Ônibus queimado: aí tem

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Enviado por José Adailton

Folha

Por que só um tipo de ônibus pega fogo?

Do início do ano até sexta, 45 ônibus foram incendiados em São Paulo, causando prejuízo de R$ 23 milhões. Nenhum dos episódios envolveu discussão sobre ônibus ou tarifas, mas um fato chama atenção nos crimes: dos veículos queimados, 42 (94%) são de propriedade de empresas; só três (ou 6%) são de cooperativas (dos antigos perueiros).

São Paulo tem dois sistemas de ônibus de transporte público: os intermunicipais (de propriedade de empresas, administrados pelo Estado, usam o cartão BOM) e os municipais (administrados pela prefeitura, usam Bilhete Único).

O sistema municipal, por sua vez, está dividido entre “empresas concessionárias” (oito consórcios que ganharam a concorrência de 2003 para explorar linhas longas, corredores e o centro); e “permissionárias” (12 cooperativas de proprietários independentes exploram linhas locais, de um bairro a outro ou aos corredores). Visualmente, são veículos semelhantes.

Em 2003, ao criar o Bilhete Único, o secretário Jilmar Tatto (que voltou ao cargo em 2013) estabeleceu os dois modelos; os permissionários tiveram contratos de sete anos, renováveis por mais três (total, dez, completados no ano passado); as empresas que ganharam a concorrência tiveram contratos de dez anos, renováveis por mais cinco (máximo até 2018).

Ao assumir a prefeitura, Fernando Haddad iniciou uma concorrência para reestruturar o sistema. Tatto apresentou proposta detalhada. Com as manifestações de junho, o prefeito decidiu contratar uma auditoria e adiar o processo. Na sexta-feira, Jilmar Tatto disse à coluna que a nova licitação deve ficar para o ano que vem.

Há uma disputa intensa entre os dois tipos de contratados do município: em 2004, as concessionárias faziam 70% das viagens e as permissionárias, 30%; hoje, trocaram de posição: as cooperativas levam mais da metade dos passageiros. Estão em jogo fatias de um bolo que vale cerca de R$ 6 bilhões/ano.

Quando o atual sistema era negociado, a então prefeita Marta Suplicy usou colete a prova de balas, dizendo-se ameaçada por máfias do transporte público. Mas, desde 2004, continuam sem conclusão as investigações sobre a suposta influência do crime organizado nas cooperativas.

Embora insista que “a polícia tem que investigar todas as hipóteses”, o secretário Tatto diz que os incêndios “parecem manifestações específicas de questões locais, sem ligação com transportes”. O secretário da Segurança Pública, Fernando Grella, também diz: “Não descartamos nenhuma hipótese”. Mas intui algo diferente: “Em alguns casos, parece haver ação orquestrada”.

Ainda não há conclusões. Na sexta, ele computava “42 autores foram identificados, 37 deles presos ou apreendidos (os menores)”.

Na cidade circulam cerca de 15 mil ônibus municipais, sendo 60% das concessionárias e 40% de permissionárias (os intermunicipais são outros 4,8 mil). Mas, novamente, 94% dos veículos incendiados são de empresas e só 6%, de cooperativas. Em nenhum bairro a proporção entre os dois tipos é essa. Isso quer dizer que os responsáveis pela queima dos ônibus (que custam R$ 500 mil cada) escolhem seus alvos.

O que se pode concluir disso? Até aqui, nada. Mas fica a dúvida significativa: por que só um tipo de ônibus pega fogo?

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

16 Comentários

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    1. Não eh porque não tem mortos

      Não eh porque não tem mortos a rodo. A CIA  gosta de fabricar crises com pilhas de mortos. Famílias inteiras mortas por suicidas loucos eh o forte deles. Só assim podem pegar os Governantes que não gostam e acusar de crimes de guerras que eles eh que cometeram. Devem se divertir com os resultados de seu maquiavelismo.

  1. o colunista levanta uma

    o colunista levanta uma possível “bola” investigativa, mas obviamente que seu interesse é só a sugestividade, deixar “hipóteses” no ar e não ir a fundo no que ele está cogitando como hipótese.

