Alckmin, a crise da água e o sequestro da técnica pela política autointeressada

Conforme se agrava a crise da água em São Paulo, algumas verdades passam a vir à tona. Ontem, passou praticamente incólume uma história que, se tivesse ocorrido em nível federal, ensejaria um clamor midiático incomensurável pela criação de CPIs, por demissões e, por que não, pelo impeachment do Chefe de Governo. O escândalo em questão é a notícia, veiculada pelo Estadão de ontem com exclusividade, de que a SABESP preparou e apresentou formalmente ao DAEE (órgão estadual regulador) um plano de racionamento do Cantareira ainda em Janeiro deste ano, tendo sido a proposta rejeitada pelo Governador Geraldo Alckmin. Os links para as notícias podem ser acessados aqui: http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,rodizio-de-agua-era-1-opcao-da-sabesp-plano-foi-entregue-em-janeiro,1539913 e http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,alckmin-diz-que-plano-de-rodizio-da-sabesp-para-o-cantareira-e-inadequado,1540347 .

Em outras palavras, ainda que haja uma série de reparos que possam ser feitos à atuação técnica da SABESP, há que se notar que houve, sim, manifestação razoavelmente tempestiva por parte de seus quadros táticos e operacionais a respeito da gravidade da crise. No entanto, esse posicionamento técnico foi desconsiderado e desrespeitado pelos níveis estratégicos da SABESP e pelo alto escalão do governo. A colocação dos interesses políticos imediatos acima dos diagnósticos técnicos não é mais, então, apenas uma hipótese: é a realidade concreta consubstanciada na inacreditável fala de Alckmin contida na notícia publicada ontem: “Alckmin diz que o rodízio da SABESP para o Cantareira é inadequado”.

Por suposto, ainda que reversões de decisões técnicas pelos setores políticos possam vir a ocorrer com absoluta legitimidade a partir do próprio conhecimento técnico que os níveis estratégicos podem vir a possuir a respeito da questão, parece absolutamente  improvável acreditar que a rejeição promovida por Alckmin – e sua decorrente declaração – esteja amparada em divergências técnicas qualificadas por parte do tucano ou de integrantes de sua equipe. Com efeito, não houve a publicação de um contraponto, pelo alto escalão do governo, a esse plano apresentado pela SABESP. Houve um simples “não”, sem conteúdo. Em síntese, uma ação de contornos meramente políticos, no sentido mais pobre do termo – uma escolha focada em vetores eleitorais, concebida a partir de uma estratégia de esgotamento dos recursos hídricos para o cruzamento do rubicão da seca sem que a imagem do governador fosse afetada. Um cálculo com muitos riscos, como percebemos agora.

Causa espécie, evidentemente, que um plano tão relevante como esse – que poderia ter sido aproveitado ao longo dos meses seguintes, conforme a crise se tornava mais dramática – jamais tenha vindo a público até a revelação feita pelo Estadão, ontem. Trata-se, evidentemente, de mais um flagrante da incrível falta de transparência da gestão hídrica empreendida pelo Governo do Estado de São Paulo. Daí, então, se torna bem curiosa – e falaciosa – a declaração de Alckmin a respeito da inadequação de uma proposta elaborada em Janeiro – para as condições observadas naquele momento – para a realidade atual, considerando-se que ele foi obrigado a fazer tal discurso ontem em razão do vazamento da notícia (algo que jamais precisaria fazer se ela não tivesse surgido). Ou seja, Alckmin ainda retorce a eventual qualidade do relatório ao retirá-lo de seu contexto original para mostrar a inviabilidade do racionamento para o momento atual.

O caso é extremamente grave exatamente por nos mostrar a eventual fragilidade das posições técnicas a respeito de temas centrais de política pública diante de uma agenda governamental balizada meramente pelo sucesso eleitoral. E isso é especialmente danoso levando-se em conta todas as repercussões essenciais à cidadania a partir de uma situação de escassez crônica de água. Em outras palavras, se são desconsiderados estudos que significaram um extensivo trabalho intelectual de análise e prospecção a respeito das possibilidades de intervenção em nome de saídas que signifiquem apenas os menores danos à imagem de um governante, então vive-se, de um ponto de vista da agenda estatal, um jogo de mera sobrevivência política no qual o cidadão se torna refém de soluções que apenas casuisticamente poderão lhes ser úteis ou republicanas. Se o domínio técnico não possui qualquer relevância – nem em momentos-chaves como esse – temos, assim, uma gestão dotada de expressivas tendências patrimonialistas.

