O mandato francês na Síria e a guerra civil atual

Por André Araújo

O MANDATO FRANCÊS NA SÍRIA E A GUERRA CIVIL DE HOJE – O fim do Império Otomano significou o fim de quatro séculos de paz e ordem poíitica no Oriente Médio. O Sultão de Constantinopla, a “Sublime Porta”, tolerava etnias, povos diversos, tribos, clans, sistemas de governança de todos os tipos e valores, a única obrigação era pagar o tributo ao Sultão. Cristãos, judeus, xiitas, sunitas, coptas, drusos, gregos ortodoxos,  conviviam dentro das fronteiras do Império sem maiores conflitos. Com o fim do Império Otomano os vencedores da Grande Guerra representados pela Liga das Nações dividiram a governança do espólio do Império entre a a França e a Inglaterra através de mandatos da Liga.

Antes do acordo Sykes Picot que delimitou os mandatos francês e inglês no Oriente Médio, o General Sir Edmund Alleby entrou em Damasco em dezembro de 1918, ocupando a cidade. O mandato francês se iniciou em 1923 com a ocupação da Síria e do Líbano por tropas sob o comando do General Henru Gouraud, Alto Comissário em nome da Liga.

A ocupação do Líbano com sua grande população maronita de fé cristã não criou maiores embaraços, os cristãos viam nos franceses, desde as Cruzadas, seus protetores contra os muçulmanos. Já a ocupação da Síria não foi tão pacifica, um território conflitivo desde os tempos do Império Romano por fortes divisões religiosas.

A dinastia Hashemita, descendente de Maomé, através do Rei Fiassal, pretendia o governo da Síria mas os franceses afastaram essa hipótese embora aceitando Faissal como pretendente a um futuro trono.  Faissal não tinha muito apoio entre os sírios, tinha acertado um acordo com Clemenceau, premier francês, pelo qual os dois reconheciam a validade da Declaração Balfour, que admitia a criação de um lar judeu na Palestina. Os sirios desaprovavam completamente esse acordo e elegeram em maio de 1919 o Congresso Nacional Sírio e dentro dele sugiram duas lideranças históricas, Riad as Sohl e Hassan Al Alassi que depois tiveram papel histórico no contexto da Grande Síria.

O grupo de nacionalistas sírios tentou enfrentar os franceses com armas sob a liderança do Ministro do Tesouro Youssef al Asmeh em 24 de julho de 1920, que foi facilmente vencido pelo General francês Goybet em apenas um dia.

A Síria estava dividida em seis territórios, Damasco, Alepo, Estado dos Alauitas, Jebel Druzo, Halay e Sadnjak de Alexandreta.  Já o Líbano era de governança mais fácil pelo apoio da parte cristã, a mais rica e educada, que aceitava o mandato francês como circunstância necessária. Alepo tinha uma grande população majoritária cristã e judaica, os Estado Alauita com sede em Latakia, porto no Mediterrâneo, da vertente xiita.  O mandato francês durou 23 anos, de 1923 a 1946, deixando os dois territórios, Síria e Libano a mercê de disputas fraticidas que o mandato controlava.

A divisão confessional da Siria é uma das causas da guerra civil de hoje, os akuitas xiitas são apenas 9% dos sírios mas governam o País há 50 anos, as grandes cidades do interior são contra os alauitas, que são a base do Exército.

A guerra civil é anterior ao ISIS, o Estado Islâmico, mas esse potencializou os conflitos e só poderá ser destruído por forças terrestres. É impressionante a incapacidade de tomar decisões das grandes potências para enfrentar um conflito muito menor do que guerras regionais como Coreia, Vietnam, Sérvia. A indeterminação no comando de ações militares vem do ambiente contestador da ordem em grandes países. Nos EUA e Europa não há consenso dentro dos países e entre eles para montar uma força de uma divisão para enfrentar EM TERRA o ISIS. Bombardeios e drones não fazem o serviço. Com toda tecnologia atual, a presença física em terra é ainda o único instrumento para controlar um território. Mas os “movimentos”, imprensa e políticos dentro dos países não aceitam mais o risco de morte de soldados, o que é inevitável em um conflito. Um governo Democrata  foge da guerra como o diabo da cruz, então o mundo se apavora e não sabe o que fazer com uma gangue disfarçada de revolucionários que provoca o maior êxodo de refugiados desde a Segunda Guerra. Talvez a solução seria contratar um exército de mercenários como a Legião Estrangeira. A guerra civil síria deveria ser apagada com força de uma aliança de países, legitimada pela tragédia internacional dos refugiados a pressionarem o mundo pedindo abrigo. Então o conflito sírio deixou de ser doméstico global, o que justifica um intervenção militar completa com infantaria, blindados, artilharia e risco de baixas em terra.

A Síria foi completamente destruída, mais que as cidades do Vietnam, da Sérvia ou da Espanha na sua guerra civil.

A fraqueza do governo Obama, a gelatinização do poder europeu, com chefes de governo sem poder de mobilização militar, exércitos encolhidos, hoje o exército britânico tem 80 mil homens, menos que a Polícia Militar de São Paulo, o Exército americano baseado no voluntariado baixou de qualidade em uma escala impressionante, a ponto de usarem merceáarios no Iraque, diminuiu em efetivos e treinamento e teve enfraquecido seu sistema de comando.

A banalização dos estrategistas americanos também é parte da causa do ISIS, ao dissolverem o Exército iraquiano na invasão da Era Bush Jr. Hoje a base do ISIS são ex-militares iraquianos, treinados e com capacidade militar, quando teria sido muito mais político fazer um acordo com os militares iraquianos que também estavam satisfeitos em terem se livrado de Saddam e teriam colaborado com os EUA no fim da tirania que estava liquidando com o País.

A falta de liderança política, diplomática, estratégica e militar dos EUA é a causa central da tragédia siria. Os EUA correram riscos imensos em guerras complexas como Coreia e Vietnam e agora fogem de um conflito espacialmente muito menor mas de consequências regionais terríveis, que pode desorganizar todo o Oriente Médio.

O mundo está realmente em uma fase baixa, sem lideranças, sem estratégias geopolíticas, sem a busca da ordem global que era um objetivo claro por todo o Século XX, o séulo dos grandes diplomatas, generais e estrategistas.

Redação

25 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Siria e Libia

    O que ocorreu na Líbia é o mesmo que acontece na Síria. A única diferença é que na Síria tem uma base russa com capacidade de impedir a ‘zona de exclusão aérea com fins humanitários’ que ocorreu na Líbia e suporte militar e econômico do Iran.

    E esta é a única diferença. Os estados europeus e os americanos forneceram armas, treinamento militar, e informação,  a qualquer grupelho radical que se apresentasse. Grade parte do financiamenteo veio de árabes ricos sauditas. Um dos beneficiários foi o ISIS que canibalizou todos os outros grupos, por ter sim oficiais e armamentos do antigo exercito do Iraque. Deu no que estamos testemunhando.

    A primeira leva de refugiados veio da Líbia, a maioria de negros da Africa sub-saariana, portanto invisíveis para a nossa imprensa, só agora vieram os Sírios, faltam chegar os Iraquianos e Afegãos.

    O que chama a atenção é que os países ricos do Golfo Pérsico, Kwait, Emirados, Arábia Saudita, Catar etc, se não financiadores pelo menos grandes apoiadores políticos das primaveras democráticas árabes não aceitaram receber um único refugiado. Os sauditas propuseram construir 200 mesquitas na europa, como ajuda, pelo menos isto.

  2. André diz:
    “A falta de

    André diz:

    “A falta de liderança política, diplomática, estratégica e militar dos EUA é a causa central da tragédia siria. Os EUA correram riscos imensos em guerras complexas como Coreia e Vietnam e agora fogem de um conflito espacialmente muito menor mas de consequências regionais terríveis, que pode desorganizar todo o Oriente Médio.”

    Será que é ausência? Será que não é presença mas no papel de observador, apenas? Já viu incendiário ficar dentro do prédio em que tocou fogo, caro André?

    Foi fácil desestabilizar os governos árabes da Síria, do Iraque, do Egito, sabotar a organização de um governo palestino. E o momento agora para os EUA não é de interferir, é de sentar e ficar observando o incêndio. E aos sírios só tem restado fugir desse prédio. Entre eles tem uns que desistem e se jogam do prédio em chamas. Outros morrem na praia.

     

  3. “Já viu incendiário ficar

    “Já viu incendiário ficar dentro do prédio em que tocou fogo, caro André?”

    Perfeito, Renato. A indagação que tudo diz.

    Cumprida à risca a estrategia de tocar fogo, desorganizar, implantar o caos.

    Mas estão dispostos a receber dez mil refugiados sírios. Quanta nobreza!

  4. Meu caro, vejo o quadro do

    Meu caro, vejo o quadro do atual desajuste do Oriente Medio com uma causa inicial, o começo de tudo, a raiz dos conflitos,

    conforme já anteviam grandes inteligencias da época, como o General George Marshall. A dsarrumação do Oriente Média começa com a instalação do Estado de Israel em 1947, fator detonador dos conflitos posteriores e DNA do atual fundamentalismo que não existia até então no mapa politico regional decorrente do fim do Imperio Otomano. O terrorismo como metodo era desconhecido até a presença de Israel na região e foi o terrorismo que causou o 11 de setembro e este a invasão do Iraque e essa invasão é o berço do ISIS. Os EUA até 1945 eram adorados pelos arabes, hoje são odiados.

    A Universidade Americana de Beirute que é do Seculo XIX foi o berço intelectual das lideranças arabes modernizantes

    e os EUA seriam hoje os grandes guias do Oriente Medio para a civilização e a a laicitude dos Estados, hoje são o Grande Demonio, perderam um imenso capital politico, como já antevia o General Marshall, que foi frontalmente contra a criação do Estado de Israel. A atual incendio não beneficia em nada os interesses americanos portanto sua tese não faz sentido.

    Eles não intervem por falta de vontade politica, por falta de liderança e por falta de uma estrategia de poder.

    1. “A atual incendio não

      “A atual incendio não beneficia em nada os interesses americanos portanto sua tese não faz sentido.”

      Quais são esses interesses?

    2. …”vejo o quadro do atual

      …”vejo o quadro do atual desajuste do Oriente Medio com uma causa inicial, o começo de tudo, a raiz dos conflitos”

      Causa ou consequência?

       

      “Os EUA até 1945 eram adorados pelos arabes, hoje são odiados.”

      Será? Tenho a impressão de que os árabes, até então, apenas respeitavam os EUA e seu jeito de viver, respeitavam as diferenças. Mas não tinham a menor pretensão de tentarem adotar esse jeito de viver para si mesmos. E isso é inadmissível para os EUA, é parte da sua cultura impor-se ao outro. Até hoje a cultura dos EUA dá muito valor ao que consegue convencer, ao que consegue subjugar o outro… o objetivo prinicipal do WASP é fazer-se “popular”, unanimidade. Os EUA agem como disse Mitt Romney:

      “Deus não criou este país para que fosse uma nação de seguidores. Os Estados Unidos não estão destinados a ser um dos vários poderes globais em equilíbrio. Os Estados Unidos devem conduzir o mundo ou outros o farão.”

      É inconcebível, para a cultura dos EUA, que não haja um condutor centralizado, um que governe sobre todos.

      Além do que, aqui entre nós… “Deus não criou este país para que fosse uma nação de seguidores.” Deus?! E ainda acusam o povo árabe de primitivo pela permeabilidade de seu estado às religiões? Que deus é esse, dos EUA?

    3. No seu início, o Baath era

      No seu início, o Baath era definido como um partido socialista, e era um grupo de entusiastas do Pan-arabismo, o que era frontalmente contra os interesses dos EUA na região.

      Como explicar isso?

      A criação de Israel não foi justamente o grande passo para se desestabilizar a região como um todo, gerando divisões entre os árabes e, assim, facilitar acesso ao petróleo local?

      Seria o ISIS de certo modo conveniente à Turquia por conta dos curdos?

      Qual a história dos curdos e o almejado Curdistão?

      Qual a posição da Arabia Saudita em toda esta situação atual? Entendo que ela veja como o maior rival à sua hegemonia local o Irã, que é persa. Por que o ISIS ainda não se aventurou no Irã?

      Aliás, a quem o ISIS vende o petróleo de Mossul?

      Desculpe André, mas são muitas perguntas que aparentemente são disconexas, mas creio que não são.

      Sugeriria que publicasse mais textos simples tentando mostrar os fatos históricos de cada ator da região.

      1. Meu caro, como diz o Delfim

        Meu caro, como diz o Delfim Neto, é inutil procurar respostas simples para questões complexas. O quadro do Oriente SEMPRE foi confuso, não há Estados no contexto de um Estado ocidental, são tribos e clans, a noção de Estado nacional não é moldada pela mente arabe, o Baath foi a modernização laica, na sua essencia que é dos anos 1870 nem havia a ideia de socialismo, apenas a ideia de laiciedade, de um Estado não religioso, essa era a essencia do Baath, entre cujos cinco fundadores está meu tetravô Xeique Nasif al Yaziji. O petroleo de Mossul é vendido no mercado negro para quem pagar mais, o destino final é na propria Asia, o transporte se dá por caminhão, quem compra são os “rogue states” paises dominados por grupos que tem a tradição do contrabando, como Paquistão, Bangladesh, Tailandia e provavelmente China.

        Nenhuma major vai comprar esse petroleo e nem precisa comprar, o mundo está com excesso de oferta de oleo.

  5. Pra guerra na Síria acabar,

    Pra guerra na Síria acabar, não é preciso  “uma intervenção humanitária” dos EUA ou de mercenários franceses, como o texto (longe da realidade) sugere. Basta que os próprios EUA, e seus aliados Turquia, Arábia Saudita, e Qatar, PAREM de municiar e financiar jihadistas extremistas contra o legítimo governo sírio, que se não tivesse apoio da população (não só alauítas, mas sunitas, cristãos, drusos, armênios e curdos) não teria durado nem seis meses.

    A causa central da tragédia síria não é a ausência dos EUA no conflito, mas, pelo contrário, sua atuação, ao destruir o Iraque em 2003, a Líbia em 2011, deixando o verdadeiro PANDEMÔNIO, o completo caos nesses países, e agora, na Síria, armando até os dentes os tais dos “rebeldes moderados” da Al Qaeda.

     

    1. Não sei o que você diz com

      Não sei o que você diz com municiar, Soares, mas creio que não basta parar de vender armas e munições a extremistas, teria, a meu ver, que parar de dar munição moral também. A “ocidentalidade” não é obrigatoriamente a única forma de viver. Não é sequer a melhor. Talvez seja boa para os “ocidentais” mas isso não significa que seja bom para todos. O que é bom para os EUA não é obrigatoriamente bom para todo mundo.

      Agora, depender de ação do algoz para interromper o mal é sempre arriscado. Depender do “líder” para que a relação de liderança seja interrompida acho que é insensato. O ideal, a meu ver, é que os liderados desprezassem os líderes. Nem admitirem suas lideranças e não odiarem os que se arvoram líderes, apenas desprezá-los. Os EUA só conseguem se impor no mundo porque há quem aceite essas imposições. Há até quem admire-as!

      O jeito do povo árabe viver, a cultura árabe, é muito – mas muito mesmo – mais sólida do que a dos EUA. O único valor da cultura dos EUA é dinheiro e poder, não contempla, essa cultura, valores como generosidade, honra, solidariedade, ética e outros valores que permitiram ao ser biológico “homo sapiens” realizarem humanidade. Não fosse pela força das armas – físicas como um fuzil ou uma bomba, ou morais, como a propaganda comercial e ideológica, constante, por exemplo, em filmes – a cultura dos EUA não conseguiriam impor-se ao mundo árabe, de jeito nenhum.

  6. O genocídio contra os armênios foi cometido pelos otomanos

    O 1o parágrafo do texto já contém um enorme inverdade: O genocídio contra os armênios foi cometido pelo Império Otomano. Depois o artigo passa rápido por 100 anos de história para ir fundo no que interessa, que é culpar os EUA por todas as tristezas do mundo.

    A maior tragédia recente do Oriente Médio foi o genocídio contra os armênios, que no afã de promover sua versão ideológica e distorcida da história o autor apaga ou releva. Se é por ignorância ou má fé, não interessa: o artigo consegue o efeito desejado de criar uma polèmica contra os EUA (e depois colocar Israel no meio da história). 

    1. Eu falei sobre o Imperio

      Eu falei sobre o Imperio Otomano de quatro séculos, o massacre dos armenios se deu no fim do Imperio e no contexto da Grande Guerra, por razões ligadas à Guerra, até então pelos 400 anos anteriores os armenios viveram bem dentro do Imperio Otomano, que teve inclusive ministros armenios na Corte.

      1. Então porque aconteceu no

        Então porque aconteceu no contexto da guerra sua análise se dá ao direito de ignorar, apagar da história, ou talvez de certa forma até justificar. Como escreve nessa resposta, “se deu no fim do Imperio e no contexto da Grande Guerra, por razões ligadas à Guerra”, sugerindo que é mais desculpável.

        Pode escrever o que quiser. Sua credibilidade está definitivamente abalada. Tem enganos que podem ser cometidos, outros que são indesculpáveis.

        1. Meu caro, quando se traça um

          Meu caro, quando se traça um panorama na Historia em um largo perido, no caso 450 anos e se diz que tal Imperio

          foi tolerante, isso se entende que DE MANEIRA GERAL esse foi o comportamento e não que isso se deu de FORMA ABSOLUTA, algo que não existe em Historia. O Imperio Otomano guerreou nesse periodo nos Balcãs, na Grecia, na

          Africa do Norte MAS não foi NO GERAL um Poder totalitario opressor nos paises que governou.

  7. Talvez por suas ligações…

    André,

       Seu conhecimento sobre politica geopolitica é bem maior que esse post, talvez contaminado pela ligação aos Americanos, vc fez apenas uma analise historica da Siria.

      Vc e todo mundo sabe que foi a decisão Americana de invadir o Iraque é que causou os problemas atuais, o que está acontecendo na Siria já tinha sido antecipada pela Russia.

     A verdade é que foi escolhido este caminho para :

    1) Isolar a Russia, destruindo ou destituindo seus aliados, no fronte Ucrania e Oriente Medio, até agora.

    2) Alterando as forças de poder no petroleo( Libia, Iraque e Siria), com possibilidades ainda de chegar ao Ira.

    O post ficou em meu entedimento incompleto, não levando em consideração os dois itens acima.   

    Como alguns falam o problema humanitário é um mero efeito colateral.

     

     

    1. Um conflito do tipo sirio

      Um conflito do tipo sirio NINGUEM CONTROLA e não é produto de uma conspiração, como foi a Guerra Civil de Espanha, uma vez começado toma um rumo imprevisivel que pode a um certo momento parecer beneficiar um grupo de paises mas a situação é cambiante e pode o beneficiado de uma mês ser o prejudicado de outro.

  8. “A falta de liderança

    “A falta de liderança política, diplomática, estratégica e militar dos EUA é a causa central da tragédia siria.” Cuma??? O caos no Oriente Médio é precisamente um dos objetivos “full spectrum” geopolítico dos EUA. A guerra na Síria é a guerra dos OLEODUTOS (do gringo “gas pipelines”). Onde passarão, quais países lucrarão, etc. Russia e seus novos “streams” versus interesses de outros países do Oriente Médio e EUA, como o Quatar, Arábia Saudita e Turquia. Naquela região tudo se resume ao controle do petróleo. Assad não é o bicho papão não, é pior. Ele é amigo da Rússia e da Gazprom. 

    1. Nada a ver. A guerra na Siria

      Nada a ver. A guerra na Siria em nada beneficia os EUA, cujos interesses economicos estão nos Emirados e na Arabia Saudita. Os oleodutos passam pela Siria mas o petroleo pode ser despachado por multiplos meios, não dependem só dos oleodutos sirios, do Iraque podem seguir via Turquia ou por mar.

  9. Esse texto sei lá, parece

    Esse texto sei lá, parece coisa da Carta Capital. Guerra Civil na Síria, historinha barata. E onde civil consegue armamento pesado e munição para uma guerra que está aí há tanto tempo??? Quem fornece? Quem treina para utilizá-los? Como civis enfrentam um exército profissional? Tática, estratégia, condicionamento físico e psicológico… onde aprenderam tudo isso para aguentar 5 anos de guerra contínua? Civil não enfrenta nem batalhão do Choque, imagina uma guerra sangrenta.

    1. GUERRA CIVIL não é guerra

      GUERRA CIVIL não é guerra entre civis, é guerra entre cidadãos do mesmo Pais. Guerra Civil Espanhola envolveu grandes contingentes militares, inclusive com brigadas internacionais e aviação alemã mas mesmo assim denomina-se GUERRA CIVIL porque foi uma guerra entre espanhois. E a natureza de um conflito não se classifica por ter armamento pesado ou leve e sim pela essencia da guerra. Há guerras regionais, tipo Guerra do Chaco entre Paraguai e Bolivia, Guerras Internacionais como a da Coreia e Vietnam, Guerras de Descolonização, como entre a França e e a FLN na Argelia.

      1. Libano, Siria, Yemen , Iraque etc…

           Pouca gente sabe, mas armas leves ( pistolas, sub-metralhadoras, fuzis, RPGs ), ou semi-pesadas ( as “coletivas”, tipo morteiros 60/81 mm e metralhadoras ), são comuns há décadas nestes paises, as familias as possuem – as leves – em casa, no Yemen o primeiro presente para um menino é um punhal ( é uma cerimonia importante para o clã/familia), crianças de 9/10 anos* já sabem manejar um fuzil, já as coletivas, são possiveis de serem adquiridas em feiras de armas, advindas do trafico internacional privado ou mesmo dos estoques desviados do proprio arsenal do País ( com menos de 50 Euros, dá para adquirir uma Makarov 9mm em Beirute, e com 100/200 Euros uma AK-47/74, em qualquer bazaar ).

             Uma famosa DShK 14,5 mm ( “dishuka” ), creio que a arma coletiva mais vista na região ( em cima de pick-ups Toyota e silimares ), tanto em sua versão russa como na chinesa, pode ser adquirida por menos de US$ 2.000,00, ou roubada/traficada de arsenais, a sua munição se acha em qualquer lugar da area, como os RPGs ( < US$ 100,00 + 50,00 cada foguete –  ). Quem quiser saber mais: http://www.smallarmssurvey.org/

             * o conceito de “criança”, na visão ocidental, infelizmente, não tem relevancia, sequer é compreendido em certas culturas, tanto que no Afeganistão/Paquistão, um pré-adolescente ( 11 – 13 anos ), é um “adulto” formado, pronto para casar ( outro conceito diferente – quem casa não é ele, é a familia ampliada ( clã ou “grei” ) que assume um compromisso ), ele recebe, antes do “casamento”, a honra de segurar o “jezrail” ( um fuzil ), que possivelmente esta na familia ampliada, há décadas, tornado-se com este ato, um adulto, responsavel não somente pela segurança da familia, mas de todos.

              Entender e aceitar culturas diferentes, modos de vida alternativos, mas que existem há séculos, que estão enraizados, é um caminho bom, pois tentar forçar culturas, povos, a aceitarem uma forma de vida alienigena, no popular: dá merda.

  10. Algumas considerações básicas.

      AA, vc. como um “anglófilo “, convenientemente esqueceu que quem colocou os franceses para fora da Siria , e do Libano, foram os ingleses, primeiramente garantindo a independencia libanesa em 22/11/1943, e posteriormente após o bombardemamento de Damasco, no final de maio de 1945 ordenado pelo Alto – Comissário francês ( Cel. Olivat – Roger ), tropas britanicas após pressionarem tanto De Gaulle, como Argel *, entraram na Siria/Damasco, desarmando e expulsando as tropas francesas , prendendo o Alto – Comissário,deportando-os.

       1. Oleodutos: O principal ponto de exportação sirio, final de oleodutos/gasodutos, no Mediterraneo, fica em Banyias/Latakia, o qual no caso de ser defendido, o será, como sempre foi, pelas unidades russas basedas nas proximidades, menos de 20 milhas, em Tartus, já o proposto oleoduto Qatar – Turquia, continua no papel. ( sem terminal portuario, com aguas profundas, um oleoduto não vale nada ).

        2. Armas e trafico delas : Uma confrontação do tipo que ocorre nesta região, a principio não depende de fornecimento externo de armamento, são estados absurdamente armados em relação a estoques, tanto em suas forças regulares, como na população em geral. Já quanto a possibilidade de “trafico de armas e munições”, raramente estados nacionais, mesmo potencias, fornecem equipamentos diretamente, caso o desejem fazer, utilizam-se de redes especificas de “dealers” privados ou “terceirizam” a operação para outros países, como: Ucrania, Bulgaria, Romenia, Polonia, ex- republicas soviéticas etc.. , estas guerra ISIS/Daesh não dá “retorno” financeiro direto que compense o risco, o que interessa para a industria de defesa legal e consolidada, neste caso, é que os governos locais, aliados, iniciam uma corrida armamentista, caso do Egito, Irã, Libano, Arabia Saudita, “Os do Golfo”. Adquirindo substanciais equipamentos, que de nada servem para este tipo de confronto assimétrico.

        3. Ações em terra : Que já existem operando na Siria/Iraque/Curdistão, unidades especializadas ocidentais, é um fato, já esperar que tanto o Ocidente ou a Russia, enviem tropas substanciais para combates em terra, até o momento está completamente fora de questão, tanto pelas condições politicas internas como externas, financeiramente seria um desastre, e com certeza reforçaria a posição politica interna do ISIS.

  11. Gordon, Lord Kitchener e “Mahadismo”

      AA,

       “Ninguem quer ser Gordon, e Lord Kitchener of Karthoum  morreu faz tempo “.

       O ISIS/DAESH, não é nenhuma novidade histórica, pois o desejo de retorno aos Primeiros 4 Califados, e a profissão de fé, a crença milenarista, do “retorno” do “enviado” ou “guia” ( Mahdi ), sempre esteve presente, e utilizada o foi, por varios religiosos muçulmanos, visando manobrar os extratos populacionais ( fellahs ) mais pobres e menos aculturados, dos paises islamicos, tanto do Oriente Médio como da Africa, inclusive a época da “Sublime Porta”.

          Um dos primeiros “califados”, um ” Estado islamico”, que eu lembro, é do final do século XIX, no Sudão, contra o regime despótico egipcio otomano ( na realidade britanico ), quando um mullah declarou-se “mahdi”, mobilizando os pobres dervixes, que inclusive derrotaram as forças britanicas de Gordon, e depois foram massacrados na intervençao de Kitchener ( Omdurban, a frase famosa: ” Nós temos a Maxim, eles não “, que consta nos livros de Churchill ).

         O assunto é extremamente complexo, as nuances são varias, algumas não compreendidas, mas muito importantes, pelos ocidentais, que ainda insistem em reconhecer os paises daquela area e da africa, como estados nacionais definidos por fronteiras, que definidas foram por europeus, que não levaram em consideração o carater extremamente tribal, destas sociedades feudais ainda ( o papel dos “effendis” otomanos, ainda subsiste ).

          Portanto, uma vez que estes “Estados”, traçados a regua e esquadro, dissolvem-se por quaisquer motivos, ressurge o milenarista mahidismo, como uma resposta, claro que como sempre, historicamente, estas populações são utilizadas, tanto na politica interna, como com objetivos geopoliticos.

          O “bahatismo”, que vc. bem conhece, disseminado nos anos 40 – 70, principalmente no Iraque , Siria ( não considero o nasserismo um bahatismo original ) e Libano, uma tentativa laica, nacionalista e culta, de moldes ocidentais ( franceses e britanicos ), de romper estas estruturas, mas que foram “torpedeados” pelos interesses ocidentais, devido a varios motivos, tipo: associação ao socialismo, estado de Israel, influência economico-religiosa das monarquias absolutas do Golfo – o ultimo “bahatista” existente – não original, é Al Assad.

          P.S.: Iraque – Ao final da 1a Guerra do Golfo ( 1991-2 ), Bush (Pai ) e o Gen. Scwarzekopf queriam ir até “Bagdah”, derrubar Hussein e seus partido, “extirpa-los do poder”, já o Gen. Colin Powell impediu tal besteira, com um unico pensamento : “Quem colocaremos no lugar, quem irá controlar a sociedade iraquiana ? “.

    1. Meu cario Junior, sempre me

      Meu cario Junior, sempre me surpreendo com a extensão de seus conhecimentos geopoliticos e historicos, parabens.

      Os britanicos tinham imenso conhecimento e “intelligence” sobre os terriorios dominados. T.E.Lawrence e Gertrude Bell eram “scholars” que falavam arabe e conheciam cada palmo da area confiada aos britanicos. Os ingleses sabiam manipular a politica através de alianças com as elites locais, exatamente o que os americanos não sabem fazer, falta-lhes sofisticação intelectual que os ingleses tinham para dar e vender. Os britanicos controlavam a India, que como colonia (o “Raj”) incluia o que é hoje tambem o Paquistão, o Ceilão e Bangladesh) com nunca mais de 10.000 soldados, o dominio se dava com alianças com os marajás e rajás e com isso ficaram 200 anos no subcontinente. Americanos já foram melhores,

      dominaram as Filipinas e Porto Rico, verdadeiras colonias, com relativo sucesso, controlaram a America Central por grande parte do Seculo XX com alianças locais, hoje os estrategistas americanos são primitivos e perderam o Oriente Médio e se induspuseram até com a Arabia Saudita, verdadeira criação americana como Estado. Faltou aos EUA um Kennan ou um Marshall atual para ser o maestro da geopolitica americana no Oriente Medio, a burra mentalidade neocon parece que está por trás de tamta besteira.

      1. Alem de Miss Bell

           Sir Kinahan Cornwallis,

            E meu caro, entender que as descisões da Conferencia do Cairo ( 1921), presidida por Sir W. Churchill, ainda refletem sobre a região, é um bom começo, não escrevo isto para vc., mas como um insumo importante para os que desejam compreender mais sobre o tema.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador