Para entender a crise da Grécia

Desde a criação da economia, como ciência, o mundo ocidental conviveu com dois modelos conflitantes de definição de políticas públicas.

Escudando-se nos conceitos da economia clássica, de Adam Smith, o capital internacional buscaa construir um mundo sem fronteiras nacionais, com cada país encontrando sua vocação no grande mercado global.

Insurgem-se contra isso dois tipos de pensamento. Numa ponta, Karl Marx propondo a internacionalização dos trabalhadores. Na outra, a economia política de Friedrick List, defendendo as estratégias nacionais de promoção do desenvolvimento.

Essa tripolaridade é a marca do século 20, as três utopias que movimentam pessoas e nações: a utopia internacionalista, a utopia do poder nacional e a utopia da preponderância da classe operária.

De certa maneira, o  embate entre as três utopias era necessário para coibir abusos de cada uma. 

Em dois momentos rompe-se o equilíbrio e o capital internacional ganha um poder avassalador: de 1870 até a Primeira Guerra; e de 1970 até agora.

A expansão dos negócios passou a exigir que o sistema financeiro internacional avançasse sobre o setor mais rico dos emergentes: o orçamento público. Assim, o crédito a países (e até a estados dentro de países) tornou-se um dos campos promissores de negócio tanto para os bancos como para seus parceiros nacionais.

No fim da Monarquia, Rui Barbosa era o mais acerbo crítico dessa irresponsabilidade. Nomeado primeiro Ministro da Fazenda da República, liberou geral, para gáudio de correspondentes de bancos britânicos a quem ele estava associado.

Para perpetuar o negócio, criou-se uma corrente férrea, a geração de dependência nesses países, que necessitavam de divisas para seu desenvolvimento ou mesmo para as despesas essenciais. Depois, puniam-se as inadimplências com corte geral de oxigênio financeiro e, por vezes, com a ameaça de invasão militar.

Quando a situação financeira tornava-se insustentável, montavam-se operações de “fundings loans”  – consolidação das dívidas em uma renegociação geral.

O primeiro concerto financeiro mundial gerou um desequilíbrio tão acentuado entre interesses sociais e nacionais, e os interesses do capital, e uma imobilidade tão grande nas instituições multilaterais, que acabaram produzindo as grandes tragédias do século, a Primeira Guerra, a Revolução Russa, a ascensão do Nazismo e a Segunda Guerra. Não se encontrou outra maneira de contornar o torniquete que amarrava países.

Após o acordo de Bretton Woods, o pós Guerra gerou alguns instrumentos de pacificação desses conflitos. Esse equilíbrio foi rompido com Nixon.

O conflito democrático

Na quadra atual, esse conflito se revolve com eleições.

Internamente, mesmo nos países centrais há uma enorme desinformação sobre mecanismos monetários e financeiros.

Foi essa desinformação que permitiu ao Banco Central Europeu aplicar recursos vultosos na Grécia, visando exclusivamente salvar o sistema financeiro nacional. O pretexto era preservar a pequena poupança popular. E, obviamente, os interesses dos grandes investidores.
A receita aplicada no país promoveu um desastre. Derrubou drasticamente o PIB grego, promoveu um desemprego em massa. Com a queda do PIB e da atividade, a relação divida/PIB aumentou de 100% para 180%.

Agora tem-se o seguinte dilema.

A boa técnica bancária consiste em adaptar a dívida à capacidade de pagamento do inadimplente. A dívida grega tem um peso pequeno no capital do BCE. Mas, aí, a democracia e os componentes eleitorais cumprem um papel paradoxal.

No caso da Grécia, significou um rompimento com as regras anteriores do BCE e a afirmação do interesse nacional.

Mas para seguir a boa técnica bancária, o BCE terá que realizar o prejuízo com os créditos à Grécia. E aí enfrentará o interesse nacional dos países centrais, a reação dos eleitores, especialmente da Alemanha e França, ao que consideram “ajuda”  a um país que não fez a lição de casa.

