Novo Sabesp Day em meio à crise de abastecimento de água em São Paulo?

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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https://www.youtube.com/watch?v=VTV3hFuG89A width:700 height:394

Jornal GGN – Circula nas redes sociais essa semana um vídeo institucional resgatado de maio de 2012. Trata-se da comemoração dos 10 anos do lançamento da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) no mercado de capital. Há dois anos, a atual presidente Dilma Pena foi à Nova York, acompanhada de uma comitiva, para tocar os sinos da bolsa americana. Em 2002 que a Sabesp começou a atrair fortemente o interesse de investidores estrangeiros, hoje responsáveis pelo controle de 24,2% da empresa.

Reportagem do GGN revelou, com base em dados divulgados em março de 2014 pela Diretoria Econômico-Financeira e de Relações com os Investidores, que desde que iniciou a venda de ações, a Sabesp distribuiu pelo menos R$ 4,3 bilhões em lucros para os acionistas (valores não atualizados). Isso representa cerca de um terço do lucro líquido da companhia entre 2003 e 2013, ou o dobro do que a Sabesp diz investir anualmente em saneamento básico.

Leia mais: Sabesp distribui até 60% dos lucros aos acionistas durante governo Alckmin

Os números da empresa mostram que durante o governo Geraldo Alckmin (PSDB), a Sabesp sempre distribuiu mais dividendos entre os acionistas do que seu estatuto recomenda. Pelo documento, 25% do lucro líquido poderiam ser repassados aos investidores. Mas a Sabesp bateu recordes e nos anos que antecederam a atual crise de abastecimento de água, atingiu payout de quase 28%. Em 2003, o índice foi de 60%.

Foi em 1994, com a justificativa de que assim conseguiria mais dinheiro para investir em abastecimento de água e tratamento de esgoto, que o governo de São Paulo decidiu privatizar parte das ações da Sabesp. Hoje, além dos 24,2% que pertencem aos acionistas estrangeiros, o controle é dividido entre o Estado (50,3%) e os acionistas brasileiros (25,5%).

Logo, em 2014, a Sabesp comemora 10 anos como empresa de economia mista com participação de investidores do mercado. Todo o dinheiro angariado com a gestão do negócio não se demonstrou suficiente, entretanto, para reduzir a dependência da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) em relação ao Sistema Cantareira.

Este ano os mananciais do maior sistema de abastecimento do Estado atingiram os menores níveis de reserva de água da história. O esgotamento do Cantareira levou ao uso de outro sistema, o Alto Tietê, que igualmente chegou ao volume morto.

Apesar de o Estado e a Sabesp usarem como argumento para o problema de abastecimento a escassez de chuva, há estudos que apontam a necessidade emergencial de criar alternativas ao Cantareira há pelo menos cinco anos. Ou seja, quando a Sabesp tocou os sinos em Nova York, já deveria imaginar, no mínimo, que poderia enfrentar uma crise séria caso não tirasse bons projetos do papel para a RMSP.

Em meio à crise, fica a dúvida: haverá motivos e coragem para um Sabesp Day em comemoração à década da abertura de capital?

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

15 Comentários

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  1. “haverá motivos e coragem

    “haverá motivos e coragem para um Sabesp Day em comemoração à década da abertura de capital?”:

    Vai ser uma festanca!  Ouvi dizer que vao servir ate agua!

  2. Vai!!! E a mídia vai cobrir a festa!

    Essa mídia bandida, corrupta e vil vai mostrar a festa e apresentar a  população a grande vitória dos 20 anos do PSDB governando SP!

    Um Estado sob o jugo da seca, com um grupo se perpetuando no poder, controlando a mídia e o judiciário… Tudo o que está acabando no Nordeste está começando em SP!

    No Nordeste, eram os coronéis que tomavam conta… aqui é o capital especulativo.

    Que vergonha!

  3. Tucano é foda. Adora meter o

    Tucano é foda. Adora meter o pé na bunda dos cidadãos brasileiros para poder ordenhar as bolas dos gringos enquanto faz gulosas para seus mestres.

  4. bem que o povo merecia…

    festança com convidados e investidores jogando notas de 100 pela janela

    o mesmo que fizeram em NY após quebradeira imobiliária

    1. Tem esse outro vídeo, muito interessante.

      Diretora da Sabesp faz balanço dos 10 anos das ações da empresa na Bolsa de NY

      Aos 5:05, ela responde sobre a segurança do abastecimento, menciona apenas a redução das perdas, nada comenta sobre investimentos de captação.

      Aos 6:08, ela responde qual é o perfil dos investidores da Sabesp:

      “… são grandes fundos e que não buscam o rentabilidade de curto prazo, não é o pessoal do chamado hot money, é o pessoal que busca uma rentabilidade no longo prazo”.

      Vai um palpite: acho que o sócio mais interessado em embolsar lucro no curto prazo é o detentor maior das ações, interessado em fazer caixa do governo que administra.

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=u1JYDTTbCXU%5D

  5. Acredito que, em alguns

    Acredito que, em alguns casos, possa haver privatização ou abertura de capitais.  Mas nunca, jamais com o PSDB no comando, pois além de não vermos a cor do dinheiro, em muitos casos, como o da SABESP, vemos piora na qualidade do serviço prestado,  quase sempre pela  terceirização da mão de obra e falta de nvestimentos. O que fazem sempre é beneficiar  as empresas, como a telefonia, ou seus sócios, no caso da SABESP.

  6. Sim, Cíntia
    Uma estatal

    Sim, Cíntia

    Uma estatal brasileira, de um setor tão carente como o do saneamento, onde a maioria esmagadora das empresas não tem sequer condição de levantar recursos que não sejam a fundo perdido dos governos, ter saúde financeira e governança que lhe habilitem ser listada na NYSE, será sempre motivo de orgulho.

    A propósito, a Sabesp é uma empresa de capital misto desde sua fundação, em 1973 e não desde 1994. Em 1998 (e não 1994), houve a oferta de ações na BOVESPA e em 2002 na NYSE.

    Além disso, a porcentagem mínima de distribuição de dividendos a acionistas (que é de 25 %) é uma exigência legal e não do estatuto da empresa.

    Também faltou dizer que metade dos lucros distribuídos foi revertido para os cofres públicos, pois o Governo do Estado tem metade das ações.

    1. Nagibe, qual a graça de

      Nagibe, qual a graça de dinheiro que deveria estar sendo investido em obras de saneamento e captação ir para o caixa único do estado?

      É a mesma lógica de pedagiar rodovias com o maior valor possível de ágio para ir para o cofre do estado, quando deveria ser a menor tarifa e a melhor manutenção?

      Isso é uma forma de ver o estado e o cidadão. Ou seja, vamos prejudicar o cidadão de forma que o estado tenha bons números na contabilidade.

      1. A graça é que com isso a

        A graça é que com isso a empresa consegue ser sustentável economicamente. A abertura de capital e o nível de governança que isso exige possibilitam que a empresa capte recursos a taxas melhores, emitindo titulos, ao invés de simplesmente tomar empréstimos.

        Com isso o estado fica livre para usar o Tesouro para financiar aquilo que realmente precisa dos seus recursos, como sáude, educação, segurança.

        A Sabesp ja investe R$ 2 bi ao ano, isso representa 1/3 de todo o investimento feito em saneamento no Brasil, incluindo União, estados, municípios e privados.

        Embora se insista no sofisma dessa associação, a crise hidrica não tem nenhuma relação com a estrutura acionária da empresa e nem mesmo com o montante de investimentos ou dividendos. O problema é muito maior do que isso.

  7. Preguiça

    Vendo isso lembrei do Lulão comemorando a autosuficiência em petróleo que nunca existiu.

    Nâo só a Petrobras entrou logo em seguida numa pindaíba, tendo que ser socorrida pelo tesouro para honrar seus compromissos de curto prazo (ahem, se não fosse estatal, teria falido), como a cúpula toda estava preocupada mesmo era em desviar alguns bilhões de reais enquanto a propaganda falava das maravilhas da autosuficiência (que, só pra ser repetitivo, nunca existiu).

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