Financeirização e os gastos militares dos EUA, por Bernardo Costa

Por bfcosta

Comentário ao post “Xadrez da financeirização de Trump a Temer

Nassif faz uma análise que, de certo modo, se esquece de componentes importantes, particularmente as limitações de mudanças econômicas que os EUA podem ou estão dispostos a fazer.
 
Uma parte importante da análise relativa à financeirização no início da década de 70 se esquece os reais motivos desta. Os EUA planejaram no pós-guerra um sistema financeiro onde eles seriam líderes incontestes, sem possibilidade de concorrentes, e o dólar deles seria a moeda mundial. Mas isso ruiu com o tempo, seja num primeiro momento com a ascenção da europa ocidental e Japão, ou num segundo momento com a China. Desde a década de 60 que os EUA tem déficits em suas transações com o exterior, muito também porque existe um déficit interno governamental por conta dos altos gastos militares. Isso através dos anos fez com que houvesse um ingresso de renda do resto do mundo aos EUA (particularmente da China nos últimos anos), o que os torna os maiores devedores mundiais. Isso, de certa maneira, tira um pouco da liberdade de ação deles, pois suas políticas econômicas precisam garantir esse fluxo de capitais do exterior para dentro.

 
Por outro lado, são justamente estes gastos militares que sustentam eles. A indústria militar é a base do emprego de qualidade nos EUA. Além disso, o contínuo fortalecimento militar fortalece sua moeda, por razões mais políticas que econômicas, mesmo com os demais setores da economia perdendo em competitividade. Em outras palavras, os EUA tem cada vez mais se tornado reféns de uma política que os empurra para intervenções militares no mundo, pois esta é a forma de se manterem hegemônicos, já que economicamente perderam importância para a Ásia principalmente.
 
Trump pode tentar fazer uma política nacionalista economicamente, mas isso não chega a ser exatamente uma novidade por aquelas terras. Nos EUA, todos os presidentes agem de maneira nacionalista, só muda o estilo de como agem. Mas as políticas sempre tem como eixo principal dois pontos: manutenção do dólar como moeda de reserva mundial e expansão comercial para conquista de novos mercados. Quem quer que seja o cara com a caneta, o discurso liberal só serve para abrir mercados externos a eles, de preferência aqueles pertencentes a países frágeis e que podem ser mais facilmente dominados, nunca o contrário. O eventual protecionismo que eles venha a adotar dificilmente vai chegar aqui, pois o discurso para nós será sempre o mesmo: vocês tem que se abrir para minha indústria conquistar seus mercados !! Assim como obviamente tem que ficar sob a minha esfera de influência financeira…
 
Com relação ao Brasil, a única saída que eu vejo é passar a sofrer uma influência cultural e política maior da China, já que este país é hoje quem tem o domínio do nosso comércio exterior. Mas nossas elites políticas continuam demasiadamente ligadas a Washington e tudo leva a crer que assim ficarão por um bom tempo, pois os laços de dominação cultural são mais difíceis de serem quebrados.
Redação

11 Comentários

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  1. Quando escrevi, na época que

    Quando escrevi, na época que o dolar estava R$ 1,40/1,50, sôbre não impedir as importações de automóveis, principalmente dos chineses, estava certo de que era o momento de sairmos um pouco da “zona de desconforto”, das mãos de golpistas testas de ferro e das multinacionais altamente mamadoras e inflacionárias, e embarcar na busca de algumas opções melhores para o Brasil. Escrevi muito sobre orientais, principalmente os chineses, abordando temas sóciais, culturais, políticos, econômicos… mas, fui até banido de alguns blogs. Hoje, os norte americanos colocam cada vez mais seus filhos ainda crianças em cursos de mandarim, e colaboram com uma ditadura no nosso rabo. E hoje, depois de tantos anos, leio a matéria aí do colega Bernardo Costa sugerindo parcerias com chineses… talvez tarde demais, estamos novamente numa ditadura apadrinhada por norte americanos/europeus com testas de ferro ferozes retrógrados aqui no Brasil, e sabe-se lá Deus quando vamos conseguir sair dessa mérda novamente. Em tempo: Acredito ser os EUA a nação mais importante do planeta terra. Mas, nem por isso acredito que seja necessário ficar de quatro para êles, coisa que nem êles querem… o reconhecimento aos norte americanos é indiscutível, mas a subserviência é dispensável, nem eles querem. Mas a cambada de puxas saco das nossas elites golpistas  matam-se e matam qualquer um para ficarem agarrados nos bagos dêles, pelo que eles agradecem e gozam. Abaixo o golpe!!! Abaixo o PGO (Partido do Golpe Organizado)!… E viva o Brasil para os brasileiros primeiramente.