O segundo problema é a possibilidade de que o precedente grego promova uma reação em cadeia contra a ortodoxia do banco.

Melhor isso do que a guerra. Mas a insensatez é uma marcha sem dono.

Luis Nassif

18 Comentários

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  1. A liberdade que não é livre!

    Caro Nassif e equipe,

     

    (…)buscaa construir um mundo sem fronteiras nacionais, com cada país encontrando sua vocação no grande mercado global.

    Comentário: caro Nassif, se não estou enganado, a “política” das vantagens comparativas do David Ricardão, CONDENA – digamos assim –  os países a serem o que “são”, comparativamente. Assim, é “vantagem” para os países que vendem recursos naturais,( braZil, por exemplo)  se especializarem na venda de recursos naturais,  e comprarem “high tech” dos países centrais, “desenvolvidos” , mesmo que , eventualmente, aqueles possuam alguma “high tech” para vender. Em suma, os PED’s ( países em desenvolvimento, ou , se preferir, os países e eterno desenvolvimento – nome mais bonitinho dado aos  países de terceiro mundo, “subdesenvolvidos”) devem ficar “no seu lugar”. E não se atrevam a mudá-lo hein!!!!

    Se és um doente holandês, então que morra com sua vaca holandesa!

    Em dois momentos rompe-se o equilíbrio e o capital internacional ganha um poder avassalador: de 1870 até a Primeira Guerra; e de 1970 até agora.

     

    Comentário:

    Nassif, que fique bem claro as razões destes  ” dois” momentos históricos:

    “Liberalismo e neoliberalismo”. 

    Em suma,  deixa fazer que tudo se ajeita, ou ageita, e se sujeita! 

    E recentemente, sobretudo, aqui na américa que nasceu para trabalhar, isto é, na américa latina do labor, mestiça, pau pra toda obra braçal! com os “adoráveis” regimes totalitários, ditatoriais, “implementa-se o “neoliberalismo”. Para tanto, fecha-se o Congresso e chama os “economistas de escol” para tocar a “economia”. Ou seja, toca aí a economia que agente garante o equilíbrio social na porrada!  Estabelece-se Atos institucionais acima da Constituição, atacando assim, a fonte principal do “liberalismo de outrora ; “reforma” o Estado na base da porrada!  Reforma-se o “poder judiciário” com o congresso fechado! para implantar um novo liberalismo que de liberal, tem a autocracia! Logo, camufla o melhor sentido do vocábulo “liberal” para essa gente caudilhista, conservadora que odeia TRATADOS INTERNACIONAIS de direitos humanos(1966) de primeira, segunda e terceira dimensão! Aliás, ainda hoje, propõem cadeia até para aqueles seres humanos que sequer  atingiram a maioridade penal!!!!!

    No fim da Monarquia, Rui Barbosa era o mais acerbo crítico dessa irresponsabilidade. Nomeado primeiro Ministro da Fazenda da República, liberou geral, para gáudio de correspondentes de bancos britânicos a quem ele estava associado.

     

    Comentário:

    RuiM Barbosa , além de copiar o princípio da igualdade e traduzí-lo enviesadamente para os mentecaptos “liberais” ( que só gostam de liberdade para os direitos humanos de do próprio umbigo, civis e políticos, estado mínimo negativo, tudo, é claro, com ESCRAVOS e com voto CENSITÁRIO! sem mulheres no poder a não ser o da cozinha e do sexo com o seu “débito conjugal”! entre outras “liberdades” racionais de meia tigela!) gostou mesmo foi do “encilhamento”. Eis a “ciência econômica” explicando o mundo coeteris paribus para os otários! 

    Se na década de 1970 temos a “dama de ferro”, propagando “pensamentos” liberais nada liberais, e por isso emsmo sendo  amada pela “elite” brasileira que nada enxerga além do umbigo , sobretudo, a partir de 1990, lá atrás, na segunda metade do século XIX, temos o nosso “Damo de ferro”, o nosso marechal de ferro, nos ferrando. Ou seja, vira e mexe tem alguém de ferro para nos ferrar!

    Antes disso, Paraguai lá estava, produzindo, crescendo, desenvolvendo-se, destacando-se na região, razão pela qual, teve que engolir a intervenção saxã com a ajuda do Duque de Caixias e seus aliados “de ferro”.

    E muito antes disso tudo, lá estava ele, o  Estagira que soube,  mais que ninguém que para “bem governar” e  ser “democrático”   é preciso , antes,  definir quem é o povo. E como o escravo nem pessoa é, obviamente, não será povo e  não vai para a praça pública votar!

    No Brasil dos “estados unidos do Brasil”  e bandeira quase que copiada dos EUA de verdade, eis que surge nosso princípio da igualdade, em plena “liberdade do estado mínimo, para enganar, como de hábito, os idiotas brasileiros ignorantes do uso e abuso do poder( que emana do povo! rsrsrsrs) 

    Por fim, vale dizer que o mundo democrático baseado em “mérito” capitalista é, de per si, um paradoxo insuportável.  Não passa de um slogam. Uma ideia que vem sendo cotidianamente negada na prática.  

    Não é possível o poder emanar do povo e ao mesmo tempo GARANTIR direitos que são contrários aos interesses do povo.

    Os “liberais” se livraram do absolutismo e , ato contínuo, COPIARAM, os hábitos e costumes dos ABSOLUTISTAS! rsrsrs

     

     

  2. Comentarios. E OXI neles!

    Não vejo a Revolução  Russa como uma tragédia, nem a vitoria (militar) sobre o nazifacismo, que ditou o as práticas dos anos 1950-70 no campo econômico: um lado oferecia igualdade outro prosperidade para todos. A prosperidade hoje é para meia dúzia e a igualdade aguarda, pois a se manterem as taxas de concentração de renda a resposta será dada, e nas ruas não nas urnas (Paine, Pierce, Juarez, Danton Lumumba estão mortos mas não se foram…).

    O que se nota é que os gregos deram um baita não (61% é considerável) ao socialismo “limonada”: aquele que privatiza lucros e socializa prejuízos.

    Um pais, pequeno, que viu o desemprego crescer à 27%, o PIB cair 26% e a renda per capita despencar 24% e esperar que mais arrocho produza uma inversão na espiral descendente é de uma vileza impar. Oxi neles!

    O que foi barrado é a tentativa de impor ao lado menos previlegiado (a população mais pobre e humilde da Grécia) a responsabilidade de pagar a conta para presevar os bancos europeus, mormente os alemães e franceses, antes de tentar enfia-la (a conta) goela abaixo dos outros contribuintes europeus ( e neste caso posso citar a indignação, óbiva dos portugueses que foram espremidos até a raiz da medula antes do basta meio que silencioso que é mote hoje nas ruas de Lisboa).

    E vale lembrar que o que foi feito em 2010 com a Grécia não passa de uma mal disfarçada passada de mão na cabeça desse guri indisciplinado que que responde pelo nome de sistema financeiro (guloso, egoista, ególatra e mimado). Neste ponto o que foi feito na Islândia é emblemático. O pais não deixou de existir , a crise foi contornada, e os principais responsáveis (aqueles que emprestam sem responsabilidade) foram punidos. A população islandesa sofreu? Sim , mas muito menos do que na “solução de mercado” proposta à época. E mais um alerta foi lançado às práticas predatórias e viciadas dos big dealers de mercado.

    Sem falar na postura germanica. Quem teve perdoado seus débitos como pós 1945 deveria ter um olhar mais agúdo sobre como gerenciar seus próprios (irresponsáveis) bancos.

    Espera-se que sejam lembradas as lições da Crise Mexicana de 1982, semelhante, mas neste caso os players eram os bancos estadunidenses e o governo mexicano, que por falta de um melhor gerenciamento contaminou Argentina, Brasil e outros;  que teve um remake em 1994 com os mesmos agentes: bancos, tomadores de dinheiros latino-americanos e o Estados Unidos da América (credor de última instância).

