Ajuste fiscal e expansão monetária

Por André Araújo

O programa de ajuste fiscal significa equilibrar as finanças da União que está gastando mais do que arrecada. Nada contra. É racional, há imensos desperdicios na máquina administrativa, há investimentos mal projetados e executados, há programas sociais com fraude e descontrole, a folha de salários tem distorções, milhares acima do teto, triplas aposentadorias, tudo mundo sabe mas finge que não vê. O ajuste fiscal deve até ser aumentado para cortar DESPERDÍCIOS NO GASTO PÚBLICO.

Esse programa NÃO É VINCULADO a crescimento ou estagnação. O programa de ajuste das finanças da União será MELHOR COM CRESCIMENTO, mais manejável e politicamente mais palatável, ao fim mais eficiente.

O programa de ajuste fiscal tem seus próprios méritos e não tem ligação com um programa de arrocho monetário, que dificulta o ajuste porque eleva o custo da dívida pública e diminui a arrecadação.

De que área da ciência econmica que se deduziu que um programa de ajuste fiscal está ligado ao travamento da economia? Não há esse tese demonstrada. É possivel fazer o ajuste fiscal com EXPANSÃO MONETÁRIA.

O diagnóstico em que se baseia a escalada de juros do COPOM está errado. Não há excesso de demanda na economia que tem LARGA CAPACIDADE OCIOSA, em todos os setores, especialmente na indústria, que é a locomotiva do crescimento e onde se localizam os melhores empregos, a tecnologia, a possibilidade de ascensão social.

Se há CAPACIDADE OCIOSA, hoje acima de 35% em um turno, porque comprimir ainda mais a demanda ? Qual o objetivo? Se há capacidade ociosa, que beneficio haverá para o País em ampliá-la mais ainda? Qual a lógica?

Só há inflação por excesso de demanda quando a oferta é INATENDÍVEL por falta de capacidade de produção.

É o que diz a teoria clássica. Demanda acima da capacidade igual a inflação. Nâo há esse quadro hoje.

Há capacidade ociosa em automoveis, caminhões, chocolates, roupas, motos, bicicletas, televisores, geladeiras, massas alimentícias, há folga na industria que está DEMITINDO AOS MILHARES POR SEMANA, depois de férias coletivas, de suspensão do contrato, agora se caminha para demissão definitiva em quase todos os setores industriais.  Onde está a demanda que causa inflação? De onde vem esse diagnostico tão equivocado?

A inflação de 2015 deriva de preços administrados e não de preços livres de mercado. Brecar a demanda mais ainda não vai fazer a inflação recuar, os preços que a fizeram subir não vão cair nem com a Selic a 50%.

HÁ ERRO DE DIAGNÓSTICO NO BANCO CENTRAL que está elevando os juros para satisfazer o mercado financeiro.

Uma expansão monetária moderada e espaçada no tempo não causará aumento de inflação através de programas pró-crescimento. Como exemplo apenas:

1.FINANCIAMENTO DA FOLHA DE SALÁRIOS PARA PEQUENAS E MEDIAS EMPRESAS : Financiar três meses de folha de salário dará ótimo volume de capital de giro para as empresas, exigindo-se garantia de manutenção do emprego por um ano. Pagamento do financiamento em 24 meses a partir do 2º ano. Uma empresa que fature 60 milhões de reais por ano, portanto 5 milhões por mês tem uma folha em torno de R$1 milhão/mês (20% do faturamento), essa linha dará 3 milhões de capital de giro a juros da Selic. Um volume de R$50 bilhões dará conta de todas as empresas pequenas e médias brasileiras.

2.BANCO SEBRAE – Financiamento até R$ 100 mil para micro empresas, utilizando o Sebrae com um balcão na Caixa Econômica Federal. Garantia de aval pessoal. Com R$20 bilhões se financiam 100 mil micro empresas se todas usarem o limite de 100 mil.

3.PROGRAMA DE EMERGÊNCIA DO TRABALHADOR – Ideia inspirada no Presidente Roosevelt para sair da Depressão de 1929 – Prefeituras e Estados empregam por dois anos trabalhadores por um salário de 1.500 reais, um programa público pago pela União, sem recolhimento de INSS ou qualquer outro encargo trabalhista, para serviços públicos simples que não exigem projetos novos, tais como consertar escolas, limpar parques, praças e jardins, plantar árvores, limpar córregos, dá para empregar 5.000.000 por recrutamento dando preferência aos que tem filhos, a razão de 25 por mil habitantes. Um programa de dois anos custaria R$180 bilhões. O estimulo à economia seria colossal.

4.PROGRAMA NACIONAL DE SANEAMENTO – De todos os tipos de obras de infra-estrutura, a mais desprezada e necessária é a de abastecimento de água e tratamento de esgotos. É o BÁSICO DE UM PAÍS DESENVOLVIDO.

Dá-se mais atenção a aeroportos e estradas do que a água e esgotos, obras que não tem glamour. METADE das casas brasileiras não tem esgoto, o abastecimento de água é sofrível, as praias estão contaminadas, o rios poluídos.

