Transbording, por Luis Fernando Verissimo

Enviado por Henrique Torres

Mestre Veríssimo , inspiradíssimo, tirando sarro dos abusos dos anglicismos.

Do Estadão

‘Transbording’

Luis Fernando Verissimo

Triste o país que tem vergonha da própria língua.

Fico pensando num corretor de imóveis tendo que mostrar, para compradores em potencial, um apartamento no edifício Golden Tower, ou similar, em algum lugar do Brasil.

— Isto é o que nos chamamos de entrance.

— Entrance?

— Ou front door. Porta da frente.

— Ah.

— Aqui temos o living room e o dining room conjugados. Ou conjugated. Por aqui, a gourmet kitchen.

— Kitchen é…?

— Cozinha, mas nós não gostamos do termo. Isto aqui é interessante: é o que chamamos de coffee corner, onde a família pode tomar seu breakfast de manhã. A gourmet kitchen vem com todos osappliances, e o prédio tem uma smart laundry comunitária.

— O que é smart laundry?

— Não tenho a menor ideia, mas é o que está escrito no flyer. E passamos para o corridor que leva ao master bedroom, ou suíte, em português. As camas podem ser king size ou queen size. Aqui temos o closet, que em português também é closet. E aqui temos esta giant window que dá para o garden do prédio, e o playground. Você tem kids?

— O quê?

— Kids. Crianças.

— Ah. Não.

— O garden também tem uma green walk, que é uma trilha para passear entre as trees and tropical plants, e um infinity pool que é uma piscina que parece que está sempre transbordando, outransbording. Além disso, claro, existe um indoor pool, que faz parte do fitness center. Ah, e se comprarem o apartamento vocês automaticamente passam a fazer parte do party club, onde tem um barbecue pit.

— Barbecue pit?

— Churrasqueira. E podem usar o working hub, que eu também não sei o que é, mas com esse nome só pode ser coisa fina.

— E a segurança…?

— Garantida dia e noite, ou twenty-four/seven.

— Porteiro?

— Sim, mas não chamamos de porteiro. Ele é um hall concierge.

— Tudo ótimo, mas não sei se vamos comprar o apartamento.

— Por que não?

— Ter que mostrar o passaporte, sempre, para entrar em casa… Sei não.

Redação

36 Comentários

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  1. Como professora de língua portuguesa, sinto-me “contemplada por,

    ou com, esse complexo linguístico exposto aos olhos.

    É chique ser de uma elite miamiana…,

    Que de mais posso escrever, então?

     

    1. O pior é que este bando pensa

      O pior é que este bando pensa que Miami é o paraíso.

      Miami é o sub-mundo do primeiro mundo, e esses babacas sonham com Miami.

    1. Flávio, inverta as posições

      Flávio, inverta as posições da cores azul e vermelho, senão os coxinhas pensarão (em sentido figurado claro, por que pensar não é a praia deles) que é uma bandeira comunista, com o vermelho em maior destaque.

  2. Não é uma questão de ter

    Não é uma questão de ter vergonha.É porque pra se comunicar com o mundoé preciso falar inglês.

      Parece piada mas não é: É menos difícil se comunicar com o mundo, com o português de Portugal do que o português brasileiro– e há enorme diferença tanto no falado e sobretudo na escrita.

      Aldo Rabelo só fala( e mal) o português .E diz que é assim que o mundo nos deveria reconhecer.

        Aldo teve preguiça pra estudar outros idiomas.E pra ler tbm.

           Porque se ele lesse, saberia que há uma linguagem mundial( tipo esperanto) e que nenhum país deveria ficar aborrecido com isso.

              Francês foi por um determinado tempo o idioma culto.E o inglês  o idioma comercial no mundo inteiro.

                Alguém precisa avisar Rabelo que o português brasileiro NÃO EXISTE no mundo globalizado.

                Embora há mais chinês falando inglês mais que os americanos,ainda o mandarim é o idioma do futuro.

               Nós somos reconhecidos pelo futebol,carnaval e alegria– e está de bom tamanho.

