Suárez, o Joaquim Barbosa do futebol

Assim como Joaquim Barbosa e Mike Tyson, o craque uruguaio Luis Suárez teve uma infância dura e abriu caminho na vida à porrada.

Fora a bobagem do paralelo com a história do médico e do monstro, o Globo Esporte montou um belo perfil do jogador, a partir de entrevista com o psicólogo Maurício Pinto Marques, Doutorando e mestre em Psicologia do Esporte da Universitat Autònoma de Barcelona.

Seu perfil é similar ao que tracei recentemente sobre Joaquim Barbosa.

Como explicou o psicólogo, Suárez cresceu “unindo o seu talento com bola à sua chance de sobreviver”. 

O futebol, para ele, sempre foi uma questão de sobrevivência. Foi o meio que arranjou de salvar a vida dele. É inconsciente. Num momento de grande pressão, de luta, ele acaba repetindo, há o gatilho que estoura – diz ele.

Para Barbosa, o caminho encontrado foi o da leitura e da carreira como procurador da República.

Em ambos os casos, cada vez que alguém tenta comprometer a relação – o caminho em direção à vitória – explode o gatilho da violência irracional. Para Suárez, a vitória é o gol; para Barbosa, a condenação exemplar de quem tiver a má sorte de passar à sua frente.

Do Globoesporte

Cabeçada, mão e mordidas: histórico de vilão persegue o “enigma” Suárez
 
Desde adolescência, craque uruguaio flerta com grandes feitos e explosões raivosas em campo, o que pode lhe custar sequência na Copa após agressão a italiano
 
por Lucas Rizzatti

Há muito de drama, luta e superação na vida de Luis Suárez, da infância paupérrima ao estrelismo puro na Europa. Esse filme poderia ter, no entanto, um enredo bem mais previsível se, agora, na idade adulta, Luisito não parecesse se inspirar no clássico “O Médico e o Monstro”. Na obra, em livro e película, Dr. Jekyll queria provar que todos têm um lado bom e outro ruim. Virou cobaia de seus próprios experimentos. Na terça-feira, foi o mundo que se transformou em testemunha do quanto o atacante flerta entre glória e vilanismo. De esperança celeste, exemplo de recuperação ímpar de uma cirurgia no joelho, tornou-se desafeto mundial, inimigo público número um, ao morder o zagueiro italiano Chiellini. Não foi a primeira vez. Um caso para divã nenhum colocar defeito.

Suárez não morde apenas com a boca. Também já assombrou o planeta numa Copa com outro golpe. Um tapa na bola, sobre a linha do gol, que salvou um gol de Gana nos acréscimos. Ao contrário desta vez, Suárez foi expulso. Acabou recompensado com o erro do chute rival e a posterior vitória nos pênaltis. Embora não tenha sido uma agressão, o atacante foi alçado ao posto de vilão do Mundial por sua efusiva comemoração após o polêmico gesto. Todos se perguntavam: onde estava a ética do jogador? 

O seu código de conduta pode estar em algum lugar de Salto ou Montevidéu, cidades em que cresceu, com dinheiro tão curto que o forçava a perder horas e horas catando moedas na rua, após correr pelos campinhos da base do Nacional, do Uruguai. O que, logicamente, não o exime da falha da agressão. Mas, ao menos, ajuda a compor um complicado cenário, de tentar explicar o quase inexplicável. Por que morde, Suárez?

Doutorando e mestre em Psicologia do Esporte da Universitat Autònoma de Barcelona, o psicólogo Maurício Pinto Marques acompanha, como fã de futebol, a carreira de Suárez e tem amigos no staff do Liverpool. Conhecedor da história do atleta, condiciona essas atitudes intempestivas e polêmicas a sua infância humilde sempre intrincada com o futebol. Suárez, portanto, cresceu unindo o seu talento com a bola a uma chance de sobreviver. 

– O futebol, para ele, sempre foi uma questão de sobrevivência. Foi o meio que arranjou de salvar a vida dele. É inconsciente. Num momento de grande pressão, de luta, ele acaba repetindo, há o gatilho que estoura – analisa, em contato com o GloboEsporte.com.

Cabeçada aos 15 e prova de amor aos 16

Tudo que puder, por ventura, ameaçar essa relação se torna obstáculo. O primeiro exemplo desse temperamento explosivo se deu quando tinha 15 anos, no Nacional. Descontente com uma decisão do árbitro, tascou-lhe uma cabeçada. O juiz saiu com o nariz quebrado. Dessa época, dá para se extrair um exemplo positivo do quanto o futebol é questão de vida ou morte para Suárez.

