Sob Temer, Brasil vive festival de mediocridade e escárnio, por Roberto Amaral

 
Rodrigo Maia e Eunício Oliveira poderão ser julgados por Moraes, homem da confiança de Temer
 
Do site de Roberto Amaral

Sob Temer, Brasil vivencia festival de mediocridade e escárnio

No comando da Câmara e do Senado, dois figurões das delações da Odebrecht. No STF, um colecionador de filiações em siglas do poder

por Roberto Amaral

A primeira semana de fevereiro foi pródiga em mediocridade e escárnio. Como anunciado, foram eleitos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, respectivamente, Eunício Oliveira e Rodrigo Maia, também conhecidos pelos codinomes de ‘Índio’ e ‘Botafogo’ nas listagens de beneficiários de doações ilegais da Odebrecht. Michel Temer, desinibindo-se e decidido a também não mais disfarçar, cria mais um ministério para instalar Moreira Franco, seu colega de trupe e truz, e assim assegurar-lhe foro privilegiado em provável processo da Lava Jato. 

O novo secretário-geral da Presidência, citado 34 vezes em uma única delação, é conhecido, nas listagens de suborno, como ‘Angorá’, que nos remete a um curioso remoque de Leonel Brizola. O coroamento desse festival de absurdos é a indicação do truculento ex-chefe de polícia de Geraldo Alckmin para a Suprema Corte. Gilmar Mendes, aquele que não disfarça seu partidarismo, aguarda-o para um dueto. 

Quem será o substituto de Teori Zavaschi, o discreto? Vejamos. 

A grande imprensa reproduzindo releases oficiais apresenta Alexandre Moraes como jurista, mas é jurista menor, sem prestígio entre os colegas, autor de livros não lidos e não citados, mais conhecidos como literatura para cursinhos de vestibulares. Advogado de banca modesta, seu mais notável cliente é o ex-deputado Eduardo Cunha, hoje na cadeia. No portfólio cabe o registro de uma cooperativa de transportes investigada por ligações com o PCC. 

Fez carreira profissional fora da advocacia, no serviço público, em cargos comissionados nos vários governos tucanos paulistas, até alçar-se à chefia de polícia de São Paulo e daí, por seus defeitos (notadamente o gosto pelo espancamento), ser catapultado para o Ministério da Justiça – onde teve passagem desastrada – e, afinal, o Supremo Tribunal Federal. Sua vida acadêmica não é menos deslustrada. Foi reprovado no exame para a livre-docência e preterido no concurso que aprovou Ricardo Lewandowski. 

Mas o senhor Moraes (apelidado de ‘jardineiro paraguaio’, por um vídeo que fez circular na internet, em que desbasta plantações de maconha no país vizinho, com involuntária jocosidade) não foi indicado pela formação técnica, que não ostenta, nem pela discrição, que não é seu apanágio. Foi escolhido por sua militância político-partidária e pela fidelidade  (valor cultivado como dogma por determinados grupos sociais) a companheiros e eventuais chefes que dele fazem um homem de confiança. 

Prevenido, o multicitado Temer vai arrumando as peças necessárias para enfrentar o ainda desconhecido, pelo menos do grande público, conteúdo das delações da Odebrecht, mantidas sob injustificado sigilo pelo STF. 

Conservador, do ponto de vista político-ideológico, o futuro sucessor de Teori Zavaschi é um colecionador de filiações em siglas do poder: começou no PFL, ex-ARENA e hoje DEM, passou para o PMDB, e agora está no PSDB de Alckmin, flertando com José Serra e Aécio Neves, adversários in pectoris do governador. Afinal terá sua indicação aprovada pelo Senado, asseguram-lhe o presidente Eunício Oliveira e os líderes Romero Jucá (do Governo) e Renan Calheiros (do PMDB), ambos  alvos de delações, acusações e inquéritos no Supremo. 

Estes mesmos senhores serão julgados por Alexandre Moraes, que, antes, será sabatinado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, presidido pelo senador Edison Lobão (PMDB), outro frequentador das listagens de suborno e à mercê de responder a processo no STF. 

Ministro mais novo na casa, será o revisor dos processos da Lava Jato no pleno da Corte, e assim atuará, desenvolto, em julgamentos envolvendo o presidente da República que o indicou (Temer, lembremos, é referido em delações da inesgotável Odebrecht) e de colegas do governo de que participou exercendo cargo de confiança. 

