Quem mais teria a ganhar com a regulação seria a mídia

Um dos públicos mais desinformados do país é o dos proprietários de veículos de mídia. E sobre um tema que bate diretamente nos seus interesses e no seu caixa: regulação da mídia..

Já escrevi em outras oportunidades sobre o extraordinário poder da Globo – a mais competente estrategista de seus próprios interesses. Através de um belo corpo de colunistas, ela conseguiu transformar um tema que interessa exclusivamente a ela – a regulação dos monopólios de mídia – em bandeira de todos os veículos de mídia que só teriam a ganhar com uma Lei dos Meios.

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Hoje em dia, existe apenas um monopólio no país – o da Globo – com um poder de influência tal que conseguiu criar esse paradoxo de queda consistente e rápida dos índices de audiência dos seus veículos; e, paralelamente, um aumento da fatia do bolo publicitário do país, em detrimento dos demais veículos da mídia tradicional.

Não foi a imprensa regional nem meia dúzia de blogs que tirou publicidade dos demais grupos de mídia.

À medida em que a Internet começava a dividir as verbas publicitárias, as agências passaram a concentrar no sistema Globo a maior parte das verbas destinadas aos veículos tradicionais. A TV aberta perdeu audiência mas não perdeu verbas; e parte absoluta dessas verbas foi destinada à Globo.

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Nesses anos todos, esse extraordinário poder de fogo se sustentou em um enorme conjunto de práticas anticoncorrenciais.

Entre as agências de publicidade, consolidou o modelo do BV (Bônus de Veiculação), que seria condenado em qualquer corte de país sério que tratasse sobre práticas anticoncorrenciais.

Esse modelo era sustentado por dois aferidores de audiência que jamais foram auditados: o IBOPE (para a televisão) e o IVC (Instituto Verificador de Circulação) para a mídia escrita.

Apenas nos últimos tempos os concorrentes decidiram trazer um novo instituto para concorrer com o IBOPE. Coincidentemente, nos últimos meses o IBOPE passou a registrar taxas aceleradas de queda de audiência da Globo – passando a falsa impressão de que estaria fazendo uma conta de chegada.

O grande drama da Globo é que esse modelo acelerou a crise dos seus parceiros – grupos de mídia tradicionais, todos eles metidos em um beco sem futuro. Mais cedo ou mais tarde cairá a ficha sobre quem foi o sorvedouro real das verbas publicitárias.

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Uma Lei dos Meios com compromisso sério com a desconcentração midiática obrigaria a Globo a rever suas práticas, acabaria com o conceito de rede (tal como praticado no Brasil) e abriria enorme espaço para as mídias regionais e para os demais grupos de mídia.

Além de trazer um enorme reforço ao conceito de democracia.

Como disse um grande político brasileiro, em seminário no dia 15 de maior de 2012: “Os meios de comunicação no Brasil não trazem o outro lado. Isso não se dá por pressão de governo, mas por uma complexidade de nossa cultura institucional. Nós temos toda a arquitetura democrática, menos a alma”. É preciso lutar pelos mecanismos de regulação que permitam a diversidade. “Não há como regular adequadamente a democracia sem regular adequadamente os meios de comunicação”.

O autor dessas palavras não é Lula nem Franklin Martins: é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Luis Nassif

25 Comentários

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    1. Da mesma forma que funciona o

      Da mesma forma que funciona o adiantamento de verba (dos contratos de TV) para os clubes que jogam o Brasileirão. Neste caso, ao invés dos clubes, quem recebe antecipação de receita, por conta de publicidade futura, são as agências de publicidade que, devedoras da Globo, tentam induzir seus clientes, ao elaborar os tais planos de mídia, a investir mais em quem? Na Globo, é claro (veja que a Globo virou um fenômeno único no mundo… sua audiência cai vertiginosamente, mas seu faturamento não para de crescer). No caso do futebol, clubes como Palmeiras e até o São Paulo, que se diz bem organizado, ficam inteiramente nas mãos da Globo; como ir contra os interesses dela (que manda e desmanda no futebol brasileiro… a CBF é apenas fachada da Globo) se ela não só é a maior credora desses clubes como, inclusive, pode voltar a ajuda-los sempre que necessário? Jogo duro, caro Alex…

      1. Assunto espinhoso

        Caro Pedro e IVavatar, obrigado pelas indicações, estive lendo as entradas do Google e a resposta do Pedro e não cheguei a uma idéia ainda do todo que está por trás deste garrote financeiro que a Globo usa para manter suas receitas.

