O justiçamento da Polícia Brasileira

Só vi este video no site do New York Daily News. Não sei se saiu em algum site brasileiro….

PM do RIO castiga pixador que pintava muro de quartel da policia. O “justiciamento” parece que virou oficial agora. Eles até filmam.

Redação

16 Comentários

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  1. o pixador é um sujeito desgraçado

    sua felicidade passa por emporcalhar o que é dos outros!! vejam que merda que é em são paulo onde os caras emporcalham a cidade inteira. acho que a pena de talião foi bem aplicada.

    nem bateram no fiodaégua.

  2. Não foi justiciamento, foi uma “intervenção” do PM artista.

    É óbvio que este tipo de atitude é condenável, mas vejamos:

    Não temos certeza sobre a idade do autor, mas concordemos que ele seja um adolescente(infrator).

    O crime de dado, artigo 163, na sua forma qualificada do parágrafo único, inciso IV, prevê penalidade de 06 meses a 03 anos, o que na forma análoga, que incide sobre as condutas dos adolescentes, acarretaria uma apreensão do adolescente a apresentação a Autoridade Policial, onde seria lavrado um AAAPAI (Auto de Apreensão de Adolescente por Prática de Ato Infracional), uma espécie de Auto de Prisão em Flagrante.

    Para isto teríamos dois policiais militares apresentantes/condutores, um policial civil como escrivão, um delegado, horas e hoars de procedimento, e depois, dependendo da hora, manter o adolescente em ambiente separado dos demais presos (o que quase nunca é possível), sair para comprar sua alimentação, até o outro dia, onde outra equipe, deste vez de policiais civis o apresentariam ao plantão judiciário, geralmente a 40, 50 Km da delegacia (sexta, sábado e domingo), ou ao juiz da comarca, onde levariam 4 a 8 horas esperando pela oitiva do Ministério Público e depois a audiência.

    Caso fosse maior, seria um APF, cuja prisão seria relaxada mediante pagamento de uma fiança, que no outro dia ficaria a cargo de um policial, que deveria ir ao banco, enfrentar uma fila de horas, na companhia de outro (já que policiais não proibidos de sair missão, qualquer que seja ela, sozinhos).

    Depois papelada, despachos, audiências, etc. Não tendo antecedentes, o autor teria sua pena fixada no mínimo, e diante deste quantum, transformada em pena alternativa, mas o magistrado poderia suspender o processo antes, se quisesse, sem pena.

    Tudo isto, uma enorme aplicação de recursos do Estado, a imobilização de policiais civis e militares, porque um f.d.p. cujo pai ou mãe não tem o menor controle sobre, resolve pixar o muro de uma Unidade Policial, em completa e total afronta e desprezo a lei e a autoridade.

    É sobre esta tentatação que estamos falando, de avançar ou pular formalidades que não satisfazem os ofendidos e não trazem justiça alguma, ao contrário, só trazem transtornos para as vítimas, testemunhas e agentes públicos, e nenhum ônus ao autor.

    É este o combustível que dá a chancela para atos arbitrários, e não só um suposto sadismo policial, como quer fazer crer o texto ou o vídeo.

    Eu sei, eu sei, eu sei que todos nós já fomos adolescentes, e que este tipo de atitude pode ser considerada como uma etapa, um rito de passagem para desconstruir a autoridade como forma de obter firmeza e um caráter próprio (algo como matar o pai, metaforicamente).

    Mas, simplesmente, julgar a ação dos PMs que resolveram “encurtar” a punição, não é tão simples. Ou alguém vai defender que devemos dotar os batalhões de aparatos, sensores e disponibilizar dezenas de policiais de guarda, empregando orçamento público para deter ou investigar a ação destes débeis mentais que emporcalham a cidade?

    Aposto que este aí nunca mais pixa muro da PM ou uma Delegacia novamente.

    Não é possível concordar com a justiça de rua, ou tribunais de exceção. Porém é preciso fazer a justiça funcionar de fato, pois não existe espaço vazio, sociologicamente falando.

     

    Em tempo: veja como nossa blogosfera e a mídia PIG quando querem se igualam, o título do vídeo traz “artista do grafite”, legitimando desde já o pixador como vítima, e a polícia como algoz.

    Poderíamos dizer então: PM do RIO faz uma intervenção artística e (re)cria Al Johnson de rua.

     

  3. “Privatização” da segurança em Minas: uma prática que não cessa

    2014

    Hoje em dia

    Empresários pagam para ter a Polícia Militar por perto

    Rosildo Mendes – Hoje em Dia
    28/03/2014 06:53 – Atualizado em 28/03/2014 06:53

    Empresários pagam para ter a Polícia Militar por perto    

    Para os donos de postos de combustíveis, a presença de policiais dá mais segurança

    Cansados de ser alvos de constantes assaltos, donos de postos de combustíveis em Belo Horizonte, região metropolitana e até no interior do Estado oferecem privilégios à Polícia Militar (PM) para tê-la por perto, “privatizando” a segurança pública em Minas Gerais. Na lista de regalias estão unidades de apoio montadas com mobília, computadores, internet, água, luz, ventiladores, telefone, TV e, em alguns casos, alimentação. Em troca: uma ou até duas viaturas com três a quatro militares no local para garantir a segurança.

    Enquanto o Estado direciona o policiamento para a iniciativa privada, com o intuito de conter os roubos aos estabelecimentos, a população reclama do abandono dos Postos de Observação e Vigilância (POVs) nas ruas da cidade e da desativação de unidades policiais no interior dos bairros, aumentando a sensação de insegurança.

    Na última quinta-feira (27), o Hoje em Dia percorreu ruas, avenidas, Anel Rodoviário e a BR-381 até Ravena, em Sabará, na Grande BH, e flagrou o apoio da PM aos empresários em vários postos de gasolina. Nos estabelecimentos onde não havia um imóvel fixo, uma viatura estava estacionada.

    Na rua Niquelina, no bairro Santa Efigênia, Leste da capital, frentistas de um posto de combustível afirmaram que nem mesmo a presença da polícia lá inibiu os criminosos. “Antes, em média, eram três assaltos por semana. Nos últimos dois anos foram dez”, afirmou um deles.

    A menos de 500 metros dali, na mesma rua, o gerente de outro posto contou que a unidade de apoio da PM de lá é utilizada para agilizar a confecção do Boletim de Ocorrência (BO), destacando que os policias não ficam parados no ponto.

    No Anel Rodoviário e na BR-381, a situação é a mesma. Em um posto no bairro Capitão Eduardo, na região Nordeste, um funcionário disse que o ponto de apoio é utilizada há cinco anos por vários policiais que se deslocam para almoçar no restaurante ao lado do posto e registrar as ocorrências.

    “Quero eles aqui todos os dias”, disse o trabalhador, afirmando arcar com todas as despesas do imóvel. “Pagar água, luz, internet e comprar computadores é mais barato que contratar três seguranças armados. Um vigilante equipado custa R$ 2.600 com os encargos. Fica mais barato manter os militares”, disse. Em outro estabelecimento, mesmo não havendo uma unidade fixa, uma viatura estacionada garantia a tranquilidade do local.

    Enquanto os empresários comemoram a redução dos assaltos, os moradores do bairro Bom Destino, em Santa Luzia, afirmam que mesmo pagando o aluguel e cedendo toda a mobília à PM, a única unidade da região foi desativada. “Sem nos dizer nada, a polícia fechou a unidade. Hoje, a criminalidade tomou conta do bairro. Somente neste ano foram pelo menos cinco homicídios”, lamentou a presidente da Associação dos Moradores, Ednalda Estevão de Araújo.

    Corporação promete acabar com a prática

    O tenente-coronel Aberto Luiz Alves, chefe da assessoria de comunicação da PM, reconhece que o policiamento realizado nos postos de combustíveis não é o ideal e que pode gerar a sensação de uma polícia “privada” ao manter esses pontos de apoio fixos.

    Ele anunciou, na última quinta-feira (27), a desativação de todos os pontos da PM instalados nestes estabelecimentos, no Estado, onde ficar caracterizado algum tipo de convênio entre a instituição e os empresários.

    “O Estado está investindo em segurança pública e não podemos privilegiar os donos de estabelecimentos comerciais, deixando a população de lado”, afirmou ele, destacando que irá reavaliar o trabalho dos militares junto aos comércios e reforçar a fiscalização para coibir o desvio de conduta da polícia ao aceitar “mimos”.

    Segundo ele, a polícia ao receber a informação que determinada região sofre com a ação de bandidos tem por obrigação aumentar as operações e garantir a segurança.

    Para o professor Bráulio Figueiredo Alves da Silva, pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG, qualquer tipo de policiamento fixo é ineficaz e não consegue obter resultados.

    Os benefícios oferecidos à PM para manter um ponto de apoio nos postos, diz ele, garante a segurança apenas daquele local. “Essa postura é uma tentativa de privatizar a segurança pública. Daqui a pouco, outros estabelecimentos farão o mesmo. Deve haver um estudo sistemático sobre a criminalidade da região e criar mecanismos eficazes de respostas e políticas de prevenção para todos os setores”, destacou o professor.

    Comerciantes trocam comida por segurança

    Rosildo Mendes e Tabata Martins – Hoje em Dia
    29/03/2014 07:21 – Atualizado em 29/03/2014 07:21

    Comerciantes trocam comida por segurança
        
    O comerciante Duílio Vital se recusa a oferecer qualquer benefício a policial ou bandido

    Qual é o preço que deve-se pagar para ter segurança? É o que se perguntam donos e funcionários de padarias, lanchonetes e restaurantes em Belo Horizonte. O Hoje em Dia constatou que fornecer cafezinho, lanche e até almoço a policiais militares pode fazer a diferença.
     
    Em um restaurante no bairro São Gabriel, na região Nordeste, o dono admite oferecer refrigerantes, salgados e até almoço aos militares.
     
    “Quero tê-los como amigos. Mesmo se eles quiserem pagar, eu não cobro, pois sei que eles irão garantir a minha segurança”, justificou o comerciante.
     
    No bairro Santa Inês, Leste da capital, mesmo oferecendo “mimos” outro estabelecimento não conseguiu conter os assaltos. “Sempre liberava o lanche deles. No início era de dois a quatro homens. Com o passar do tempo, parecia que vinha um batalhão comer de graça, e mesmo assim eu sofria com os bandidos. Cortei todos os benefícios e não quero eles por perto”, revoltou-se o proprietário.
     
    No bairro Serra, Centro-Sul de BH, o gerente de uma lanchonete e padaria adotou a permuta por lanches para conter os roubos. “É mais barato fornecer alimentos que sofrer com os roubos. Somente os militares que conhecemos ganham. De vez em quando, viaturas de outros batalhões param na porta e pedem o cafezinho, mas nesses casos não libero”, disse.
     
    Na mesma região, dessa vez na avenida Bandeirantes, no bairro Mangabeiras, uma viatura estacionada sobre a calçada, na porta de uma padaria, garantia a segurança do local. Havia três militares dentro do comércio que, ao perceberem a aproximação da reportagem, saíram sem comer nada e foram até o carro do Hoje em Dia exigir explicações. O gerente do local disse que nunca foi assaltado e que a polícia sempre está por perto quando precisa. No entanto, se limitou a dizer que libera apenas o banheiro para os militares usarem. l
     
    Padaria sofre 53 assaltos em quatro anos e meio
     
    Quem se recusa a fazer permuta por segurança ou não tem nada a oferecer, como o proprietário de uma padaria, no bairro Serrano, na região da Pampulha, acaba refém da própria sorte. O empresário já foi vítima de 53 assaltos em quatro anos e meio de funcionamento – média superior a um roubo por mês.
     
    Duílio César Vital, de 38 anos, é ex-metalúrgico e desde que abriu a padaria, na rua Herbert de Souza, vive cansado e revoltado. Ele afirma que nunca pagou ou ofereceu algo para policiais ou “suspeitos” em troca de tranquilidade.
     
    “O policiamento é terrível, e fim de semana, por exemplo, não tem policial nenhum na rua e nenhuma companhia atende”, disse.
     
    Só na semana passada, a padaria foi roubada três vezes.
     
    Surpresa
     
    O comandante do 34º Batalhão, tenente-coronel Wanderley Wilson Amaro, responsável pela região, se mostrou surpreso ao ser informado sobre o grande número de assaltos apenas nessa padaria. Mas informou que não há como reforçar o policiamento na região ou em qualquer outro bairro de BH. Segundo o oficial, o efetivo é um só e o que ele e outros comandantes podem fazer é “trabalhar os alvos”.
     
    “O que posso fazer é orientar os policiais a identificar os autores dos crimes e suas rotinas, assim como prendê-los. Porém, o problema é sistêmico, um verdadeiro círculo vicioso, já que, os mesmos alvos são presos mais de uma vez. Parece que a polícia não está trabalhando, mas está, e muito. Eu creio é que a lei tinha que ser aplicada”, disse.

    2012

    Estado de Minas

    Entre a cortesia e a coerção

    PMs lancham e almoçam de graça em troca de segurança a comerciantes

    Policiais militares comem e até consomem cigarros de graça mediante intimidação ou com a conivência de comerciantes interessados em uma espécie de segurança particular fardada

    Mateus Parreiras
    Publicação: 16/09/2012 06:00 Atualização: 16/09/2012 11:34

    A atendente da padaria termina de registrar as compras de um cliente e percebe a aproximação do militar. Um policial alto, de farda, colete preto e pistola na cintura surge com um salgadinho e uma lata de refrigerante nas mãos. Pergunta o preço. “Respondi e ele riu. Disse que agora estava patrulhando as ruas do bairro. Saiu e foi mexer nas prateleiras”, lembra a mulher. Não demorou muito e o militar retornou. Dessa vez sério, se aproximou pela lateral do caixa. Intimidador, refez a pergunta sobre o valor do lanche, acrescentando um breve relatório de suas funções e chegando mais perto. “Estamos passando nas ruas direto. Se precisar, é só ligar. Temos de ficar mais perto das lojas e ajudar vocês”, recorda a funcionária, reproduzindo a fala do PM. “Quanto é (que custa) mesmo?”, perguntou pela terceira vez o militar fardado. Constrangida, quase encolhida na cadeira diante da pressão do servidor público que deveria proteger os cidadãos, a atendente acabou por ceder: “Não custa nada, não”. Foi assim que começaram os abusos de policiais numa padaria do Bairro Ouro Preto, na Região da Pampulha. Os diálogos variam, os pontos também, mas a extorsão velada está espalhada pela cidade. Diante dela, inseguros, comerciantes se veem obrigados a fornecer de sorvetes a refeições para manter a polícia por perto e os assaltantes mais longe. Uma relação viciada que ocorre amplamente na capital mineira e na Grande BH, deixando indefeso quem nada tem a oferecer.

    Em apenas quatro dias, o Estado de Minas encontrou 10 estabelecimentos que praticam “permutas” de alimentação por segurança com policiais militares, entre Belo Horizonte e Contagem, na Grande BH. Desses, seis permitem que os funcionários públicos consumam irrestritamente os artigos que vendem, dois fornecem kits de lanches já preparados para os militares levarem e dois foram intimidados a conceder a “boca-livre” por medo de ficar sem segurança. É preciso desatacar, no entanto, que a conduta não é regra, pois muitos policiais foram vistos pagando pelo que comiam e bebiam, mas há indícios de que é disseminada em parte considerável da tropa. Na cidade de São Paulo, o movimento é tão comum que os policiais receberam o apelido pejorativo de “coxinhas”, numa alusão aos salgados que consomem de graça. Os “coxinhas mineiros” não são diferentes: uns têm acordos com comerciantes, outros “tomam” o que querem em nome da continuidade das patrulhas.

    Na padaria do Bairro Ouro Preto em que a atendente foi intimidada e passou a permitir que os policiais saíssem com pães de queijo, salgadinhos, cafés e refrescos sem desembolsar nada por isso, a equipe do EM presenciou a chegada dos militares da região, responsáveis pelo patrulhamento do bairro. Pararam a viatura sobre o passeio e entraram. Cumprimentaram a funcionária do caixa, sorriram para as mulheres que abasteciam as prateleiras de pães e seguiram para o freezer. Sem qualquer cerimônia, pegaram refrescos e salgadinhos. Ao lado do caixa, trocaram duas palavras, um ou dois sorrisos com a responsável por registrar as compras. A mulher respondeu com um sorriso amarelo e eles se foram. “Tem vez que (os policiais) vêm e pagam. Outros (militares) saem sem pagar, mesmo. A gente fica aqui assim, sem poder fazer nada”, diz a mulher. Quase murmurando, ela conta que o patrão não permite fornecer nada aos policiais, mas confessa que fica ?sem graça? de impedir a atitude.

    A frequência de lanches gratuitos de policiais militares numa pequena padaria e armazém da Avenida Américo Vespúcio, no Bairro Ermelinda, Região Noroeste de BH, também começou com a pressão dos PMs que fazem a segurança das imediações. “Para não levar muito prejuízo, a dona (do estabelecimento) resolveu falar para os soldados anotarem e pagarem por mês. Mas é só de vez em quando que anotam. Mesmo assim, nunca pagam o que devem. Já desistimos”, diz a atendente. Minutos depois de a funcionária falar sobre a situação, uma dupla de policiais deixou a viatura sobre o passeio e entrou na padaria. Os dois sentaram-se, comeram salgados e beberam refrigerantes. Ficaram mais de 15 minutos degustando o lanche e conversando sobre a prisão de um menor. De repente se levantaram, olharam em volta, abriram sorrisos para as funcionárias e saíram sem anotar nada. “Esses aí (os dois militares) vêm aqui todos os dias e não pagam nada”, conta a balconista.

    Em outra padaria, na Avenida Contagem, Bairro Santa Inês, Região Leste de BH, policiais têm total acesso aos produtos expostos. Os militares da patrulha do bairro posicionam as viaturas sobre o passeio, bem em frente ao estabelecimento, e deixam o veículo com as luzes girando. “Nossa! Que sede! Me dá uma água.” Quem fala é um cabo da PM, dirigindo-se à garçonete no balcão. Ela volta com um copo cheio de água. O militar bebe e puxa um assunto corriqueiro, falando sobre os vizinhos. As funcionárias da loja entram na conversa e, enquanto isso, ele escolhe os salgadinhos de que mais gosta e pede uma lata de refrigerante. O papo prosaico segue em meio ao movimento dos clientes que entram e compram pães e mantimentos.

    Aparentando estar satisfeito, o militar caminha para o caixa, mas não é para pagar. Antes mesmo que ele diga qualquer coisa, a funcionária que opera a máquina registradora se abaixa e pega uma embalagem com vários maços de cigarros abertos. Ela sabe que, depois de comer, o policial gosta de fumar na porta da loja. A venda desse produto a granel é proibida por lei, mas a mulher não se preocupa com isso. Antes que o policial peça, ela entrega a caixa para que o homem fardado escolha. Isso garante pelo menos mais 10 minutos de presença da polícia em frente ao estabelecimento, o tempo que o militar leva para consumir o cigarro e ir embora. “Aqui eles podem pegar o que quiserem. Para mim é bom, porque a gente fica mais seguro. Antes tinha muitos assaltos. Foram dois roubos só no fim do ano”, diz a funcionária da registradora, revelando um outro lado da boca-livre da segurança: a dos comerciantes que estimulam a troca de produtos por uma deferência especial do policiamento, que deveria ser coletivo.

    O que diz a lei

    As atitudes de policiais que se beneficiam de alimentação e agrados de comerciantes para favorecer a segurança num ou noutro estabelecimento ferem ao Código de Ética e Disciplina da Polícia Militar de Minas Gerais, contido na Lei 14.310 de 2002 e ao Código Penal Brasileiro. Policiais que constrangem comerciantes para obter vantagem incorrem em crime de concussão, definido pelo código penal como ato de exigir para si ou para outrem, dinheiro ou vantagem em razão da função, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida. A pena é de reclusão, e vai de dois a oito anos. Há ainda a pena de multa, que é cumulativa com a de reclusão. Os policiais que se corrompem para receber favores incorrem em crime de corrupção passiva, ou “solicitar ou receber, para si ou para outros, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem”. Os comerciantes que oferecem os benefícios incorrem em corrupção ativa, que é “oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício”. Os dois crimes são punidos com pena de reclusão, de 2 a 12 anos, e multa.

    2011

    OTEMPO

    Um cafezinho por segurança

    Comerciantes negam interesse por trás de “gentileza”, e Polícia Militar se cala

    FLÁVIA MARTINS Y MIGUEL
    Publicado no Jornal OTEMPO em 30/06/2011

    Ver uma viatura parada na porta de uma padaria é cena comum nas ruas de Belo Horizonte. Isso porque a cultura do cafezinho e do pão de queijo de graça para os policiais militares já está enraizada entre os comerciantes da capital que buscam em troca da gentileza a garantia de policiamento e, consequentemente, maior segurança.

    A reportagem de O TEMPO percorreu ontem 11 padarias da cidade e ouviu comerciantes que confirmaram que o lanche de graça para os policiais é comum e aceito sem a menor cerimônia – eles chegam a frequentar as panificadoras cerca de quatro vezes por semana.

    Os proprietários reconhecem que a presença da viatura inibe a ação dos criminosos mesmo que momentaneamente e, por isso, é bem-vinda. Mas eles negaram que ofereçam as refeições esperando proteção. “Não vou cobrar um lanche deles, né? Sempre foi assim. Mesmo porque assalto aqui é direto, não significa que estou mais seguro”, contou o comerciante Geraldo Silva, dono de uma padaria no bairro União, região Nordeste. Todos os comerciantes ouvidos foram vítimas de assaltos recentes – um deles foi roubado 37 vezes em seis anos.

    Em um dos estabelecimentos onde os policiais foram flagrados lanchando sem pagar a conta, a cortesia do dono da padaria rendeu uma conta no valor de R$ 15. O estabelecimento fica no bairro Tirol, na região do Barreiro. Quatro militares estiveram lá na tarde de ontem e comeram pizza e pão e tomaram sucos e refrigerantes. Eles saíram sem pagar. O dono, Osvaldo Heleno, disse que é apenas uma “gentileza para os amigos”.

    “Eles vêm aqui sempre, a gente conhece eles. E não garante segurança porque sábado passado a gente foi assaltado aqui. Foi de dia. Levaram dinheiro, estavam armados”, contou Heleno.

    Em alguns casos, a convivência não é tão harmônica. Há dois anos gerenciando a própria padaria, no bairro Cidade Nova, na região Nordeste, um comerciante que preferiu não se identificar confessou ter tido problema com abusos cometidos por policiais na hora do consumo gratuito. “Um sargento começou a pedir um litro de refrigerante, sanduíches e sobremesas. Cortei isso. Agora aparecem dois policiais e sempre dou um lanche simples”, contou.

    Legalidade. A assessoria de imprensa da Polícia Militar foi insistentemente procurada pela reportagem durante toda a tarde de ontem. No entanto, ninguém foi encontrado para falar sobre a prática. Nenhum policial respondeu se aceitar o cafezinho oferecido pelos comerciantes é uma prática legal ou prevista de alguma maneira no código de conduta da polícia.

    Denúncia

    Orientação. O Comando do Policiamento da Capital, durante uma entrevista em uma rádio esta semana, orientou os cidadãos a denunciar na corregedoria da PM, qualquer tipo de abuso de militares aos comerciantes da cidade

    Aspra recomenda que policiais recusem “agrados” do comércio

    O presidente da Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares de Minas Gerais (Aspra-MG), subtenente Raimundo Nonato, afirmou que os PMs não devem aceitar cortesias por parte de comerciantes. De acordo com ele, o militar não deve se sujeitar à possibilidade de ser cobrado futuramente por isso.

    “A orientação que damos é que ele procure outro local para tomar o café, fazer seu lanche. Isso pode causar constrangimento, caso algum dono de padaria se ache no direito de pedir algo em troca”, afirmou.

    Segundo o presidente da Aspra, o Estatuto da Polícia Militar de Minas Gerais também não permite que os policias cobrem qualquer tipo de regalia de um cidadão. “Nós não temos essa prática de pedir, e é proibido. Todos têm que fazer questão de pagar pelo serviço”, disse. (FMM)

    1. Tudo está em seu lugar…graças a deus?

      Meu filho, desde 1808, quando D.João (ainda não era VI), desembarcou com sua corte por aqui, o quadro é este.

      A então Intendência Geral de Polícia, que também cuidava de outros aspectos chamados não policiais, como autorização para obras e outras intervenções, foi criada para acalmar o pânico das elites portuguesas com aquela quantidade de negros pelas ruas, e claro, para intervir nos conflitos resultantes da escravidão a que eram submetidos.

      Os negros continuam quase no mesmo lugar, nossa sociedade continua quase a mesma: racista e classista, como imaginar que a polícia vá estar em lugar diferente?

      Mas para mudar a polícia não pode imaginar que vai conseguir criticando ou mudando apenas ela, ou começando por ela.

      Polícia é efeito, e não causa.

      Agora, menos hipocrisia por favor: Os “agrados” só são criticados quando se dão aqui embaixo (mais uma vez, a questão de classe).

      As associações empresariais, os grupos econômicos, a mídia, e todas as outras entidades da elite econômica, de um jeito ou de outro, SEMPRE acham um jeito de angariar a proteção policial utilizando-se destes e de outros estratagemas.

      Ou será um acaso que os bairros ricos tenham a menor taxa de homicídios, quase que comparados a Europa e EEUU?

      Quem você acha que “banca” as delegacias de combate a roubo à banco, ou as anti-sequestro?

      Este tipo de texto é só mais cortina de fumaça: pega o pobre do policial que quase passa fome e expõe, enquanto no andar de cima e nnos gabinetes os negócios prosperam em silêncio.

       

      1. Morgana Profana

        Não consegue evitar a defesa da sua hoste independente da circunstância, não é?

        Me admira que sempre trate os policiais como pessoas destituídas de livre-arbítrio: são uns coitados…. Exceto quando torturam e executam, né?

        1. Terapias

          Bem, filho, acho que você deveria ler o comentário de novo. Se ele, neste caso, acaba por defender esta ou aquela corporação (embora eu não tenha enxergado isto), acho que não seria problema, ou você parte do pressuposto de atacá-la sempre?

          O comentário diz, repito devagar, que não basta apontar o dedo a polícia para resolver o problema da violência policial, ou de outros desvios. Isto tem sido feito há anos, o datena faz, o wagner montes faz, a sherazade faz e até a patrícia poeta faz (e olhe, até você), e não dá jeito.

          Descrever de forma sensacionalista o problema sem identificar as causas é igual ao que os porcalistas fazem com os meninos do tráfico. 

          Todos os dias há policiais expostos e expulsos, e sempre haverá outros com a mesma “disposição” para ocupar o lugar destes. 

          O que você faz é tão populista quando a sherazade pedir o linchamento de ladrões.

          Veja que seu texto não tem nada a ver com o post, mas ainda assim temos a paciência de debatê-lo, até porque o editor o publicou.

          Filho, você não entende lhufas de polícia, de criminalidade, e nem dá para saber do que você entende…

          Policial não é coitado, não é teleguiado. Executa e tortura porque tem a legitimação de gente como você, seu pai, sua mãe, seus familiares e seus vizinhos, se bem que no seu caso parece que o tesão é torturar a matar policiais.

          Só te falta coragem…e isto sim, é imperdoável. Eu geralmente falo e faço as coisas que quero, e tenho culhões para tanto, e você?

          Vá até um policial fardado ou não e lhe diga tudo isto que você pensa, ou tome a arma dele e atire em sua cabeça…liberte-se, mas para de encher o saco…

          1. “repito devagar, que não

            “repito devagar, que não basta apontar o dedo a polícia para resolver o problema da violência policial, ou de outros desvios. Isto tem sido feito há anos, o datena faz, o wagner montes faz, a sherazade faz”:

            Repete mais devagar um pouquinho, psicotico:  onde foi que Datena, o tal de Montes, e sua lunatica preferida fizeram isso e “apontaram o dedo” pra policia?  Nao foi ela mesma que ficou famosa por bem outro “apontamento de dedo”?

          2. O que fazer com uma pergunta cretina?

            Uma resposta mal-criada, claro.

            Pobre boçal, a imprensa marrom, joga em várias posições, apostando, é claro, na bipolaridade, ou tetrapolaridade da sociedade.

            Claro que estes programas exaltam a violência policial, mas são capazes de execrá-los também para angariar audiência, e sempre isolando os problemas e os fatos de seus respectivos contextos, mais ou menos como idiotas como você, que acham que são muito diferentes dos espectadores deles.

            Meu filho, vai aí um conselho: vá te catar, quando ler um comentário meu, passa longe…eu não tenho o menor respeito por você, e parace que isto já ficou claro.

            Conversa entre a gente, só se pudesse ser pessoalmente, para eu te ensinar boas maneiras…

          3. “Pobre boçal, a imprensa

            “Pobre boçal, a imprensa marrom, joga em várias posições, apostando, é claro, na bipolaridade, ou tetrapolaridade da sociedade”:

            ASSHOLE AO QUADRADO, minha pergunta nao foi essa, favelado.

          4. Como de hábito…

            Como de hábito a Morgana incita a violência… Não bastasse achar que os comediantes do Porta dos Fundos merecessem ser objeto de violência por policiais pelo vídeo que fizeram, agora incentiva comentaristas a se suicidarem:

            “Vá até um policial fardado ou não e lhe diga tudo isto que você pensa, ou tome a arma dele e atire em sua cabeça…”

            Keine Vernunft mehr, mein Schatz?

  4. Tudo em defesa do patrimônio

    Notem que o jovem provou um dano a alguma propriedade, tratando-se de crime contra o patrimônio de alguém que, como se sabe, vale mais do que uma vida, inclusive os linchamentos feitos por tribunais populares após o salve-se da SherareAzeda, repórter do SBT, são decorrentes de supostos crimes crimes contra o patrimônio

    1. Ficou barato.

      O dano foi, ao que parece, foi ao patrimônio público (de todos nós), pois o safado pixou um batalhão da PM.

      Nem vou considerar a questão simbólica de se afrontar um unidade policial.

      Sinceramente, está de parabéns a polícia militar ou civil, que seja: não deu um pescoção no canalha, filmou sua cara para que ele seja humilhado entre os seus e aplicou o castigo devido.

      Agiram menos como policiais e mais como pais ou diretores de colégio. Se este merda tivesse pais de verdade ou outra autoridade assim por perto, pensaria duas vezes antes de pixar paredes de instalações policiais.

      Já tá na hora de reverter esta porcaria de pode tudo, e não pode reprimir de forma violenta…olha o resultado aí: vândalos que nunca levaram uma chinelada, cevados a todinho e danoninho, quebrando tudo, furando com estiletes, espancando os mais fracos, e colocando imagens na rede, com voyuerismo sádico.

      1. Lapsus linguae

        “vândalos que nunca levaram uma chinelada, cevados a todinho e danoninho, quebrando tudo, furando com estiletes, espancando os mais fracos, e colocando imagens na rede, com voyuerismo sádico”

        Não foi a polícia que colocou o vídeo na internet? Os vândalos mencionados no seu texto então são os policiais, né?

         

         

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