    O bode esta na sala de Angela Merkel pois agora: já se ouve que perdoar a Grécia é perdoar Portugal, Espanha e a Irlanda ( e em menor escala Itália também). O sabor de revanche em Lisboa era muito forte, bem como o incomodo com a subserviencia à Troika, por parte de setores da população local.

    O número de contribuintes para pagar o estrago do guri que quebrou a vidraça (os bancos) vai aumentar ( todos os contribuintes da Eurolândia serão chamados a por a mão no bolso e a rachar a conta).O dono da bola da vez ( a Grécia ) respira aliviado. Agora todos aqueles que gritaram “chuta” ( os rapinantes rentistas de sempre) já sairam de fininho e encontram-se em suas casa tomando sopa.

    E não vai faltar agora aqueles que aproveitar-se-ão com a coragem dos bagrinhos gregos: basta ver as declarações de Vladmir Putin com um aceno de ajuda (ver em http://www.dgabc.com.br/Noticia/1482617/putin-expressa-apoio-a-populacao-grega-em-conversa-telefonica-com-tsipras) e pensar nas frases de Varoufakis (em : http://www.dw.com/pt/as-mais-pol%C3%AAmicas-frases-de-varoufakis/a-1856488) e a sua mensagem clara: não estamos blefando!

    No mais : parabéns aos Gregos! Valeu Yanis Varoufakis, valeu Alexis Tsipras!

     

     

  3. A falta de confiança de todas as partes é decorrente do modelo

    Sem Astrologia, Geometria e Tarot não há modelo aceito como confiável por todas as partes. Só quando se leva em consideração TODOS os contingenciamentos Universais, Geométricos e Humanos  é que se consegue credibilidade entre as partes.

    Sem confiança entre as partes os conflitos, em última instância, se resolvem pela força.

     

  4. Tem um ponto que você esqueceu de mencionar

    os ajustes dos países do sul, não apenas da Grécia, também têm sido usados para gerar lucro para o norte europeu. Para que isso seja possível, num descaramento sem tamanho, o banco central europeu empresta dinheiro para bancos privados com juros de 0%, mas tem “emprestado” dinheiro para Portugal, Grécia, etc com juros de 4 ou 5% ao ano através da troika, o que é imoral.

  5. Contas simples de uma dívida impagável

    1. A boa técnica bancária consiste em adaptar a dívida à capacidade de pagamento do inadimplente.

    Segundo li no DCM, a dívida monta 320 bilhões de Euros. Qual a capacidade de pagamento do devedor? Supondo que seja de 2 bilhões/ano, seriam necessários 160 anos, apenas o capital, fora os juros. Se for de 4 bilhões/ano, módicos 80 anos, fora os juros. 

    2. Mas para seguir a boa técnica bancária, o BCE terá que realizar o prejuízo com os créditos à Grécia.

    Em bom português, em linguagem de ex-bancário, realizar um pequeno “abatimento negocial” acima de 50%. Não tem jeito, o devedor está insolvente e não tem capacidade de pagamento. Resta agora ao BCE contabilizar em prejuízos algo em torno de 160 bilhões de Euros, alongar o restante em 50 anos com juros baixos, uma carência básica de 5 anos, e tirar a Grécia do SPC/Serasa. Perdeu, playboy. 

  6. E sem rumo

    Melhor isso que a guerra. Mas a insensatez é uma marcha sem dono.

    Guerras acontecem sempre por causa de dinheiro.

    Esse caso não é diferente.

    Vai acaba em guerra mesmo!

    Insensatez é a única coisa que existe nas relações internacionais.

     

  7. GRECIA

    Quem não fez a lição de casa:

    1. O FMI E OS BANCOS CREDORES deviam ver o limite para emprestar como é feito com qualquer correntista através do seu cadastro( garantias reais etc)

    2. A GRECIA não devia tomar emprestado um valor que não tem condições de pagar.

    Se não tem condições de pagar não pegue o empréstimo.

