Kamikazes, fatos e curiosidades

Do Blog da Aviação Civil

15 motivos para amar/odiar a palavra “kamikaze”

Por Freddy Charlson

O avião, esse meio de transporte incrível, tem diversas formas de utilização. Uma delas é a atuação em conflitos bélicos, como na Segunda Guerra Mundial, que acabou há exatos 70 anos. Conflito, aliás, que marcou a criação do termo “kamikaze” (algo como “vento divino”). Kamikazes eram os pilotos que, em defesa da pátria e de suas famílias, se entregavam de corpo e alma na luta contra os Aliados (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Rússia). A primeira atuação oficial dessa turma ocorreu às 10h47 do dia 25 de outubro de 1944, em pleno arquipélago das Filipinas. Foi o primeiro ataque kamikaze de verdade. Cinco aviões Mitsubishi A6M Zero atacaram o porta-aviões norte-americano USS St. Lo, na Ilha de Samar, sem medo de serem felizes. Na verdade, sem medo de morrerem – afinal, eles estavam ali pra isso. Meia hora de bombardeio causou a destruição do navio e o fim de 140 militares norte-americanos. Ok, os japoneses partiam feito loucos rumo à destruição, à glória e à morte. Se morressem, ok, de boa. Setenta anos depois, os pilotos kamikaze fizeram história, que a gente conta aqui, em 15 imagens, da guerra ao parque de diversões, passando pela música e os mangás. Música boa ou ruim, mas música, ora. Mangás incompreensíveis ou não, mas, ainda assim, mangás. Arigatô pela leitura.

1 – Ataques malucos nas Filipinas

Às 10h47 de 25 de outubro de 1944 ocorreu o primeiro ataque kamikaze. A esquadrilha de cinco Mitsubishi A6M Zero liderada por Yukio Seki, na Ilha de Samar (Filipinas), atingiu o porta-aviões USS St. Lo. O incêndio atingiu o paiol principal e matou 140 soldados. Começava ali o mito dos pilotos kamikaze, o de que fariam tudo, até morrer, para defender as próprias esposas. Nada de pátria ou imperador, que isso é historinha de mangá. E isso mesmo que eles fossem considerados pela religião xintoísta, “espíritos guardiães da pátria”.

 

2 – Três anos, antes, buuum, Pearl Harbor

Os ataques suicidas surgiram durante uma crise no Império Japonês. No ataque a Pearl Harbor – em 7 de dezembro de 1941, na ilha de Oahu, no Havaí, e que destruiu 21 navios e 347 aviões, além de matar 2.800 pessoas e ferir 1.200 – os japoneses utilizaram os Mitsubishi A6M Zero, caças que ameaçavam os norte-americanos. Em 1943, porém, a coisa mudou. Os EUA produziram os F6F Hellcat, com tecnologia superior aos caças japoneses. Na Batalha do Mar das Filipinas, por exemplo, em 19 e 20 de junho de 1944, o Império Japonês perdeu 600 aviões. Outros 500 foram perdidos na Batalha de Formosa entre 10 a 20 de outubro de 1944.

3 – A história até virou filme (cuidado, diabéticos!)

E o filme tem mais açúcar do que sangue. Estrelado pelo cara de carranca Ben Affleck e pela belíssima Kate Beckinsale, a trama gira em torno dos soldados yankees que serviam na Base de Pearl Harbor, no Oceano Pacífico, com as enfermeiras do local. O casal vira um triângulo amoroso, mas os japoneses não querem nem saber. Chegam em Pearl Harbor tocando o terror, com direito a explosões, pirotecnia e muito fogo, obra do diretor Michael Bay. Bons pilotos, os americanos conseguem derrubar sete kamikazes. Pouco, perto da destruição que eles causaram. Adeus, Porto da Pérola, no Havaí.