Decerto Moraes não irá declarar-se impedido. A facção chefiada por Michel Temer inclui, entre personagens menos cotados, e ameaçados de julgamento, Sérgio Machado, o delator-mor, os senadores Renan Calheiros e Romero Jucá, reincidentes, e o ex-presidente José Sarney, isto é, a fina-flor do PMDB governante, denunciados recentemente pelo Procurador-Geral da República pela tentativa de obstruir a Lava Jato. Do julgamento de todos eles participará, sem reserva ética, novo ministro. 

Dizem os jornais que na costura da escolha de Alexandre Moraes esteve o ministro Gilmar Mendes, sempre ele, em conciliábulos entre o Jaburu e o Planalto. Desse ministro pode-se dizer que lhe sobra a cultura jurídica que falta a Alexandre Moraes, mas isso não o impede de ser um mau juiz. Sobram-lhe o partidarismo, o envolvimento político, as decisões que agridem a ordem jurídica, o boquirrotismo fora dos autos, a promiscuidade com o Poder, as antecipações de voto,as agressões a colegas,  as liminares políticas, os pedidos de vista capciosos, as infrações ao Código de Ética da Magistratura. 

Sem despojar-se da toga, e por isso mesmo manchando-a, Gilmar Mendes se transformou em uma espécie de condestável da República e bruxo-conselheiro do presidente da República, que julgará ainda neste ano. Presidente do TSE, Mendes, como se sabe, presidirá o julgamento das contas de campanha da chapa Dilma-Temer, que poderá levar à cassação do mandato do atual presidente. Foram interpostos no Senado dois pedidos de impeachment de Mendes, ambos indeferidos pelo senador Renan Calheiros, que deverá ser julgado no STF pelo beneficiado. 

Tudo, portanto, sob rigoroso controle no regime de exceção. Exceção legal, exceção ética. Esse quadro de degradação republicana deve, no mínimo, provocar uma reflexão profunda sobre os critérios de escolha e nomeação de ministros da Suprema Corte, apartando-os da herança do direito norte-americano do século XIX, e a primeira reforma haverá de ser o fim da vitaliciedade antirrepublicana, substituída por mandatos de dez anos, não renováveis, de par com o fim do foro privilegiado.

Esse debate deve compreender o papel do Conselho Nacional de Justiça e maior democratização e transparência do hoje imperial Poder Judiciário brasileiro. Não pode estar ausente o Conselho Federal da OAB e o silente Instituto dos Advogados Brasileiros, mas deve ser uma plataforma das forças progressistas e democráticas do País. 

A reforma do Poder Judiciário como um todo consiste, portanto, em tarefa a ser tomada a peito pelas esquerdas como ponto de partida para a revisão de seu próprio projeto político.  É preciso, urgentemente, transitar do ‘Fora Temer’ para a construção de um programa alternativo ao neoliberal, autoritário, classista, reacionário que ora se consolida. O Brasil do futuro, se futuro houver, não nos perdoará a omissão, nem tampouco a acomodação. 

Roberto Amaral é cientista político, ex-ministro da Ciência e Tecnologia e ex-presidente do PSB

Redação

7 Comentários

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  1. “A reforma do Poder
    “A reforma do Poder Judiciário como um todo consiste, portanto, em tarefa a ser tomada a peito pelas esquerdas como ponto de partida para a revisão de seu próprio projeto político. É preciso, urgentemente, transitar do ‘Fora Temer’ para a construção de um programa alternativo ao neoliberal, autoritário, classista, reacionário que ora se consolida. O Brasil do futuro, se futuro houver, não nos perdoará a omissão, nem tampouco a acomodação. ”

    Nunca ninguém foi tão preciso quanto Roberto Amaral nesse parágrafo sobre a situação atual. e a reforma do judiciário tem que abranger não só juízes, mas também ministério púbico e as polícias federal, civil e militar.

  2. Nassif, verifique a boquinha
    Nassif, verifique a boquinha que a família Moraes e Serra tem no tcesp! Pergunte à nobre corte de contas paulista, que, na posse de seu presidente, foi prestar vassalagem na Assembleia, o que a impede de botar pra fora o sr Robson Marinho!?