O pai havia abandonado sua casa, a vida desmoronava. O futebol ficava mais distante. Até que conheceu Sofia Balbi, de boas condições econômicas. Suárez ganhou um amor e uma nova família, tudo ao mesmo tempo, e renasceu. Mas, aos 16 anos, novamente se abalou. Os pais de Sofia a levariam para Barcelona, para fugir da crise econômica uruguaia. Eis que o futebol surge como motivador para o jogador, que prometeu à amada brilhar nos gramados para jogar na Europa e revê-la. O final todos sabem: são casados e têm dois filhos. 

– Sua timidez e calma em entrevistas em contraponto ao clima de grande pressão dos três episódios de mordidas reforça a hipótese de quanto é uma reação instintiva, possivelmente, inconsciente, que é facilitada pelo cansaço físico que favorece ações mais impensadas. Todas ocorreram no segundo tempo de jogos importantes: a primeira em um clássico holandês, durante uma briga, a segunda num Liverpool x Chelsea, enquanto estava sendo derrotado em casa, e essa há minutos de uma eliminação em Copa – pondera o psicólogo Maurício Pinto Marques.

suárez confusões (Foto: Reprodução)

A imprensa internacional é bem menos compreensiva. Jornais ingleses, seus velhos conhecidos de Liverpool, trataram Suárez como um “monstro”. Pediram a sua exclusão da Copa. O que pode ocorrer. As imagens que correram o mundo serão analisadas pela Fifa. Diante de tamanha repercussão e reincidência, Maurício Pinto Marques vê como fundamental um maior estudo sobre o jogador, um acompanhamento personalizado para evitar outros episódios dessa natureza. 

capa jornal inglês suárez mordida (Foto: Reprodução)
Jornal quer banir Suárez da Copa (Foto: Reprodução)

Dentro da seleção, no entanto, apesar da franca preocupação dos dirigentes, o discurso é de apoio total a Suárez. Óscar Tabárez chegou a se enervar em sua entrevista coletiva ao ter que falar sobre o assunto:

– Ele é uma grande pessoa e é muito importante para o grupo. Ele é sempre atacado, como vocês estão fazendo nesta coletiva. Temos que defendê-lo também, porque este é um campeonato de futebol, e não de moralismo barato.

O agredido Chiellini não entra no mérito de moralismo. Quer apenas a punição ao jogador que ele chamou de “covarde” na saída do campo.

– O Suárez me mordeu, como já tinha feito antes. Vamos ver se a Fifa terá coragem de fazer alguma coisa, ao contrário do árbitro na hora.

Cabe agora à Fifa colocar Suárez na linha. A história mostra que será uma tarefa é difícil. Digna de meticulosos enredos de filmes e livros. Por enquanto, Luisito ainda é dois, médico e monstro.

Luis Suárez recebe a visita da família (Foto: Reprodução/Twitter)
Luis Suárez bem mais inofensivo, com a família que só nasceu por causa do futebol (Foto: Reprodução/Twitter)
 
Redação

26 Comentários

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  1. Não, não.
    Suarez agiu com a

    Não, não.

    Suarez agiu com a adrenalina do momento.

    Joaquim Barbosa calculou, calculou, calculou… Teve tempo até de buscar uma teoria exótica e excluir dados essenciais da defesa dos réus. Chamou a Globo e mandou prender os réus em data importante da história do país.Tudo para atender sua ambição, exibicionismo e maldade pura e simples.

  2. Tem que ser banido da Copa.

    Tem que ser banido da Copa. Como punição não tem o que se discutir. Fora isso, fazer algum tratamento pscicológico talvez seja o ideal.

  3. Parece pela repetição de

    Parece pela repetição de eventos que um profissional pode traçar um perfil.

    Mas o Chiellini é malandro de futebol, ele provoca direto, fez isto com o Zidane na copa da Alemanha, a história então era com a irmã deste craque. Aliás, esta coisa de provocar sobre a irmã era muito do tempo de juvenil, infanto-juvenil, infantil, acho que até nas categorias dente de leite e pingo de gente, hoje “categorias de base”, o gesso do futebol brasileiro.

    O provocador não é qualquer um, é alguém que sabe a hora, se informa antes do perfil de quem deve provocar para saber o que fazer, o resto do time está ciente. As vezes não há estas explosões, mas a idéia é desconcentrar o adversário. 

  4. Merece punição.
    Entretanto,
    Merece punição.
    Entretanto, não deveríamos compará-lo com Joaquim Barbosa: Barbosa eh um homem mau, prejudicou muito mais vidas do que Suarez (lembrem-se do Genoíno).

  5. Adoro essas teorias

    Adoro essas teorias psicologistas e psicanalistas que tentam defender ou explicar atos marginais ou animais dos ditos humanos.  Esse ato de selvageria não tem defesa, ele é reincidente, um bom período fora dos campos poderá ajudá-lo a se socializar. O melhor lugar para disciplinar feras, ainda é a jaula e a segregação.  Ele pode ter apanhado da vida, aliás como todos nós apanhamos, uns mais outros menos, porém mostrou que não aprendeu nada ainda, e vai continuar a apanhar da vida, até aprender.  Pior para ele, melhor para os adversários dele.  Simples assim!

    1. “O melhor lugar para

      “O melhor lugar para disciplinar feras, ainda é a jaula e a segregação.”

      Jaula não discipina ninguém. Liberte um leão preso e ele não se transformará em um gatinho. Será leão em dobro.

        1. Fulvia Sheherazade, se ele me

          Fulvia Sheherazade, se ele me der metade do seu salario , eu levo.

          Alan, o que coloquei e que vocês não entenderam:

          1) A prisão pura e simples não “educa” ninguem. Ou só sairiam anjinhos de nossas penitenciarias. Deve existir um trabalho de ressocialização se a pessoa é DE FATO um criminoso coisa que o Suarez está muito longe de ser.

          2) O Suarez muito longe de ser o meticuloso Barbosa, pode ser comparado a outros grandes jogadores como Edmundo, Serginho Chulapa, Eric Cantona, Almir Pernambuquinho que jogavam muita bola mas estouravam fácil em campo.

          A propósito, Almir morreu em uma briga defendendo um homossexual de agressões, viu Fulvia?

      1. Então, leve esse leão em

        Então, leve esse leão em dobro para sua casa e fique com ele longe da sociedade.

        p.s. Os leões animais não fazem mal, apenas se defendem. 

  6. Torcí tanto por este cara,

    Torcí tanto por este cara, quando foi operado….um vencedor.

    Mas voto pelo BANIMENTO, nesta COPA.

    SE NADA FOR FEITO, incentivará um próximo brucutu a fazer o mesmo.

  7. O homem e suas circunstâncias…

    Sem dúvida que a ética deva moldar a individualidade acima das circunstâncias de cada qual, porém, o observador não pode deixar de considerar as circunstâncias.

    Portanto, perfeito o paralelo entre o comportamenteo do Ministro Barbosa, Tyson e Suarez, nestes episódios todos, conforme já aleguei em relação ao Magistrado, em que foi dar vida, numa exemplaridade extraordinária, à tese da síntese filosófica ao que ORTEGA y GASSET nos legou: “O homem é o homem e suas circunstâncias” ou na forma originalmente formulada pelo filósofo catalão: “Eu sou eu e minhas circunstâncias. Se não salvo a ela, não salvo a mim.”  no caso a circunstância que o Ministro levará até o túmulo, sem salvação, é a circunstância de terem abreviado sua carreira e chegado ao STF, prematuramente, em razão das perniciosas cotas raciais praticadas pelo governante em nome do estado. No caso de Suarez (e Tyson) a circunstância de ser o esporte sua única chance de afirmar êxito na individualidade: para GASSET  ” não é possível considerar o ser humano, em sua individualidade, sem levar levar em conta todas as circunstância que o circunda chegando ao contexto histório em que esá inserido”

    Pelas circunstâncias de cada um é que a filosofia do direito admite atenuantes e agravantes para apreciação da dosagem das penas criminais.

     

     

     

    1. Desculpe, mas apelas para

      Desculpe, mas apelas para truísmos. Claro é que somos “nós” e nossas circunstâncias. Há pouco mais de um século tal dualidade já foi assentada pela filosofia, mas também pelas Ciências. “Correndo por fora”, o livre arbítrio que advém da racionalidade, atributo singular da nossa espécie.

      Daí porque ser o exercício da Ética, ou de forma mais geral, do Bem, um ato de vontade. Agravantes e atenuantes são sobrelevados num contexto maior nos quais a intencionalidade deve ser também interposta.

      No caso específico de Joaquim Barbosa existe, sim, não nego, essa “circunstância”, no caso uma política de governo relativa á cotas. Mas é cabível, e até mesmo lícito, darmos descontos, atenuantes, para um cidadão com o nível de preparo intelectual e a rica experiência de vida que ao fim também se manifesta positicamente enquanto “conhecimento”? 

      Atenuantes não podem, a meu ver, se revestirem de tanta elasticidade sob o pena de a partir de um certo ponto passarmos a justificar o Mal apenas como um fenômeno “externo”, alheio, portanto, ao “nós”. 

    2. Seguindo este raciocínio,

      Seguindo este raciocínio, todo preconceito poderia ser enquadrado neste determinismo.

      Mas olhando o agora e para a frente, temos escolhas sempre. Como disse um filósofo, o que importa não é o que acontece a um homem, mas o que ele faz disto.

  8. Sei não…sei não…..muitos

    Sei não…sei não…..muitos processos repousam tranquilamente na mesa do Barbosa….dos ministros, é o que possui maior quantidade de processos “parados na mesa”, se é que me entendem….   Interessante que todos aqueles que rendem holofotes, ele e seu “braço curto” , agilizaram.  Talvez pela vida pobre e, sempre se sentindo  “inferior”  ao que lhe rodeia, frisa-se aqui sem a menor necessidade….é que hoje precisa, tão desesperadamente, da luz dos holofotes e da mídia para lhe dar fama e respaldo….uniu o útil ao agradável….a mídia conseguiu seu Joaquim Silvério dos Reis moderno e JB conseguiu seus 15 minutos de fama, que lhe renderam toda projeção e satisfação que tanto almejava.  Talvez….e repito…talvez, a necessidade de se identificar com quem dá as cartas, seja sua maior motivação.  Talvez a fama que isso lhe trouxe, seja o combustível da sua vida……  

    Suarez, por sua vez, vive em meio  truculento por natureza….não que justifique a mordida…alias, nada justifica….mas foi assim com a cabeçada de Zidane e creio que ainda veremos muito mais coisas…..

  9. A meu ver, há paralelos entre

    A meu ver, há paralelos entre o comportamento de Joaquim Barbosa e esse jogador do Uruguai. No entanto, se podemos lhes ofertar atenuantes para minorar seus comportamentos antissociais, a este último caberia sobrelevar mais as tão decantadas “circunstâncias” aventadas por Ortega Y Gasset.

    Decerto que Luis Soárez merce de hoje desfrutar das delícias do dinheiro, dentre as quais se incluem a capacidade de obter mais informações do mundo, está longe de possuir a racionalidade, ou seja, a capacidade de entendê-lo melhor e agir assim dentro de padrões minimamente éticos que possui Joaquim Barbosa. 

     

     

  10. A analogia não é perfeita,

    A analogia não é perfeita, conforme apontado pela Vera. Joaquim Barbosa calcula, em uma situação de poder; não age por impulso como Suárez, num corpo a corpo em que atos violentos podem ocorrer. Se Suárez fosse o juiz de futebol e mordesse um dos contendores, aí, sim… Que não somos senhores em nossa própria casa é coisa que Freud percebeu, para nosso espanto, com sua revolucionária descoberta do inconsciente. Mas psicopatologizar, ou sociopsicopatologizar os atos de Barbosa é um erro, pois serve para atenuar sua responsabilidade jurídica e política.

    1. A meu ver não é o impulso que

      A meu ver não é o impulso que move Joaquim Barbosa. É o seu autoritarismo,  a sua índole ditatorial, o seu egocentrismo E o que move Suárez é a paixão momentanea, o envolvimento com o jogo.

  11. Nassif (ou moderador), postei

    Nassif (ou moderador), postei bobagem.

    Foi mesmo o Suárez que se recusou a apertar a mão do Evra. Tinha ouvido falar da historia de outra maneira e linkei um video sem ver que era tosquice. Retiro o que disse sobre o jornal estar errado.

    Podem deletar este comentário o outro, se quiserem

  12. Acho dois casos completamente

    Acho dois casos completamente diferentes. O Suárez é completamente descontrolado e desequilibrado, mas, age por impulso. Já o JB é o retrato do calculista. Passa dias e noites arquitetando o que mais ele pode  fazer para prejudicar Dirceu, Genoino e o PT. Está longe de ser impulsivo.

  13. Discordo. Quem já jogou uma
    Discordo. Quem já jogou uma fervorosa pelada num campinho de varzea, sabe que isso pode acontecer. Já vi amigos, irmãos, primos durante uma partida trocarem ofensas, socos e palavrões e depois do jogo sentarem para tomar cerveja. Comparar um momento como essse com uma decisão de cabinete e questionável. Joaquim ao tomar suas decisões, tinha todo um aparato a sua disposição e pode tomá-la na tranquilidade do seu lar. Banir o Soarez da copa, e uma decisão a la Joaquim Barbosa. Pelé seria Pelé se tivesse tomado punição igual, após a cotovelada no uruguaio na copa de 70?

  14. Afora o comportamento “barbosiano”…

    Uma mordida é mais grave do que uma cotovelada no rosto?

    Um chute na canela, um murro nas costas?

    Por que o juiz não explusou Suarez após o fato? Teria sido mais justo, naquele momento.

    Nesta copa já houveram diversas agressões físicas, tão graves quanto, por que a pressão sobre o Uruguai?

    1. Simplesmente porque mordida,

      Simplesmente porque mordida, bem como dedo no olho e golpe nas partes “baixas” não vale nem em esportes de luta e é mal vista até em briga de rua.

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