4 – “Peçam ajuda aos universitários”

Poucos sabem, mas o grosso entre as fileiras kamikaze era formado por estudantes convocados em universidades. E o império de Hiroito avisava: “Jovens, a decisão de virar kamikaze é voluntária, vamos nessa?”. Bons de briga, os japoneses aguentavam verdadeira tortura durante o treinamento e passavam por uma espécie de “lavagem cerebral” em que aprendiam, na marra, que deveriam servir ao imperador, se sacrificar pela pátria e eliminar o inimigo. Mesmo que isso lhes custasse a própria vida. Ah, e até militares da Marinha e do Exército viraram kamikaze. Nesse caso, nada de voluntariado.

5 – É jovem? Então, morra pelo Japão!

Pronto, ao virarem kamikazes, eles passavam a engrossar as fileiras da Unidade de Ataque Especial – em japonês, Tokubetsu Kōgekitai. Os mais íntimos podem chamar de Tokkōtai ou Tokkō. A turma da Marinha era a Unidade de Ataque Especial Vento Divino – tipo a Shinpu Tokubetsu Kõgekitai. O nome, simpático à primeira vista, lembra as tempestades que livraram a cara do Japão dos ataques mongois em junho de 1281, liderados pelo imperador Kublai Khan. E eram só os norte-americanos que chamavam os pilotos suicidas japoneses de “kamikaze”. Por fim, o Japão não reconhecia a existência de “prisioneiros de guerra”. Para eles, a captura pelo inimigo era mais temida que a própria morte.

 

6 – Vento divino e assassino

Segundo os relatos históricos, mais de 2.500 pilotos japoneses passaram desta para uma melhor nas guerras. Bons de mira, eles causaram a morte de cinco mil soldados aliados (a turma dos Estados Unidos, Inglaterra, França e Rússia), com mais de quatro mil feridos nessa conta. Em relação aos navios afundados, porém, há controvérsias. Bons de marketing, os japoneses disseram que afundaram 81 navios e meteram bala em mais 195. Os Estados Unidos disseram que só tiveram 34 barcos afundados pelos japas e que 368 foram atingidos. A história conta que 47 navios dos Estados Unidos foram afundados – 4.900 marinheiros morreram e 4.800 ficaram feridos.

7 – Hora de destruir porta-aviões, meninos!

Os kamikazes não eram bobos, sabiam exatamente o que tinham que fazer. E mesmo os menos espertos recebiam duas lições. Número 1: destruir porta-aviões. Número 2: Nada de fechar os olhinhos apertados durante o mergulho do avião. Vai que erram o alvo e caem na água, tipo o antigo jogo Batalha Naval? E, tipo o preso condenado no dia da execução, eles ganhavam mimos antes do voo fatal, tipo um drinque de saquê. Também escreviam cartas de despedida para a família. Hoje, o governo japonês quer o reconhecimento das cartas pelo Fundo das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) no programa “Memória do mundo”. Querem mostrar a crueldade da guerra para o mundo e o que ela pode fazer, como as missões kamikaze. Prevenidos, os pilotos kamikaze ainda carregavam uma espada e um revólver. Vai que o voo não dava em nada? Aí, eles poderiam se matar, kamikazes que eram.

8 – Abortar missão, jovens!

Erram aqueles que pensam que os kamikazes não erravam os alvos. Os pilotos acertaram meros 11,6% dos 3,3 mil aviões atacados durante a Segunda Guerra. E 27,5% deles voltaram à base – ou o tempo estava ruim para um ataque ou não acharam os inimigos yankees ou o combustível estava acabando ou se arrependeram, sei lá. Coitados, era voltar e ser humilhado pelos chefes. A partir de julho de 1945 as ações diminuíram e os kamikazes ficaram de boa só esperando uma invasão dos EUA. Não rolou. E, crente que os japoneses só se renderiam com a morte, os norte-americanos mandaram ver. Primeiro, pá!, uma bomba atômica em Hiroshima. Três dias depois, pá, em Nagasaki. Muito triste. E em 15 de agosto de 1945, o imperador Hirohito jogou a toalha e o país se rendeu aos Aliados. Fim.

