Billings, a solução de Alckmin para a crise ao sabor do improviso

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Represa foi protejada nos anos 30 para abastecer uma usina de energia. Depois, teve seu uso como receptáculo de esgoto intensificado. Hoje, ao sabor do improviso, é a menina dos olhos do governador

Jornal GGN – Nesta terça-feira (27), o engenheiro Paulo Massato, diretor da Sabesp, veio a público com um plano de rodízio drástico. A população da Grande São Paulo, em função do colapso dos sistemas Cantareira e Alto Tietê, corre o risco de ficar até cinco dias por semana sem água.

Segundo o executivo, o racionamento será implementado em três hipóteses.

1- Se as chuvas nos principais mananciais seguirem abaixo da média – e tem tudo para acontecer, visto que já estão aquém do esperado há pelo menos nove meses.
2- Se as obras que aumentarão a produção de água não ficarem prontas a tempo. Só não se sabe se a seca vai aguardar até 2016 ou 2018, primeiras previsões.
3- Se o plano de usar o que há de despoluído na Billings, intenção confirmada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) na última semana, não for viável. Mas que plano?

Alckmin não detalhou o que a Sabesp pretende com a Billings. Até agora, o que se sabe é que o uso imediato dessa represa é improvável. Isso porque metade da água que consta no reservatório artificial que é a Billings é fruto de esgoto e problemas com assoreamento. A parte relativamente limpa da bacia (os braços Taquacetuba e Rio Grande) já abastece um pedaço de São Paulo, do ABC Paulista e da Baixada Santista, e está no limite.

Não exatamente por falta de água, segundo explicou ao GGN o secretário de Gestão Ambiental de São Bernardo do Campo, João Ricardo Guimarães, em entrevista realizada em maio de 2014 (época em que Alckmin revelou pela primeira vez a intenção de usar a Billings). Mas sim porque, nos últimos anos, nenhuma estação de tratamento de água foi construída com o intuito de aproveitar o potencial da represa. Esperaram a crise chegar para enxergá-la como solução?

Hoje, ao sabor do improviso, a represa é a menina dos olhos de Alckmin. Na semana passada, inclusive, o tucano até mandou um recado ao governo federal: “Tire as mãos do meu brinquedo!”

O episódio foi contado por um periódico regional que teve acesso exclusivo a uma planilha da Sabesp com números que irritaram o governador. Em matéria atacando o governo federal, o Diário do Grande ABC cravou que o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), “órgão ligado ao governo federal”, descumpriu um acordo com Alckmin e retirou, ao longo de três dias, mais água do que poderia da Billings, “apenas para produzir energia” em Henry Borden. Lei federal sustenta que em caso de crise de abastecimento, o uso de água para consumo se sobrepõe ao uso para produção de energia.

Consta na história da Billings que ela foi projetada nos idos de 1930 para servir à usina Henry Borden, não para produção de água para consumo. A usina impulsionou o desenvolvimento industrial de São Paulo e, depois, foi abandonada. Billings, por sua vez, virou, em parte, manancial para atender a uma franja de pessoas na Grande São Paulo e, em outra parte, tratamento de esgoto.

É o que afirma o engenheiro e sanitarista Roberto Kachel (que acumula 30 anos de experiência na Sabesp). Ele lembra que sempre que chove muito na capital, as águas dos rios Tietê e Pinheiros são revertidas para a Billings, para evitar enchentes. “A última vez que esse sistema foi acionado foi no verão de 2010 para 2011, quando deu aquelas enchentes no Cantareira. Ai, que saudade!”, brincou Kachel.

 

O governo estadual, segundo Guimarães, também dificulta os planos de recuperar a Billings combatendo as moradias irregulares em áreas de mananciais. Mesmo que o governo federal disponibilize mais recursos para construção de casas populares, os órgãos de licenciamento do Estado não superaram as burocracias que retardam o processo. Essa é uma discussão que existe ao menos desde o final da gestão de José Serra (PSDB), e pouco evoluiu. 

Para Kachel, é difícil imaginar, agora, como Alckmin vai conseguir explorar o que tem de explorável na Billings em caráter emergencial. Segundo ele, o governo “já leva água da Billings ao sistema Guarapiranga por meio do braço Taquacetuba”, e não faz pouco tempo, não. “A reversão do braço Taquacetuba para o Guarapiranga existe desde 2000, apesar de Alckmin se apropriar do feito como se fosse uma novidade ou solução para a crise.”

Além disso, “a distância mínima entre os dois melhores pontos para levar água da Billings ao sistema Alto Tietê é de 40 quilômetros. (…) Do jeito que o Alckmin fala, parece que construir uma valetinha vai resolver o problema, que até o final do ano vai conseguir. Isso é crime contra o povo”, acrescentou Kachel.

O GGN já publicou reportagens sobre a Sabesp e a gestão dos recursos da Billings, que poderia servir como alternativa ao Cantareira, se o planejamento que o próprio governo do Estado elaborou tivesse saído do papel. Confira:

Alternativa ao Cantareira, Billings é exemplo de “gestão esquizofrênica” em SP

Sabesp distribui até 60% dos lucros aos acionistas

Lógica financeira da Sabesp marginaliza tratamento de esgoto e limpeza de rios

 

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

21 Comentários

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  1. aleivosias contra Geraaaaaaaaaaaaaldo

    Governo Dilma ameaça São Paulo com racionamento d’água

    28 de janeiro de 2015

    Água não falta. É tudo invenção do governo federal para prejudicar Geraldo

    Insistindo em uma mentira contra São Paulo e contra seu brilhante governador, Geraldo Alckmin, o governo federal e a imprensa comprada pelo imprensalão do PT tentam de todas as formas inventar uma crise hídrica onde não tem. Repetem uma mentira um milhão de vezes para que ela se torne verdade.

    Mas não adianta, Geraldo resiste, e se ele nunca disse que há racionamento ou falta d’água é porque realmente isso não existe. O Secretário Arce também já afirmou e reafirmou: “Nunca foi dito por mim nem por nenhum funcionário da Sabesp que a companhia pratica qualquer tipo de rodízio ou racionamento. Por uma única razão: não há rodízio nem racionamento”.

    Petistas irresponsáveis, para desviarem a atenção do povo para seu pífio governo, tanto em Brasília quanto na capital bandeirante, inventaram essa crise, e agora querem forçosamente impor o racionamento na cidade para se vingarem da derrota de Dilma no estado. É um absurdo!

    A nação já vive o racionamento elétrico, isso é inegável, agora para compensar o desgaste federal inventam um racionamento de água estadual, desnecessário, incabível e falso. Não aceitaremos calados essa tentativa de denegrir a imagem de Alckmin e da Sabesp, uma empresa com ótimos conselheiros e que distribui excelentes rendimentos aos acionistas, a verdade ressurgirá nas águas claras e límpidas da empresa.

     

      1. ah, vá!

        pensei que era brincadeira mas o site existe mesmo… rsrrsr de qualuqer forma deixei minha mensagem para o post do moço, e com certeza serei excomungado…. KKKK

    1. Acho que você não conhece a peça!

      Leia com atenção os textos do blog do Professor, e compare com o que falam com total segurança os leitores de veja, OESP e telespectadores da grobo niuzes.

      É o melhor site tucano.

      P.S. talvez seja necessário colocar a sua tecla IRONIC MODE em posição ON?

  2. literalmente

    … muita agua vai passar por essa ponte ate que comecem a falar a mesma lingua.

    quanto se gasta de agua para tirar um litro de etanol ??  passa-se cinco meses molhando o pé de cana ate o momento de processa-la na usina.

    quanto se gasta para tirar uma saca de soja e depois se exporta a comodite ??

     

    agora chegou a vez de arrochar alguns milhoes de sobreviventes da “neoseca” enquanto os baroes da agricultura embolsam os lucros

     

    –>>>  sorria:  Vc nao vai sair vivo dessa !

  3. Sem entrar no mérito

    de quem é, para que foi feita, se é viável ou não o uso da água da represa, o que me espanta é que em maio de 2014 pensavam em usar o manancial. E até agora, continuam apenas pensando em usar. Nem um mísero estudo foi feito. A Jestão tucana é exemplar, mesmo. Bem sei que não é simples nem barato construir uma usina de tratamento de água, mas os prejuízos gerados pela falta de água superam em muito o custo da construção de uma estação para tratar a água.

    1. A gestão tucana é rápida para

      A gestão tucana é rápida para vender empresas públicas a preço de banana e concessões de rodovias com tarifas de pedágios exorbitantes.

  4. À falta de manifestação do governador, especulemos

    Muitos meses atrás, quando este espaço começou a tratar do assunto de forma diária e sistemática, com os artigos do Sergio Reis, o colunista fac totum do blog, André Araújo, com seus vastos conhecimentos de tudo o que acontece em terras da América de Cima, relatou que a água de Los Ângeles vinha de uma distância de 650 Km, e postou links e mapas que comprovavam isso. Registrou também que a solução para a água de São Paulo estaria na represa de Avaré, distante irrisórios 250 Km da capital, portanto a solução definitiva seria puxar água de lá, todo o resto seria gambiarra. 

    De fato, basta abrir o mapa do Estado que a solução apontada pelo André salta aos olhos. Não existe mais água em abundância próxima à capital, não adianta ficar puxando um pouquinho do Paraíba do sul, mais um pouquinho de outro canto, foi-se o tempo em que a água estava próxima. Há que se considerar sim, que 250 Km é uma distância irrisória quando se trata de prover de água uma população de cerca de 20 milhões de habitantes (a combalida região de Campinas incluída). 

    Aos números: segundo a Wikipédia, a represa de Avaré (Represa de Jurumirim) …”fica no estado de São Paulo e é formada pelo represamento  Barragem de Jurumirim, no rio Paranapanema e banha dez municípios no centro-sul do estado. Tem cerca de cem quilômetros de comprimento e em alguns trechos ultrapassa três quilômetros de largura. A represa tem um reservatório com área de 449 km², contendo um volume de água quase quatro vezes maior que o da Baía de Guanabara no Rio de Janeiro. Suas águas são uma das poucas não poluídas no estado”.

    Fazendo um projeto de padaria: tubulações e bombas, enterradas ou áereas, que poderiam vir pelo canteiro central da rodovia Castelo Branco. A água canalizada viria diretamente para estações de tratamento, ao invés de abastecer o Cantareira. Se tivesse começado há 1 ano, talvez hoje faltasse pouco para concluir a obra. 

    Tudo isso pode ser uma monumental e ingênua besteira? Pode, e certamente deve ser. Mas como nem o corpo técnico da Sabesp e nem o apavorado governador do Estado vem a público para oferecer um horizonte para a solução do problema, só nos resta especular com o que temos. E assistir o anúncio singelo de um racionamento tipo 5 por 2. 

  5. sempre a omissão.
    ouvi

    sempre a omissão.

    ouvi agorinha o alquimista dizer que choveu um pouquinho e já melhorou…

    quer dizer, negam o que todos veem à espera de um milagre,

    de uma olução externa, já que ele não tem enhuma.

    jogam a razão tão sofridamente constuída pela história na lata do lixo…

    na maior cara de pau…

    só sabem misitificar….

     

  6. ALCKMIN É CULPADO E MERECE O IMPEACHMENT!

    Se vamos começar a beber água de esgoto, é por que ele permitiu a devastação das áreas de preservação florestal em volta dessas bacias, que hoje atinge cerca de 70% de desmatamento. Sua irresponsabilidade é a causa principal do problema. A própria floresta alimenta as nuvens e as chuvas, além de propiciar uma melhor captação de água nos reservatórios. Deixar políticos assim impunes, significa aplaudir a impunidade; levando-nos a coisas muito piores no futuro.

    Quem tiver dúvida:

    https://www.facebook.com/democracia.direta.brasileira/photos/a.300951956707140.1073741826.300330306769305/535066293295704/?type=3&theater

    1. Se a Grobo vende

      três Bs, formado por uns bobocas que se acham ichpertos, vai ver que o novo projeto da concessionária de água da paulicéia poderia ser dois Bs: Beber B.sta!

      Quem mandou votar nele ? 

  7. É sofisticação de gestão…

    O povo do estado mais rico, vai receber agora a água de um ex depósito de dejetos. Se sofrer indiGESTÃO, é comédia anunciada, pois tratgédia não acontece nesta jestão…

  8. Uma tragédia chamada Geraldo Alckmin.

    Se Geraldo Alckmin não consegue dar conta da água do estado que governa, é porque é um incompetente ou muito burro. Como não é burro, é intelectualmente desonesto.

  9. É bem o modelo tucano. ” Nós

    É bem o modelo tucano. ” Nós vamos estar fazendo, nós vamos estar criando.” E vamos filosofar, sociologar e psicologar.

    E nada que é de interesse do público vai pra frente.

  10. Ninguem respondeu a minha

    Ninguem respondeu a minha pergunta!

    A QUEM pertence a represa Billings?  No Brasil eh so apontar e dizer “olha que bonitinho, eu quero aquela represa ali” e…

    E so isso?

  11. Deve acontecer….

    ” Se as obras que aumentarão a produção de água não ficarem prontas a tempo”

    Enfiaram o slogan “PAC” no meio, portanto com certeza a obra emPACará como as outras….

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