Ataque à CNBB por causa de seu senso de responsabilidade, por J. Carlos de Assis

Movimento Brasil Agora

Ataque à CNBB por causa de seu senso de responsabilidade política

por J. Carlos de Assis

Ao tempo em que demite mais uma leva de jornalistas, alguns dos quais antigos colaboradores do jornal líder da direita econômica brasileira, o Globo abre suas páginas a uma estranha personagem chamada Eurico Borba para achincalhar a hierarquia da CNBB, que emitira uma nota de repúdio à PEC-55/241. Está aí uma coisa que o velho Roberto Marinho não faria. Ele respeitava a Igreja, tinha relações muito fortes com o Cardeal Dom Eugênio Salles e, principalmente, não dispensava leitores, mesmo que fossem de esquerda.

Essa irmandade Globo/Borba mostra a extrema decadência do jornal e a emergência de figuras turvas fabricadas pelas contradições da política brasileira. O Globo dos três Marinhos, assim como Borba, está em tremenda confusão. Sabidamente em crise, recorre ao remédio tradicional dos empresários idiotas: corta no produto. É fato que o jornal não tem muito a oferecer a sua clientela, exceto aqueles que ele próprio deformou ao longo do tempo. As novas gerações não suportam Globo. Sua salvação tem sido pendurar-se na televisão.

Vejamos o Borba. O fato de destaque em sua biografia é ter sido presidente do IBGE em 1992/93. Tem um livro escrito, “Reflexões sobre a crise global”, do qual li três linhas da síntese: “Trata da questão do trabalho com reflexões sobre a propriedade, historicamente adquirida, da propriedade dos postos de trabalho por parte dos trabalhadores que nele operam e realizam suas vidas, proporcionando condições para que o capitalista concretizem seus intentos.” É claro que o texto está truncado. Mas não tão truncado quanto a cabeça do autor.

Nivelar propriedade privada dos meios de produção com “propriedade” dos postos de trabalho é uma aberração conceitual. Os postos de trabalho, no capitalismo, não são do trabalhador; são dos capitalistas. É por ser dono do posto de trabalho que o capitalista se apropria do trabalho produzido pelo trabalhador. Do contrário, o trabalhador jamais proporcionaria “condições para que o capitalista concretiz(asse) seus intentos”. Precisa de ler mais? Ora, é esse teólogo de botequim que resolveu dar lições de comportamento político à CNBB, que nada faz além de cumprir sua responsabilidade política.

Os franceses costumam dizer: a quelque chose malheur est bon! Em  tradução livre, para alguma coisa serve a estupidez! Esse artigo de Borba, que sustenta que a nota da CNBB sobre a PEC confunde católicos, chega no momento certo para que se destaque a importância do documento sobre a mais nefasta iniciativa de lei em décadas. Chamada de PEC da Morte, ou de AI-5 da economia política brasileira, se aprovada ela liquidaria com o setor público e a economia por 20 anos, caso não explodisse antes uma guerra civil.

Não sou católico praticante, mas acredito na sinceridade dos que creem na intervenção do Espírito Santo em ações humanas. Se de fato acontece, uma prova foi a nota da CNBB sobre a PEC da Morte. Com extrema serenidade, sem os arroubos autoritários e arrogantes de Borba, os três principais dirigentes da CNBB expuseram com clareza as ameaças contidas na proposta de emenda, em especial para as áreas sociais de saúde, educação e previdência.

Mas a CNBB não se restringe à retórica. Sua Comissão de Justiça e Paz está coordenando, junto com o Movimento Brasil Agora e outras religiões, o que pretende ser uma mega-manifestação contra a PEC no próximo 7 de dezembro (6 dias antes da votação da matéria no segundo turno no Senado), em Brasília. No dia 9 será no Rio de Janeiro, Curitiba e Recife, e eventualmente em outras capitais como São Paulo. Serão atos cívico-inter-religiosos para convencer os senadores a barrar a PEC. A ideia é expressar, juntando religiosos e leigos, em manifestação pacífica, o repúdio da opinião pública, em seu mais alto grau, a este AI-5 da economia política brasileira, ou PEC da Morte.

Redação

12 Comentários

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  1. Calcanhar de aquiles

    Ainda que vários padres e bispos tropecem em percepções pífias, indignas daquele que dizem ser seguidores, que é CRISTO, o PAPA por incrível que pareça está a frente realmente de igreja católica em todos os sentidos!

    No Brasil, as igrejas pentecostais não conseguem esconder seu viés mundano e se deleitaram no impeachment de Dilma.