    Minha sugestão para ele: pegue a localizão exata onde cada caso ocorreu; analize as linhas que passam lá (e não “no bairro”).

    Já sabemos, por informação da própria Secretaria de Segurança, que 1/3 dos casos de ônibus incendiado é motivado por assassinatos de jovens pela mão da polícia na periferia. Esse número é o mínimo sabido, capaz que chege até 1/2 dos casos. Tiveram também vários causados pela indignação frente ao descaso do Estado quando de enchentes que atingiam bairros pobres.

    Ou seja, talvez, TALVEZ metade dos casos possam ter alguma coisa a ver com a máfia dos transportes, essa mesma que obriga os prefeitos a aumentarem a tarifa desde a época da Marta. Falta saber quanta vontade política a Prefeitura tem para combater essa máfia (o prefeito já deu sinal de que é combativo, quando caçou a máfia do ISS. A diferença é que a dos transportes é mais barra pesada, precisa querer de verdade).

  2. Olha… não quero discordar

    Olha… não quero discordar do seu questionamento no geral. Acho que é bom investigar a sua suspeita. Mas a estatística não está boa… Você está assumindo uma distribuição homogênea dos veículos de empresas e coperativas pelo espaço da cidade, também está assumindo homogeniedade nos tipos de veículos (ônibus e peruas). Fora isso 45 ônibus não conseguem ser uma amostra representativa, são muito poucos diante do total de 14805 ônibus. Não chega a 0,5% do total. O “ruído” nessa amostra é muito grande. Vale a investigação, mas refaça a estatística.

    http://www9.prefeitura.sp.gov.br/spMovimento/sisnum/frotaoperamuni.php

  3. Se depender do Haddad a CMTC

    Se depender do Haddad a CMTC voltará em breve, chega de depender desses mafiosos interessados em lucrar com um péssimo serviço.

    Pode até haver alguma concessão, mas o transporte tem que ser majoritamente estatal.

  4. O texto mais importante e

    O texto mais importante e esclarecedor que já vi até hoje sobre a máfia dos ônibus é de Fernando Souto e foi publicado aqui no Nassif em 27/06/2013 (no furacão das manifestações) e diz respeito às planilhas viciadas das empresas. O texto é simples, claro e instigante. Fernando Souto é analista financeiro que trabalhou com empresas de ônibus se refere a SP, mas se encaixa como uma luva em minha cidade – e, presumo, em várias cidades brasileiras. 

    http://advivo.com.br/node/1409229

  5. Fora mercenários

    O novo expansionismo americano, de olho no pré-sal (75% para a educação) agradece de coração aos incendiários de ônibus que, desta forma, pretendem instalar o caos, minar a economia e instalar uma ditadura para “salvar o pais”, oh bando de sem noção, milicianos mercenários fdp

  6. Só o começo

    Já comentei sobre esta “coincidência” várias vezes. Quem toca fogo nestes ônibus sabe com quem pode e com quem não pode mexer. Cooperativas = antiga máfia dos perueiros.

    Quanto ao secretário dos transportes, dizer o quê? Quem tem um pouco de memória sabe que a Tattolândia se criou no meio dos perueiros d´antanho.

  7. O crime organizado está em

    O crime organizado está em todas. A morte do prefeito de campinas em 2001, pode ter sido comandada de dentro de presidios do entorno de campinas. Por quadrilha ligada ao crime organizado e que explorava o transporte clandestino entre São Paulo e campinas. Os caras tinham com base a rua M.a.l O.d.i.l.i.o D.e.n.y.s no T.i.ê.t.e,  havia lá uma empresa de mudanças cujo dono permitia sua estrutura para esse criminosos. Até mesmo os ataques de 2006 contras nossas forças policiais podem ter sido praticados por esses criminosos que, de dentro de presídios recebiam ordens para orquestração de diversos crimes.

     

  8. Muito interessante mas nossa

    Muito interessante mas nossa polícia tem dificuldade para identificar qualquer um num vídeo…imagine investigar um caso que “Aí tem”. Já imaginou quando isso vai acontecer?

     

    Acho que vai continuar “tendo” mesmo.

     

    Abraço

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