Queda na arrecadação pode indicar aprofundamento da recessão

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Wellton Máximo

Da Agência Brasil

O esforço fiscal promovido pelo governo pode estar provocando um efeito colateral. Segundo economistas ouvidos pela Agência Brasil, a queda na arrecadação federal pode ser um sintoma do aprofundamento da contração econômica agravada pelo corte de gastos públicos. Para eles, ao desestimular a produção e o consumo, o ajuste fiscal faz o governo arrecadar menos, criando novas dificuldades para o governo fechar as contas.

No mês passado, o aumento do ritmo de queda da arrecadação surpreendeu a equipe econômica. De janeiro a março, a arrecadação federal tinha caído 2,03% em relação ao mesmo período do ano passado descontada a inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em abril, a queda acumulada aumentou para 2,71%, também considerando a inflação oficial.

Para o professor de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp) Francisco Lopreato, especialista em política fiscal, a queda representa um alerta de que o Brasil pode estar seguindo os passos de economias europeias, em que ajustes fiscais severos vieram acompanhados de profundas recessões. “Tudo indica que o Brasil corre o risco de mergulhar na mesma espiral da Europa, em que o ajuste fiscal aprofunda o baixo crescimento, que, por sua vez, gera menos receita. É a história do cachorro que corre atrás do rabo”, diz.

Apesar da semelhança do processo, Lopreato destaca diferenças entre o Brasil e economias como Espanha e Grécia. “Os sintomas são os mesmos no Brasil e na Europa, mas as causas são diferentes. Lá, existe um problema de falta de financiamento internacional, que se reflete no setor público. O Brasil enfrentou esse quadro na crise da dívida externa dos anos 80. Aqui, não há problemas de dívida externa”, compara.

O professor Reinaldo Gonçalves, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), considera que o ajuste fiscal agrava a contração econômica, sem resolver os problemas estruturais da economia brasileira. “Em outros momentos da economia brasileira, ajustes semelhantes demoraram de três a quatro anos e deixaram sequelas graves por muito tempo. O país ficará anos se estendendo numa situação de desemprego, de recessão, de falta de investimento e com pressões inflacionárias”, comenta.

Crítico das políticas econômicas em vigor desde a década de 1990, Gonçalves diz que o ajuste fiscal posto em prática pelo governo representa o remédio errado para a economia do país. “Do que adianta economizar 0,9% ou 1,2% do PIB [Produto Interno Bruto, PIB], mas aumentar os juros básicos de 8% para 14% ao ano?”, questiona.“Cortar gastos simplesmente por cortar traz efeitos colaterais fortes. É como alguém que toma anti-inflamatório por muito tempo, mas tem sérios problemas de saúde”, analisa.

Recentemente, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, descartou o risco de o Brasil enfrentar uma recessão semelhante à de países europeus. Para ele, a Europa atravessa escassez de demanda, ao contrário do Brasil, que antes do ajuste fiscal enfrentava uma inflação decorrente da economia aquecida por meio de estímulos fiscais. “Lá, não tem inflação. Já mostra diferença. Aqui, tínhamos excesso de demanda, não escassez de demanda”, rebateu.

Para os dois professores, o Brasil precisa de medidas complementares para amenizar o impacto do ajuste fiscal sobre a atividade econômica. Os dois economistas, no entanto, divergem sobre o caminho ideal para evitar que o país siga o rumo de economias europeias submetidas a programas externos de resgate.

Lopreato, da Unicamp, defende a interrupção do aumento da taxa Selic (juros básicos da economia) e a aceleração de programas de incentivo ao investimento privado, como as concessões de infraestrutura. “É preciso criar uma agenda positiva para alavancar os investimentos e diluir, pelo menos um pouco, o custo do ajuste fiscal”, diz. Ele aprova medidas adotadas pelo governo, como o aumento das restrições ao seguro-desemprego e à pensão por morte e o aumento da taxação do lucro dos bancos. “O governo não cortou direitos, apenas restringiu abusos”.

Gonçalves, da UFRJ, defende reformas estruturais adiadas há décadas por sucessivos governos para destravar a economia. “O governo tem de agir para reverter a desindustrialização [fechamento de indústrias], a primarização da estrutura de produção nacional [dependência de produtos agrícolas e minerais], reduzir a dependência tecnológica e vulnerabilidade externa”, declara. “Qualquer medida fora desse escopo é paliativa e só piora a recessão.”

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

10 Comentários

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  1. Tudo conforme o script. Se o

    Tudo conforme o script. Se o texto for correto, Levy dizer que havia “excesso de demanda”” quase soa como cômico, diante do pífio resultado do PIB em 2011, 2012, 2013 e 2014.  

  2. Mas que novidade heim,

    Mas que novidade heim, estamos surpresos. Jogam o Pais numa mega mega crise e ficam supresos porque isso indica aprofundamento de recessão? Genios, que inteligencia fenomenal.

    1. O problema é que quem teria o

      O problema é que quem teria o poder de mudar ainda não percebeu que estamos indo pro buraco.

      Quanta incompetência…

  3. O PLANO DEBENTURES ou

    O PLANO DEBENTURES ou SOLUÇÕES DE CINDERELA PARA A RECESSÃO – Foi anunciado um grandioso plano para resolver a crise. Empresas que faturam mais de R$1 bilhão por ano agora podem emitir debentures e em contrapartida o BNDES empresta metade do valor da emissão de debetures como  premio.

    Estão brincando.

    1.Para emitir debentures essa empresa precisa ser de capital aberto. Se não for o processo de abertura leva um ano.

    Para emitir as debebtures precisa encontrar um banco que faça o “underwriting” ou distribuição. Processo de emissão mais negociação com o banco leva seis meses porque precisa primeiro encontrar o banco e negociar com ele.

    2.O juro dessa debenture precisa ser, para uma empresa média-grande sem tradição no mecado, no minimo 3 pontos acima de SELIC, portanto 17% ao ano MAIS custos de distribuição, se tudo for vendido  3% up front.

    3.Se não tinha auditor agora precisa, tambem Conselho de Administração e uma cara de empresa moderna.

    4.Vai emitir debentures para expandir? Se a economia está em recessão é pouco provavel, as empresas estão com capacidade ociosa. Provavelmente vai emitir para repagar dividas mais caras.

    5.Para tudo isso as debentures precisam ACHAR COMPRADORES, hoje será muito dificil, o mercado é arredio e só quer saber de grande empresa, são não mais de 50 no mercado brasileiro.

    É um plano de brincadeirinha. Ao lado do Ministro o presidente do BNDES Luciano Coutinho com sua habitual cara de conteudo, falou solenemente com voz empostada sobre as maravilhas desse plano mas sem explicar que o JBS tambem emitiu debentures com distribuição do BNDES que NÃO CONSEGUIU VENDER NENHUMA no mercado e acabou ficando com TODAS e ainda quando o JBS não conseguiu pagar os juros emprestou mais para que ele pudesse pagar , aliás pratica generalizada no BNDES, se vc não pode pagar a prestação e os juros o BNDES empresta mais para que faça de conta que vc está sempre adimplente.

    Para os novatos que queiram entrar no Plano Debentures não vai ter esse  boquinha do BNDES, vão ter que se virar para vender as debentures, se for empresa media desconhecida a chance é proxima de ZERO e ainda vai ter que oferecer DEBENTURE COM GARANTIA HIPOTECARIA, clean só a AMBEV.

    A coté o Ministro Levy falando como se fosse coisa séria e inovadora que vai resolver o problema de financiamento das empresas brasileiras, aliás ele estima em R$3 bilhões o potencial para o plano, uma gotinha dágua na frigideira

    da recessão, se der tudo certo para o emissor. Me deu calafrio em ver alguem que tem a responsabilidade pela politica economica do Pais propor algo tão banal e  sem graça , como se fosse a salvação da lavoura, que micharia.

     

     

  4. Redução de gasto aumenta déficit

    O governo só tem controle sobre o gasto, não sobre o déficit, pois este depende do que ocorre em toda a economia. Todas as vezes em que foram tomadas medidas como as que Levy está a tomar, a redução do déficit público, que seria o objetivo a alcançar com elas, não foi conseguida. Pior: com tais medidas, o déficit público aumentou! Isto aconteceu, se não no mundo inteiro, ao menos no Brasil (remember governo FHC que reduziu gastos e elevou a dívida líquida pública de cerca de 26% do PIB para 60% do PIB!) e na Inglaterra, como demonstrado por estudo sobre a questão inglesa abrangendo 100 anos (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=174…).

    O mais grave é que os cortes levyanos, ou levianos (pois provocarão aumento do déficit que em tese reduziriam), arrocham, mais uma vez, os menos favorecidos, que serão imolados em honra de mais uma teoria idiota. Trata-se de reiteração de crueldade vazia e estúpida.

  5. arrecadação
    Hoje o título da matéria esta mais para a Globo e Veja. Esse “pode” é a cara da velha imprensa asquerosa.

  6. Vários culpados

    Com certeza, Dilma é o pivô desta crise, pois permite que estes irresponsáveis (des)governem o país.

    Mas há mais culpados. O Congresso poderia muito bem votar uma lei permitindo uma intervenção no Banco Central, caso a recessão passe de um certo ponto. Ou o judiciário poderia intervir também. Os juizes que amam prender corruptos petistas, poderiam muito bem impedir o governo Dilma de arruinar o país se quisessem.

    O fato é que com certeza tem muita gente poderosa interessada na alta da Selic, especuladores de grande poder economico. A maioria sabe disso, e tem medo de mexer num vespeiro; só um valente herói como Lula teve coragem de enfrentar este mercado especulativo e abaixr os juros da Selic.

    Não por acaso, Lula terminou o mandato com mais de 80% de aprovação.

    Como a crise dá muito dinheiro ( a poucos) e este pais tem vivido de crise em crise, nestes ultimos 30 anos, não é de se esperar mudanças, mas sim  nos prepararmos e nos adaptarmos a esta realidade.

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