Condução de Lula revela motivações de Moro, por Guilherme Boulos

Jornal GGN – Em sua coluna na Folha de S. Paulo, Guilherme Boulos afirma que a condução coercitiva do ex-presidente Lula, criticada por juristas e ministros do Supremo Tribunal Federal, revelou as motivações políticas do juiz Sergio Moro: “operação não tem outra explicação que não o linchamento público de Lula”.

O colunista da Folha diz que, com o passar o tempo, a Lava Jato e Sergio Moro (o “Falcone das Araucárias”) foram revelando vícios comprometedoras, dizendo que a operação escolheu alvos e excluiu outros, mirando no PT e em Lula e preservando o PSDB. Boulos também acha “curioso” o silêncio do ministro Gilmar Mendes, “tão preocupado com as garantias constitucionais”, em relação aos procedimentos da operação. Leia mais abaixo:

Da Folha

O que quer Sergio Moro?
 
Guilherme Boulos

espetáculo da condução coercitiva do ex-presidente Lula na semana passada expôs a nu as motivações políticas do juiz federal Sergio Moro. Criticada por ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e por juristas de todos os matizes (incluindo um ex-ministro de FHC), a operação não tem outra explicação que não o linchamento público de Lula.

O argumento de que a medida extrema foi para a proteção do ex-presidente não convence nem as carolas do Country Club de Maringá, frequentado pelo juiz. O ministro Marco Aurélio Mello, que não é exatamente um petista, afirmou que “não gostaria de ser ‘protegido’ dessa maneira”.

Lava Jato ganhou popularidade por ter pegado peixes graúdos do empresariado. Os donos do Brasil foram em cana e não saíram no mesmo dia. Assim Moro elevou-se com a fama de justiceiro, o Falcone das Araucárias. No entanto, com o passar do tempo, a Lava Jato e seu principal condutor foram revelando vícios comprometedores.

O primeiro foi o dos pesos da balança. A décima quarta fase da operação, quando foram presos Marcelo Odebrecht [presidente da Odebrecht] e Otávio Marques de Azevedo [presidente da Andrade Gutierrez], recebeu o nome de “Erga Omnes”, em latim “Vale para todos”. Vale mesmo?

Presidente do PSDB, o senador Aécio Neves (MG) foi citado em mais de uma delação –numa delas como detentor de um terço das propinas de Furnas e… nada. A campanha tucana foi beneficiária de doações das mesmas empresas que financiaram Dilma, por vezes com valores iguais ou maiores. Mas num caso as doações foram criminosas e noutro não? O Instituto FHC recebeu contribuições de várias das empresas investigadas, tal como o Instituto Lula. Mas não consta ter havido busca e apreensão por lá.

Visivelmente a Lava Jato escolheu alvos e excluiu outros. Optou por atacar Lula e o PT e por preservar o PSDB. Além disso, há os incríveis vazamentos das operações e de depoimentos sob “sigilo”. O editor da revista “Época” –do Grupo Globo– anunciou a operação no Twitter com horas de antecedência. Há algo de podre aí. Resta saber o que une Moro, Globo e a PF numa sintonia tão fina…

Por muito menos, o ministro Gilmar Mendes falou em “estado policial” e Paulo Lacerda foi defenestrado da direção da PF em 2007. Aliás, não deixa de ser curioso o silêncio de Gilmar, tão preocupado com as garantias constitucionais, em relação aos procedimentos “heterodoxos” do juiz Moro e da Lava Jato.

Abuso das prisões preventivas, negociações pouco claras em relação às delações premiadas e agora a condução coercitiva (condução compulsória por agentes policiais) sem intimação prévia. Para atingir seus propósitos, Moro abre precedentes perigosos. Com a mente messiânica de um justiceiro, parece estabelecer para si o objetivo de “moralização” do país. Há, porém, sérios motivos para se desconfiar do que ele entende por isso.

Num evento com empresários no ano passado, Moro disse que “a iniciativa privada tem melhores condições de liderar um movimento contra a corrupção”. Hein? A mesma iniciativa privada que sonega R$ 500 bilhões de impostos todos os anos e tem 30% do PIB em paraísos fiscais? Aquela que desviou no esquema do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) mais de três vezes o valor das propinas da Petrobras? Ora, dizer um disparate desses revela ou ingenuidade ou cinismo.

