em deterioração.
Não haverá opção indolor.
Trata-se de desafio que derruba governantes, mas que poderá consagrar estadistas. O grande mérito de Dilma é governar de olho no futuro; sua grande fraqueza é não olhar o presente. Com a crise, ficará claro que o futuro dependerá, mais do que nunca, de conduzir o país nessa travessia atual.
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