        Quanto a organização do São Paulo tenho certeza que é das melhores possíveis, um grande amigo meu está lá e boto toda fé do mundo na sua administração.

        Já o adiantamento de verbas, se são pagas por serviços futuros das agências ou dos clubes, não se trata de publicidade, mas de operação de crédito, como são lançadas nas contabilidades e que documentos se emitem quando de suas realizações?

        Quanto ao BV, existe aumento do percentual do Bonus em função do valor ou da porcentagem destinada a cada veículo? Ou seja, se eu puser 20% da verba do meu cliente, meu bônus será de 20%, mas se colocar 95% da verba do meu cliênte, o bônus será de 40%, se isto ocorre, na minha opinião é concorrência desleal.

        1. Caro Alex, isso tudo é

          Caro Alex, isso tudo é facilmente caracterizado como abuso de poder econômico… E eles fazem isso respaldados pelos melhores advogados do Brasil, dificil caracterizar como ilegal e sim como anti-ético. Nio fundo não passa de uma artinha comercial (como as famigeradas “operações casadas” da indústria quando quer introduzir um novo produto…) mas que, neste caso, tem um intermediário (a Agência de Propaganda) que acaba “recomendando” algo ao cliente que vai beneficiar a ela e não ao cliente. E uma dica de quem passou a maior parte da vida adminsitrando grandes verbas publicitárias para uma grande multinacional americana… O que mais as agências gostam, é quando o cliente interfere em suas recomendações, sejam na parte de criação ou no plano de mídia. Se funcionar, o mérito é deles… mas se não der certo a culpa é do cliente que não quis fazer o que a Agência recomendou. Jogo duro…

      2. Aproveitando…

        Aproveito o vosso diálogo para lembrar de mais uma prática que acaba não sendo ilegal, mas imoral, que é obrigar muitos de seus empregados a se tornarem PJs (pessoa jurídica), via constrangimento laborial… A Globo pratica a “modernidade” do atraso.

        Um abraço.

    2. BV

      na minha época (meados dos anos 90), a gente chamava de “bola”. Quem fazia o contato publicitário negociava um valor com o veículo (em nome do cliente), e o veículo oferecia uma propina em troca, baseado na quantidade de veiculações (ou impressões), e quem vendia o anúncio levava uma graninha por fora. Com o tempo – e daí eu já nem trabalhava nesta área mais – a coisa se institucionalizou e subiu uns degraus tanto do lado da agência quanto do lado da mídia. 

      Alguém me corrige se eu estiver errado?

       

  1. A Globo deu o golpe do BV e mandou seus inimigos para a Papuda

    Entre as agências de publicidade, consolidou o modelo do BV (Bônus de Veiculação), 

    O mesmo BV que a Globo, a DNA do Marcos Valério recebeu, tudo dentro das mesmas regras, via Visanet, fundo privado. Interessante se notar que esse aparato midiático-penal usou isso para condenar de forma injusta e sob um julgamento de exceção os petistas e, de forma especial o Zé Dirceu que, como sabemos, diversificou a verba publicitária, o que o tornou inimigo público numero 1 das Organizações Globo e de boa parte da população que se permite conto do vigário do “mensalão”, uns por ignorância, e outros por malandragem mesmo, pois sabem que se trata de uma farsa montada para condenar aqueles que mexeram com esse vespeiro chamado irmãos Marinho que, do alto de seus mais de 60 bilhões de reais no bolso, não param de tramar contra a nação, contra os interesses do povo brasileiro, contra todos nós. Chega!

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=R_aoUPiXIxU%5D

  2. O artigo clareia o que se

    O artigo clareia o que se passa com os meios de comunicação:

