Para entender o conflito entre Irã e Arábia Saudita

Jornal GGN – Gustavo Chacra, especialista em política internacional do Estadão, explica as razões para o conflito entre o Irã e a Arábia Saudita. Segundo ele, há diversas disputas em andamento no Oriente Médio, mas a mais importante envolve os dois países, que apoiam lados opostos em conflitos na Síria, Iraque, Bahrain e Yemen, assim como grupos políticos rivais no Líbano. 

No caso da Síria,  Irã está ao lado do regime de Assad, enquanto a Arábia Saudita dá suporte a grupos extremistas sunitas da oposição, como o Jaysh al Islam e a Frente Nusrah (Al Qaeda). O estopim foi a execução, por parte do regime saudita, de 47 pessoas, incluindo um clérigo xiita, crítica da política da monarquia contra a minoria xiita do país.

Enviado por Gilberto Cruvinel

Do Estadão

Guia para entender o conflito entre Irã e Arábia Saudita

Gustavo Chacra

Há um conflito entre o Ocidente e o Mundo Islâmico?

Ao contrário do que muitos propagam, não há um conflito entre o mundo islâmico e o Ocidente. Afinal, se houvesse, seriam cristãos (ou ateus), e não muçulmanos, sejam eles curdos, árabes ou persas, lutando contra o ISIS, também conhecido como Grupo Estado Islâmico ou Daesh, na Síria e no Iraque. Todos os países de maioria islâmica do mundo, com as exceções do Irã, Síria (laica e em guerra civil) e Sudão são aliados dos EUA. E, não podemos esquecer, o regime sírio e o iraniano estão na vanguarda da luta contra o ISIS e contra a Al Qaeda, que também são, oficialmente, inimigos de todos os países de maioria islâmica. A popularidade do ISIS é maior em alguma nações europeias do que no Líbano (0% de apoio) e na Jordânia, que fazem fronteira com a Síria.

Mas há um conflito entre Irã e Arábia Saudita, duas nações islâmicas?

Há uma série de disputas em andamento no Oriente Médio. Mas, a mais importante, envolve a Arábia Saudita e o Irã. Estes dois países apoiam lados opostos em conflitos na Síria, Iraque, Bahrain e Yemen e apoiam agrupamentos políticos rivais no Líbano.

Este conflito é entre xiitas e sunitas?

Muitos descrevem um conflito entre sunitas e xiitas. Em parte e dependendo do lugar, realmente colocam seguidores de uma vertente do islamismo contra a outra. Este é o caso do Iraque e de Bahrain. Também, no Líbano, onde não há guerra, mas uma coalizão política, apoiada pelo Irã, reúne os xiitas e a maioria dos cristãos, enquanto a outra, com o suporte saudita, reúne os sunitas e uma minoria dos cristãos. Na Síria, esta divisão não se aplica. Afinal, os xiitas são apenas 2% da população. O Irã está ao lado do regime de Assad, que conta com o apoio dos cristãos (10% da população), alauítas (10%), a maioria dos drusos (10%) e dos sunitas árabes moderados (10%). A Arábia Saudita dá suporte a grupos extremistas sunitas da oposição, como o Jaysh al Islam e a Frente Nusrah (Al Qaeda). Os curdos sírios (sunitas), são neutros, mas toleram Assad e lutam contra os rebeldes.

Sunitas e xiitas sempre foram inimigos?

Sempre houve problemas, desde o início do islamismo. Os cristãos e os judeus, por séculos, eram bem mais integrados aos sunitas do que os xiitas aos sunitas. Mas houve momentos de muita coexistência, sendo comum casamentos de xiitas com sunitas no Líbano e no Iraque, por exemplo. Soldados iraquianos xiitas defenderam o regime de Saddam (laico, embora sunita de nascimento) contra o Irã, xiita. O Hezbollah, até uma década atrás, desfrutava de enorme popularidade entre sunitas no mundo árabe mesmo sendo xiita.

Por que o cenário se agravou ontem?

Arábia Saudita e Irã sempre evitaram confrontos diretos. Atuavam em uma Guerra Fria muito similar à que existiu por décadas entre EUA e Rússia. Mas o regime saudita, o mais conservador do mundo, em apenas um dia executou 47 pessoas, incluindo um clérigo xiita, que criticava a política de quase Apartheid da monarquia contra a minoria xiita do país. Esta atitude revoltou o regime de Teerã. Manifestantes invadiram e atearam fogo à Embaixada saudita na capital iraniana e até o aiatolá Khamanei prometeu uma dura resposta.

 Quem é mais extremista, Irã ou Arábia Saudita?

Apenas para frisar, o Irã, embora possua uma sociedade sofisticada, é governada por um regime teocrático que segue uma vertente radical do islamismo xiita (xiita não significa extremista). Existe uma série de restrições religiosas, mas as mulheres e as minorias cristãs e judaicas possuem infinitamente mais liberdades do que na Arábia Saudita, embora menos do que o Líbano ou a Tunísia, por exemplo – os bahai, no entanto, são perseguidos. A não ser por raros expatriados, não há judeus e cristãos na Arábia Saudita. Os xiitas são perseguidos. Mulheres sofrem um quase Apartheid. A Arábia Saudita é, portanto, mais radical. Isso não significa, em hipótese alguma, que o Irã seja liberal.

Qual a relação do Irã e da Arábia Saudita com o ISIS?

O Boko Haram, o ISIS, a Al Qaeda e o Al Shebab seguem o wahabismo, uma vertente ultra conservadora do islamismo sunita propagada pela Arábia Saudita. O ISIS considera o Irã seu maior inimigo. O regime saudita, formalmente, também é inimigo desta organização, apesar de suspeitas de que, no passado, braços do serviço de inteligência saudita tenham dado suporte a esta organização. O Hezbollah, inimigo de Israel, é xiita e tem apoio do Irã. No Líbano, por questões de política doméstica complexas e sem relação com Israel, o Hezbollah é aliado dos principais partidos cristãos.

Qual a relação do Irã e da Arábia Saudita com os EUA e com Israel?

O Irã é inimigo dos EUA, mas houve um acordo neste ano estritamente na área nuclear, envolvendo outras potências (Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha). Israel, retoricamente, seria o maior inimigo dos iranianos, mas o regime de Teerã, na prática, trata a Arábia Saudita como seu maior rival

A Arábia Saudita é aliada histórica dos EUA, mas houve uma deterioração nas relações no governo Obama. Israel, embora não tenha relações formais com os sauditas, age em coordenação no campo diplomático em Washington em oposição ao Irã e troca informações no campo militar

 

Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

Redação

10 Comentários

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  1. A Arabia Saudita patrocina o

    A Arabia Saudita patrocina o Islã radical no mundo todo, o Irã patrocina o Islã Xiita na região.

    E ambos apoiam o terror.

    O Irã patrocina o Islã em termos regionais pois para ele não é negocio ( não ainda rs ) faze-lo na escala que os Sauditas e o Catar andam fazendo.

    Os interesses do Irã são mais especificos.

    Com a invasão da embaixada saudita e o anúnico irresponsavel do lider Iraniano o Irã só corrobora o que o imprudente do Netanyahu fala sobre a seriedade do estado Iraniano no trato internacional.

    A embaixada saudita foi invadida pois não havia interesse do governo de Teerã em garantir sua integridade, e o anúncio do lider iraniano só poderia ser respondido da forma como foi fetia pelo reino Saudita.

    Entre nações é completamente DESCABIDA declaraçoes no teor que o regime Iraniano fez e a manutençao da pratica de permitir invasões de representações diplomatica é um PÉSSIMO sinal para o mundo dado pelos aiatolás.

    Eles passaram a mensagem que nada mudou e que o PASSIONALISMO religioso ainda prevalece sobre as açoes do estado ( o que já era obvio né?rs )

    O Irã jamais poderia se permitir envolver-se em uma situaçao dessas, justo agora que esta saindo do isolamento internacional e se comprometendo com o resto do mundo para mostrar que pode ser uma nação idonea para gerir uma politica que inclua o dominio do ciclo tecnologico nuclear dual.

    Mas enfim o Irã só supreende quem se deixa supreender…rs 

  2. Arábia Saudita é ameaça ao mundo inteiro

    A ditadura wahabista da Arábia Saudita é uma ameaça a todo o mundo e financia a Al Qaeda, o Estado Islâmico e outros grupos terroristas.. O Irã tem eleições diretas e o presidente é progressista. O petróleo vai subir, valorizando ainda mais o Pré-Sal e as ações da Petrorás. Hora de se fazer turismo dentro do Brasil e evitar ir para países onde há mais perigo, como Estados Unidos, Inglaterra e França. Só Israel é seguro na região, porque ninguém tem coragem de atacar um país que controla as forças armadas dos EUA.

    1. Heloisa para de falar

      Heloisa para de falar bobagens ok?

      Como assim eleiçoes diretas?

      So concorre quem eles deixam, é uma teocracia e tambem financia o terror não há nenhum lado bom nisso.

      Cada absurdo que a gente lê…rs

  3. Absurda execução massiva na Arábia Saudita!

    Que xiitas e sunitas se desentendam pode ser entendido como conflitos históricos. A presente barbaridade cometida pela Arábia Saudita agride toda humanidade e não pode ser condenada apenas pelo Iram . Independente de interesses econômicos e políticos a execução sumária de opositores é um crime contra a humanidade. Espero que o Brasil manifeste formalmente contra este crime.

  4. Mano, na boa… eu não

    Mano, na boa… eu não preciso entender nada disto.

    A única coisa que eu faço quando vejo isto é rir.

    O maior posto de gasolina dos norte-americanos no oriente Médio será incendiado e fechado.

    Eu vejo muitos carros parados nos EUA em 2016.

    E isto me faz rir ainda mais.

    Ha, ha, ha… os norte-americanos estão fodidos. 

    Os coxinhas que forem morar lá também.

    Ha, ha, ha…

    1. Mas é muito burro mesmo.
      E vc

      Mas é muito burro mesmo.

      E vc acha que se a economia america ficar ruim a nossa vai ficar melhor ainda né ?

      Puta merda…rs

    2. Tenho pena de um homem

      Tenho pena de um homem desses.

      O vejo no futuro, idoso, usando fraldas descartáveis, retroagindo a infância mental, ainda comunista com um boton e uma bandeirinha vermelha do partido perseguindo coxinhas e napoloeôes enquanto a The Stars and Stripes tremula livre e soberana na América do Norte.

      E o melhor, com o Brasil, depois de extirpar a esquerdolãndia sulamericana, mais liberal do que nunca, com tudo privatizado, aliadíssimo de primeira hora do irmão do norte.

      Tenho pena de velhor comunistas… ha ha ha

       

  5. Putz! Correspondente do

    Putz! Correspondente do Estadão/GloboNews? Esse cara só sabe dar CTRL+C/CTRL+V nas matérias de agências rabo-preso americanas, NADA do que ele fala é “esclarecedor” (a não ser pra quem voluntariamente se mantém na indigência de informação). Vamos ver o que diz o Fisk:http://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-o-ocidente-aceitou-em-silencio-as-decapitacoes-em-serie-da-arabia-saudita-artigo-de-robert-fisk/, esperando o Pepe Escobar

  6. Ou seja,

    um belo saco de gatos! 

    E essa briga acabaria quando todos os gatos envolvidos morderem o próprio rabo !

    Lembro que na guerra civil de Angola, nas décadas 70-80, existia uma refinaria estadunidense por lá, acho que em Cabiinda, e um regime marxista no poder em Luanda, o tal MPLA, que mais tarde jogou no lixo o marxismo-leninismo. 

    Do outro lado havia uma guerrilha apoiada pela África do Sul e os EUA. Esta guerrilha resolveu atacar a tal refinaria estadunidense de Cabinda. Ou seja, recebia dólares dos EUA para destruir patrimônio dos EUA! 

    Daí, que o marxista MPLA resolveu pedir ajuda para a defesa da refinaria, que recebeu das ….. tarã tarã tarã tarã … tarararã … Forças Armadas cubanas, do barbudão do Caribe. 

    Isso, isso, isso: cubanos defendendo refinaria estadunidense contra ataques de guerrilha apoiada pelos EUA !!!

     

    E esse saco de gatos dos irmãos do Mussum não é muito semelhante ? 

    Ou, quem sabe, há dois coronéis no Pentágono, vizinhos de mesa, que querem provar ao chefe deles, quem é o melhor em conduzir conflitos fora dos EUA … 

    Sei, soa um pouco delirante! Mas o que não é delirante, quando vem do Pentágono? 

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