Por que a Globo foi rebaixada? Por Paulo Nogueira

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Paulo Nogueira

Do Diário do Centro do Mundo

Ontem o Globo deu mais uma de suas manchetes contra Dilma.

Era mais ou menos isso: “Agora Dilma culpa a Lava Jato pela crise econômica”.

É que Dilma dissera que a Lava Jato estava cobrando um preço sobre a economia do país, com o cerco prolongado – e para muitos exagerado – a grandes empresas nacionais.

Tudo isso posto, seria interessante saber como o Globo daria na manchete o rebaixamento de sua nota pela agência de avaliação S&P, uma das maiores referências para grandes investidores de todo o mundo. Bancos também consultam a S&P quando examinam o pedido de empréstimo de uma corporação para minimizar o risco de calote.

Tenho a convicção de que o Globo terceirizaria a culpa, no mesmo estilo que o jornal criticou tão brutalmente em Dilma.

“Instabilidade na economia brasileira faz nota da Globo baixar”: seria mais ou menos esta a manchete.

E seria a linha seguida pelos comentaristas econômicos da casa, de Míriam Leitão a Sardenberg.

A Globo foi vítima, portanto.

Tudo bem, não fosse isso um sensacional autoengano.

Não que a turbulência do momento na economia não possa ter tido algum peso. Mas o grande fator do rebaixamento está na própria Globo.

A Globo opera num setor – a mídia – que passa por um processo que vai além de transformação. Estamos diante de uma disrupção. Ou, para usar um célebre conceito de Schumpeter, presenciamos na mídia uma “destruição criativa”.

Morre um mundo, aquele em que a Globo parecia inexpugnável, e ergue-se outro em que a empresa é mais um na multidão.

A internet está fazendo com as companhias tradicionais de jornalismo o que os automóveis fizeram com as carruagens há pouco mais de cem anos.

Sabia-se, faz tempo, que a mídia impressa estava frita. Mas se imaginava que a televisão poderia escapar da internet. Não. Os sinais são claros de que o destino da tevê como a conhecemos – aberta ou paga – é o mesmo de jornais e revistas.

A internet está engolindo a televisão. Em seus tablets ou celulares, as pessoas vêm vídeos como querem, na hora em que querem – e sem precisar de emissoras de tevê.

A Reuters acaba de lançar um serviço de vídeo cujo slogan diz tudo: “O canal de notícias para quem não vê mais televisão”.

Bem-vindo ao Novo Mundo.

Nele, os protagonistas serão empresas como Netflix, e não Globo ou qualquer outra emissora.

Como esquecer um depoimento recente de Silvio Santos, ao vivo, no qual ele disse não ver televisão? SS afirmou que gasta seu tempo com a Netflix, e recomendou aos espectadores que fizessem o mesmo.

Quanto tempo até os anunciantes fazerem, no Brasil, o mesmo percurso dos consumidores e irem para a internet?

No Reino Unido, a internet em 2015 responderá por metade do bolo publicitário. No Brasil, o pedaço digital está ainda na casa dos 15%.

Todas as audiências da Globo, do jornalismo às novelas, despencam sob o impacto da internet.

O Jornal Nacional se esforça para não cair abaixo dos 20 pontos, e novelas em horário nobre, como Babilônia, descem a abismos jamais vistos na história da emissora.

O público se retirou, e quando os anunciantes fizerem o mesmo, o que afinal é inevitável, a Globo estará em apuros sérios, como é o caso, hoje, da Abril.

Na internet, a Globo jamais conseguirá reproduzir a dominância que tem na tevê – e muito menos os padrões multimilionários de receitas publicitárias.

Tudo isso pesou na avaliação da S&P.

A Globo tenderá a justificar seu rebaixamento colocando a culpa em Dilma, mas o problema está nela mesma.

Sobra a piada que a Globo usou contra Dilma.

“Dilma é culpada até pelo rebaixamento da Globo.”

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

18 Comentários

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  1. tá no hora de alguém mostrar

    tá no hora de alguém mostrar que grandes nações como EU se for contabilizado e excluído tudo que corruptos e mafiosos investiram fica só uma capenga. É isso que se quer para o Brasil? 

  2. Qua! Qua! Qua !
    A nete bombou ontem, cada uma gozacao era melhor do que a outra e as historia no face estao muito boas.
    sem falar nos comentarios e na critica do ator da globo pela uol. Kkk

  3. Se a globo fosse noticiar seu

    Se a globo fosse noticiar seu rebaixamento, poderia ser assim :

    Devido a qualidade dos nossos economistas, comentaristas,  e analistas etc… fomos rebaixados.

  4. Curioso

    Todas empresas de mída tiveram rebaixamento ou  o BBB- da Globo teria a ver com as investigações da Trafic-CBF, longe bem longe da justiça brasileira?

  5. “Todas as audiências da

    “Todas as audiências da Globo, do jornalismo às novelas, despencam sob o impacto da internet.”

    Não é só internet. É perda de credibilidade também. No caso dos jornais e revistas as tiragens são cadentes desde muito antes de internet.

    Com a TV também, muita gente, mas muita gente mesmo não assiste mais TV por considerar pura baixaria.

  6. Não é nada disso.
    Se tivessem

    Não é nada disso.

    Se tivessem conseguido derrubar a Presidente, a nota seria AAA. Como não conseguiram, estão de recuperação!

  7. Conheço muitos coxinhas que não gostam e não assistem a Globo

    É o fim dos tempos.  Nutrem e cultivam seu odio por outros meios.  Mas a morte da Globo  sera lenta e dolorosa para todos nós. Até lá, a Globo continuará fazendo muitos estragos e insuflando golpes. Ainda nutre a esperança de ter um governo mais “amigo” do que o atual, injetando recurso na sua “massa falida”. 

  8. Globo

    Ningém gosta da Globo, é uma unanimidade: coxinhas, liberais, esquerdistas e conservadores de todos os matizes. Basta por a emissora em qualquer roda de conversa e é só críticas.

    Se a Dilma tivesse a malandragem do Brizola…

  9. A única coisa que me

    A única coisa que me interessa na globo, são as notícias de meu time, mesmo sabendo que para dominar o futebol um vasto leque de paraisos fiscais foram utilizados.

    Na hora em outras empresas noticiarem meu time com a mesma ou maior qualidade – não saberei mais NADA DA GLOBO!

  10. Bom artigo. Somente uma

    Bom artigo. Somente uma observação: para aqueles militantes que acham que a esquerda vai dominar o conteúdo das novas formas de mídia (blogs, redes sociais etc) precisa dar uma olhadinha no que tem sido produzido. Pode ser que sintam  saudades do tal “poder moderador das mídias tradicionais”.

  11. Câncer biológico

    se trata (quando em estágio crítico) com química pesada ou radioterapia; já pra esse que a Globo representa, a cura será difícil e prolongada… ainda acho 20 pontos no JN um número grande, muito grande, são uma parte imensa de brasileiros ainda zumbis hipnotizados por Bonner e cia.

  12. Algumas disrupções:

    Teatro -> Cinema -> Televisão -> Internet. 

    Interessante notar, que em nenhum momento deixou de haver necessidade de atores e atrizes.

    Cavalo -> carro de boi -> charrete/ carruagem -> “carruagem sem cavalos” -> automóvel

    Também, condutores, sempre os houve.

     

    Pinturas -> Fotografia química -> fotografia digital. 

    E não faltaram lugares para serem retratados,

     

    moleque de recados -> Telégrafo -> telex -> email -> SMS

    Não faltaram mensagens …

     

     

  13. Ao menos uma boa notícia

    Ao menos uma boa notícia produzida pela obra do governo federal na Economia, ainda que sem querer. Daqui a pouco vão culpar a Lava-Jato.

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