    Não se empresta para quem não tem condições de pagar.

    O ministro avisou a população que o pagamento de aposentadoria, funcionário público era pago com empréstimo . 

  8. MAIS RESPONSABILIDADE E MENOS HIPOCRISIA!

    POR QUE NOSSA REFORMA POLÍTICA E AS ÚLTIMAS VOTAÇÕES DO CONGRESSO NÃO FORAM FEITAS POR REFERENDO, COMO A DILMA QUERIA?

    A União Europeia precisa assumir suas responsabilidades, e admitir que entregou dinheiro a ladrões, sabendo que roubariam tudo. Agora que cobrem dos ladrões, não do povo grego. Os gregos devem pagar apenas o que lhes trouxe vantagens nesses empréstimos, não o que foi desviado.

    Chega de hipocrisia, todos sabem porque na parte mais rica da Europa não tem roubalheira. É justamente onde o povo pode cassar seus políticos, iniciando o processo de cassação chamado de RECALL com seus ABAIXO ASSINADOS. Na Irlanda, por exemplo, precisam de apenas 500 mil assinaturas, na Suíça de apenas 100 mil…

    É um absurdo que a União Europeia tenha admitido países onde o povo não tenha acesso aos instrumentos de DEMOCRACIA DIRETA, como PLEBISCITOS, REFERENDOS, e RACALLS. Qualquer um poderia prever o que aconteceu, mas agora querem jogar toda a culpa no povo grego. A União Europeia deve retirar a máscara, e fazer um referendo geral, para que todos os países membros adotem esses instrumentos, sob pena de serem desligados de sua confederação; e assumir solidariamente os ônus da roubalheira originada por sua própria irresponsabilidade.

    No Brasil também não temos esses direitos, vejam porque:

     

    https://www.facebook.com/democracia.direta.brasileira/photos/a.300951956707140.1073741826.300330306769305/314356765366659/?type=3&theater

    1. Concordo, desde que se possa

      Concordo, desde que se possa eleger juízes por um prazo determinado, que as polícias atuem controladas pelo poder público e que a mídia possa levar um “pau feio” se ficar fazendo lavagens cerabrais, eivadas de mentiras, na cabeça da população. Caso contrário é mera ditadura dos poderosos com uma bela roupagem de democracia…

  9. Você me fez lembrar do PROER.

    Você me fez lembrar do PROER. Enquanto a corda era enrolada no pescoço da classe média e do povão para o ajuste necessário da economia nos tempos do “pavão misterioso – FHC”, tudo fluiu muito bem, quer dizer, muito bem para elite (bancos e as classes ricas), MAS quando a corda chegou no pescoço deles…AH ai não seu Fernandão, afinal de contas quem financiou sua campanha, hein??? Eu não gosto do comunismo, mas tenho de admitir que foi ele quem contrabalançou as forças no cenário internacional, ou hoje estaríamos trabalhando por migalhas ou como escravos, como na verdade era no começo do século XX, principalmente para os negros. Os governos são como os times de futebol aqui no Brasil, não tem dono, não tem responsabilidade, fazem o que bem entendem e a CONTA FICA PARA O POVO. Hoje o povo Grego deu sua resposta, NÃO VAMOS PAGAR ESTA CONTA DE QUALQUER JEITO. Os demais cederam. Conhece o jogo de truco? Foi o que os gregos fizeram, trucaram. E quer saber, o povo grego esta certíssimo e pode crer que não existe ali ideologia nenhuma, existe sim a necessidade de sobreviver com dignidade. O outro lado da moeda é que a Grécia chegou a este ponto  porque gastou  mais do que arrecadava desde antes de entrar na zona do euro. Após a adoção da moeda comum, os gastos públicos cresceram ainda mais, e os salários do funcionalismo praticamente dobraram. Ao mesmo tempo em que o dinheiro saía facilmente dos cofres estatais, pouco recursos entravam, já que a evasão fiscal é amplamente praticada na Grécia. Assim, o país encontrava-se muito mal preparado para lidar com a crise financeira global que estourou em 2008. Quem foram os responsáveis? Cadeia neles. E fica a lição: “Politize-se, participe e saiba escolher bem seus representantes”. 