Em outras esferas da federação brasileira, não seria uma hipótese implausível a ideia de que uma situação similar como essa redundaria em uma catarse midiática incontrolável. E não haveria falta de razão para tanto, ainda que a motivação para tanto viesse a ser o partidarismo senil dos principais meios de comunicação contra certos projetos de governo. Imaginemos se, por exemplo, realmente existisse uma crise energética no Brasil e vazasse agora – nesse cenário hipotético, em que, para fazermos um paralelo com a emergência da crise hídrica, estivessemos a pouco mais de dois meses de um black out incontornável para 40% da população nacional em virtude da falência das hidrelétricas – à imprensa um relatório da ANEEL que propusesse um racionamento controlado de energia durante as madrugadas que assegurasse um nível mínimo, mas real, de segurança energética até o fim da estação chuvosa de 2015. Imaginemos, então, que o fundamentado documento fosse rejeitado pela Presidenta, e classificado por ela como “inadequado”. Quantas denúncias de dilapidação do espaço público nós ouviríamos ou leríamos nas capas das revistas? Quantas solicitações de CPIs seriam protocoladas? Quantos colunistas demandariam pelo impedimento da Chefe de Governo? Pois é. Sim, o silêncio comunicacional que verificamos na realidade estadual – ainda que precisemos reconhecer a importância da notícia trazida pelo Estadão – é apenas uma outra faceta da esfera pública desconstituída de vontade republicana e preenchida, neste momento, pelo interesse eleitoral autointeressado.

Em síntese, o cidadão paulista, nesse cenário de desamparo, precisa ter sorte de que as deliberações tomadas pelo ator político patrimonialista coincidam, valorativamente, tanto com o desejo dele de permanência no poder como com a sua necessidade republicana como sujeito do espaço público e merecedor de políticas que lhe dignifiquem. No caso da crise da água, já sabemos bem o quanto esses pólos estiveram – e estão, cada vez mais – distantes entre si. Também é esse o abismo que separa um agente político que orienta sua práxis para a reeleição e o outro, o seu negativo, que objetiva impactar positiva e historicamente o domínio público. É essa a distância em unidades astronômicas, por exemplo, entre um Alckmin e um Haddad.

Redação

38 Comentários

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    1. Lionel, estaria de acordo se

      Lionel, estaria de acordo se só os entusiasmados eleitores do governador fossem prejudicados com a falta d´água.

      Todavia, penso que o assunto não ganhou maior repercussão porque os bairros nobres e a zona sul são atendidos pela Guarapiranga. Ah! se fosse com eles!

  1. Um inconsequente e mentiroso

    Um inconsequente e mentiroso compulsivo.

    Também causa-me espanto o silêncio das ONGs ambientalistas pelos danos causados aos ecossistemas esvaziados de seus corpos d´água, sejam os rios principais e seus afluentes, lagos e represas do sistema cantareira.

     

     

  2. Pro resto do Brasil ta

    Pro resto do Brasil ta otimo!

    “Os ceus e os deuses” ditaram que nao basta Sao Paulo cair do galho, tem que ser espetacularmente tambem!

  3. Cegos pelo antiesquerdismo

    Há um outro perigo que poucos estão destacando. Conhecida a “valentia” das elites paulistanas, é mais provável que venham inventar uma guerra do que venham a admitir a lambança. Eles sabem muito bem que bateram mais um recorde de incompetência e irresponsabilidade; sabem que foram e estão mais uma vez sendo flagrados na “malandragem” mais vil. E, pra quem se tem em muito alta conta, essa huimilhação é inadmissível; estão mais uma vez dispostos a tudo. Os braços midiáticos já demonstraram do que são capazes. Estão só esperando o sinal das lideranças. Pode ser até que assumam o protagonismo.

    Não há dúvida que é o caso de intervenção federal. Trata-se de uma calamidade de proporções bíblicas. São direitos mais que básicos que a população de são paulo estará em pouco tempo sendo privada.

  4. DATAPRADO

    O Instituto Dataprado de pesquisas e estatisticas divulga a última pesquisa de intenções de votros para a governadoria da Capitania de São Paulo:

    Alquimim……………..94 %

    Skaf……………………3 %

    Maringoni………………3 %

    Padilha…………………2 %

  5. Entrevista com o Geólogo Delmar Mattes
     

    http://www.youtube.com/watch?v=r4v3OBbZ_t0

    Publicado em 08/07/2014http://www.observatorio3setor.com.br São Paulo pode ficar sem água a partir de outubro. O nível do Sistema Cantareira alcançou níveis críticos, obrigando o governo a utilizar o chamado “volume morto” para evitar o desabastecimento. Por que chegamos a esse ponto? A principal causa é mesmo a falta de chuvas? Nesta edição do Observatório do Terceiro Setor, o geólogo Delmar Mattes analisa a crise da água e apresenta soluções para o problema. Delmar é especialista em infraestrutura e controle de enchentes e foi Secretário de Obras e Vias Públicas na gestão Luiza Erundina. 

     

    Programa exibido na NET Cidade de São Paulo em 02/07/2014.

     

  6. E o dia seguinte?

    Gostaria de saber como reagirão os paulistas quatrocentões após as eleições, caso o Alckmin ganhe, quando logo após suas torneiras secarão pelo inevitável racionamento? Tomarão seus régios banhos com canequinhas de prata, nariz empinado e resmungando “não importa, o que importa é que o PT não ganhou”?

  7. Acho que como falaram acima,

    Acho que como falaram acima, isso já é caso para uma intervenção Federal. Podem escrever. Se essa seca virar uma catástrofe, pois sim, isso pode virar uma catástrofe, ela será depositada na conta do Governo Federal, que será acusado de leniência. Podem escrever.

  8. Ultimamente tenho pensado

    Ultimamente tenho pensado muito na campanha do Padilha. Será que seria mesmo interessante para o PT ganhar agora o Governo de São Paulo? Com este abacaxi destas proporções nas mãos pelos próximos 2, 3 anos? Se caso Padilha vencer e convencer como governador, a mídia ainda assim não irá aceitá-lo e ainda será a mesma peleja por que sofre hoje o Hadad. Já se o PSDB ganhar e mantiver este nível de governo e se atolar na lama (ou morrer de sede) não seria melhor para o partido? No final das contas, em ambas as hipóteses, somente o Paulistano é que sefu…

    1. Basta ver como o Agnelo

      Basta ver como o Agnelo encontrou a Brasília pós caixa de pandora. Obras paradas, esperando decisão da Justiça. Frota de ônibus com mais de 20 anos. No primeiro ano de governo, quase nada pode ser feito. Mesmo assim, a TV começou mostrar diariamente os problemas da cidade, desde o primeiro dia de mandato, já atribuindo culpa ao governador do PT. Teve uma tomada de rua do jornal da Globo local   que puseram a câmera rente ao solo, mostrando o prédio do Congresso escondido atrás da grama de “tão alta que ela estava”.  Brasília estava abandonada pelo Poder Púbico. Mostravam as obras da construção da ciclovia que o governo implantou em Brasília, antes da conclusão, botavam algum mané pra reclamar ao vivo e deu no que está dando:  Arruda está de volta em primeiríssimo lugar nas pesquisas.  

    2. BRAGA

      Penso exatamente como vc. O Padilha não merece vencer a eleição no estado de SP. Melhor mesmo ficar c/ o Alckmin o descasque deste abacaxi.

  9. o psdb é craque em simular

    o psdb é craque em simular situações adversas em seu favor com a ajuda dessa grande mídia, que pela omissão e desinformação acaba ajudando a colocar esse governo numa situação  de calamidade pública.

    que um dia esse caos administrativo tucano viria à tona, ,ninguém tinha dúvidas, depois de vinte anos de demonstrações de  incompetencia e dos refrões sofísticos da suposta  competencia desse gooverno arrogante e simulador.

    e agora, graças a duas cpis no congressop – uma delas sobre o metrô – duvido que o alquiimista-mor não saia pelo menos chamuscado dessa sequencia de equívocos (durante vinte anos!) tucanos.

    se a mídia não usasse de um peso e várias medidas – sempre contra a situação federal e a favor dos tucanos – e o psdb não boicotasse as cpis pedidas em são paulo, talvez tivesse sido tomada alguma medida mais objetiva nesse caso da água.

    porque não adianta os técnicos da sabesp planejarem se a diretoria boicota para atender aos interesses dos acionistas privados – prerferenciais – da empresa.

    isso é o que dá ser governado por tucanos que, historicamente, privatizam tudo que veem pela frente, em  detrimento da maioria da população.

    issto é, querem um  stado mínimo e um mínimo menor ainda para a maioria.

    e ainda dizem que o alquimista mistura alhos com bugalhos e outros alhos vampirescos – tem 50 por cento na pesquisa. duvido.

    mas não acho graça nenhuma.

  10. muito simples de resolver democraticamente…

    considerando a natureza tucana e a gravidade da situação, irresponsabilidade administrativa justifica destituição do cargo pelo voto……………….

    não há respeito para com a cidania quando o próprio governante não pensa como um cidadão

  11. Observem.
    Os mesmos que falam

    Observem.

    Os mesmos que falam do pessimismo da imprensa nacional sobre a economia , são os mesmos que prevêm o racionamento de água em São Paulo, parecem que estão desejando o pior, um para o país outro para São Paulo.

    Não existe incoerência nos dois pontos de vista, antagônicos aparentemente.

    Ou vale tudo na guerra politica?

  12. como já coloquei em outro comentário…

    mídia e psdb só querem saber de jogar sujo contra o governo federal

    abandonam tudo e qualquer uma de suas obrigações quando é para proteger qualquer um deles

  13. Acho que nenhum  governador

    Acho que nenhum  governador merece iniciar o primeiro ano de governo com um problema tão grave quanto esse. O Alckmin não merece ser reeleito, mas vai ser reeleito e teraá que enfrentar essa crise que se instalará em SP. Será a prova definitiva da incompetência tucana. Gestão, eficiência, honestidade e outras palavras bonitas, só existem nos discursos dessa turma de bicudos. 

  14. Se no século passado,

    Se no século passado, milhares de nordestinos migraram para são paulo, fugindo da seca, seria ironico, se nesse século, os paulistas migrassem para o nordeste, atrás das águas transpostas do rio são francisco.

  15. O caos previsível. E não se trata de terrorismo

    É impressionante a insensatez do tucano Geraldo Alckmin. Eu fico imaginando as consequências da falta d’água para a indústria do Estado mais rico da Federação, e sinto um frio na barriga. E o PIB brasileiro, um índice que enche a boca e os olhos dos tucanos, irá para o fundo do poço, com toda a certeza.

    Já pensaram no caos gerado pela falta ou racionamento pesado de água para o consumo da população e da indústria que mantém São Paulo funcionando? Vai ser um SUPERCAOS como o PIG nunca imaginou para o governo Dilma. Poderá ser deses perador e com muito desemprego.

    Falo com a experiência de nordestino que já sentiu o problema na pele. Será que a Opus Dei deu  uma lavagem cerebral tão grande no Alckmin que não permite que ele encontre uma saída para o problema? Ou será  que ele vai adotar como medida emergencial a contratação de empresas aéreas que fazem chover? 

    Os paulistas não têm a menor ideia do que os aguarda. E eu não estou vibrando nem um  pouco diante dessa espectativa desastrosa. Mas uma coisa nós temos que admitir: os paulistas e o Alckmin se merecem.

  16. O consultor desta ação

    O consultor desta ação politica foi FCH…

    A experiência que ele tem de segurar bombas no período pré-eleitoral!

    FCH segurou o dólar, já em SP segurando a água…

  17. Crise de abastecimento de águas em S.Paulo e região.
    Enviei Sugestão de Solução ou pelo menos diminuição da Crise da falta de águas.
    Minha proposta pode reduzir o consumo de águas em até 80% nas residencias, com custo zero para o consumidor.
    Enviei diretamente ao Governador Alckmin. E também a seu gabinete e outros contatos no Palácio dos Bandeirantes.
    Resultado: Nem responderam, nem quiseram saber do que se trata a proposta/sugestão, nem um agradecimento pela boa vontade.
    Pra ver como funciona esse “governo” com relação a resolver os problemas do povo.
    Não voto nunca mais nesse Alckmin.

  18. Pois é para os governantes do “Tucanistão” tudo é permitido.

     

    Chega a ser assustador essa leniência da nossa grande mídia quando se trata de tucanos. No caso de Pasadena, eles esmiuçaram até o último fiapo para ver se conseguiam uma prova de que Dilma havia recebido sim um relatório completo, para poder “jogá-la na fogueira das bruxas”. Agora, num caso de muito maior gravidade pois trata-se de um bem vital para a vida e TENDO VINDO À TONA COMPROVADAMENTE que Alckmin sabia da gravidade do caso do cantareira e que recebeu as informações técnicas por parte da Sabesp, a mídia faz “olhos de mercador” como se fosse uma banalidade.