R$100 bilhões é pouco mas dá para fazer o mais urgente, são obras de grande emprego de mão obra de engenharia e de operários com pouca qualificação. Não adianta promover o programa MINHA CASA MINHA VIDA sem saneamento básico antecedente, fazer depois custa muito mais caro.

Estes quatro programas custarão R$350 bilhões para DOIS ANOS, menos do que o Brasil gasta em juros da dívida pública federal em UM ANO. Com desembolso espaçado o impacto inflacionário é mínimo.

Esses programas vão relançar a economia em rota de crescimento, estimular o ambiente econômico, aumentar muito a arrecadação e tirar o país da recessão.

FINANCIAMENTO : Os dois programas de financiamento de empresas não são dispêndios fiscais e sim crédito, portanto voltam para as instituições financiadoras.

O programa de sanemaneto deve ser financiado pela CEF e pelo BNDES, há recursos para isso nos dois bancos, lembrando que os desembolsos não são imediatos mas sim em dois anos e como geram renda os recursos voltam.

O PROGRAMA DE EMERGÊNCIA DO TRABALHO necessita um financiamento especial, que pode ser a CPMF de 0,3% por dois anos. Dói mas não machuca, é um preço barato para tirar o país da estagnação e beneficiando o crescimento. O resultado líquido neutraliza o gasto para as empresas.

 

POLÍTICA ECONÔMICA é escolher prioridades. Não dá para fazer tudo ao mesmo tempo. A PRIORIDADE DO BRASIL é dar emprego e caminhar para o crescimento, não é a meta de inflação de 4,5% mas um programa desse tempo não tem força para fazer subir a inflação porque no espaçamento não se cria explosão inflacionária, 350 bilhões de reais em dois anos dá R$15 bihões por mês, que é menos do que 0,5% do PIB mensal.

O arrocho monetário vem do erro de diagnóstico FAZER TUDO PARA NÃO PERDER O GRAU DE INVESTIMENTO.

O Brasil vivia, comia e crescia e fez isso por muitas décadas SEM TER GRAU DE INVESTIMENTO. E depois que teve grau de investimento não explodiram investimentos PRODUTIVOS no Brasil. O “grau de investimento” interessa mais do que tudo a investidores especulativos, nem é tão importante para as grandes corporações industriais que vieram ao Brasil, o grosso delas, quando o País tinha alta inflação e finanças públicas muito mais complicadas do que hoje.

A Shell, a Exxon, a Bunge, a Ford, o City Bank estão no Brasil há mais de CEM ANOS, não dependeram de “grau de investimento” para vir para cá, o Brasil é um grande e fundamental mercado para todas grandes empresas do planeta e é isso que as atrai e não o “grau de investimento” da Moody´s, agências hoje completamente desmoralizadas e cada vez menos usadas como “guia” para investir, todo mundo sabe disso menos nossos economistas do BC.

O DIAGNÓSTICO que lastreia a polÍtica de escalada de juros ESTÁ FUNDAMENTALMENTE ERRADA e serve exclusivamente aos interesses do mercado financeiro. Não é um programa para o Brasil.

Redação

2 Comentários

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  1. Concordo 100%, AA. Mas não

    Concordo 100%, AA. Mas não creio que o governo vincule a política monetário ao seu progrma de ajuste. De fato são duas coisas separadas, a própria Dilma sabe disso. A política monetária capitulou à lógica perversa do mercado especulativo, infelzmente, desde que a presidenta perdeu a queda de braço com o sistema financeiro.

    O que eu vejo é que, embora saiba que a pressão inflacionária não vem da demanda, o governo aceita o remédio dos juros, porque não consegue sair dessa armadilha. Não foi assim com a crise do tomate? 

    Resignou-se a segurar a inflação segundo o figurino rentista, não importa qual a causa. Mas o governo espera que com o ajuste, restabelecido sua credibilidade com o mercado, o investimento privado apareça. Contando com a ajuda que vem da China, claro. Com isso esperam que se possa mais para frente desamarrar o crédito, desreprimindo a demanda, sem o perigo da inflação, porque a oferta vai estar crescendo também

    Não digo que concordo com essa estratégia. Mesmo porque se a responsabildade fiscal joga de um lado os juros altos joga do outro. Mas só posso concluir que seja isso que o govenro tem em mente

  2. Já disse e repito:

    Juros regem expectativas de inflação futura, nada tem a ver com demanda atual.

    O mercado precifica no presente a inflação futura que o governo demonstra tolerar com base na taxa Selic. O único erro neste tripé é a projeção anual, deveria ser 18 meses como nos outros países com meta de inflação.

    É perfeito? Nãããão!

    Mas daí a achar que com essa políticia se pretende baixar preços administrados ou um excesso de demanda que não há são outros 500.

    Outra coisa, não precisa de eufemismo. Não é ajuste fiscal, é austeridade mesmo. Reine wahrheit!

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