  3. Judiciario….

    Artigo esclarecedor das implicações que a indicação de Alexandre de Moraes tera sobre o STF e que deveria ser replicado a grande numero de pessoas, pois boa parte não sabe e não entende quais são as demandas de um Ministro do STF e quem é esse tipo ai.

    Sobre a reforma do Judiciario…. So em um governo legitimo, com maioria no Congresso e pelo menos certo apoio da imprensa. Pois, dossiês, nesse caso, vão voar!

  4. OS GOLPISTAS DE 2016,

    OS GOLPISTAS DE 2016, TRABALHAM PRA TRANFORMAR PINDORAMA NO MAIOR PUTEIRO DA AMÉRICA DO SUL.

    Me recuso terminantemente em aceitar, que um estabelecimento como Blog do Nassif. Um estabelecimento de grande tradição, seriedade. Inclusive, do rigor com as matérias que publica. De supetão, sem aviso prévio e de uma hora para outra, traga para seu qualificado quadro de pessoal, uma bricadeira de mau gosto como esta. E, o pior, a exibição do retrato dessas tres criaturas inacreditavelmente farsantes, como ocupantes de funções da mais alta relevância na República.

    Claro que a matéria é muito bem escrita, mas, trata-se de uma ficção humoristizada…KKKkkkkkkkkKkkkkkkkKKKKKkkkkKK

    NÃO EXISTE EM PARTE NENHUMA DO MUNDO, MESMO TRATANDO-SE DE UMA REPUBLIQUETA. QUE, POR MAIS DE MERDA QUE SEJA, ACEITE COISAS COMO ESTES INDIVÍDUOS, PARA DIRIGIR PORRA ALGUMA. NUM PAÍS QUE A ELITE SE DÁ AO RESPEITO, NEM AUTORIZAÇÃO PARA GUIAR CARRINHO DE ROLIMÃ ESTES MERDAS ESTARIAM CAPACITADOS A OBTER.

    Orlando

  5. VIVEMOS UM ESTADO CRIMINOSO DE DIREITO
    Entendo que tudo aquilo que se diz prioritário merece melhores cuidados. É facil afirmar que policiais não podem fazer movimentos, paralizações, greve, que a tal prática é configurado crime. Mas como e porque ser julgado por um governo “legitimamente” criminoso?
    O que está configurado é o que podemos entender como a falência moral, institucional, do estado brasileiro. A bandidagem em seu mais alto estilo frequenta os bastidores dos 4 poderes em Brasilia e seus estados federados, Executivo, Parlamento, e Judiciario e a Imprensa Golpista.
    Manter salários por 7 anos sem os devidos reajustes a categoria de Policiais do Espirito Santo, salários atrasados por 3 meses, 13º salário, horas extras, remuneração adicional aos serviços prestados nas olimpiadas, aos policiais do Rio de Janeiro, revela o tolal descompromisso por parte dos poderes estabelecidos em prol ao servidor trabalhador policial, como tambem ao cidadão contribuinte que precisa dos serviços de segurança promovido por um estado esquisofrênico. Cabe aqui salientar que enquanto faltam recursos., por pare do estado, par arcar com o com suas obrigações, os quintais dos governantes transformaram-se em verdadeiras minas de joias e pedras preciosas, a exemplo daquelas enterradas nos jardins da casa do digníssimo governador do Rio de janeiro , Sergio Cabral entre outros.
    Evidentemente o que observamos é um tremendo jogo de improviso, por parte de um governo perdido sem atitude e sem princípios As. Forças Armadas estão sendo subutilizadas e submetidas ao humilhante papel de agente penitenciário, fazendo papel de polícia, com fins de suprir os vazios deixados por parte da ausência de políticas públicas efetivas e necessárias. Temos e vemos tudo isso acontecendo, com o aval dos poderes de Estado que por hora se dissolvem.
    A história da humanidade resume-se em conflitos de classes sociais. O estado moderno é um estado criminoso que por ironia do destino deu certo.
    Cabe qui uma esperança. As cinzas deixam o solo mais fertil .
    Abraços a todos
    .

  6. O passado te condena

    Estarrecedor é imaginar que a maioria desta turma manjadíssima foi aliada de um partido de esquerda e governaram juntos o país por mais de 1 década.O PMDB dizem as más línguas há muito,muito tempo  é composto de cobras criadas, escorpiões e outros peçonhentos perigosos.

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