    O que teria demais isso, se muitos seguiram este caminho?

    O simples fato de serem políticos, sabiam que os motivos ERAM FALSOS e a opção não foi entre o falso e o verdadeiro, mas entre o conveniente e o inconveniente, ou seja, o que poderia trazer lucros pessoais, corporativos e financeiros!

    É INADMISSÍVEL que qualquer religião, percepção filosófica ou o que valha aceite como parâmetro a MENTIRA COMO BASE para alcançar seus objetivos!

    Nos últimos dias a CNBB, ao contrário das outras religiões, OAB e etc.., se postou contrária a mentira!

    Este é o diferencial do PAPA que não compactuou como o fizeram múltiplas religiões no Brasil!

    Não sou católico, mas saúdo o PAPA pela coragem e vejo nele a verdadeira inspiração de Cristo!

    Esse é o diferencial REAL daquilo que fizeram cada chefe de igreja que atuam no Brasil!

    O compromisso com a verdade material, mundana,  não pode ser menor do que compromisso com a verdade espiritual!

    Este é o calcanhar de aquiles…

    Quem poderá confiar neles, se o interesse financeiro fala mais alto?

    Dízimo e política não combinam!

  2. Chega a ser insulto à

    Chega a ser insulto à inteligência do leitor o artigo da dupla Eurico Borba / Ricardo Noblat no jornal da fima “Globo”. Senão vejamos: em Outubro a CNBB emitiu nota criticando a PEC de número 241 na Câmara e 55 no Senado. E agora vem essa dupla criticar a CNBB por aquela nota porque a PEC… “está sendo duramente combatida pelo PT”, é mole?

    A dupla chega a questionar: “Porque os senhores Bispos não pedem o aconselhamento dos cientistas sociais das universidades católicas?” Ora, porque o sempre estúpido Noblat e esse obscuro Borba não vão, eles próprios, conversar com a academia?

    Se a moda pega, qualquer pessoa ou organização – e olha que não são poucas e nem são diletantes, como são o tosco jornalista e o sofrível ex-IBGE – que aponte os muitos problemas que a tal PEC traria ao nosso país, a depender da famigerada dupla, estará sempre a serviço do PT. E não do PT que capitaneou a mais importante virada na pobreza de nosso país mas de um PT inventado e divulgado pela prória firma “Globo”.

    E depois ainda há quem pergunte o porquê da demência, de surtos semiótico-esquizofrênicos como a da moça que confundiu a bandeita do Japão com o Manifesto Comunista, tão bem apontada por Wilson Ferreira aqui mesmo, em https://jornalggn.com.br/blog/wilson-ferreira/video-revela-surto-semiotico-esquizofrenico-que-se-espalha-pelo-pais-por-wilson-ferreira

     

     

  3. Pois eu não tenho lá tanta

    Pois eu não tenho lá tanta crença na força de vontade da CNBB contra a tal PEC. Marcaram posição pra constar. Daqui a mais alguns séculos poderão dizer que a igreja romana “foi contra”.

    E no curto prazo vai ter bastante desesperado pra eles disputarem com as denominações evangélicas.

    Bom protesto civico religioso.

    PS: saibam que não aparecerá no jornal nacional.

  4. Primeiramente fora temer!

    Primeiramente fora temer! Então, Assis, não parece mas estamos atolados em uma ditadura sem precedentes. Ao lermos matérias como a sua, olhamos o motivo, o bórba e suas considerações impositivas. Daí, o bórba está no contexto! êle age como um ditador de mérda qualquer, e você entra na dêle… digamos… democráticamente? Só queremos que o moro prenda seus comparsas ladrões dos nossos votos. Votamos na Dilma, e filho da puta nenhum é melhor do que nós prá roubar a nossa escolha democrática! Muito menos o fhc vendilhão e seus agregados.

  5. A Igreja agora
    Prezado professor J. Carlos de Assis Sou católico praticante e venho acompanhando a enorme transformação da Igreja desde quando o Papa Francisco passou a dirigi-la. Mudanças na administração e nos compromissos. Estas últimas semanas são do Tempo Comum, a partir do próximo domingo teremos o Tempo do Advento. As Leituras na Liturgia da Palavra tem sido, quase todas, do Apocalipse de são João. Não só o Pároco mais os demais celebrantes tem usado, na Homilia, estas profecias para falar da situação nacional e do Rio de Janeiro. Escrevi até um pequeno artigo “Preces da Comunidade”, relatando a missa de maior frequência neste último domingo. A Igreja Católica está realmente se aproximando ou melhor reaproximando do povo, como no tempo de João XXIII. Na minha modesta compreensão, consequência do domínio do sistema financeiro internacional, a banca, demolindo direitos, empregos e concentrando num ritmo impressionante a riqueza,em todo mundo, alargando ainda mais o fosso entre os despossuídos e os esbanjadores. Também já não é mais possível separar a ação da banca das guerras e dos golpes, os neogolpes jurídico-legislativos.

  6. Outro dia, vi um sermão de um

    Outro dia, vi um sermão de um padre na maior igreja de SP, num dia domingo, metendo o pau no governo. Fiquei impressionada, pois nem sabia que a igreja católica tinha mudado de lado. 

  7. Não me faça gargalhar

    Por favor, sr. Assis, não me faça gargalhar! O “agorismo” vai convocar uma mega-manifestação?!

    Sinceramente, é uma das maiores bravatas que já ouvi nos últimos tempos.

    Nem a CNBB, nem a CJP, muito menos o tal MBA, têm o menor cacife pra convocar meia dúzia de gatos pingados.

    Mais uma bravata dos “agoristas”.

  8. Os fatos históricos recentes

    Os fatos históricos recentes das últimas décadas nos permitem entender a escolha intuitiva (iluminada pelo Espírito Santo), dos Papas mais recentes: João Paulo II e Bento XVI, na conjuntura política da queda da Cortina de Ferro e o consequente fim da guerra fria; e Francisco, no que se alegava o fim da história na vitória de um dos lados bipolares adversários. A perspectiva de controle planetário por um império corrupto, despótico e indutor do consumismo desenfreado, que destroi mentes e zumbifica pessoas, levou a Igreja Católica a uma maior reforma, inclusive em tradições seculares, de forma a assumir, mais intensamente, o pastoreio de seu rebanho. Pondo de lado antigas tradições que baniam católicos, tais como: abortos do passado, comportamentos homosexuais, casamentos rompidos, etc, desde que acompanhados de arrependimento presente, não são atitudes em nada diferentes das que O Senhor Jesus Cristo tomou. Entretanto, tais atitudes são ousadas porque estimulam a crítica por parte de adversários (vide nos Evangelhos a posição dos Fasiseus em relação às atitudes de Jesus Cristo).

    O momento atual exige coragem da Igreja Católica. Com a demolição da Internacional Comunista centrada em Moscou, a Igreja pode, finalmente, atuar mais desinibidamente na política e se por, com mais clareza, ao lado dos menos favorecidos. Este sempre foi o imperativo do Cristo, e as classes mais favorecidas que mantém a estrutura física da Igreja devem compreender a nova atitude como o combate à desigualdade de oportunidades, à ganância dos poderosos e a destruição das estruturas sociais e do planeta do qual dependemos simbioticamente.

  9. Cristianismo

    A Igreja Católica é cristã. Se o é tem de se basear no Evangelho, não em cientistas sociais. Qualquer pessoa que se proponha a ler os quatro Evangelhos, seja ou não cristã, não vai neles encontrar nada, absolutamente nada diferente da opção explícita de Jesus Cristo pelos mais pobres, excluídos, desvalidos.  E o que a PEC pretende fazer, por vinte anos, com os que mais precisam do Estado é o oposto do que qualquer verdadeiro cristão, rico ou pobre, almeja para o povo de que faz parte. Já que entrei no assunto Evangelho, não custa lembrar aos bilionários e hipócritas donos da Globo que “ninguém pode servir a dois senhores”. . .

  10. Posição

     

    A CNBB sempre foi lúcida…NAs últimas décadas teve devotada posição em favor de algumas causas relevantes..Com o Papa Francisco abrindo picadas mudanças mais vem por aí…

  11. NOVOS TEMPOS REVITALIZANTES

    A atuação da CNBB em conjunto com outras instituições democráticas representativas da sociedade civil brasileira representa o mais consistente indício de surgimento de uma vigorosa renovação da dinâmica da vida política no Brasil.

    E a proposta de agregar representantes de outras religiões à mobilização contra a PEC 55/241 constitui um sinal claro de maturidade política e filosófica.

    Urge agora conclamar amplos setores da sociedade a participar da construção coletiva de novos horizontes para a resistência democrática, com vistas à conscientização do povo brasileiro acerca da necessidade de barrar e reverter os retrocessos que ameaçam os direitos sociais, bem como de esvaziar os mecanismos de disseminação do ódio, de modo a defender a democracia através dos meios democráticos e estruturar um projeto de futuro mais digno, sustentável e inclusivo, a ser viabilizado pela via eleitoral.

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