9 – A guerra acabou; os kamikaze, não

Então, com o fim da Segunda Guerra, o esquema de pilotos kamikaze chegou ao fim. E, com eles, seus aviões sem paraquedas, com as portas cerradas, sem trem de pouso e que detonaria a qualquer contato com o solo. Mas a lenda em torno desses audaciosos defensores da pátria e das próprias mulheres alçou outros voos. O termo Kamikaze passou a ser utilizado indiscriminadamente tanto na indústria pop (literatura, música e cinema), quanto na moda (tênis) e até em parques de diversões, com um brinquedo que até hoje desafia a coragem dos frequentadores. Ah, por fim, criaram um drink com esse nome. Não, não é de matar. É para relaxar. Confira, na sequência, o tanto que os kamikazes fizeram pelo mundo…            

10 – O pisante também é de matar

Kamikaze também dá nome a um tênis bem concorrido e amado pelos jogadores de basquete e rappers. Produzido pela marca Reebok, o Kamikaze foi calçado pelo astro Shawn Kemp do antigo time do Seattle Supersonics, na temporada 1995-1996 da NBA, a meca do basquete mundial. Clássico, o tênis ganhou outra versão e voltou ao mercado em 2013, em tom marinho, feito à base de couro nobuck e com amortecimento Hexalite. O preço? Cem doletas na gringa, algo como 400 reais em lojas brasileiras. Nada mal para quem encarou, nas quadras, astros do naipe de Michael Jordan, Larry Bird e Magic Johnson.

11 – Kamikaze é de comer ou de beber?

É, por incrível que pareça, o kamikaze é de beber. O drink, ainda não muito conhecido, é fácil de fazer e inspirado nos pilotos japoneses da Segunda Guerra (num me diga!). O drink leva 30 ml de Vodka, 30 ml de Cointreau , 30 ml de suco de limão e gelo. Aí, pronto, você faz uma cara blasé, de barman e manda ver. Coloque o gelo no copo, depois jogue os ingredientes na coqueteleira. Mexa, remexa e, pronto!, jogue no copo com o gelo. E adicione uma fatia de limão pra ficar mais bonitinho. Aí, é só tomar.

12 – Até o paraibano Zé Ramalho foi kamikaze

E o cantor paraibano Zé Ramalho também rendeu-se ao termo, ao compor a música “Kamikaze”. Ela faz parte do álbum “Terceira Lâmina” (1981), terceiro disco da carreira do cantor e que contou com participação de sua prima, Elba Ramalho. E cuja letra diz assim: “Eu nunca que me dediquei/Muito na arte política/Eu nunca pude ser playboy/Nem sequer me adiantar/O tempo em que eu me separei/Numa razão tão mística/Um cavaleiro, nunca um cowboy/Um verdadeiro kamikaze/Um avião destruidor de lares/Um passeio pelos ares/Um megaton de poucas esperanças/Bombas e lembranças/E quando eu de lá voltar/Não sei se poderei ficar/Ali onde beijei você/Deixando tudo pra viver. A canção cita os termos avião, ares, megaton, bombas e viver. Bem a propósito, numa história de dor e amor.

13 – Thiagão e os Kamikaze do Gueto

Pois é, Thiagão e os Kamikazes do Gueto é o nome de uma banda que também ousou macular a memória dos pilotos kamikaze. Ela surgiu em Paiçandu, no Paraná, em 2006, Thiago Dodô e Adriano. Eles cantam rap e até agradaram os manos e as minas do estado, com músicas como “Finado tem Mãe” e “Só Monstro”. Ah, porquê o kamikaze no nome? Diz aí, Thiagão: “Fomos kamikazes ao nos arriscar e falar de algumas coisas polêmicas. Até sofremos algumas ameaças”, diz o cantor de gangsta rap, um estilo que mostra a realidade das quebradas.

