Os Porões da Contravenção: um livro essencial

A história do Brasil é feita de episódios oficiais e de uma infinidade de eventos subterrâneos que raramente são acessados por repórteres investigativos.

São esses repórteres que levantaram os problemas das privatizações, as aventuras do esquema José Serra e de seu parente Preciado – que acaba de aparecer também na Lava Jato – e outros episódios que, sendo do reino da contravenção, impactam a política formal dos salões.

O livro “Os Porões da Contravenção”, de Aloy Jupiara e Chico Otávio, é um desses livros fundamentais.

Chico Otávio é jornalista respeitado. Participou de uma brilhante geração de repórteres de O Globo, nos tempos em que a reportagem de fôlego ainda não tinha sido abolida das páginas dos jornais.

Coube a ele coordenar a série de reportagens no caso HSBC, depois que o jornalista Fernando Rodrigues amarelou.

Assim como muitos de seus colegas, Chico Otávio migrou suas grandes reportagens para o livro e, junto com Aloy, montou um vasto perfil da contravenção do jogo de bicho, a partir das ligações do crime com a linha torturadora da repressão.

Mostra o relacionamento íntimo do SNI (Serviço Nacional de Investigações) e dos militares que comandaram os atentados do Riocentro com o bicho.

Esse período termina com a sentença história da juíza Denise Frossard, mandando prender os chefões, graças a um trabalho do Ministério Público. Pena que não sejam mencionados os procuradores que participaram dessa operação histórica, para que possam ser colhidos seus depoimentos.

Depois disso, o jogo se espraiou por inúmeras atividades, entrou em outras áreas da corrupção pública, mas encerrou o ciclo da grande organização criminosa que juntava todos os mafiosos em torno de um cappo e mandava liquidar os adversários.

O livro termina com um final digno de filme de suspense: informa que o celebérrimo Capitão Guimarães é um dos correntistas do HSBC.

Fica aí a dica para uma continuação: a nova forma de atuar do jogo, agora no formato eletrônico em parceria com máfias italiana, espanhola e de Las Vegas. Foi essa abertura que permitiu o empreendedorismo de Carlinhos Cachoeira, aliando-se à revista Veja para tentar expandir seus domínios para além de Goiás.

Essa segunda fase do jogo é responsável pelas maiores crises políticas contemporâneas.

É importante que o Ministro Aloizio Mercadante tenha isso em mente, antes de se propor a patrocinar qualquer forma de legalização do jogo.

Luis Nassif

8 Comentários

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  1. Mas Nassif, o jogo já corre

    Mas Nassif, o jogo já corre solto por ai.

    A meu ver, o correto seria legalizar e regulamentar. Por ex, porque nunca passaram o jogo do bicho para a CEF ?

    Em todo lugar tem.

    Máquinas caça niqueis é um pouco diferente de bingos e de jogo do bicho, este, se for regularizado, deve ser apenas em locsis determinados, talvez resorts ou algo do tipo.

    Evidente que não podemos ter máquinas caça niqueis nos botecos, mas também hoje em dia, em todo buteco (até em cabeleireiros) tem jogo do bicho e ninguem fala nada. Ai é muita hipocrisia.

  2. Os essenciais

    Nassif, o livro que você esta escrevendo passa por esse tema ? Acho que seria bom ter um Jornalista Investigativo, indo atras de desvendar todo esse novelo da Lava Jato. Teriamos (boas) surpresas.

  3. É curioso como a figura do

    É curioso como a figura do bicheiro foi idealizada no consciente coletivo do brasileiro. Houve até um,  numa novela, feito pelo Nuno Leal Maia, que era super bem visto, que tinha como sonho conquistar a Vera Fishcer. O que é uma visão super distorcida, pois não há ou houve bicheiro que chegou até esse posto sem ter matado ou ter mandato matar alguém.

  4. Radio Globo divulgava resultado do bicho

    A Rádio Globo mantinha uma relação promiscua com o jogo do bicho. Ela divulgava resultado do bicho como quem divulga resultado das loterias da Caixa.

    Até que um dia apareceu o nome de radilistas da Globo na caderneta do Castor. Desse dia em diante a Radio Globo nunca mais divulgou resultado do jogo do bicho. Não é boba.

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