    Corretíssimo o texto quando afirma que se fosse no caso do governo federal a mídia estaria até falando em impeachment pois o caso beira a um crime ambiental premeditado e com consequências gravíssimas não só para o meio ambiente mas para a segurança hídrica da população.  Mas no “Tucanistão” tudo é permitido.

  19. Quem pariu a seca que a embale

    A vergonhosa incompetência gerencial – ou será ganância? – da SABESP, cuja presidência é nomeada pelo governador do estado, pertencente ao mesmo partido que primeiro nos deixou sem energia em 2001 – por pura inércia do governo federal da época, ao não reforçar a geração E não integrar o sistema elétrico nacional – deixará sem água a maior parte da população da grande São Paulo e também da região metropolitana de Campinas, pois boa parte da água do Cantareira vem da bacia do Piracicaba – um rio que, em breve, também seguirá o destino do reservatório.

    Enquanto a água do Cantareira vazava pelas canos esburacados da SABESP – uma Cantareira a cada três anos – o governo do estado distribuía dividendos aos acionistas da empresa, dinheiro esse que deveria ser usado para reparar a rede, modernizá-la e diminuir o desperdício. Além disso, nem a SABESP e nem o governo do estado – controlado pelo mesmo grupo político já há 32 anos – nada fez para efetivamente despoluir nem os rios Tietê e Pinheiros, e nem as represas Billings e Guarapiranga, que poderiam abastecer muito mais gente do que abastecem hoje em dia não fosse pela contaminação de esgoto e de metais (leves e pesados). Isso, apesar de pagarmos o dobro pela água que consumimos, sendo que o ágio deveria supostamente custear o tratamento de esgotos.

    O pior de tudo é que a falta de água não tem como ser assimilada nem revertida neste momento. Não se trata simplesmente de expandir a rede de distribuição e construir usinas com métodos alternativos de geração; no caso da água, isso é simplesmente inviável. Qual a alternativa, construir uma usina de dessalinização na baixada santista e bombear a água para a serra do Mar acima?! Mesmo a pretensão nem tão insana que o führer de Pindamonhangaba tem de usar a água do rio Paraíba do Sul levaria tempo para ser implementada (tempo que a gente não tem), se não passasse de mais um sofisma, um factóide, feito para desviar a atenção do público e que, tenho certeza, nunca vai sair do papel.

    Por isso tudo, digo: quem pariu a seca, que a embale. Por mim, nem faria eleição para governador aqui em SP, porque a situação da falta de água na grande São Paulo é situação de emergência, e é injusto empurrar esse ônus para qualquer um dos outros candidatos ao governo do estado, independentemente de ideologia. E depois, não é isso o que o povo de SP quer? Eu deixaria Alckmin governando, desde que sob a rédea curta do ministério público federal e sob a condição de resolver a encrenca que ele mesmo criou – ou encaminhar sua solução – até a metade de seu mandato.

    Caso contrário, que então se decrete o impedimento do governador, do vice e do presidente da ALESP e se convoquem novas eleições, sem prejuízo da abertura de processos civis, criminais e políticos contra os responsáveis pelo estado de calamidade pública em que nos encontramos – com o devido ressarcimento aos cofres públicos. Ou mesmo intervenção federal. Estarei viajando na maionese?

  20. Estranho o silêncio sepulcral da Marina nessa questão…

     

    A Marina sempre se disse uma ambientalista roxa. Brigou horrores contra o Lula e a Dilma para evitar a construção de Bele Monte, mesmo sendo uma obra necessária. Agora, numa questão gravíssima como essa do Cantareira que leva a profundos danos ao meio ambiente e a segurança hídrica da população ela simplesmente “tomou Doril”.

    Alguém tem uma explicação para o silêncio da Marina nessa questão?

  21. A pior crise pode ocorrer nos próximos anos.

    Atualmente as captações de água estão sendo feitas abaixo do nível mínimo normal dos reservatórios, isto está simplesmente lançando para o futuro um problema que não se está falando, o deplecionamento do lençol freático.

    Com os rios e reservatórios mais baixos haverá uma tendência ao nível do lençol freático rebaixar mais do que o normal, tornando o solo em níveis mais altos com menor umidade e com tendência a compactação. Isto fará com que se houver chuvas intensas no verão estas infiltrarão um pouco menos do que o normal de um ano seco causando cheias durante estas.

    Como não haverá uma infiltração durante o período de chuvas, não haverá recomposição do lençol freático e no próximo período de inverno os reservatórios perderão parte da água para recompor a umidade do solo e o processo pode ser acumulativo.

     

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