14 – Terror no parque de diversões

Sim, terror no parque de diversões. A maioria dos pequenos parques espalhados Brasil afora tem um brinquedo chamado Kamikaze. Ele consiste de duas torres, com bancos individuais e funciona como um pêndulo enquanto acelera numa volta de 360°. Uma torre (como se fosse um barco) gira para um lado. A outra torre, para o outro, ao mesmo tempo. Ele sobe e desce e o momento de tensão é quando as torres param juntas, no alto, com os clientes de cabeça para baixo. Ou seja, pague para entrar, reze para sair.

15 – Um mangá nada fofinho, para encerrar

Por fim, claro, criaram um mangá (história em quadrinhos de origem japonesa, que lê-se de trás para frente) chamado Kamikaze. Escrito e desenhado por Satoshi Shiki, o mangá saiu na revista Afternoon (Editora Kodansha), entre 1998 e 2003. Nos Estados Unidos, a tradução dos sete volumes do mangá foi lançada pela editora Tokyopop entre 2006 e 2008. A história é tipo assim: há mil anos, 88 bestas surgiram na Terra, atacando a humanidade. Cinco guerreiros elementais confrontaram as bestas. Elas foram presas e amaldiçoaram os guerreiros do Céu, Vento e Fogo. Aí, seus descendentes poderão libertar as bestas para destruir a humanidade. Tirem as crianças da sala.

Redação

8 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. não sei se acerto mas acho

    não sei se acerto mas acho que quando criança li numa revista sobre um filme chamado Torá Torá Torá que se referia ao episódio de pearl habor  e não vinha de hollywood

    1. Tora! Tora! Tora! é um filme

      Tora! Tora! Tora! é um filme americano com coprodução japonesa, de 1970, em que se tenta apresentar pontos de vistas diferentes, mas equânimes sobre a coisa. O título alude ao código empregado na operação pelos japoneses e significa “Tigre! Tigre! Tigre!”.

      1. Origem: 1905

          No ataque a Pearl Harbor em 1941, o Almirante Yamamoto, procurou homenagear seu “mestre”, dando a esta operação, o mesmo “código” de ativação, que o Almirante Togo utilizou em 1905, na Batalha de Tsushima, contra a frota russa.

  2. leveza

    Acho que o autor do post queria dar uma leveza sobre o assunto, pois não precissamos ser todos serios e formais para discutir sobre algo.

    Não estamos em uma escola, então podemos ter um pouco de liberdade para escrevermos sobre os assuntos que achamos interessentes.

  3. Clichê PURO !! Baita BESTEIROL !!

    Que mané idealismo coisa nenhuma!!!

    Os jovens KAMIKAZES eram OBRIGADOS, a CONTRAGOSTO, a partirem para essas missões suicidas.

    Por mais idealistas que fossem, nenhum deles, repito, NENHUM DELES gostariam de terminar as suas vidas desse jeito. Os soldados tinham noção sim da missão que lhes foi ORDENADA; só cumpriam a missão pelo respeito absoluto a ordem. O valor supremo dos japoneses é o respeito hierárquico e ponto final. Do contrário, não restavam o ostracismo eterno ou o fuzilamento.  

    É um absurdo pensarmos de forma idealizada esse fenômeno dos kamikazes. O artigo não expõe a realidade. Eram jovem que tinham medo de morrer, medo de serem punidos se não respeitassem a ordem. Em suma, eram serem humanos como qualquer um, com inteligência, com senso de realidade e com sentimento de temor. 

  4. bebado informa

      Um reparo na “receita” do kamikaze:

       As medidas são as classicas, MAS jamais o transfira da coqueteleira, para um copo ou taça “com gelo”, a taça tem que estar gelada, e nem o gelo da coqueteleira, pode cair para a taça.

        Quanto ao cointreau, se conseguir achar, eu prefiro com a versão mais seca, do que com a comum, muito perfumada.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador