Capitais da Amazônia puxam lista de cidades brasileiras que mais vão esquentar até 2050

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
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O Greenpeace cobra urgência do governo federal na reestruturação do Plano Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas (PNA)

Protesto da organização engajamundo antes da Cúpula da Amazônia. Foto: Paloma Rodrigues/g1

Estudo feito pela CarbonPlan em parceria com o jornal The Washington Post calculou quantos dias de calor a mais cada cidade poderá enfrentar até 2050. O Brasil conta com 20 capitais na lista, sendo que as primeiras seis que mais terão dias quentes estão na Amazônia.

A metodologia da análise leva em consideração a temperatura do ar, a umidade, a radiação e a velocidade do vento. Já a temperatura de 32ºC foi usada como marco para determinar um “calor extremamente arriscado” para a saúde humana.

Manaus (AM) lidera a lista com 258 dias no ano em que a temperatura será de 32ºC ou superior a isso. Belém (PA), no entanto, o estudo estima que será a capital com o maior crescimento de dias de calor extremo com previsão de 222 dias – um salto equivalente a seis meses em relação aos dados dos anos 2000.

Na sequência está Porto Velho (RO), com até 218 dias de calor no patamar de temperatura do estudo, Rio Branco (AC), registrando até 212 dias, Boa Vista (RR), com até 190 dias no ano, e Macapá (AP), chegando a 185 dias. 

A primeira cidade da lista mundial apresentada pelo estudo da CarbonPlan é Pekanbaru, na Indonésia, que pode ter 344 dias de calor extremo em 2050.

Reestruturação do PNA

O coordenador da frente de Justiça Climática do Greenpeace Brasil, Igor Travassos, diz que o cenário de oscilações bruscas de temperaturas registradas e o alerta de calor extremo em diversos estados, com termômetros registrando, nas últimas semanas, temperaturas acima de 40 graus, são consequências diretas das mudanças climáticas. 

“Provocadas principalmente pelas emissões desenfreadas de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera e pelo desmatamento. Essas altas temperaturas são eventos climáticos extremos e também impactam a população de forma desigual”, afirma. 

Travassos ressalta que existe uma parcela da população exposta diariamente ao sol e ao calor, são as pessoas em situação de rua, comerciantes informais e trabalhadores que realizam suas atividades ao ar livre. “Quando voltamos o olhar para essas pessoas, estamos falando de uma maioria negra, de mulheres, pessoas vulnerabilizadas”, denuncia.

Ele explica que o Greenpeace cobra urgência do governo federal na reestruturação do Plano Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas (PNA). A intenção é que as cidades e territórios estejam preparados para enfrentar a crise climática. “É importante que a reestruturação do plano seja feita com a devida participação das pessoas mais impactadas”, explica.

Quando o Greenpeace fala em adaptação, Travassos explica que se fala em preparo. “O sistema de saúde, por exemplo, precisa estar preparado para a crise climática. De igual importância, precisamos adaptar as escolas e universidades, o transporte público. São diversas estruturas e segmentos que precisam ser repensados para garantir a vida das pessoas”, diz.

Desmatamento na Amazônia

Nos primeiros sete meses de 2023, conforme o Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento na Amazônia teve queda de 42,5%, se comparado ao mesmo período do ano passado. Ocorre que em nove meses (entre agosto de 2022 e abril de 2023), a Amazônia perdeu 5.936 km². 

É o maior valor da série histórica para esse período, conforme o WWF, superando em 20% o que foi registrado entre agosto de 2021 e abril de 2022. Para ambientalistas e lideranças de povos da Amazônia, a redução deve ser celebrada, mas a destruição ainda segue alta.  

O estado do Amazonas foi o que registrou a maior redução de janeiro a julho. A queda de 62% vai na contramão do aumento de 158% no período de agosto a dezembro de 2022. Rondônia veio em seguida, com um decréscimo de 60% nos sete primeiros meses de 2023. No Pará, houve redução de 39% e, em Mato Grosso, de 7%.

Cerrado: mais calor à vista  

O estudo usou dados para produzir previsões sobre a frequência com que pessoas em quase 15.500 cidades enfrentariam um calor tão intenso que poderiam adoecer rapidamente. Um outro bioma bastante castigado no Brasil abriga outras duas capitais em que se acresce muitos de calor. 

O Cerrado é o bioma em que estão as capitais que mais terão acréscimos de dias quentes até 2050 depois da Amazônia. Cuiabá (MT) terá até 168 dias e Palmas (TO), 158. 

Segundo dados do Deter0-, divulgados em junho deste ano pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, em maio houve um estouro de desmatamento no Cerrado de 83% com 1.326 km² de área. 

Nos cinco primeiros meses de 2023, o Deter flagrou 3.532 km² de Cerrado desmatado, 35% a mais que o visto no mesmo período do ano anterior. A devastação registrada tem 77% dela localizada em propriedades registradas no Cadastro Ambiental Rural (CAR).   

Na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) foi observado o maior número de avisos de desmatamento. Essa é uma região formada por áreas majoritariamente de Cerrado.

Bilhões de pessoas afetadas

Até 2030, estima o estudo, mais de 2 bilhões de pessoas estarão expostas a um mês inteiro de temperaturas médias acima de 32 °C. 

Avançando até 2050, mais de 5 bilhões de pessoas estarão expostas a pelo menos um mês de calor extremo, que ameaça a saúde em caso de exposição ao sol. 

O mundo hoje comporta 7,8 bilhões de pessoas, conforme dados de 2020. Até  2030, a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que a população mundial pode atingir 8,5 bilhões de pessoas. 

Outras capitais no estudo 

Na sequência do estudo estão Teresina (PI), 155 dias, São Luís (MA), 83 dias, Campo Grande (MS), 39 dias, Rio de Janeiro (RJ), 22 dias, Porto Alegre (RS), 8 dias, Florianópolis (SC), 7 dias, Goiânia (GO), 6 dias, Aracaju (SE), 3 dias, João Pessoa (PB), 3 dias, Natal (RN), 3 dias, Salvador (BA), 2 dias e Belo Horizonte (MG), 1 dia. 

Conforme o estudo, as outras capitais, incluindo São Paulo, são citadas como zero dias ou seus dados não estavam disponíveis. Brasília, capital federal, encravada no Cerrado, também aparece com zero dias.

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Renato Santana

Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.

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