Moro é também admirador confesso da Operação Mãos Limpas, conduzida pela procuradoria de Milão nos anos 1990. A Mãos Limpas prendeu 2.993 pessoas durante quatro anos e investigou 872 empresários, 438 parlamentares e 4 primeiros-ministros. Liquidou com os quatro maiores partidos políticos do país.

O resultado de tudo isso não foi a “moralização” da Itália. Foi a ascensão de Silvio Berlusconi como primeiro-ministro, estabelecendo um reinado corrupto e depravado que durou 12 anos. A Mãos Limpas não acabou com a corrupção porque nenhum justiçamento acaba. É evidente que as investigações sobre corrupção são importantes e devem ser aprofundadas, mas sem as arbitrariedades, achincalhamentos e a seletividade de nenhum justiceiro de toga.

Enfrentar a corrupção no Brasil implica enfrentar um sistema político em que os interesses públicos e privados historicamente se amalgamam. Mas isso não está pautado no horizonte do juiz Sergio Moro. Para ele, trata-se de prender Lula e contribuir com a derrubada do governo petista. Definitivamente não parece ingenuidade. 

 

Redação

15 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. E Boulos ainda titubeia.

    E Boulos ainda titubeia. Gosto dele e acho-o uma pessoa coerente, porém esse momento necessita de mais ênfase. Vi um vídeo de trabalhadoras norte-americanas defendendo o Lula em um evento e falando com mais ênfase do que uma certa esquerda brasileira. Vamos acordar aí. Vai precisar matar o cara para a gente começar a reagir? Já está mais do que na hora. Não há qualquer desculpa para não irmos às ruas e repudiarmos enfaticamente esses ataques.

      1. Mas com a ressalva de que

        Mas com a ressalva de que isso deve ser feito em outro dia que não o dia 13, domingo agora, pois tudo o que querem é um ato de violência partindo de nós para que tenham um álibe para intensificar a perseguição. É preciso força e ênfase, mas também inteligência. 

    1. Pois é.
      Ingenuidade é dessa

      Pois é.

      Ingenuidade é dessa esquerda.

      Esses vários artigos “descobrindo a pólvora” servem pra muito pouco. Se não houver um contra ataque, se não houver um firme confronto ideológico com essa direita boçal que só cresce enquanto o centro e a esquerda fazem “autocrítica”, já era.

      Se não chamar o boçal de boçal, o fascista de fascista… esquece!

  2. Acho que andaram pegando no

    Acho que andaram pegando no pé do Moro.

    Anda dando explicações. Dizendo que a lava jato não está afetando a economia, como os especialista da área acham que está.

    Que não é filiados ao PSDB. Descobriram que tem um homônimo filiado ao partido no Paraná.

    Que seu pai não é o fundador do PSDB de Maringá.

    E jura, e diz isso com a maior cara de pau, que não está perseguindo o Lula.

    Quando um juiz começa a se explicar muito, alguma coisa está acontecendo nos bastidores.

  3. Lava Jato x Mãos Limpas

    Entendo que existe uma diferença fundamental quando se compara a operação Lava Jato com à Mãos Limpas da Itália.  Lá houve um trabalho robusto dos procuradores liderados pelo Juiz Falcone, suportado amplamente pela sociedade, porém sem desvios dos princípios constitucionais.  A mesma foam de autação ocorreu no combate ao terrorismo das Brigadas Vermelhas, que foi derrotado pelo sociedade sem a utilização de mecanismos fora da lei como, por exemplo, a Operação Bandeirantes de triste memória, por sinal relembrada hoje pelo Jânio de Freitas.

    Atuar assim, rigorosamente dentro dos limites da lei como foi feito na Itália, exige esforço e competência maiores, porém com resultados mais robustos e permanentes.  O Juiz Falcone não tinha espaço para trapalhadas como a da sexta-feira passada.  Se tivesse cometido um erro daquele, teria caído, até por que não hava proteção a este ou aquele partido político. 