  10. Coisas que esqueci

    Esqueci de agradecer ao Evandro Lima, que gastou um pouquinho do seu tempo para me explicar uma possível origem do termo “coxinha”, na forma como é usado hoje, querendo dizer “burguês”, “mauricinho” ou coisa parecida. Mas realmente não faz o menor sentido. Coxinha é um secular e muito gostoso quitute de botequim, e nada mais distante de um “burguesinho” do que um salgado de buteco. Enfim, acho que essa onda vai passar.

    Jorge Rebolla faz comentários inteligentes e não insulta. Só lamento não entender nenhuma palavra de russo, escrito ou falado, então agradeço o vídeo enviado, mas nada entendi.

    Por sinal, falando em insultar, as grosserias e ataques que li aqui ontem contra mim são os mesmos e do mesmo nível que leio no blog do Reinaldo Azevedo, quando lá entro e faço meus protestos contra o conservadorismo exagerado, o golpismo daquela turma. A diferença é que a turminha daqui me chama de fascista e a turminha de lá me chama de comunista, o que não deixa de ser engraçado. Mas a violência, a agressividade, os insultos contra quem pensa diferente são exatamente iguais, tanto lá como cá. Esses blogs são todos iguais, se você não pensa igual à “turminha”, você é insultado. Com as exceções de praxe, o nível da baixaria é exatamente igual nos dois lados.

    Falei sobre ter lido 6 biografias do Stalin apenas para manifestar meu espanto, por não haver em nenhuma delas a informação de que o cadáver do ditador assassino tinha voltado para o pé da muralha do Kremlin. Eu sabia que Khrushchev tinha mandado tira-lo de lá e enterra-lo num cemitério da periferia de Moscou. Não sabia que tinham trazido de volta à Praça Vermelha o cadáver do Gengis Khan do século XX. Aliás, a Praça Vermelha não tem este nome por causa da Revolução de 1917. Já era assim chamada muito antes e por uma razão simples: as muralhas do Kremlin foram feitas de tijolos vermelhos, há mais de 500 anos, só isso.

    Atrás do Mausoléu de Lênin, existe uma longa fileira de túmulos de personagens importantes da Revolução Russa. São simples e todos iguais, apenas uma lápide com o nome do sujeito. O problema é que quem não conhece o alfabeto cirílico não consegue identificar ninguém. Só desconfiei do túmulo de Stalin porque é um dos nomes mais curtos – Сталин – e me lembrei que em russo a letra C equivale ao S latino.

    Quanto à pessoa que se indignou por eu ter chamado o corpo de Lênin de “múmia”, sinceramente, não sei que nome dar àquilo. Parece um boneco pintado nas cores “cenoura & bronze” dentro de uma urna de vidro.

    Se ajudar alguém que queira ir até Moscou, informo que não é permitido entrar no mausoléu com nada, nenhum tipo de máquina ou celular. Tudo tem de ser deixado numa chapelaria, na entrada da Praça Vermelha. Não lembro mais se a entrada é paga, mas lembro que a fila é enorme.

    O Jair Fonseca, um dos mais agressivos contra mim, acertou na mosca: “Um Cubas!”, as últimas palavras do pai do personagem principal do meu romance predileto do Machado foi o mais legal da noite de ontem. Eu me chamo Renato, mas não Cubas; este sobrenome é só uma brincadeira com o Machado de Assis.

    Para finalizar, gostaria de citar uma frase de uma poderosa inteligência marxista, a extraordinária Rosa Luxemburgo, assassinada pelos fascistas alemães, em janeiro de 1919. “Liberdade é essencialmente a liberdade de quem pensa diferente de nós.”

     

     

     

     

     

      

     

  11. Impagável!

    Essa situação da Grécia me faz lembrar a situação da VARIG, a voadora: o nome e a oficina das aeronaves foi vendida para a Gol, e a dívida foi entregue a uma nova empresinha miudinha junto com uma aeronave, para a dita quitar a dívida com isso.

    Ora, se uma empresa grandalhona como a VARIG não conseguiu honrar suas dívidas, como é que uma miudinha conseguiria honrar a mesma dívida ? Em se falando de Grécia, olha a miudinha! 

  12. a última coisa que me lembro

    a última coisa que me lembro foi estar correndo para a porta. eu tinha que encontrar a saída. relaxe, me diz o porteiro. você pode fazer o check out a hora que quiser, mas você nunca conseguirá sair.va Grécia no labirinto do minotauro global. algum fio de Ariadne?

    Grécia, sumário do comércio exterior: https://atlas.media.mit.edu/pt/profile/country/grc/

    OXI e GREXIT:

    1. estatização do sistema financeiro grego;

    2. adoção de moeda paralela;

    3. reestruturação da dívida;

    4. acordo com BRICS, em especial com a Rússia;

    como fechar as contas externas no curto prazo? com Euros ou US$? Libras? seriam Merkel e Hollande os que estão blefando? Londres suportaria o risco do contágio de um colapso grego? como os EUA reagiriam com uma atuação direta da Rússia na crise grega?

    grande momento para o Brasil mediar a crise. mas Dilma e Lula estão ocupados demais defendendo o “ajuste fiscal”.

    Varoufafis anunciara que renunciaria no caso da vitória do “SIM”. e logo na manhã seguinte a uma arrasadora vitória do “NÃO”, veste-se orgulhosamente com a aversão dos credores, pega sua bella e dá um ciao. como no caso de Dilma, Tsipras adotará o programa derrotado nas urnas?

    do outro lado da banca

    manifesto de economistas gregos a favor do “SIM” nada mais faz do que prever o passado. descrevem como conseqüência da não aceitação das imposições da Troika (Comissão Européia, FMI e BCE) o que já é asfixiante realidade para o povo grego. 

    “Consequências de curto prazo: fechamento de bancos, corte no valor dos depósitos, baixa aguda no turismo, escassez de bens de consumo básicos e de matérias-primas, mercado negro, hiperinflação, falências de empresas e um grande aumento no desemprego, queda rápida nos salários reais e no valor real das aposentadorias, recessão profunda e problemas sérios no funcionamento do sistema de saúde pública e defesa, agitação social.”

    “Consequências de médio prazo: isolamento internacional do país, falta de acesso ao mercado internacional de capitais por vários anos, baixo crescimento e investimento anêmico, desemprego alto com inflação alta, suspensão do fluxo de fundos estruturais da União Europeia, declínio significativo do padrão de vida, oferta precária de bens e serviços públicos.”

    http://www.ekathimerini.com/198826/article/ekathimerini/news/declaration-of-professors-of-economics-at-greek-universities-on-the-referendum

    tudo está se radicalizando. conseguiremos encontrar a saída do labirinto?

    .

  13. Nasssif, que tal aprofundar sua análise ? Lhe faço este desafio!

    A Grécia é obrigada a pagar uma dívida ilegal ? A Maria Lúcia Fattorelli, brasileira brilhante que participou da comissão da verdade da dívida grega, mostrou as ilegalidades destas dívidas no parlamento grego, que se parecem muito com as ilegalidades da dívida brasileira.

    Nassif, se queres mostrar aos seu leitores a verdade para que entendam a crise da Grécia, sugiro os vídeos abaixo.

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=pHt8QguIQNA&list=LL0ZIkc47Y6xuKUpePXfbm9A&index=3 align:center]

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=wfeJduCV3y4&list=FL0ZIkc47Y6xuKUpePXfbm9A&index=3 align:center]

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=xANOGSaqXw8&list=FL0ZIkc47Y6xuKUpePXfbm9A&index=4 align:center]

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=ChmYfkVDFSU&list=FL0ZIkc47Y6xuKUpePXfbm9A&index=5 align:center]

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