Se governo liberar venda de terras a estrangeiros, MST reagirá

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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João Pedro Stédile em Belo Horizonte

Por Léo Rodrigues

Da Agência Brasil

O líder nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, disse nesta quinta (21), em Belo Horizonte, que o MST reagirá com ocupações se venda de terras brasileiras a estrangeiros for liberada. Na capital mineira, Stédile participa do 1º FestivalNacional de Arte e Cultura da Reforma Agrária. Organizado pelo MST, a programação do evento vai até domingo (24) com shows, filmes, feira gastronômica debates, entre outras atividades.

O anúncio de Stédile ocorreu após alguns órgãos de imprensa veicularem que o governo federal planeja permitir, sob alguns critérios, a aquisição de terra por estrangeiros. Para isso, seria necessário rever um parecer da Advocacia-Geral da União (AGU), que, em 2010, ao analisar a Lei 5.709/1971, considerou ser proibida a venda de terras a estrangeiros.

De acordo com o texto, a proibição visava “assegurar a soberania nacional em área estratégica da economia e do desenvolvimento”. A AGU não confirmou nem desmentiu a possibilidade de rever o parecer.

Para Stédile, a sociedade brasileira “é contra, os movimentos sociais são contra e as Forças Armadas são contra. Vamos dar um aviso às empresas: se esse governo tomar essa medida irresponsável, não se atrevam a comprar terras no Brasil, porque nós vamos ocupar todas as áreas que forem cedidas ao capital estrangeiro”, disse.

O líder do MST afirmou que as medidas tomadas pelo governo do presidente interino Michel Temer ferem a viabilidade da agricultura familiar. Segundo ele, o fechamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário é um prejuízo incalculável, uma vez que o órgão era o responsável por uma série de políticas públicas destinada à produção de alimentos.

Ele também acusou o governo de planejar o aumento da idade de aposentadoria para 65 anos. No mês passado, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, anunciou o encaminhamento ao Congresso, até o fim de julho, uma proposta de reforma da Previdência Social, mas evitou fazer comentários sobre o teor.

“No campo, a regra atual é 55 anos para mulheres e 60 para homens. Isso significa que eles vão nos roubar dez anos, e o trabalho no campo é o mais penoso que há. Muitas vezes se chega a 65 anos sem condições para o trabalho agrícola”, acrescentou Stédile.

Stédile criticou ainda a Lei 13.301/2016, sancionada por Michel Temer em junho e que autoriza o uso de aeronaves para pulverizar substâncias químicas contra o mosquito Aedes aegypti. Ele lembrou que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), órgão que lidera o combate à dengue e outras doenças transmitidas pelo vetor, é contra a medida. “Os únicos beneficiados serão as empresas que têm aviões agrícolas”, alertou.

Mobilizações

Na semana que vem, o MST planeja realizar mobilizações em todo o país, como ocorre tradicionalmente próximo ao dia 25 de julho, data em que se comemora o Dia do Trabalhador Rural. Além da pauta da reforma agrária, eles levarão a palavra de ordem “fora Temer”, por considerar ser um golpe o processo de impeachment que afastou Dilma Rousseff da Presidência da República.

Stédile disse que a Frente Brasil Popular, que integra o MST e outros movimentos sociais, avalia a realização de uma greve geral antes da votação que encerrá o processo no Senado.

Manifestações também devem ser realizadas na abertura da Olimpíada, no dia 5 de agosto, com o objetivo de atrair a atenção da mídia internacional. O líder do MST informou que os movimentos reforçaram o pedido à Dilma Rousseff para que ela não compareça à cerimônia. “É uma afronta o que o Comitê Olímpico Internacional fez ao convidá-la para tomar um assento no setor de ex-presidentes”, criticou.

Para Stédile, não há razões para o impeachment. “O impeachment não tem nada a ver com os erros da Dilma, muito menos com as chamadas pedaladas fiscais. Tem a ver com um plano das elites para impor uma política neoliberal e reduzir os direitos dos trabalhadores. Até o Ministério Público Federal já disse que não houve crime. É como se alguém fosse condenado pelo assassinato de uma pessoa que está viva.”

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

7 Comentários

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  1. Jamais pensei ter algo em

    Jamais pensei ter algo em comum com o MST mas neste caso estou com eles.

    Vender terras a estrangeiros é absurdo até nos EUA, os americanos tem clara noção de interesse estrategico.

    Quando a Dubai Ports Authority quis comprar os terminais da P & O  Navigation no Porto de Nova York, aliás chegou a comprar e pagar, a transação foi VETADA pelo Governo dos EUA e teve que ser desfeita.

    Vender terras a estrangeiros significa VENDER TERRA A CHINESES, só beneficia o vendedor e o corretor..

  2. Vão reagir nada, isso é

    Vão reagir nada, isso é conversa fiada.

    Diziam que se tivesse golpe iriam parar o país, com fechamento de estrada, iriam fazer invasões, causar convulsão social, comoção …

    Cadê ? Não fizeram porra nenhuma. Tudo papo furado.

    Se o governo golpista vingar, vai acabar com todos esse movimento socias  e colocar seus líderes em cana.

    Se não fosse a Dilma com sua resistência/resiliência, persistência, teimosia, foco, determinação, perseverança, coragem, sem medo de difamação, saber controlar e conviver com a traição e mentira, sem medo de cara feia, sem medo de tortura psicológica,sem medo do PIG(agora), apoiada apenas em suas forças, esse golpe já teria sido consumado há muito tempo.

    Se houver reversão ao golpe, em parte é por tudo que a Dilma vem fazendo.

    Duvido que outro politico teria a mesma disposição, já teria entregado os ponto há muito tempo.

    Estou cansado de ouvir conversa fiada desses movimentos sociais.

    Vão cagar no mato, dá um tempo ! Bando de bunda moles !

    1. vender terras….

      Vender terras a estrangeiros é o ultimo grau desta aberração nacional. Depois disto não faltará mais nada. Base militar estrangeira em noso território ou anuência de algum conglomerado internacional avalisando politicas públicas. Não faltará mais nada para a falência brasileira. Mas o que é tão grave e critico já acontece na surdina, na “Terra do Jeitinho” muitas multinacionais e investidores estrangeiros tem imensas propriedades onde produzem produtos agropecuários enviados diretamente aos seus países de origem.O uso de território brasileiro para garantir a segurança alimentar de países estrangeiros. Ah! Se fosse o contrário?! Além de ongs internacionais, com a desculpa de preservar nossas florestas, nossos indios e nossos interesses, administram imensas áreas brasileiras.

  3. dúvidas

    “o MST reagirá com ocupações se venda de terras brasileiras a estrangeiros for liberada.”

    Reagirá se o Lula achar conveniente.

    Ao final das contas, nunca se sabe o quanto uma campanha do MST pode atrapalhar um Lula sonhando com 2018.

    É aquilo: COM LULA, SEMPRE TEM JOGO.

  4. O problema não é a venda de

    O problema não é a venda de terras a estrangeiros. O problema é que acabou a boca livre patrocinada com nosso dinheiro pelo PT. Será que algum dia o Stédille vai trabalhar?

  5. Impressionante como os

    Impressionante como os golpistas são entreguistas. Alguns golpes ao longo da história foram nacionalistas, pelo menos (não os elogiando, mas pelo menos isso). Aqui são brasileiros contra brasileiros, gente traindo o seu próprio país e favorecendo estrangeiros. Stédile está certíssimo.

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