Avaliação da gestão Marta no Minc.

Por Marcelo Manzatti.

Avaliação da gestão Marta Suplicy, análise da conjuntura atual e prognóstico para as culturas populares no novo governo Dilma (pretensioso não?)

A gestão de Ana de Hollanda na primeira metade do governo Dilma, de saída, frustrou parcelas importantes do novo movimento cultural consolidado nos anos Lula, que esperava a continuação da gestão Juca Ferreira ou o aprofundamento dos sonhos inspirados por Gilberto Gil com a possível nomeação de Célio Turino. Esses dois nomes contemplariam amplamente os novos setores incorporados à política pública de cultura entre 2003 e 2010 – cultura digital, economia da cultura, pontos de cultura, segmentos populares e indígenas, dentre outros. Por outro lado, representou a vitória merecida do longo trabalho de articulação política do setorial de cultura do PT, forjado nas administrações municipais e estaduais do partido, além da experiência desgastante de suporte a Gil e Juca (Esse período foi engolido a seco por aqueles que tanto sonharam com o PT no Ministério. Aos que acham que tudo foi lindo e maravilhoso lamento dizer, mas estão redondamente enganados. O pau comia e a foice rodopiava). A irmã de Chico, bancada por uma ala da cultura do PT liderada por Antonio Grassi, representou, também, um aceno em direção aos artistas consagrados, que estavam meio escanteados pelas novidades introduzidas no cenário cultural no governo Lula. Para esse pessoal e para as viúvas da era Weffort, da cultura de mercado e do espetáculo (Cultura é um bom negócio!), sobrou a luta para manter como estava o bizarro sistema de financiamento, ameaçado pelos projetos de reforma da Lei Rouanet. E, até que lutaram bem, pois a coisa não andou quase nada, até hoje.
Ana de Hollanda, além de sua arrogância e inépcia pessoal, teve sua gestão comprometida por herdar várias bombas-relógio armadas no período Juca (Jamais serão perdoados pelo fato de não terem pago os selecionados na segunda chamada do Prêmio Culturas Populares 2009. Jamais.). E o PT, amarrado, sem poder dar nome aos bois e sem poder botar no pau os companheiros bons de conversa, mas péssimos de gestão (E como tem gente ruim de gestão na cultura do PT, não é Hamilton Pereira?), foi fritando a ministra em fogo baixo, para não cair junto com ela num safanão da Dilma. No quarto mês de ministério houve uma reunião com Gilberto Carvalho para tirar a ministra, mas uma fala contundente da Secretária Marta Porto a manteve no cargo. Por ironia, essa mesma Marta passou a ser perseguida ferozmente por Anna de Holanda dentro do MinC até que, pra não ter que dar uns catiripapos na mulher e manchar o nome do Sérgio Buarque de Hollanda, pediu pra sair. Com uma sorte impressionante (toda vez que era Anna de Hollanda era ameaçada, acontecia um escândalo maior que mantinha no poder e nas sombras da sua ignorância) e com a indisposição de Dilma para cuidar do MinC (tinha coisas mais importantes pra fazer?), foi ficando mais do que devia. Foram dois anos terríveis, que valeram por dez em termos de estrago. Esse momento foi tão ruim para a cultura brasileira que a única coisa que prosperou nessa época foi o Fora do Eixo (Não precisa explicar muito. Pra bom entendedor, pingo é letra).
