O juiz que entregou ao maligno a alma de magistrado, por Alvaro Augusto Ribeiro Costa

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Foto: Pixabay
 
por Álvaro Augusto Ribeiro Costa
 
Condenado a condenar, condenou… e condenou-se 
 
Julgamento ou farsa? Quando o julgamento do acusado termina, começa o julgamento do próprio julgamento e do julgador.
 
Não estou me referindo, por enquanto, a uma sentença condenatória há muito tempo anunciada e esperada desde quando  lançado aos quatro ventos o nome do acusado, antes mesmo que fosse alardeado o crime a ser imputado e de formalmente (embora ineptamente) apresentada uma acusação.
 
Não! Estou falando, ainda, de uma novela diariamente apresentada pela televisão, o rádio, o jornal e a internet e replicada nas ruas, casas, ambientes de trabalho e muitos outros lugares. 
 
Uma novela tão medíocre e inverossímil quanto o roteiro e os personagens, mas tão ao gosto de uma enorme e   “aglobalhada”  audiência, multiplicada em torcidas e apoiadores, claques organizadas ou desorganizadas, unidas na expectativa da proclamação do  final: a condenação do mal pelo bem, a consagração gloriosa dos mocinhos e a definitiva execração do inimigo escolhido.

 
A despeito de sua inequívoca mediocridade, essa novela, entretanto, chegou ao máximo do inusitado: o de anunciar, desde o começo, o próprio final. 
 
Como explicar, então, o sucesso dessa global produção? Sendo o final já conhecido, onde estaria o segredo?
 
É  certo que faltou aos roteiristas e diretores  adequada consultoria jurídica. Isso talvez explique – embora não justifique – a confusão entre investigadores, acusadores e juiz, atuando em posições trocadas, recitando “scripts” de mau gosto e mal distribuídos, atropelando o que deveria ser um modelo de roteiro, com seus ritos próprios, condições e papeis bem claros e definidos. Assiste-se até mesmo  à tragicômica atuação de personagens-atores-autores ora pulando fora do palco para confraternizações com produtores do espetáculo  e seletos convidados, ora se apropriando dos direitos autorais dos capítulos da novela, alugando ou vendendo imagens e textos próprios ou de terceiros, em ostensivas disputas de vaidades e proveitos. 
 
Não! É preciso pensar melhor. Onde estaria mesmo o segredo da novela?
 
Quanto ao personagem-ator-juiz, não daria para saber. Afinal, se um juiz entrega ao maligno a alma de magistrado, não registra o negócio em cartório; apenas entrega a toga, deixando à vista a parcialidade, a ambição, o oportunismo e a busca da fama. Bem sabem eles o que trocam. Não precisam de documento. Basta a mútua convicção.
 
Quanto ao personagem-acusador, também não há segredo. A excessiva auto-exibição por si mesma o desgasta como objeto de maior interesse. Quem ainda o tenha pagará, se quiser; os contribuintes de tributos, a rigor, são os finais pagantes. Tal personagem, contudo, não desperta curiosidade espetacularmente significativa ou crescente. Um livro aqui, uma palestra ali – até um filme, participação ou consultoria em nova novela. É sempre um dinheirinho a mais, com destino filantrópico, confortando quem repentinamente tenha saído da anônima impessoalidade do papel constitucionalmente definido para o servidor público. Delírios da fama, o que valem? Até quando?
 
Voltemos à novela global. Qual o segredo? Se não está no final, onde poderia ser encontrado?
 
Você ainda não descobriu? Pois bem, vou lhe dizer, mas não diga que não estava evidente desde o começo: o segredo está na acusação! 
 
Como? Veja e pense bem: o suspense reside em manter a acusação omissa no essencial, incompleta e propositadamente obscura, despertando na audiência a ânsia de descobri-la com nitidez e  por inteiro. Aliás, a mesma ansiedade – verdadeira angústia – que assalta o acusado que, por não conhecê-la (em razão do que em direito se denomina de inépcia da acusação), não tem como contrariá-la específica e concretamente. Assim, os espectadores permanecem na ignorância e sob o estimulante bombardeio do “marketing”  político e do artifício de  ficções, “power points” e teorias exóticas. Quanto ao acusado, chega ao fim da novela sem saber precisamente o que lhe está sendo concreta e individualmente imputado.
 
Enfim, nesse contexto, o que importa é o sucesso da novela, coroado pela confirmação do final desde sempre anunciado e sua implacável execução.
 
Faltaria a isso tudo apenas um prêmio de consolação – que os produtores globais bem poderiam oferecer ao público (inclusive aos roteiristas, personagens e atores) : uma mega-sena para quem descobrisse  e demonstrasse como o julgador teria chegado à conclusão de seu veredito condenatório (Uma dica: ganha quem encontrar fatos e provas que o fundamentem suficientemente e de modo claro, lógico e perfeitamente estruturado).
 
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  1. “Operação Condor II” – judiciário-midiática!

    “Operação Condor II” – judiciário-midiática! – e o alvo-mor: Lula

    Por Romulus & “Dom Cesar”

    (“&” Eugênio Raúl Zaffaroni)

    “Operação Condor Judicial”: diferentemente da versão original, em vez de “fardados”, desta vez os agentes ~locais~, novamente concertados (!) – consciente ou inconscientemente… – para o avanço da agenda do imperialismo em todo o Hemisfério, são:

    – Judiciário – combinado com o Ministério Público; e

    – Carteis midiáticos locais.

    Honduras, Paraguai, Argentina, Brasil, República Dominicana, El Salvador, Venezuela, Uruguai, Peru…

    Cruza-se a fronteira, fala-se espanhol ou português, mas a estratégia – e o método! – para alijar da vida pública forças políticas progressistas seguem sendo os mesmos.

     

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      1. Será q foi “td mundo” ja leu

        Será q foi “td mundo” ja leu msm?

        Cada vez q eu posto, vem uma penca de novos leitores p/ler.

        Vejo os dados discriminados por post.

        Além disso, creio q vc nao reparou, mas o post q vc comentou é novo.

  2. MORO/GLOBO INTIMIDADOS POR LULA: “LEÃO” DE CURITIBA… MIOU!


     

    Atualizado 15/7: MORO/GLOBO INTIMIDADOS POR LULA: “LEÃO” DE CURITIBA… MIOU! – DE NOVO!

    Por Romulus

    Muitos leitores vieram me perguntar o que eu achei da condenação de Lula por Sergio Moro ontem. Queriam saber “quando eu ia publicar um artigo sobre isso”.

    Confesso que, assim que saiu a notícia, além de postagem sumária nas redes sociais, não pretendia escrever sobre isso não.

    E por quê?

    Ora, porque essa “notícia” foi uma…

    – … NÃO-notícia!

    Pior: foi uma não-notícia visando, justamente, a virar a pauta do noticiário em relação a notícias de verdade.

    Ia lá eu fazer o jogo da Globo/ Moro e ajudar a pauta fake a subir?

    Tratando dela especificamente?

    Não…

    Nada disso!

    Não que o (não) acontecimento seja irrelevante…

    Não é bem isso…

    A questão é a minha “pegada” como analista…

    Como os leitores já sabem, pensando ~estrategicamente~, meu foco costuma ser muito mais no ~subtexto~ do que nos textos disparados pelos diversos atores do jogo político.

    E em “atores do jogo político” entram, evidentemente, a Globo e Sergio Moro.

    Muito mais importante do que a condenação de Lula por Moro – per se – são:

     

    (i) a sua timidez!;

    (ii) o timing;

    (iii) as limitações técnicas; e

    (iv) os movimentos casados da Globo para tentar pautar os seus desdobramentos.

     

    Passemos, pois, à análise desse subtexto.
     

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