The Intercept desmonta ponta a ponto a defesa da reforma da previdência de Temer

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – O portal The Intercept desmontou o comercial da reforma da previdência feito pelo governo Michel Temer em 10 pontos, consultando uma especialista. De acordo com a reportagem, uma das principais mentiras contadas pelo Planalto, na peça em defesa da reforma, é que a economia, em 2017, só sairá do buraco com a reforma da previdência. Segundo o site, nem a própria previdência ficará longe do impacto das novas regras porque, tão logo ocorrer a aprovação da PEC pelo Congresso, a população fará uma verdadeira corrida para conseguir os beneficios segundo a lei anterior. 

Por Helena Borges
 
Do The Intercept
 
“MENTIRA PURA!”: DESMONTANDO ARGUMENTOS DO GOVERNO SOBRE A REFORMA DA PREVIDÊNCIA
 
“TEM MUITA GENTE falando muitas mentiras a respeito da Previdência”, alerta logo de início o vídeo “Minuto da Previdência” produzido pelo governo federal. Publicado no canal do YouTube “Portal Brasil” no dia 13 de abril e replicado em canais de televisão desde então, o vídeo afirma que uma das falácias disseminadas seria a necessidade de trabalhar 49 anos para ter aposentadoria integral. “Mentira pura!”, afirma categoricamente a apresentadora. Cinco dias depois, no entanto, um documento produzido pela equipe do deputado Arthur Maia (PPS-BA), relator da reforma, propunha a redução dos tais 49 anos para 40 anos. O vídeo — e o constrangimento — permanece no ar.
 
Com inspiração na peça produzida pelo governo, The Intercept Brasil elencou 10 argumentos usados pelo governo para defender a proposta de Reforma da Previdência apresentada por ele e convidou a professora Denise Lobato Gentil, do departamento Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, especializada em Macroeconomia e Economia do Setor Público, para comentar cada um. Os argumentos foram todos tirados de discursos e entrevistas do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
 
1_ “Sem reforma, gasto previdenciário vai a 17,2% do PIB em 2060”
 
https://www.youtube.com/watch?v=20CFanab7v0]
 
Para fazer uma projeção segura, é necessário trabalhar com uma margem de erro, e não tratar os números com determinismo, como faz o ministro. A professora cita o exemplo do Banco Central estipulando a inflação prevista para um ano: “Ele diz ‘vai estar entre…’ e aí estabelece um intervalo de confiança. Se acerta naquele intervalo, está cumprindo a meta”. Já a proposta da Reforma da Previdência não faz isso: o ministro dá um número com exatidão até nos décimos.
 
Previsões econômicas também costumam apresentar, pelo menos, três “cenários possíveis”. Isso é feito para se abranger possibilidades de crises ou de melhoras no plano econômico. O governo trabalha com apenas uma possibilidade.
 
2_ “Estados ficam insustentáveis sem uma reforma”
 
https://www.youtube.com/watch?v=RcQ3jywrDTQ]
 
A especialista afirma que é necessário investigar a raiz do problema em cada estado e que o “discurso oficial” — todos estão endividados por questões previdenciárias — joga a culpa sobre quem não foi responsável pelos problemas.
 
Ela cita como exemplo o Rio de Janeiro, que considera o mais encrencado: “Dizer que o estado está quebrado é de fato uma platitude, se você não disser quem causou”. E explica que o maior problema foi o Fundo de Previdência dos Servidores Públicos ter sido “desfalcado” pelo governo Sérgio Cabral (PMDB-RJ).
 
Duas saídas estratégicas sugeridas para a crise do Rio foram a suspensão da dívida do estado com a União e a revisão de desonerações concedidas em impostos, como o ICMS e o IPVA.
 
3_ “Outros países tiveram que tomar atitudes dramáticas porque esperaram por muitos anos”
 
https://www.youtube.com/watch?v=YzGNyXD2XKE]
 
Em países europeus existe uma idade mínima e uma idade de referência: “A mínima é aquela em que um europeu pode se aposentar sem ganhar a aposentadoria integral, com 57, 58 ou 59 anos. A idade de referência que é 65 anos”. O governo brasileiro quer “tomar atitudes” ainda mais “dramáticas”, elevando a idade mínima aos patamares daquela usada como referência em outros países.
 
Muitos também estão revendo as regras de aposentadoria escritas depois de 2008, mas para diminuir as exigências. Na França, os dois candidatos que foram para o segundo turno falam em rever o tempo de contribuição exigido. No Japão, ele  foi reduzido de 25 para 10 anos recentemente.
 
Por último, Lobato lembra que a presidente do FMI, Christine Lagarde chamou a atenção do ministro Henrique Meirelles em Davos (Suíça), durante o Fórum Econômico Mundial. Após uma apresentação de Meirelles sobre o ajuste fiscal e a Reforma da Previdência, Lagarde afirmou que a prioridade deveria ser combater as desigualdades sociais e alfinetou: “Não sei por que as pessoas não escutaram (que a desigualdade é nociva), mas, certamente, os economistas se revoltaram e disseram que não era problema deles”.
 
4_ “É fundamental para a recuperação da economia em 2017”
 
https://www.youtube.com/watch?v=CmWmIzw3eRc]
 
No curto prazo, a maior possibilidade, segundo a professora, é que a reforma agrave a situação da Previdência, “porque a gente já sabe que, ao anunciar a Reforma da Previdência, houve uma corrida às aposentadorias”. Ela ressalta que os aportes em previdências privadas aumentaram em 2016 e que devem continuar a subir em 2017.
 
No longo prazo, Lobato explica que a reforma vai desestimular o recolhimento do benefício, porque as pessoas acharão que não conseguirão contribuir o suficiente para se aposentar e, por considerar que nunca alcançarão os requisitos, vão desistir de contribuir: “Elas vão preferir contribuir com um plano privado. Aliás, esse é o projeto: estimular os fundos privados de aposentadoria”.
 
Outro fator que puxa a receita da previdência para baixo, no curto prazo, é o desemprego. Foram encerrados 1.3 milhão de postos de trabalho em 2016 e, em janeiro e fevereiro, os índices continuaram aumentando. Com a perda de empregos, a receita tende a cair. No longo prazo, a Lei de Terceirização pode complicar ainda mais esse cenário, com a transformação de muitos trabalhadores em Microempreendedores Individuais (MEI), que contribuem menos para a Previdência.
 
5_ “Não vai prejudicar o trabalho com menor renda”
 
[video:https://www.youtube.com/watch?v=kQHj7f3fn0I
 
Em primeiro lugar, a nova aposentadoria não desprezará mais, no cálculo do valor a ser pago, os 25% da contribuição referente aos menores salários do trabalhador. Será feito com base na média do valor total contribuído. Isso significa incluir o período em que o trabalhador recebia um salário baixo e, portanto, puxa a média para baixo.
 
Para o trabalhador com menor renda, porém, a situação é ainda mais perigosa porque, em geral, são trabalhadores informais. A professora lembra que a taxa de informalidade no Brasil é superior a 40%: “você tem aí muita gente que sequer receberá um benefício previdenciário. O governo não fez nenhuma reforma para incluí-los, o que já é um equívoco”.
 
6_ “Preservam o ajuste fiscal e beneficiam os mais pobres”
 
[video:https://www.youtube.com/watch?v=zd-jbDSNtps
 
A juventude do nordeste e da periferia das grandes cidades será a mais afetada e mais empobrecida. A expectativa de vida dos homens do nordeste e do norte é muito mais baixa do que no sudeste, em muitas cidades das duas regiões, não chega aos 65 anos. Quando o governo exige uma idade mínima de 65 anos, “ele tá dizendo para uma grande parte da população brasileira pobre que ela não se aposentará”.
 
7_ “Ele [trabalhador mais pobre já tende a se aposentar por idade”
 
[video:https://www.youtube.com/watch?v=BGh3vH-EUBY
 
Segundo a professora, a frase está correta, mas deve ser relativizada. Grande parte das pessoas mais pobres  se aposenta por idade porque não consegue comprovar 15 anos de contribuição. Ela aponta, no entanto, que muitos continuam trabalhando na informalidade, recebendo paralelamente aposentadorias equivalentes a um salário mínimo.
 
Continue lendo aqui.
 
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. quem bolou estes impactos diretos à vida de todo brasileiro…

     só quer uma coisa ao dificultar a aposentadoria, aumentar a quandidade de dias produtivos do assalariado

    é a paga para uma parte dos que contribuíram financeiramente para o golpe, porque o que mais contribui para o aumento da riqueza deles são os dias produtivos com baixos salários, não o produto ou o que se produz

    Brasil é único pais que pretende “matar” trabalhadores e seus familiares unicamente para compensar ou livrar os empresários da concorrência

  2. DITADURA JURÍDICA MIDIÁTICA 2016

    Enquanto por um lado, os que deveriam estar lutando contra os ditadores, continuarem entretendo a todos com suas vãs e figurativas lutas contra reformas oportunamente lançadas pelos ditadores, do outro lado a corrupção continua a todo vapor bem como a solidificação cada dia mais concreta da ditadura implantada pelos bandidos. E cada vez mais acreditamos que, os 55 milhões de brasileiros de verdade, democráticos que tiveram seus votos roubados, estão num mato sem cachorro de fato, restando-lhes apenas ajuda internacional para reaverem o mínimo da dignidade necessária para viverem uma democracia.  

  3. DITADURA JURÍDICA MIDIÁTICA 2016

    Enquanto por um lado, os que deveriam estar lutando contra os ditadores, continuarem entretendo a todos com suas vãs e figurativas lutas contra reformas oportunamente lançadas pelos ditadores, do outro lado a corrupção continua a todo vapor bem como a solidificação cada dia mais concreta da ditadura implantada pelos bandidos. E cada vez mais acreditamos que, os 55 milhões de brasileiros de verdade, democráticos que tiveram seus votos roubados, estão num mato sem cachorro de fato, restando-lhes apenas ajuda internacional para reaverem o mínimo da dignidade necessária para viverem uma democracia.  

    ABAIXO OS DITADORES:

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  4. Divida e os títulos da união…

             O texto da reportagem cita o RJ, o deputado estadual Paulo Ramos deu uma solução para o governo estadual, o RJ deve a união, empresários do RJ devem ao Estado ao mesmo tempo em que esses empresários possuem títulos da dívida da união, problema solucionado : Através da justiça os títulos da divida da união que estão com esses empresários que possuem divida com o Estado do RJ, devem ser passados ao Estado para pagarem suas dividas, esses títulos são tão grandes que o Estado do RJ poderia passar de devedor da união a credor da união, matéria interessante para os jornalistas do GGN abordarem com maior profundidade.

  5. trabalho

     O QUE MAIS ME ASSUSTA LENDO AS POSTAGEM  E QUE MACHADO DE ASSIS ESTAVA  CERTO ….

      O POVO  TEM VOCAÇAO PARA  A RIQUEZA      ….MAS NÃO TEM VOCAÇAO PARA O TRABALHO . que triste .

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