    Concentração da mídia

    Concentração do poder politico

    Falta de diversidade informativa

    Visão comercial substituindo a visão informativa

    Desequilíbrio concorrencial

  3. Na verdade, a Globo, e só

    Na verdade, a Globo, e só ela, tem muito a perder com uma lei de médios, ainda que suave. Foi fazendo o que sempre fez que hoje, é a Famiglia (Marinho) mais rica do Brasil. E escreva aí, Nassif… não vão permitir. Essa campanha feroz contra a Copa, a ponto de enlamear a imagem do País – que ela mesma, a partir do Rio, sempre emporcalhou – é a forma de dizer a um Governo eleito pelas urnas, “Nós somos mais fortes do que vocês”. A formação do Instituto Millenium, de inspiração claramente americana, no pior sentido do termo, foi um passo subsequente para envolver as demais Famiglias midiáticas no que deveria ser uma luta comum a todas. E é nesse ponto, Nassif, que seu texto acima começa a ficar complicado pois sua premissa é a de que as demais Famiglias estão entrando nessa de gaitas… Te asseguro, NÃO ESTÃO! O Instituto Millenium tem uma missão no Brasil que transcende os interesses regionais dos donos da mídia. Foi a idéia por trás dele que criou a Rede Globo de Televisão (no Brasil) e o Grupo Clarin (na Argentina). E é essa mesma ideia que está comandando, por exemplo, a fábrica de manchetes anti-PT da Folha/UOL. Nossa grande Imprensa está agindo como se não tivesse obrigações contábeis, ou seja, a de operar no azul. Fica a sensação de que algum elemento externo está garantindo isso. Quem seria? 

    1. Lucidíssimas as suas

      Lucidíssimas as suas colocações, Robson Porto!

      Já faz algum tempo que sempre me refiro ao filhos de Roberto Marinho como os “príncipes”, porque mandatários mores de um principado americano, governado através da mídia; do consenso fabricado. Quando se estuda o envolvimento do empresariado brasileiro no Golpe de 1964, percebe-se claramente a ascendência de Roberto Marinho sobre os demais, fator que cada vez mais é desnudado pela documentação secreta americana, hoje tornada pública, em que o mesmo aparece como, senão o principal, mas um dos principais interlocutores do Departamento de Estado americano e seu arsenal de instituições na dominação do império. A ponto de claramente ter sido sua a decisão de manter os coturnos na Presidência da República, eliminando de vez os “indesejáveis” Lacerda e Juscelino, e ganhando fôego contra o gênio Brizola. O Sistema Globo é uma empresa de governança do Brasil, em prol dos interesses americanos. O governo colonial, versão atual. E, os demais veículos maiores, como Folha de São Paulo, Estadão, SBT, e etc., vem a reboque do Sistema Globo.

  4. Aqui, admiro o FHC por 1) Ser

    Aqui, admiro o FHC por 1) Ser homem publico e 2) Nao ter medo de falar das suas ideias. Apesar de eu estar completamente contra sua filosofia de pais. O ponto eh, ele disse isso sobre a regulacao da midia agora neh Nassif? Quantas vezes ele jah falara que isso (a regulacao) era tentativa do PT de censurar os criticos? Eu tenho duvidas se essa declaracao nao seria o sentir de que as coisas estao de fato mudando que a regulacao da midia nao pode mais ser tratada com declaracoes evasivas. 

    A regulamentacao se faz necessaria sim, principalmente para o bem estar do pais, para o contraponto do odio, da falta de perspectiva  semeada nas mentes de muitos brasileiros. Acho mesmo que ateh o FHC sabe disso, sabe do poder da midia tradiconal, Globo e parceiros, de imputar culpas antes do devido processo legal. Nao eh atoa que o Brasil eh chamado por alguns de uma pais que nao eh serio, com a maioria dos parlamentares com medo do estrago que o enfrantamento pode causar as suas imagens e consequentes mandatos, nao ha de se admirar que eles epitam (acredito a contra gosto) que a proposta PT eh ataque a liberdade de expressao. Eh aquele negocio, quanto mais alto se grita, mais  AUTO-IMUNIZA.

  5. Sem saber, a Globo entrevistou a pessoa “errada”

    Olha só o que aconteceu

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=et8tyFbENX4%5D

    A Globo tem mil motivos para não passar o microfone  a quem diverge do seu ponto de vista tucano, depois os irmãos Marinho recebem tudo em BV, aliás esse assunto(BV), apesar de tão importante e de ter servido até para condenar desafetos políticos a anos de cadeia, não é conhecido de grande parte da população, sabe-se que foi a própria Globo quem criou o sistema, mas não há videos na web, não há textos, tempos atrás achei um de uma agência de publicidade mas agora fui procurar e nem isso encontrei, parece que passaram a vassoura

  6. Falando em Globo…..(Talvez, mais uma seja jornalista demitida)

    Jornalista da SporTV: “brasileiro está sendo muito duro com a Copa”

    :

    Jornalista Karin Duarte, correspondente internacional nos Estados Unidos da SporTV, um dos braços da Globo na TV segmentada, utilizou o Twitter nesta quarta (28), para dar sua opinião contra as manifestações e as reclamações dos brasileiros contra a Copa do Mundo; ela criticou a imprensa, “que cai de pau em cima” de qualquer situação e sugeriu que a população “tenha mais paciência”; falou também no “tal complexo de vira-lata que persegue” os brasileiros 

    28 de Maio de 2014 às 21:21

     

    247 – A jornalista Karin Duarte, correspondente internacional nos Estados Unidos da SporTV, um dos braços da Globo na TV segmentada, utilizou o Twitter na noite desta quarta-feira (28), para dar sua opinião contra as manifestações e as reclamações dos brasileiros contra a Copa do Mundo. Ela criticou a imprensa, “que cai de pau em cima” de qualquer situação e sugeriu que a população “tenha mais paciência”. Ela falou também no “tal complexo de vira-lata que persegue” os brasileiros. 

    No”Primeiro Mundo”, avião tb atrasa, metrô tb é lotado e mtas vezes ñ tem ar, tb tem fila quilométrica na segurança do aeroporto. A diferença? É que a imprensa não cai de pau em cima. A população tem mais paciência. E ninguém sai esculhambando o país por causa disso. Na Polônia, cobri jogo da Euro2012 c/ o entorno do estádio c/entulho e obra. Nã vi uma linha nos jornais e na tv. Nas Olimp.de Londres,voluntários não sabiam informar onde eram os centros de imprensa das instalações,e não tinha placa. Ninguém reclamava. Mas somos tão duros com nós mesmos, q exigimos a perfeição.Somos impacientes. E insistimos no lugar comum dizendo sem pensar “só no Brasil”. Acho q é mais do q política. É o tal complexo de vira-lata q nos persegue…”, afirmou.

    E continuou: “O q me entristece daqui de longe é ver q mta gente ta c/ medo de celebrar a Copa,o privilégio de termos este evento, pq virou moda falar mal. Celebrar a Copa,coisa q sempre fizemos tão bem, é um direito. E se o vizinho não quer pintar a rua, problema dele. Só quero dizer q outros lugares tem problemas e às vezes só enxergamos os nossos”.

     

    1. Corrigindo : Falando em

      Corrigindo : Falando em Globo….(Talvez, mais uma jornalista seja demitida)

      Motivo ?

      Este depoimento :

      No”Primeiro Mundo”, avião tb atrasa, metrô tb é lotado e mtas vezes ñ tem ar, tb tem fila quilométrica na segurança do aeroporto. A diferença? É que a imprensa não cai de pau em cima. A população tem mais paciência. E ninguém sai esculhambando o país por causa disso. Na Polônia, cobri jogo da Euro2012 c/ o entorno do estádio c/entulho e obra. Nã vi uma linha nos jornais e na tv. Nas Olimp.de Londres,voluntários não sabiam informar onde eram os centros de imprensa das instalações,e não tinha placa. Ninguém reclamava. Mas somos tão duros com nós mesmos, q exigimos a perfeição.Somos impacientes. E insistimos no lugar comum dizendo sem pensar “só no Brasil”. Acho q é mais do q política. É o tal complexo de vira-lata q nos persegue…”,

    2. Amem mais nosso País!!!!!!!!!!!!!!!!!

      Karin, embora funcionária da Blobo, está sendo uma brasileira de caráter em analisar o que etá acontecendo no Pais, por estes complexados vira-latas!

      É como sempre digo: os que vivem a denegrir nosso País,  deveriam se mudar, pois se nãoestão satisfeitos com o pouco que os governos estão fazendo, e estão fazendo, não se justifica estes ataques gratuitos e desconstrutivos!

      Pòde não ser o ideal, mas entre o ideal e real, há muita diferença, e julgar o País pelo que alguns fazem de errado, e o pior, generalizando, só pode vir de brasileiros da pior espécie!!!

      Amem nosso País, apesar dos erros políticos, e ajudem a contruí-lo, pois tenham certeza que lá fora, poucos darão importância a vocês, quando forem procurarem abrigo!

       

    3. Nem doeu

      Ser honesto não dói, ao contrário, engradece, cura as doenças da mente.

      Tenho certeza absoluda de que essa moça não tem medo de dizer o que disse.

      Vou gravar o nome dessa jovem.

  7. BV, o motivo da ira santa da Globo contra Zé Dirceu

    “(…) Critérios técnicos?

    Presidente da Associação dos Diários do Interior (ADI), Margareth Codraiz Freire acredita que, mais do que o bônus de volume, o que ocasiona a concentração de verba pública nos grandes veículos são os critério adotados para distribuição da publicidade. “As agências até podem preferir anunciar em poucos veículos para terem mais controle sobre o recebimento dos bônus, mas a escolha final é do cliente”, avalia.

    Segundo ela, desde o governo Lula, a Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência, responsável pelo maior aporte de verbas públicas em publicidade, aumentou de forma expressiva o número de veículos aptos a dividir o bolo. Em 2000, eles eram 500. No ano passado, somaram 8.519, dos quais 4.281 foram contemplados com contratos. Entretanto, o percentual que chega aos jornais de pequeno e médio porte varia de 1% a 1,5% das receitas deles. “Melhorou muito porque não recebíamos nada, mas grosso da publicidade ainda fica com os grandes”, afirma ela.(…)

    Leia o texto na íntegra 

    http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Alem-de-inconstitucional-lei-da-publicidade-favorece-oligopolio-da-midia/4/25901

    Além de inconstitucional, lei da publicidade favorece oligopólio da mídia

     

    Najla Passos e Vinicius Mansur, na Carta Maior

     Najla Passos e Vinicius Mansur

    Leia também: STF reabre debate sobre publicidade e bônus de volume

    Brasília – A alegada inconstitucionalidade da lei 12.232/2010, que regulamenta a contratação de publicidade pelos órgãos públicos, é apenas um dos aspectos que tem suscitado críticas à norma jurídica. Representantes dos pequenos e médios veículos de comunicação alegam que a lei prejudica também a pluralidade de vozes necessária à democracia, ao contribuir para a concentração da verba publicitária nos grandes conglomerados de mídia. O bônus de volume, que ela institucionaliza, é parte importante da polêmica. 

    O acórdão 2.062 do TCU já apontava, em 2006, a dificuldade de controlar negociações envolvendo bonificações, uma vez que elas são de âmbito privado. E observava também que o bônus “favorece a concentração das inserções publicitárias em poucos veículos”. O diretor comercial da revista Caros Amigos, Wagner Nabuco, concorda. “O BV só reforça o oligopólio da mídia”, afirma. 

    Segundo ele, no Brasil, a remuneração básica de uma agência de publicidade decorre da comissão fixa de 20% (conhecida como desconto-padrão) sobre o valor despendido na compra de espaços publicitário nos veículos de comunicação; de comissão sobre serviços prestados por terceiros (produtoras de vídeo, fotografia, eventos, etc); e do bônus de volume. “Somente as grandes corporações tem capacidade de abrir mão de parcela expressiva das receitas de publicidade e, em muitos casos, pagar o bônus às agências antes mesmo dos anúncios serem veiculados”, acrescenta. 

    O diretor esclarece que existe também a possibilidade da agência receber taxas fixas (fees) pelos serviços que presta. Caso, por exemplo, das que atendem as Casas Bahia, cujo investimento em publicidade, em 2011, foi de R$ 3,37 bilhões, o maior do Brasil. Grandes anunciantes como as Casas Bahia tem deixado de pagar o desconto-padrão de 20% para remunerar os serviços por fees mensais ou anuais, em geral, muito abaixo dos valores obtidos com o desconto-padrão. Na prática, estão impedindo que as agências faturem por comissão duas vezes em cima do dinheiro do anunciante. Como consequência, cresce a importância do BV no lucro do setor publicitário.

    É difícil saber qual o peso exato de cada uma dessas modalidades na receita das agências, visto que se trata de dados privados das empresas. Fontes do mercado consultadas pela reportagem estimaram que, atualmente, cerca de 60% ou 70% do faturamento das agências provenham do BV. A Rede Globo é a maior pagadora do bônus e especula-se que, em 2010, tenha repassado cerca de R$ 700 milhões às agências por meio deste mecanismo. A Editora Abril, que possui o maior faturamento na mídia impressa, teria desembolsado aproximadamente R$ 75 milhões.

    Critérios técnicos?
    Presidente da Associação dos Diários do Interior (ADI), Margareth Codraiz Freire acredita que, mais do que o bônus de volume, o que ocasiona a concentração de verba pública nos grandes veículos são os critério adotados para distribuição da publicidade. “As agências até podem preferir anunciar em poucos veículos para terem mais controle sobre o recebimento dos bônus, mas a escolha final é do cliente”, avalia.

    Segundo ela, desde o governo Lula, a Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência, responsável pelo maior aporte de verbas públicas em publicidade, aumentou de forma expressiva o número de veículos aptos a dividir o bolo. Em 2000, eles eram 500. No ano passado, somaram 8.519, dos quais 4.281 foram contemplados com contratos. Entretanto, o percentual que chega aos jornais de pequeno e médio porte varia de 1% a 1,5% das receitas deles. “Melhorou muito porque não recebíamos nada, mas grosso da publicidade ainda fica com os grandes”, afirma ela. 

    A Secom não divulga quanto destina a cada órgão. Toda a prestação de contas é feita por valores dispensados por campanhas. Mas na página 42 do Relatório de Gestão 2011, há uma informação que ajuda a dar a dimensão da concentração da mídia: “25 veículos e grupos de comunicação recebem 72% da publicidade do governo”. O órgão destaca que a distribuição é feita seguindo critérios técnicos, como índice de audiência, no caso das TVs, e preço por centímetro quadrado de publicidade, no caso dos impressos.

    A lei 12.232 estabelece a opção pelos critérios técnicos. Diz que as agências devem conduzir a escolha dos veículos em que vão anunciar “de acordo com pesquisas e dados técnicos comprovados”, que assegurem as melhores condições para falar com seu público. Nabuco, entretanto, questiona o sistema, dada a ampla subjetividade da atividade publicitária. “A audiência do Jornal Nacional permanece imbatível e o governo pode alegar isso para comprar espaço da Globo. Mas se o critério for só este, o que o Estado fará pelas garantias constitucionais de pluralidade de vozes, diversidade, fortalecimento da cultura regional?”, indaga.

    Margareth endossa. Segundo ela, no interior, são fartos os casos de jornais regionais que adquirem muito mais peso perante a opinião pública e até tiragens superiores as dos nacionais. Entretanto, ainda assim, o preço da publicidade costuma ser bem mais baixo. 

    O diretor da revista ainda questiona a legalidade de se obter BV com dinheiro público. “A verba é para divulgar determinada ação ou campanha e não para ir para o bolso da agência. Se o veículo retornou dinheiro, a agência não deveria reter, deveria voltar aos cofres públicos”, aponta.

     

  8. Eu acho que a goebbels mantém

    Eu acho que a goebbels mantém os patrocínios no mesmo patamar, apesar da queda de audiência, não é pelo BV e sim, por extorsão. Como fazem com os governos. Mas como seu poderio diminue ano a ano, uma hora os anunciantes vão dar um basta.

  9. “Não há como regular

    “Não há como regular adequadamente a democracia sem regular adequadamente os meios de comunicação”.

    Essas são palavras do FHC? Com todas as letras? O pig escondeu bem escondidinho, einh, Nassif?

  10. Pra cima de moi?

    Já me escaldei muito com a demagogia tucana. Essas palavras de FHC não são muito esclarecedoras. Pelo que conheço desse “grande político” brasileiro(?), haveria dois tipos bem distintos de democracia: democracia com povo e democracia sem povo. A qual ele se referiu?

  11. Vassalos

    O jornalismo do país é tão vassalo que segue bovinamente a globo que lhe suga o sangue. Jornalista parece gostar de sofrer. A primeira coisa que a globo fez quando consolidou o golpe de 64 foi tomar a TV Itacolomi dos diários associados, pois bem, não é que o jornaleco e. m. vive puxando o saco da globo e repercutindo suas notícias. A itaitaia também adotou a liderança política da globo trouxe o alexandre garcia, aquele da consultec, para falar de democracia e dar aula de moral aos mineiros, mas tenho certeza que qualquer hora a globo derruba a itatiaia. O jornalismo, abandonou o jornalismo e passou a fazer banditice e vassalagem. São burros também. Apostaram no inimigo.

  12. Mas isso deve ser genético.

    Mas isso deve ser genético. Herdamos dos portugueses. A Inglaterra sempre sugou Portugal e os portugueses eram ‘doidinhos’ pelos ingleses. Assim é o Brasil; primeiro em relação à França, depois Inglaterra e hoje USA. O mesmo se dá internamente. Sempre permitimos tudo aos que nos sugam. Admira-me que empresários, em principio amantes da boa grana, permitam e aceitem esse jogo. Não percebem o que acontece. Deve ser a tal visão curta, mentalidade tacanha ou alma de vira-lata.

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