Deputados terão coragem de dizer que defendem a saúde e educação?, por Leonardo Sakamoto

Jornal GGN – Leonardo Sakamoto, professor da PUC-SP e blogueiro do UOL, analisa a PEC 241, que impõe um teto aos gastos público e que irá impactar os investimentos em saúde e educação pelos próximos vintes anos.

Para ele, é inegável que o déficit público precise ser corrigida, até mesmo com eventuais soluções amargas, mas afirma que Michel Temer, Henrique Meirelles e os deputados e senadores “demonstram um carinho grande com o andar de cima ao propor uma medida que limitará gastos que mexem diretamente com a qualidade de vida dos mais pobres” e deixando de aplicar “remédios amargos” para os mais ricos.

Ele argumenta que, atualmente, propor um aumento de impostos aos mais ricos é um “pecado inominável”, assim como falar na taxação de dividendos recebidos de empresas, alterações na tabela do Imposto de Renda e também em aumentos nas taxas de grandes heranças.  

Por último, ele pede que seus leitores lembrem dos congressistas que votarem a favor da PEC para que sejam condenados ao esquecimento caso tenham a “cara de pau” de dizer que defendem a educação e saúde em suas campanhas de 2018.

Leia mais abaixo:

Do blog do Sakamoto

PEC 241: Deputados terão coragem de dizer que defendem educação e saúde?

A Câmara dos Deputados vai votar a proposta que muda a Constituição Federal para impor um teto ao crescimento nos gastos públicos. Com isso, o montante que o governo pode gastar será reajustado pela inflação do ano anterior, o que significa que os recursos para implantar novas ações serão limitados. Se a educação e a saúde públicas fossem exemplares, vá lá. Mas falta muito para alcançarmos a linha de dignidade.

Ou seja, ao contrário dos contorcionismos, malabarismos e truques de mágica que o governo Temer faz com as palavras para que você acredite que nada vai acontecer, essa medida irá impactar os investimentos nessas áreas fundamentais, a partir de 2018 e pelas próximas duas décadas.

Atrelar o crescimento de gastos em educação e saúde à inflação tem um efeito cumulativo sentido ao longo do tempo. Talvez nem seja você a sentir a paulada, mas seus filhos e netos.

O aumento da destinação de recursos em educação e saúde tem ocorrido acima da inflação nas últimas décadas – em parte para responder às demandas sociais presentes na Carta Magna de 1988 e, consequentemente, tentar reduzir o imenso abismo social do país. Se o reajuste tivesse sido apenas pela inflação, o tamanho da oferta de serviços não cresceria, permanecendo tudo como estava.

Como já disse aqui, ninguém nega que o déficit público precisa ser equacionado e que soluções amargas devem ser propostas e discutidas. E todos terão que dar sua contribuição, ricos e pobres. Mas Michel Temer, seu porta-voz Henrique Meirelles e centenas de congressistas demonstram um carinho grande com o andar de cima ao propor uma medida que limitará gastos que mexem diretamente com a qualidade de vida dos mais pobres e evitam aplicar remédios amargos entre os mais ricos.

Falar de aumento de impostos aos mais ricos é um pecado inominável nos dias de hoje. Propor a taxação de dividendos recebidos de empresas é crime. Defender a alteração na tabela do Imposto de Renda (criando novas alíquotas para cobrar mais de quem ganha mais e isentando a maior parte da classe média) é um aberração. Isso sem falar que discutir a regulamentação do imposto sobre grandes fortunas e o aumento na taxação de grandes heranças (seguindo o modelo norte-americano ou europeu) é passível de exílio.

Afinal de contas, debater formas de reduzir a desigualdade crônica sempre foi caso de linchamento ou empalamento em praça pública. Ou, pior: caso se polícia.

Essas medidas sozinhas não resolvem a bancarrota para a qual caminhamos por conta do governo Dilma, mas sinalizaria algo importante: que o país não é mais um lugar no qual os lucros são privatizados pelos mais ricos e os prejuízos são entregues aos mais pobres.

O governo ao invés de buscar medidas que amortecessem o sofrimentos dos mais pobres, que são os que mais sentem uma crise econômica, tenta preservar quem não precisa ser preservado.

Eu, se fosse você, lembraria muito bem dos rostos e nomes dos deputados federais e senadores que votarem a favor da Proposta de Emenda Constitucional 241, tal qual vocês também lembram dos políticos condenados por corrupção.

Se tiverem a cara de pau de abrirem a boca para dizerem que defendem educação e saúde na campanha eleitoral de 2018, condene-os ao esquecimento. Ou os denuncie por propaganda enganosa.

 
Redação

6 Comentários

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  1. Quem vai ceder primeiro, Nassif?

    Temos um divida que suga os impostos, os burocratas querem nos ver que não precisamos do estado e trabalham pelo estado “mínimo”. Estado minimo significa imposto mínimo mas imposto será a ultima coisa que estes agiotas mexerão senão não tem como pagar os rentistas.

    Quem cai primeiro, os redução de impostos ou os rentistas? Juntos não sobrevivem.

  2. Mas que dúvida, Sakamoto!

    Num país onde o Maluf apregoa a própria honestidade, Bolsonaro é apoiado por vários gays e o Temer diz que golpistas somos nós, que fomos contra o golpe, você ainda tem essa dúvida?

    Claro que vão se declarar defensores da saúde e da educação. Mais: dirão que a PEC era a única maneira de garantir recursos pra essas áreas.

    E ainda serão aplaudidos efusivamente por muitas pessoas que deixarão de ter acesso a educação e saúde por conta da PEC…

  3. Acorda jornalista.

    Para falar a verdade tenho achado os testos do sakamoto irritantemente coxinha. 

    eterno desafiador da direita, esta sempre invocando a corragem dos canalhas e os canalhas vão la e cumprem o desafio.

    Na semana seguinte la esta ele a desafiar a coragem da direita em um ovo assunto.

    Por favor reveja sua postura jornalistica, de coxinha o PIG esta cheio.

    Acorda jornalista.

    1. Não gosto do uso do termo

      Não gosto do uso do termo COXINHA. Acho-o por demais simpático a quem se dirige. Prefiro usar direitista, neoliberal ou fascista (este menos, porque fascismo é um tipo de nacionalismo). Mas chamar de COXINHA a todo mundo, sem critério, é pior ainda. E vou seguir o conselho do Sakamoto e ficar de olho em quem votar a favor da PEC 241.

  4. Deputados?

    Aqueles que votaram em nome do pai, da esposa e do filho da outra, amém, em nome do golpe ? Esse novo golpe no povo brasileiro vai passar e vai ser mais uma vez em nome do bem da familia brasileira. Coxinha? Esses não estão muito preocupados. E o nosso Pré-Sal indo para o buraco dos americanos.

  5. terão sim!

    Professor, eles terão sim a cara de pau.

    Muita gente esquece a quem votou no dia seguinte, é muito comodo!.

    Outros acrditam na conversa do temerario Temer. 

    Outros ainda acreditam que o pobre veio ao mundo para sofrer e ganhar o reino dos céus quando morrer. 

    Depois quando aparecer um Robespierre s nossas elites não poderão reclamar!

     

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