Pedro Corrêa fala em disputa de propinas na emenda da reeleição de FHC

Jornal GGN – Em depoimento na delação premiada firmada com a Operação Lava Jato, o ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE) afirmou que o episódio da compra de votos de deputados para apoiar a emenda da reeleição, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, em 1997, “foi um dos momentos mais espúrios” que ele vivenciou em seu anos como deputado federal.

Corrêa, condenado no caso do Mensalão e também na Lava Jato, disse que houve uma disputa de propinas entre o governo FHC, liderado pelo então ministro das Comunicações Sérgio Motta e pelo então presidente da Câmara Luis Eduardo Magalhães, e por Paulo Maluf (PP-SP), que havia encerrado sua gestão na Prefeitura de São Paulo e cogitava se candidatar à Presidência da República.

Corrêa disse que foi convocado por Maluf, junto com os deputados Severino Cavalcanti e Salatiel Carvalho, “para se contrapor ao governo e também cooptar, com propina, parlamentares que estivessem se vendendo ao governo FHC”.

Do Estadão

Delator da Lava Jato ‘desenterra’ emenda da reeleição no governo FHC
 
POR MATEUS COUTINHO, JULIA AFFONSO, RICARDO BRANDT E FAUSTO MACEDO
 
Pedro Corrêa, ex-deputado do PP, condenado no Mensalão e no escândalo de propinas na Petrobrás, relata ‘disputa por propinas’ e ‘compra de mais de cinquenta parlamentares’ para aprovação de emenda

Em sua delação premiada firmada com a força-tarefa da Lava Jato, o ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE), condenado pelo juiz Sérgio Moro a 20 anos e três meses de prisão enquanto ainda cumpria sua pena no mensalão, desenterrou um episódio polêmico do Congresso durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB/1994-2002): a compra de votos de deputados para apoiar a emenda da reeleição, em 1997.

Corrêa, que admitiu ter se envolvido em crimes desde seu primeiro mandato parlamentar, em 1978 pelo extinto Arena, afirmou aos investigadores que o episódio envolvendo o governo FHC “foi um dos momentos mais espúrios” que ele presenciou em todos os anos de deputado federal.

Segundo o delator, houve uma disputa de propinas. Segundo Pedro Corrêa, estavam em lados opostos o governo Fernando Henrique e o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), que na época havia acabado de deixar a Prefeitura de São Paulo com alta aprovação e sua candidatura à Presidência da República era cogitada.

A ÍNTEGRA DO DEPOIMENTO QUE CITA A COMPRA DE VOTOS:

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O delator da Lava Jato relatou que por parte do governo federal a iniciativa da reeleição foi liderada pelo então ministro das Comunicações Sérgio Motta (morto em 1998) e pelo então presidente da Câmara Luis Eduardo Magalhães (também morto em 1998 e na época do PFL) com o apoio do deputado Pauderney Avelino – atualmente líder do DEM na Câmara – , dos então governadores Amazonino Mendes (PFL-AM) e Olair Cameli (PFL-AC) ‘entre outras lideranças governistas’ . De acordo com Pedro Corrêa, essas lideranças ‘compraram os votos para a reeleição de mais de 50 deputados’.

O delator, contudo, estava do outro lado da ‘disputa’. “Além dos fatos já narrados, o colaborador também participou deste episódio, mas de forma contrária, tentando alijar com propinas deputados em desfavor da emenda constitucional com recursos do então ex-prefeito da cidade de São Paulo e hoje deputado federal, Paulo Maluf (PP-SP)”, afirmou Pedro Corrêa aos investigadores.

 

Segundo o ex-deputado, naquela época Maluf – atualmente alvo de dois mandados de prisão internacional por supostamente ter lavado dinheiro no exterior desviado da Prefeitura de São Paulo – havia terminado seu mandato na capital paulista com 90% de aprovação e cogitava disputar a Presidência. “Maluf sabia que seu maior concorrente seria o presidente à época, FHC, isso se o governo conseguisse passar a emenda da reeleição”.

Para tanto, relata Corrêa, Maluf o convocou e os deputados Severino Cavalcanti e Salatiel Carvalho “para se contrapor ao governo e também cooptar, com propina, parlamentares que estivessem se vendendo ao governo FHC”.

Maluf acabou sendo derrotado e o governo conseguiu, em uma votação esmagadora, aprovar a emenda que garantiu a Fernando Henrique – também com alta aprovação popular na época – mais quatro anos de mandato. Em 28 de janeiro daquele ano a emenda constitucional da reeleição foi aprovada no plenário da Câmara em primeiro turno por 336 votos a favor, 17 contra e seis abstenções.

Na ocasião, a compra de votos foi denunciada em reportagem do jornalista Fernando Rodrigues, do UOL, que revelou gravações de conversas parlamentares dizendo terem recebido R$ 200 mil para aprovar a medida. Um deles, Ronivon Santiago, admitiu ter recebido a quantia. Oito dias depois, os dois deputados flagrados nas gravações renunciaram ao mandato e o caso foi arquivado pela Procuradoria-Geral da República.

COM A PALAVRA, O EX-PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO:

Procurado pela reportagem, Fernando Henrique Cardoso disse que Pedro Corrêa apenas repetiu o que foi veiculado pela imprensa na época e que já tratou do assunto em sua biografia lançada recentemente sobre o período em que ocupou a Presidência da República, chamada “Diários da Presidência”. No livro, ele relata que o episódio foi uma “questão do Congresso”.

Em um dos diários da Presidência ele chega a relatar que foi informado por Luis Eduardo Magalhães que Maluf teria oferecido R$ 1 milhão ao deputado Fernando Brandt (PFL-MG), da comissão da Câmara que analisava a proposta da emenda constitucional da reeleição, para votar contra a medida. No livro, porém ele não cita outros parlamentares nem os detalhes relatados por Pedro Corrêa.

Veja a íntegra da nota do ex-presidente:

“O depoente apenas repete o que foi veiculado na época e levou à renúncia de alguns dos 4 deputados citados como responsáveis por receber propinas, isso depois de investigação na Câmara. O modo como a informação chegou a mim e sua pronta repulsa estão minuciosamente registrados no volume 2 dos Diários da Presidência, que acabo de publicar. “FH

COM A PALAVRA, O EX-PREFEITO DE SÃO PAULO E DEPUTADO FEDERAL PAULO MALUF:

O ex-prefeito Paulo Maluf (1993/1996) afirmou que o ex-presidente Fernando Henrique é que deve ser ouvido sobre o caso. “O favorecido no episódio foi Fernando Henrique Cardoso com a sua reeleição, e portanto é o FHC que deve ser ouvido”, disse, por meio de sua assessoria.

Veja a íntegra da nota de Paulo Maluf

“O favorecido no episódio foi Fernando Henrique Cardoso com a sua reeleição, e portanto é o FHC que deve ser ouvido.”

COM A PALAVRA, ROBERTO SETÚBAL:

“Fico profundamente indignado em ver o nome de meu pai tão absurdamente envolvido numa história sem comprovações.

Ele era um homem absolutamente ético e tenho convicção de que ele jamais se envolveu em nada parecido com o que, covardemente, o ex-deputado Pedro Corrêa descreveu.

Meu pai não participava de qualquer atividade política partidária desde 1986, e não há nenhum indício de que essa história possa ter fundamento”.

Roberto Setubal

COM A PALAVRA O LÍDER DO DEM, PAUDERNEY AVELINO:

“Rechaço com veemência as referências feitas a mim pelo ex-deputado Pedro Corrêa, autointitulado corrupto. Não responderei aos bandidos e ladrões do dinheiro público”.

OUTRAS DEFESAS:

A reportagem entrou em contato e encaminhou e-mail para a assessoria de ACM Neto, da família de Luis Eduardo Magalhães, mas não obteve retorno. Os demais políticos que ainda estão vivos citados na delação não foram encontrados para comentar o caso, o espaço está aberto para a manifestação deles.

 

Redação

5 Comentários

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  1. Desconfio que das falas de

    Desconfio que das falas de Pedro Corrêa, o que terá destaque são aquelas envolvendo Lula, como o maior responsável pela roubalheira da Petrobrás. 

    Por outro, serve para Lula, para FHC, e demais, o seguinte: delações de um réu, a fimd e se livrar da cadeia, com histórias antigas e modernas, baseadas no que diz ter participado e visto, sem, contudo, apresentar provas, com certeza será apenas mais um escândalo sem consequência. A não ser que valha apenas para desconstruir ainda mais o PT, e, assim, contribuir para mais dúvidas na cabeça dos julgadores do ipeachment no Senado. 

     

  2. Delação atrasada
    Essa estratégia de contar os crimes com datas vencidas, portanto, sem validade penal, é uma forma de legitimar as mentiras que virão a posteriori. O alvo da lava jato é o PT e Lula.

    1. E…

      Paulo Maluf, indo para seus 90 anos mais de 50 de vida pública e o judiciário montado por PT e PSDB nunca o condenou. Mas o sentimento de vingança de parte da sociedade e mídia nacionais não descansa. Maluf queria se reeleger para a prefeitura. Mas uma manobra de FHC barrou a reeleição no Congresso, obrigando a indicação de Pitta. Passada as eleições municipais, FHC reapresentou a emenda de reeleição. O que está claro agora é que não aparecendo o nome de Maluf no meio desta falcatrua toda dos governos tucanos e petista, a máscara canalha de seus acusadores cai por terra. Nada como um dia após o outro, onde a mídia que se dizia tão favorável às liberdades civis usam de censura nas opiniões contrárias. E gente que se intitulava tão democrata, honesta, anti capitalista, republicana, progressista se revelou tão manipuladora, traidora, criminosa  e calhorda.

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