Esse desprezo da cúpula do PT pela Cultura continuou com a nomeação de Marta Suplicy. Mais uma daquelas jogadas “jeniais”, para acomodar insatisfeitos ou aliados indesejados, porém, importantes, que o Lula tanto sabe articular. Falsamente elegante, a nova ministra não era da área, não conhecia nada nem ninguém, e também não quis conhecer. Tentou fazer desse exílio a única coisa que lhe restava: dar a volta por cima e ser candidata ao governo do Estado de São Paulo em 2014. Marta tentou encontrar um mote que pudesse imprimir à sua curta gestão na cultura alguma marca de impacto, algo que a colocasse de volta nas rodas mais importante. Tateou a oportunidade da Copa do Mundo, cometendo sua primeira grande barbeiragem ao nomear como Secretária Executiva Jeanine Pires (lembram dessa?), outra paraquedista, que veio lááááá da EMBRATUR para preparar o cenário. Mas, como mexer com mafioso não dá certo pra ninguém, a Cultura na Copa da FIFA naufragou tão rápido como o time canarinho naquele primeiro tempo dos 7 X 1. Marta viu, então, no Vale Cultura, algo que valia a pena. Viu também nas praças do PAC algo que pudesse relançar um de seus principais selos como prefeita, os CEUs. Viu outras coisinhas, como o Museu Afro, a aproximação do campo da moda do setor cultural, dentre outras mixuruquices, e começou a trabalhar. Fazer o quê, né? Bola pra frente.
Montou, porém, um secretariado fraco, sem base no movimento social, incapaz de lançar um edital decente sequer (vide Amazônia e Cultura Afro, para citar só dois casos), que contribuiu para ir apagando no olho do pessoal da cultura aquele brilho que cintilava na era Lula. Pra piorar o quadro, foram feitas várias trocas. Por um momento, os quadros mais importantes do PT (Grassi, Peixe, Gláuber, Mamberti, etc.) passaram a ser trocados por uma avalanche de gente do PCdoB e de outras galáxias desconhecidas. Para alívio da companheirada, Marta, que não é boba, nem nada, muito pelo contrário, sacou logo a pegada desse pessoal e trocou tudo de novo, dessa vez, por gente ainda mais sem peso. Logo, como não poderia ser diferente, o Vale Cultura se arrastou; dos trocentos CEUs, foram entregue apenas uns 50; o terreno do Museu Afro saiu só agora, no pagar das luzes; o Plano de Cultura, ninguém sabe se está sendo implementado; a III Conferência de Cultura foi fraca e não foi preparada nenhuma aposta para o novo período (alguém sabe qual é o projeto pra cultura nos próximos quatro anos?… Pois é.).
Porém, Marta Suplicy foi, mesmo com tudo isso de errado, a ministra mais poderosa que já tivemos na cultura brasileira. Duvido que teremos alguém tão importante num futuro próximo. Gilberto Gil, com tudo que representou simbolicamente, não fez nem cosquinha comparado com as estacas estruturais fincadas por Marta, sobretudo junto ao Congresso Nacional. Se, por um lado, o orçamento caiu para os mesmos 0,1% do começo de Lula, aprovou-se o Sistema Nacional de Cultura, o Vale Cultura, o Cultura Viva, a Lei de TV a Cabo, avançou-se com o Procultura, retomou-se a linha nos Direitos Autorais, aprovamos a PEC da Música e tem um acordo pronto pra aprovar a PEC 150 escalonando o aumento dos recursos para a cultura, dentre outras boas conquistas. Um trator, fantástico, incomparável. Parabéns, Marta. Você foi Forró de Plástico no executivo, mas virou Luiz Gonzaga no legislativo. Pode sair esnobando, xingando e dando direta e indireta em quem quiser, porque essa dívida da cultura com você dificilmente será paga.
Agora esquenta aquela fase chata das especulações sobre a(o) nova(o) ocupante do cargo: Juca Ferreira (Secretário de Cultura do Fora do Eixo… quer dizer, de São Paulo), Sarney (a múmia Mun Rah do Maranhão…opa, do Amapá), Ângelo Oswaldo (minerim presidente do IBRAM), Marco Aurélio Garcia (ex-secretário de cultura de São Paulo – é, ele foi, alguém lembra? – e assessor do gabinete da Dilma), Fernando de Moraes (o único peemedebista da cultura no mundo), Chico César (que, se escolhido, será o ministro mais baixinho de todos os tempos), Jandira Feghali (continuou achando que é a que tem mais chance – uma dia ela consegue) Vicentinho, Edson Santos vão entrando no páreo. Todo esse papo é inútil. É inútil, gente. Vocês não viram aí acima? Como cultura não importa nada, só sairá a definição depois de tudo que é mais sagrado for definido (Fazenda, Educação, Saúde, Cidades, etc.). Só depoooooois, bem depois, analisando quem ficou mais emburrado e bicudo, é que Dilma vai ser avisada por algum incauto assessor querendo mostrar serviço: “Olha, a Sra. me desculpe, mas esqueceu que ainda falta a cultura, presidenta”. E ela vai dizer, bolada: “Puta merda, fiquei tão puta com essa vaca da Marta saindo atirando que até pensei em fundir esse ministério com a pesca, a energia nuclear, a FUNAI e o turismo. Assim eu calo a boca desse pessoal da imprensa que fica dizendo que tem muito ministério nesse governo. Queria ver eles administrando essa joça com o PMDB e o PT cutucando meu rabo o tempo todo para nomear mais gente! Se eu não fosse pau pereira ia ter não é 39, não. Era mais de mil. Deixa eu ver… ah, bota qualquer um!”
Aí, o PT deve levar de novo, porque são os únicos loucos que se interessam realmente pela cultura. É o meu partido, é uma merda, mas é o melhor de todos, disparado na banguela. Creio que o melhor, falando sério, agora, seria discutir perfil, projeto, política, antes de nomes. O Brasil é grande e a nossa cultura é próspera. Há de ter alguém adequado para a execução de um projeto. Creio que alguns dos critérios poderiam ser:
1. Alguém que saiba muito bem trabalhar sem dinheiro e que já tenha demonstrado isso;
2. Alguém que sirva de inspiração para o movimento cultural. O pessoal do setor preza muito isso. Um perfil político ou de gestão não empolga a turma. Tem que ser algum fodão ou alguma fodástica, que tenha fumado maconha com o Bob Marley, lutado na Guerrilha do Araguaia, jogado nas seleções de 70 e de 82, comido a Marilyn Monroe e a Brigite Bardot numa mesma noite. Assim, o pessoal vai tirar muita selfie;
3. Que tenha um saco do tamanho da lua pra aguentar os malas que habitam esse campo;
4. Alguém que fale grosso com a Fazenda e o Planejamento e que, depois disso, ainda tenha poder de convencer Dilma das coisas, e que fale fino os filatelistas e com a Rede das Culturas Populares e Tradicionais (não podia deixar de fazer meu comercial, pois o texto está acabando);
5. Que continue avançando com a pauta da cultura no Congresso, a despeito dos Bolsonaros, Russomanos, Felicianos e Heinzes que iremos enfrentar;
6. Alguém que vá a Documenta de Kassel, mas que também visite uma festa de São João no interior do Piauí; que vá jantar no D.O.M., mas que coma também uma pamonha no Encontro do Bonito-GO; que indique o melhor filme para o Oscar, mas que tome ayuasca com os Ashaninka…
7. Alguém que consiga retrabalhar o espírito da era Lula/Gil/Juca que ficou vagando no limbo e o adapte ao arcabouço construído dos sistemas, planos, fundos, metas, diretrizes e PPAs da vida dura do setor público;
8. Que diga que o SalicWeb é uma bosta; o SNIIC não sai por quê, porra!?; o patrimônio imaterial é prioridade, mermão; o CNPC tem que ser ouvido, de fato, Cacilda; e que o Américo não pode ser o principal secretário (pronto, falei).

Acho que essa missão só daria pro Lula, mesmo, e olhe lá. Fica aqui a minha contribuição, só sei fazer desse jeito e, se não gostou, que se foda! Minha filha gosta de mim e é isso que importa. Beijo, Isadora, to lutando por você.

Redação

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