  2. Importante é a derrota de Killary

    De todo o modo a derrota de Killary Clinton, do Partido da Guerra, foi um alívio (pelo menos temporário) para a humanidade, pois a ausência dela jogará a guerra nuclear para o futuro e abrirá uma chance de paz para o mundo e de recuperação de países destruídos pela criminosa ação de Clinton como secretária de estado que se vangloriava de ter destruído a Líbia, hoje entregue a gangues de terroristas.

  3.  
    Pode-se lamentar, porém,

     

    Pode-se lamentar, porém, pouco se pode fazer além de manter muita paciência. De fato, laços da dominação cultural são mais difíceis de desfazer. Não é simples remover, a  síndrome da patetice adquirida. Sobretudo quando o ente que foi submetido à intensa catequese, é uma vítima de segunda geração desse processo.

    É o que está a ocorrer com o bando de coxinhas da PF, MP, e do Judiciário. De repente, uns pintos-calçudos, manipulados por mentores do poder autoritário hegemônico, danam-se há tratar o País e sua população, como se brinquedos fossem, duma imensa disneilândia. Ai,velho, ou se aplica uma boa sova na bunda desses maledetos, ou aguardamos o apodrecimento natural desses merdas.

    Orlando

  4. O diagnóstico está perfeito, quando chega no tratamento…..

    Como os USA chegaram ao ponto em que chegaram parece que as pessoas inteligentes chegam todos as mesmas conclusões, porém é como sair da rosca.

    Há uma serie de impasses intermediários que tornam a saída desta “rosca” quase que impossível, primeiro a qualidade dos gastos públicos no Complexo Militar-Industrial norte-americano.

    O Complexo-Militar-Industrial norte-americano assumiu determinadas características que poderíamos exportar o Moro para resolvê-lo através da sua falência.

    Para quem acompanha o desenvolvimento, a fabricação e a venda de equipamento militar norte-americano chega a brilhante conclusão que se trata do maior esquema mafioso de todo o mundo, superando em dez vezes no mínimo a soma de todas as propinas que existem na face da Terra.

    O orçamento militar norte-americano é maior do que o orçamento de TODOS OS PAÍSES do mundo somados, e a imensa maioria deste orçamento não vão para o salário dos militares, que na realidade comparado com os salários de outros países do mundo é pequeno.

    A maior parte deste orçamento é DESPERDIÇADO EM PSEUDO-PESQUISAS, projetos de armas mirabolantes e construção de elefantes brancos fantásticos para servir para nada no exército norte-americano.

    Segundo declarações publicadas do orçamento militar de 2012 os Estados Unidos gastou diretamente 4,12% de seu PIB em despesas militares, um total de US$970,00 bilhões de dólares, entretanto se formos olhar o orçamento pedido para 2017 (vide Total US National Security Spending, 2016-2017 ) este valor atinge em 2017 US$1038,10 bilhões, se o PIB estimado para 2017 é de $19,284.99 então em 2017 os Estados Unidos gastarão 5,38% de todo o PIB no complexo-militar-industrial.

    ATENÇÃO: Não estou falando do orçamento público, estou falando do PIB, se estivesse falando do orçamento público este valor subiria assustadoramente.

    O que falo aqui que mais de 5% do PIB norte-americano é posto fora sem retorno nenhum a população.

    Os mais politizados poderão dizer que estes gastos militares servem para manter a posição de hegemonia dos USA perante o mundo, porém o mais importante é simplesmente fazer um cálculo extremamente simples.

    QUANTO RENDE AOS USA A MANUTENÇÃO DA POSIÇÃO DE HEGEMONIA DO MUNDO, isto pode parecer difícil de se estimar, porém se transformá-lo no resultado prático que já sabemos desde a época dos piratas ingleses, podemos verificar este valor. A pergunta seria, quanto é a transferência de recursos é feito para os USA não em translações corrente nem em empréstimos, mas sim através de migração de capitais de forma ilegal, compra de equipamentos militares inúteis e contratos obtidos pelos USA não por vantagens comparativas, mas sim por influência política.

    Se somarmos todas estas transferências advindas da imposição da HEGEMONIA do mundo pelos USA, provavelmente não vamos chegar a 10% dos valores que são gastos para manter esta hegemonia, ou seja, o balanço entre o custo militar para mostrar os músculos para todos e os lucros advindos da intimidação que este manifestação expressa de poder está tremendamente negativo.

     Poderíamos fazer uma analogia, há numa determinada região um gangster que achaca os comerciantes, porém quem faz a cobrança são seus “soldados”, o gangster chefe devido no seu passado ter muito dinheiro e crédito paga aos seus soldados sem se preocupar muito com o que eles estão arrecadando, e os soldados como sabem que os comerciantes já estão na miséria retiram o máximo que podem, mas não mais que os comerciantes conseguem pagar. O chefe vai pagando seus soldados e pedindo dinheiro emprestado de outros gangsteres menores que vão emprestando até eles se derem conta que não tem mais como manter os empréstimos, o que acontece depois?

  5. Analise bem ligeira. O

    Analise bem ligeira. O orçamento do Departamento de Defesa foi US$670 bilhões no ano passado, 3,4% do PUB americano mas nesse valor estão salarios e pensões das forças armadas, despesas de custeio, comida, remedios, etc. Material bélico é pouco mais da metade US$345 bilhões, o que é menos de 2% do PUB americano, portanto não é essa industria o “eixo” da economia dos EUA. A China tem US$1,247 trilhão dos titulos emitidos pelo Tesouro dos EUA (basta acessar o site do Departameto do Tesouro) e está estavel há 9 anos, isso é 6% do total da divida publica americana, são titulos de 30 anos, portanto os EUA não são dependentes da China para se financiar mas a China depende dos EUA para manter seu crescimento via exportações.

    Quanto ao Brasil se encostar na China, trata-se de confundir comercio exterior com laços muito mais complexos de natureza geopolitica e cultural, a ligação do Brasil com os EUA é profunda, vm desde o Imperio e vai muito alem de comercio, a China jamais sera um substituto mesmo porque é outra cultura que não tem nada a ver com nossa identidade nacional.

    Quanto ao dolar ser moeda mundial de reserva assim continuará por muito tempo por falta de outra moeda que a substitua.

    1. André, o orçamento de defesa norte-americano passou o …..

      André, o orçamento de defesa norte-americano passou o trilhão. 

      Vide em America’s $1 Trillion National Security Budget

      Ou seja, o orçamento de defesa é 5,38% do PIB e não 3,4% como colocado, isto sem contar despesas em aberto que o presidente não precisa mostrar ao POVO CONTRIBUINTE (vide – Would You Buy a Car Without Knowing the Sticker Price? e Senators Vote to Keep Bomber Price Secret)

      Ou seja, conseguiram tornar uma dispesa que pode atingir 1 trilhão de dólares secreta. Se foi o princípio que o contribuinte tem que saber para onde vai o seu dinheiro.

  6. China

    Richard Nixon, visionário, visita a China no início dos anos setenta, facilitando o ingresso na ONU, estabelecendo relações comerciais com o país de maior população do mundo, óbvio que seria um mercado consumidor.

    Não sabemos se a China seria hoje o que é se não fosse a intervenção de Nixon. Não vejo problemas em relação a estreitamento de relações com os chineses, prevalecendo, claro, os interesses do Brasil. Não vejo diferenças culturais como uma dificuldade  tão grande assim. É o futuro. Se impedirmos que Temer e os seus quebrem o país teremos que diversificar ainda mais o comércio, sabendo que os chineses são nossos principais parceiros, haverá diminuição de comércio com os americanos via Trump.

  7. A & D and AIA

      Esta classificação de ” complexo Industrial militar “, é um dos conceitos mais ultrapassados que ainda vicejam em discursos, teses e demais abobrinhas que rotineiramente são cometidas, por varios “entes sociais” fora do ramo, que estacionaram nos anos 90 do século passado.

       No contexto norteamericano é utilizado o acronimo A & D ( Aerospace and Defense ), cujas varias industrias, entidades, laboratórios, são representadas pela AIA ( Aerospace Industries Association – ” The voice of american aerospace & defense ” ) – um organismo de lobby privado, cujo um dos ultimos associados recebidos foi o Facebook, e logo depois o Mr. Elon Musk ( criador do PayPal ) através da Tesla e da SpaceX.

       Em sua ultima demonstração, a AIA mostrou que este setor proporciona: 1,7 milhões de empregos, com renda média superior em 44% a outros do setor industrial, e no quesito exportações liquidas. foi em 2015 o maior dos Estados Unidos, auferindo US$ 143 Bilhões.

        As demandas da AIA foram apresentadas diretamente a Trump em julho passado, e continuam as mesmas  como explanadas na carta de felicitações a sua eleição ( http://www.aia-aerospace.org/aia-congratules-president-elect-trump-and-the-115-congress…. ).

         O defunto “complexo industrial militar ” foi declarado morto por Willian Perry , quando secretario de defesa de Clinton no famoso ” The Last Supper “. ( http://www.defensenews.com/articles/30-years-willian-perry-reshaping-the-industry ).

         O próximo nivel da industria de defesa e consequentemente dos orçamentos destinados a esta area, para que inclusive não apareçam exclusivamente nesta rubrica ( defesa ), será a tercerização de varios serviços e ramos das FFAA, como ocorre na experiência britanica – a mais avançada no momento – , onde até a manutenção de seu arsenal nuclear foi terceirizada ( LM ), como tambem os serviços de “busca e resgate” (SAR ), através de contratos de longo prazo, assim como suas comunicações estratégicas ( Paradigm ), ou como estamos para fazer aqui no Brasil, terceirizando a manutenção de nossos blindados pesados ( Leopard e Gepard ), para a unidade industrial da KMW em Santa Maria/RS.

    1. Junior, mudou as moscas e ainda piorou.

      O antigo complexo industrial militar que foi substituído por um novo complexo industrial militar tem um problema ainda maior, drena mais recursos e cria menos empregos, principalmente os menos qualificados.

      Outra coisa, ninguém consegue avaliar o real valor militar de todas as estrovengas que estão se aproximando da ordem do TRILHÃO, vide http://www.pogo.org/straus/?referrer=http://pogo.org/straus/search/search.jsp?folderID=664464131&includeSubfolders=true&query=35&submit=Go e B-21 http://www.pogo.org/straus/issues/defense-budget/2016/would-you-buy-a-car-without-knowing-price.html.

      A corrupção está comendo por um pé o orçamento militar norte-americano, gastão meio trilhão no F-35 e os Russos cosntróem um quase tão bom por menos de 10% disto,

      Agora se é complexo industrial militar ou Aerospace and Defense parece-me simplesmente que a sacanagem aumentou.

      Dê uma olhadinha no http://www.pogo.org/straus/ só não entende a sacanagem de Bilhões passando a Trilhões quem não quer entender.

  8. China

        Negocie com chineses, após algumas reuniões feche os olhos, vc. poderá acreditar que  esta em um filme repetido, a unica diferença é que nos filmes anteriores vc. estava em Nova York, hj. em Cantão, mas as propostas, a forma de negociação é a mesma, eles se “acham” , piores que eles somente franceses.

         Já no quesito A & D, a China publica o 2o maior orçamento militar do Mundo, e de acordo com eles, em 2015 de US$ 140 Bilhões, que ninguem no mercado acredita, aliás estatisticas chinesas devem ser analisadas com lupa, pois entidades como o SIPRI ( que não é lá estas coisas ) afirmam, que o orçamento A&D chino pode ser acrescentado em mais de 25% do que eles publicam.

          É fato, não conjectura, que os “spin offs ”  e “off sets” *, gerados pelas industrias/institutos/laboratórios chineses dedicados a A&D, “passeiam” por varias rubricas orçamentarias do orçamento chinês, é até complicado calcular, pois o PLA ( Peoples Liberation Army ) não é apenas uma “força militar”, mas economica, fornece desde serviços de engenharia pesada e leve, até pessoal ( um RH exportavel ), passando por eletronicos pessoais, eletrodomésticos civis, sistemas de sinalização, uma pleiade de materiais, equipamentos duais e principalmente serviços – e cobra por tudo ( dumping e corrupção é normal ).

            Qual país é um dos “sócios”/”colaboradores”, mais importantes da industria de A&D chinesa ?

             Israel

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