                       E não pelo idioma.

                        Não se esqueçam de avisar Aldo Rabelo—o monoglota.

    1. Com todo o respeito, mas é o caso do que foi citado

      por Veríssimo ?

      Em outros países, ditos de primeiro mundo, substituem-se palavras e expressões totalmente compreensíveis e agregadas ao idioma local por outras palavras e expressões em inglês, apenas por se tratar de idioma universal?

      Aqui eliminam-se as da nossa língua para substituí-las pelo inglês com o objtivo de sofisticar o que está sendo dito, vendido etc.

      É bem dferente !

    1. Acho que o ponto aqui não é a

      Acho que o ponto aqui não é a substituição completa de palavras que já são usadas tradicionalmente no idioma original, mas a substituição de palavras do idioma português pela expressão americana só pra ficar “chique”.

      Nossa língua é cheia de palavras de origem estrangeira: álcool, judô, samurai, acarajé e online, por exemplo. Ninguém usa “em linha” justamente por não ser a forma tradicional. Mas substituir cozinha por kitchen é diferente. Todo mundo usa a palavra cozinha. Usar o termo em inglês é só uma forma vira-lata de “elitizar” uma palavra que todo mundo (ricos e pobres) costuma usar.

  3. Nassa,preste atenção:
      Eu

    Nassa,preste atenção:

      Eu sou fundador de seu blog.E foi a primeira vez( salvo engano) que vc posta Veríssimo.

       Não escreverei ”trocentos”. Mas escreverei sem medo de errar>

              Só da minha leitura diária, há pelo menos 5 blogueiros que reproduzem as crônicas dele há SÉCULOS.

               E vc só nos mostrou agora, Nassa?

               O velho clichê: Antes tarde do que nunca.

                    ps: Nassa, vc sabe a diferença entre Janio de Freitas( que vc coloca sempre) e Veríssimo( que vc nunca colocou)? 

               Os dois são esquerdistas e até aí empatou.

                 Mas enquanto um escreve com alegria descontraida e tirando sarro, o outro parece ser um ranzinza amargurado.

                 E O BLOG PRECISA DE ALEGRIA ! 

                      Abraços !

    1. Salvo pelo engano

      Só este ano foram 07(sete) crônicas postadas. Nas referências + crônicas no blogue foram:

      Resultados da busca Verissimo:

       SEX, 05/04/2013 – 16:01ATUALIZADO EM 18/03/2015 – 14:30Aproximadamente 863 resultados (0,31 segundos

       

  4. Nomes de prédios

    Neste campo específico, fiz um levantamento por alto e, nos últimos 5 anos não encontrei sequer um prédio lançado em minha cidade que tenha norme totalmente em português. Sempre tem o “Life Style”, o “Residence”, o “Tower”, o “Duparc”, etc. Uma babaquice sem tamanho. Outra questão complicada é que as pessoas mais humildes estão absorvendo isso e colocando nomes esdrúxulos em seus filhos. Já vi até “Diessica”. Uma tristeza para a pessoa, que vai passar a vida inteira explicando como se escreve seu nome.

    1. Boca da Grota

      O nome do prédio onde moro se chama Edifício Boca da Grota. Achei bacana. Claro que não comprei só pelo nome, mas ajudou. Foi construído há mais de 30 anos, quando os apartamentos eram grandes e ainda não havia essa febre idiota de nomes em inglês. Tem madames e coxinhas no condomínio que acham o nome horrível e têm vergonha de dizer nas rodas chiques que moram no Boca da Grota. Legal, tomara que se mudem.

    2. Jerrycleydisson dos Anjos

      Outro dia botaram na rede um diálogo a esse respeito.

      – Como é seu nome?

      – Jolêno.

      – Nossa! De onde seu pai tirou esse nome?

      – Dos Bítus.

    3. Eu tenho uma Dieime na

      Eu tenho uma Dieime na familia.  Os nomes inventados ou com soletragens inventadas eh fenoeno mundial e nao se restringe ao Brasil -aqui ja encontrei ate uma Suzuki e uma Lexus.  (Nao comecou com Malcolm X tampouco)

      Tem a ver com auto afirmacao de identidade e eh muito mais provavel acontecer nas baixissimas classes medias de cor do que nas ricas e brancas, onde so existem uns 10 nomes de homem, por exemplo (David, John, Michael, William, Steve, etc).

      Esses nomes NAO tem a ver com complexo de inferioridade social que estamos vendo nos casos das Belvederes e High Towers da vida e nao me incomodam em nada;  como diz a Dax, I don’t quero.

      (Sim, o nome da minha filha eh Dax.  Nada a ver com auto afirmacao de identidade, eh que eu nunca tinha ouvido um nome mais bonito antes.  MInha esposa concordou com a beleza do nome.  Um dia ela foi com a Dax pro Brasil e uma gravida perguntou o nome do bebe e ela disse e a gravida disse “que nome mais lindo”!  Advinhe o nome da filha dela hoje.)

  5. Eh o complexo de vira-lata

    A  pseudo estatua da liberdade em um shopping na Barra da Tijuca sempre foi uma das coisas mais bregas do nosso colonialismo. Ha muito tempo a jornalista Rosana Herman fez um post em seu blog para debochar do presidente Lula que, segundo ela, pronunciava Davos mal. Fiquei pesando como o brasileiro classe média remediada é besta mesmo e fica imitando os que eles acha que são chiques. Jamais um francês iria se procupar em pronunciar São Paulo em bom português. Desde que se faça entender, esta bom. Alias, os americanos e ingleses não entendem nada das pronuncias de nomes ou cidades que os franceses pronunciam como se escreve. 

  6. Pois na China a situação esta

    Pois na China a situação esta pior. Vi no Vice desta semana (excelente programa de reportagens produzido por Bill Mahers e transmitido pela HBO) que nos empreendimentos comerciais chineses sempre tem que ter um branco ocidental para acrescentar status. As agências de modelos oferecem qualquer tipo de serviço e até mesmo em conferências médicas são usados falsos médicos para atrair público.

    a explicação de um jornalista chinês para a valorização do branco foi de que a China esteve muito tempo fechada e quando abriu para produtos ocidentais, esses eram melhor do que o produto chinês daí a super valorização do ocidente.

  7. Luiz Fernando Veríssimo

    Luiz Fernando Veríssimo sempre nos brindando com suas ideias maravilhosas, saitrizando o que existe de pior no nosso povo. 

    Lembrei-me dos argentinos e uruguaios, que são totalmente distintos de nós. Pra eles, Aides é SIDA, LYCRA é Licra. Eles esapanholizam qualque palavra, na boa. 

    O pior é ver os coitados dos analfabetos, ou semi-analfas tendo que dizer o nome dos prédios onde trabalham, ou para indicá-los aos outros. A lista de nomes estrangeiros batizando os prédios é infinita.

  8. Esse é o resultado de anos e

    Esse é o resultado de anos e anos de colonialismo cultural, sobretudo por parte da grande mídia IMPORTADINHA que nos entope com enlatados americanos das 7 às 6, como diria o Renato Russo, e quer nos fazer crer que tudo no BRASIL é uma MER… e que lá nos ‘isteitis’ é tudo uma maravilha.

     

    Puaaahhhhhhh ….

     

    Quanto a mim, adoro BEATLES e GENESIS, mas não dispenso pixiguinha, cartola e CHICO e o chorinho nacional.

     

    …..  Abs 

    NO PASSARÁN!! VIVA GENOÍNO!! VIVA ZÉ DIRCEU!! VIVA A LIBERDADE, A DEMOCRACIA E A LEGALIDADE!! VIVA LULA!! VIVA DILMA!! VIVA O PT!! VIVA O BRASIL!! ABAIXO A DITADURA DO STF DE 4 PARA A GLOBO !! ABAIXO A GRANDE MÍDIA LEWINSKYANA & SEUS ASSECLAS e PAPAGAIOS !! CPI DA PRIVATARIA TUCANA, JÁ!! LIBERDADE PARA BRADLEY MENNING e EDWARD SNOWDEN !! FORA YOANI !! LEI DE MÍDIAS, JÁ!! “O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES – O que passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÃO & GOLPES é um braZil-Zil-Zil para TOLOS”

  9. Aqui mesmo no Blog há idiotas que postam em inglês…

    Nenhum site de notícias do mundo que nao seja destinado a imigrantes ou associado a cursos de línguas publica em língua estrangeira. Mas aqui neguinho acha que pode. É um desrespeito com os outros leitores, que nao aao obrigados a saber outras línguas (e nao é só inglês nao; até em alemao já vi gente publicando aqui…). E mesmo se todos falassem a língua estrangeira, ainda assim seria manifestaçao da mentalidade de vira-latas colonizado.

    1. Contraponto

      Vi em várias oportunidades pessoas postando artigos em inglês como contraponto a algum artigo publicado na imprensa nacional, sabidamente partidária.

      Nem sempre essas pessoas têm tempo ou conhecimento aprofundado da língua para poder fazer uma tradução, embora tenham condição de ler e entender o texto.

      Se você acha que postar um artigo em inglês defendendo por exemplo alguma política social duramente criticada na imprensa brasileira, é uma ofensa, sinto em discordar. É verade que é uma pena que tal artigo não seja traduzido, mas infelizmente o Google translator ou outras ferramentas de tradução simultânea aindanão têm o nível de qualidade adequado para serem confiáveis.

      Entre postar uma informação que só uma parte dos leitores possa entender e não publicar, prefiro a opção de divulgar o conteúdo.

  10. Dona Offélia

    Luna, gente,

    este lance ocorreu há uns bons anos, quando eu era mais jovem (!) e menos tolerante que hoje.

    Passeava em frente a lojas, sem pressa nem compromisso, à espera de uma pessoa, quando deparei com garrafais “30% OFF!!!”.

    Não me contive, entrei na loja e perguntei à primeira vendedora:

    – O que significa aquilo?

    – Aquilo o que, senhor?

    – Aquilo escrito em letras enormes no vidro da vitrine frontal!

    – Ah, moço, é que estamos liquidando tudo, com 30% de abatimento.

    – E aquele OFF, o que quer dizer?

    – Não sei, senhor, deve ser do nome da dona da loja, a Sra Offélia…

     

    Até.

  11. Aportuguesando

    Certa feita estava na fila do cinema para assistir o filme Homem Aranha,  chega um jovem e me pergunta: aqui ê a fila para assistir Spaid Men? Distaído respondi, não, é o Homem  Aranha. Em ato contínuo pedi desculpa e falei que estava distraído e que não me levasse a mal, mas prefiro aportuguesar as palavras ao estrangeirismo.

  12. Não tem jeito, isso é Português.
    Embora alguns se sintam chocados com a introdução de termos exógenos no léxico do Port. Brasileiro, saibam que isso está longe de causar uma “extinção” da mesma. Ora, o inventário lexical de uma língua tem exatamente a função de ser uma vastíssima coleção de termos, ali há termos em uso atualmente, termos que nunca mais serão utilizados e os que serão utilizados um dia, posto que nossa morfologia permite a criação de novos termos ou os que serão introduzidos pelos “empréstimos”. No entanto, a língua não é apenas esse inventário de termos, o léxico representa uma das camadas da Língua. Por mais que seja deselegante ouvir “kitchen” ao invés de cozinha, saibam que estamos falando português em ambos os casos, pois, tanto a pronúncia, como o uso sintático do termo sempre estarão em português. Basta observarmos o que já ocorreu com o termo “kitchenette”, grafado de muitas maneiras, ou a mudança da acentuação de termos como “hilux” ou “Facebook”, ou de como ficamos constrangidos ao ditongar e acentuar anglofonamente o termo “matrix”.

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