Agências de rating: os batedores cegos da globalização

A Coluna Econômica de amanhã será sobre as agências de rating.

Digo que poucas vezes na história econômica mundial, deixou-se a economia mundial à mercê de um grupos de instituições tão desaparelhadas quanto essas agências.

No início da globalização eram apresentadas como os batedores da cavalaria norte-americana, que avisavam se na frente havia índios armados ou não..

Economia e contabilidade são formas diferentes de conhecimento.

A economia estuda as correlações entre setores, a dinâmica do mercado, o impacto futuro de medidas monetárias e fiscais. Já a contabilidade até trabalha com tendências – por exemplo, índices de solvência de uma empresa – mas não com correlações nem com a dinâmica de crescimento (ou queda) da empresa.

Há momentos em que a contabilidade retrata melhor a situação do que a economia.

Suponha que o governo resolva cortar os serviços de manutenção de uma estrada para gerar superávit. Simplesmente jogou para a frente um custo. A contabilidade registra através da conta de depreciação. Já o cabeça de planilha vai levar em conta apenas os reais economizados naquele ano.

Quando entram na análise de países, no entanto, os cabeças de formulário das agências de rating são um desastre.

Tome-se o caso da Argentina sob Domingo Cavallo. O país esvaía em sangue, atividade econômica no ralo e, por consequência, a arrecadação fiscal em queda. As agências exigiam choques fiscais. A cada choque, a economia argentina piorava, a governabilidade ia para o ralo, mas as agências acenavam com a possibilidade de melhoria do rating.

É em tudo similar ao que a Standard & Poor’s fez com o pacote fiscal de Obama.

A economia americana está combalida. O choque fiscal vai produzir mais recessão – e, consequentemente, menos arrecadação e emprego. Mesmo assim, a S&P considerou o pacote insuficiente e rebaixou o rating do país.

O desastre ocorrerá nos próximos anos, com a recessão norte-americana. Mas nem se pense que as agências não conseguem enxergar um ano à frente: muitas vezes não conseguem enxergar uma semana à frente.

Foi assim na crise da Argentina. Em minhas colunas sempre critiquei a superficialidade das agências, o fato de reduzir todas as análises à questão fiscal, de supor que o equilíbrio fiscal resolveria, per si, desequilíbrios externos.

Pois meus amigos brasileiros da S&P trouxeram para uma conversa o responsável geral pela América Latina – sediado em Nova York. O tema foi a Argentina. Critiquei as recomendações para choque fiscal em uma economia combalida e disse que era questão de tempo para a Argentina explodir. E ele: que nada, a Argentina vai dolarizar sua economia e tudo estará resolvido.

Não costumo me exceder em debates, mas não aguentei. Perguntei se tinha enlouquecido. Disse que a situação argentina explodiria em questão de dias – de fato, explodiu UMA SEMANA depois. Mas o sujeito na minha frente era incapaz de ver não um iceberg mas uma cordilheira de gelo flutuante vindo em direção ao navio.

É esse pessoal que comandou a economia internacional nas últimas décadas.

Torço para que a avaliação sobre a economia norte-americana marque o ocaso desse povo. 

Luis Nassif

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