  4. O que significa Sérgio Moro

    Ele é o que foram os militares no golpe de 64. ele faz o mesmo trabalho. Daquela feita, se militarizou um golpe civil de direita, nesta se justicializa. Seria demais usarem os fardados de novo ( se bem que,segundo consta, não há esta possibilidade ainda) . esta forma, usem-se os de toga e do Parquet, ainda mais com um exemplo tão marcante como o da Itália.

  5. Minha filha é fogo !

    Minha filha de onze anos, após ouvir a notícia de que havia um avião em “stand by”, a disposição da PF, no aeroporto de Congonhas, enquanto Lula prestava esclarecimentos, indagou-me: 

    – Pai, por que o Lula foi falar com a polícia no aeroporto ? E por que tinha um avião esperando por ele ?

    – Olhei pra ela, balancei a cabeça e respondi:

    – Filha, eu também não sei, mas tenho quase certeza de que queriam levar o Lula para Curitiba.

    – Pai, tá na cara que iam levar ele.

    – Pois é filha, tá tão, mas tá tão na cara que a intenção era essa que eu acho que a intenção era essa mesmo. Mas…

    – Mas então pai, por que a polícia não procura saber se era mesmo? 

    – Filha, foi a própria polícia que estava fazendo isso.

    – Mas pai, não tem a polícia da polícia, ou outra pessoa que pode descobrir isso tudo?

    – Filha, ter tem, mas veja só uma coisa… Aos 11 anos você se indignou com a clareza dos fatos e quer buscar uma resposta para esta história mal contada. No entanto, se o principal interessado, até digam o contrário, parece não ter dado tanta importância para este “DETALHE”,  DETALHE inclusive que poderia expor à sociedade toda essa podridão que vem lá de Curitiba, por qual razão você está zangada?

    – Mas pai…

  6. Como o Moro está destruindo o Brasil.E quem mosta isso é o Globo

    Impacto da Lava Jato no PIB pode passar de R$ 140 bilhões, diz estudo

    Valor representa um encolhimento de cerca de 2,5% do PIB em 2015.
    Dá para minimizar o custo e PIB vai cair menos que isso, diz consultoria.

     

    Darlan AlvarengaDo G1, em São Paulo

     

     Plataforma da Bacia de Campos (Foto: Luiz Bispo/Divulgação)Plataforma da Petrobras da Bacia de Campos.
    Estatal reduziu investimentos em 37%.
    (Foto: Luiz Bispo/Divulgação)

    Os impactos diretos e indiretos da Operação Lava Jato na economia podem tirar R$ 142,6 bilhões da economia brasileira em 2015, o equivalente a uma retração de 2,5% do PIB (Produto Interno Bruto), segundo estudo da consultoria GO Associados antecipado ao G1.

    Em abril, a consultoria estimava um impacto em R$ 87 bilhões. Recentemente, elevou a sua projeção para R$ 187,2 bilhões (o equivalente a 3,4% do PIB). Agora, o montante foi revisado para baixo, tomando como base o novo plano de negócios da Petrobras, que reduziu em 37% o volume de investimentos previstos entre 2015 e 2019, para US$ 130,3 bilhões.

    “O impacto será um pouco menor, mas ainda muito significativo. No último cálculo consideramos uma redução de 42% nos investimentos da Petrobras”, explica Gesner Oliveira, professor da Fundação Getúlio Vargas e sócio da consultoria GO Associados, que distribui um relatório executivo semanal para assinantes e autoridades.

    MATÉRIA COMPLETA: http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/08/impacto-da-lava-jato-no-pib-pode-passar-de-r-140-bilhoes-diz-estudo.html

     

  7. Lado luminoso da força

    Quem impediu Lula de embarcar para Curitiba no Aeroporto?

    Os Corajosos , que salvaram Lula da prisão, o Coronel da Aeronáutica, que peitou os agentes da PF; e o ex deputado prof. Luizinho, que ao ver seu “companheiro”  Lula sendo levado, fez  um protesto gigantesco no saguão do aeroporto, e assim, chamou a atenção da policia da aeronáutica, que foi conferir, e por conseguinte do Coronel, que barrou o embarque de Lula.

    a PF não contava com isto.

  8. o Aécio que se cuide. Daqui a

    o Aécio que se cuide. Daqui a pouco ele leva uma rasteira do Moro , e o juizinho sai candidato a Presidente no lugar do Aécio, e pelo PSDB.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador