Caso Celso Daniel foi crime comum, afirma ex-Delegado Geral

 
Jornal GGN – Em entrevista ao El país, o ex-Delegado Geral de São Paulo, Marcos Carneiro Lima afirma ficar incomodado com as suposições políticas sobre o caso do sequestro e assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel. Na época em que o crime aconteceu, em janeiro de 2002, Carneiro trabalhava na Corregedoria da Polícia e no Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), um pouco antes, atuou na Divisão Anti-Sequestro, onde descobriram que havia um chefe de crimes de sequestro chamado Monstro (Ivan Rodrigues da Silva), o mesmo que liderou o grupo que matou Celso Daniel.
 
El País
 
Marcos Carneiro Lima, Ex-Delegado Geral de São Paulo
 
“É fácil fazer teoria da conspiração, mas a morte de Celso Daniel não foi política”
 
Lima estudou Monstro, que comandou sequestro e morte do prefeito e garante que o crime foi comum
 
Marcos Carneiro Lima, que trabalhou na Divisão Anti-Sequestro entre os anos 90 e 2000, trabalhou também na Corregedoria da Polícia e no Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), depois como delegado geral em São Paulo, comandando a Polícia Civil. Ele conhece muito bem um personagem central do assassinato de Celso Daniel, prefeito de Santo André, que volta ao noticiário pelas mãos da Lava Jato. Monstro, líder da quadrilha que sequestrou, torturou e matou Daniel, era objeto de estudo de Lima há muito tempo, quando o crime aconteceu. Atualmente dando aulas na Academia de Polícia, o delegado, agora aposentado, diz que se incomoda com as ilações políticas sobre o caso, que coincidem com períodos eleitorais.
 
Resposta. Em 2000 eu era da delegacia Anti-Sequestro em São Paulo (atual Divisão Anti-Sequestro -DAS), onde fiquei sete anos. Vimos uma quadrilha fazendo sequestros de forma diferenciada, porque a vítima ficava pouco tempo no cativeiro, lhe roubavam pouco dinheiro, e muitas vezes o crime nem era denunciado à Polícia Civil. Descobrimos a partir do sequestro da esposa de um diretor do banco Itaú, que foi pega perto da praça Panamericana [Alto da Lapa, zona oeste de São Paulo, bairro nobre da capital paulista]. Ela trabalhava em uma ONG na favela Pantanal, na divisa com Diadema. Descobrimos ali que havia um chefe do crime, o Monstro (Ivan Rodrigues da Silva), o mesmo que liderou a quadrilha que matou Celso Daniel. E começamos a estudar seu modus operandi.
 
P. Haviam muitos sequestros nessa época?
 
R. Em 2000 ainda haviam poucos, eras 25 ou 30 ocorrências no Estado de São Paulo. Mas a partir de 2001 estouraram os sequestros. Mais de 200, fora os que não eram notificados. E as vítimas passaram a ser agredidas. Houve uma cartilha escrita no antigo presídio do Carandiru pelos sequestradores do empresário Abílio Diniz (sequestrado em 1989). Eram bandidos ligados ao Movimento Izquierda Revolucionaria (MIR, guerrilha que atuou no Chile na época da ditadura). Essa cartilha previa que a vítima fosse preservada. Algumas quadrilhas usaram bem essa orientação. Mas criminosos violentos agrediam muito e até cortavam pedaço de orelha.
P. Onde a morte de Celso Daniel se encaixa?
 
R. Saindo de 2001, ano crítico em número de sequestros, chegou janeiro de 2002. A quadrilha do Monstro sai da região deles e vai atrás de uma empresário do Ceasa (centro de abastecimento hortifrúti), perto da praça Panamericana. Ele estava numa Dodge de suspensão alta. Os sequestradores estavam com um Santana. O empresário que eles perseguiam conseguiu fugir. Quando estavam voltando para a região de Diadema, trombam com um Mitsubishi importado, com Celso Daniel de passageiro, e o fazem parar.
 
P. Por que Sombra não ofereceu resistência se era carro blindado?
 
R. Eles tinham armamento caríssimo, fuzis, e ainda que fosse um carro blindado, não havia como lidar com esse tipo de arma cara. Para os sequestradores, só interessava a vítima, ou seja, o Daniel, não o Sombra que parecia ser o motorista.
 
P. Mas por que não levaram o Sombra?
 
R. Era um padrão, que havíamos detectado desde o sequestro da mulher do diretor do Itaú. O modus operandi era ir atrás de vítimas que andavam em carros importados. Em alguns casos só pegavam o carro, quando descobriam que quem estava dentro era apenas o motorista do endinheirado, ou só levavam a vítima, caso ele estivesse com motorista, e extorquiam 10.000, ou 20.000 reais. Nessa época eu saí da DAS e fui para a Corregedoria e continuava monitorando os sequestros.
 
P. Por que mataram o Celso Daniel se não era padrão matar a vítima?
 
R. Eles não sabiam que era o Celso Daniel. Como já eram experientes, e planejavam pegar o empresário do Ceasa, que fugiu naquela noite, tinham já um local para usar de cativeiro, uma chácara na região de Juquitiba, na BR 116 [onde Daniel foi morto]. Tiveram de ficar ali porque naquele momento havia polícia na favela do Pantanal. Quando o Monstro viu a repercussão do sequestro na mídia, mandou liberar o prefeito. “Dá linha no cara”, pediu para seus comparsas, mas foi mal entendido por um integrante, que era o menor de idade, e esse menor matou o Celso. Essa foi a tragédia.
 
P. E então, como nascem as teses de crime político organizado?
 
R. Quando acontece o crime, há o impacto de uma coincidência. Daniel foi sequestrado no dia 18 de janeiro, e morto dois dias depois. No dia 17, ou seja, um dia antes do prefeito ser pego, dois presos de uma penitenciária de Guarulhos, entre eles, Dionísio Severo, saíram de helicóptero do presídio numa fuga espetacular. Eles haviam sequestrado o funcionário de um banco. Severo era um ladrão que roubava, mas que começou a fazer sequestros. A primeira vez que o prendi, em 1998, ele me disse que ia fugir. Tinha dinheiro guardado, era um sujeito articulado. Tanto que o prendi no litoral, Praia Grande, onde tinha até um programa de rádio. Mas ele estava articulando uma facção de contraponto ao Primeiro Comando da Capital, e estava jurado de morte. Por isso ele fugiu, com ajuda do filho dele, que deveria tê-lo resgatado uma semana antes, mas bebeu demais e perdeu o horário. Ele não tinha nada a ver com o sequestro. E precipitaram essa relação, o que foi um erro crasso da polícia, trabalhando teorias como se fossem verdadeiras.
 
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Redação

10 Comentários

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  1. Para aqueles que não deixam

    Para aqueles que não deixam Celso Daniel descansar em paz, utilizando a sua morte tragica para objetivos mesquinhos sobrará a danação eterna,  podem apostar.

  2. Definitiva!…

    Essa iniciativa de Moro é a mais cabal e definitiva prova de que sua atuação é política e contra o PT.

    A Operação Lava Jato tem que ser retirada de sua alçada, pois foi completamente desvirtuada. 

    Tem, também, pelo mesmo motivo,  que mudar toda essa equipe do MPF que toca o caso.

    1. A partir do momento em que

      A partir do momento em que Moro passa a perseguir Lula, sua atuação como juiz chega ao fim. A investigação sobre a Petrobras não mais interessa a Moro e passa a ser utilizada com a única finalidade de tentar criminalizar Lula e o PT. Em razão disso, a verdadeira investigação sobre a Petrobras foi posta por Moro em segundo plano e quase abandonada, sendo utilizada apenas como álibi em sua busca frenética e sem sentido para contentar aqueles que o comandam. Não há mais dúvidas sobre o conluio entre  PGR Janot e Moro nessa caçada despropositada em busca de Lula e do PT.

      O resultado disso é lamentável. Os presos de Moro não têm mais serventia para ele e estão encarcerados sem motivo justificável. Em pleno século XXI, estamos assistindo a um verdadeiro retorno da inquisição espanhola em solo brasileiro. E o Poder Judiciário parece impotente para por fim a todos esses absurdos do político Moro, o qual, de juiz, não tem mais nada.

       

  3. Só os lucos, desvairados,

    Só os lucos, desvairados, acreditam que essa Lava jato é uma operação de credibilidade. Seria se relamente o juiz fosse um ser isento, capaz de combater acorrupção, e não de perseguir pessoas de um partido, ou que possam ter ligações diretas ou indiretas com esse partido.

    Eu creio que pra quem já produziu algumas irregularidades, ou crime, tão gritantes, como Moro tem feito, não demora muito e essa situação vai mudar. Não sabemos como, mas talvez pela má repercussão na mídia estrangeira isso possa acontecer. 

     

  4. Deve ser orientação

    do PSDB, gente idiota, que na falta de outro assunto p/ continuar o “clima”, voltam com esse caso, que já rendeu tudo o que tinha de render. Se a Lava Jato não for por outro motivo que não o político, como eu sempre disse, não entendo mais nada. Mas parece que o “fantasminha” branco já declarou de viva voz. E o país que se dane.

  5. caso celso daniel…

    Evidente mais uma parte do direcionamento político nas investigações da lava jato, mas acreditar que este crime foi um crime comum é atentar contra a inteligência das pessoas. Achar que a polícia foi ao barraco na favela e não encontrou nada , e três dias depois , foi ao mesmo local e achou os pertences do prefeito é inacreditável. Vale lembrar também o governador do AC, assassinado dentro de um hotel em SP. Ninguém viu nada, crime comum. Ah! Pobre Brasil. Continuaremos a Terra da Inocência?!

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