Trabalho infantil, o pior dos pecados

do blog Direitos Humanos no Trabalho

Antes de começar a escrever este artigo, digitei “trabalho infantil” na caixa de pesquisas do Google e ele identificou 2.818.346 sites tratando do tema. Não imaginava tanto, mas sabia que chegaria a um número grande. Afinal, este é considerado, em todo mundo, um dos maiores pecados da sociedade.

Com quase três milhões de páginas no Google sobre trabalho infantil, o que me restaria a dizer sobre o tema? Há estudos todas as naturezas, análises às vezes até exóticas, estatísticas sem fim… O que este ignorante blogueiro poderia acrescentar ao tema?

Mas o ditado que diz que Deus escreve certo por linhas tortas é infalível. Antes que eu desistisse do tema, na sexta feira passada, a Dona Rosa que é a empregada doméstica aqui de casa, veio me dizer que tinha trazido com ela a filha de 10 ou 11 anos, já que a escola da menina estava em greve e ela não tinha com quem deixá-la. Até aí não havia problema algum, não parecia haver nenhum inconveniente. Mas no decorrer do dia, fiquei observando que a Dona Rosa botou a filha para ajudá-la em suas tarefas: a menina limpou banheiros, varreu a casa e mais um sem número de tarefas que a própria Dona Rosa faz sozinha todo dia.

Depois de algumas horas, aquela situação começou a me deixar incomodado. Afinal, eu estava dando cobertura a uma situação de trabalho infantil. Apesar de não ter sido minha iniciativa e do fato de que eu não estava sendo especialmente beneficiado, estava fazendo vistas grossas para uma situação de trabalho infantil acontecendo sob as minhas barbas.

Lembrei-me, então, de uma noite algumas semanas atrás que pedi uma pizza do delivery do bairro, que fica bem ao lado do meu prédio. A pizza foi entregue por um menino que não tinha mais que 12 anos. Franzino, sumia atrás da caixa da pizza.  O fato me chamou atenção e perguntei a ele se trabalhava na pizzaria.  Disse que o pai era garçom e nas noites que a mãe, Auxiliar de Enfermagem, estava de plantão – 2 ou 3 vezes por semana – ele vinha com o pai e fazia entregas nos locais próximos, que podiam se acessados a pé. Recebia, em troca, a gorjeta que os clientes davam. E podia comer pizza e tomar refrigerante à vontade.

Nos dois casos tratava-se indubitavelmente de “trabalho infantil”, ilegal, cruel e criminoso. Parece muito radical? É mesmo. Porque a exploração de crianças é o maior dos pecados no mundo do trabalho e se não formos radicais, severos, acabamos sendo condescendentes.

Outras situações foram surgindo na minha memória. Algum tempo atrás fiz uma apresentação sobre direitos humanos para os funcionários de uma corporação e o tema do trabalho infantil foi naturalmente abordado por mim, com o rigor que costumo falar desse assunto. Depois da apresentação fui procurado por quatro mulheres que trabalhavam na empresa como faxineiras e que tinham um problema comum. Todas tinham arrumado um trabalho para suas filhas, de 12 a 14 anos, como empregadas domésticas em casas de família para onde elas iam quando saiam da escola. E elas me diziam que era muito mais seguro e saudável para as filhas ficarem trabalhando numa casa de família do que estarem sozinhas em casa, no perigoso bairro onde moravam. Lá certamente entrariam em contato com as drogas, com a prostituição e com a violência. Os argumentos das quatro mães eram impecáveis e eu não podia deixar de dar-lhes razão. Mas não havia dúvida que era exploração de trabalho infantil.

Decidi, então, que tinha um ponto de vista para falar sobre o trabalho infantil: o quanto ele está perto da gente e o quanto somos coniventes com eles.

Olhei, então, as estatísticas do Google sobre trabalho infantil. O trabalho doméstico é o seu maior usuário. É comum e corriqueiro que, quando a mãe sai para trabalhar, a filha de 13 ou 14 anos fica integralmente responsável por todos os afazeres domésticos – lavar, cozinhar, arrumar – e ainda tem que cuidar dos irmãos menores. Frequentemente, essas responsabilidades a impedem até de frequentar escola depois de ter aprendido ler e escrever no ensino fundamental, até os 10 anos de idade.

A mesma coisa acontece na área rural, onde a mãe tem que ir ajudar no plantar e no colher. E, às vezes, as próprias crianças, também. Na época de colheita, quando faltam braços, chegam a abandonar a escola para ajudar a família.

Essas talvez sejam as situações de trabalho infantil mais difíceis de erradicar.  Quando falamos de crianças em carvoarias, na mineração, na construção civil, é fácil. É uma questão de polícia. E nessas situações em que o trabalho infantil acontece dentro da própria casa da criança? Você sabe como resolver essa questão?

Caiubi Miranda

Redação

2 Comentários

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  1. Não é o pior dos pecados, o

    Não é o pior dos pecados, o PIOR É CRIANÇAS NO CRACK e para isso não existe Ministerio Publico, porque não dá midia.

    Adolescentes de 14 anos no trabalho nunca fez mal, empresarios e executivos importantes começaram como office-boys de 14 anos, agora isso não se vê mais porque existe o ECA que produz o seguinte efeito:

    Criança e adolescente deve só estudar até os 18 anos, então milhões NÃO ESTUDAM E NEM TRABALHAM, o que fazm?

    Vão para as ruas, para a marginalidade, isso é o que dá “teoricos bem intencionados” com poder de interferir na sociedade.

  2. Viraram surfistas, não querem mais trabalhar

    Há alguns anos na praia de Pipa, RN, acompanhei uma roda de conversa na praia. Pescadores locais reclamavam que já não podiam ensinar seus filhos a pescarem assim como tinham aprendidos com seus pais. Levar os moleques junto na lida diária no mar era considerado trabalho infantil. Diziam: só podemos levar os moleques depois dos 16 anos, mas ai eles já viraram surfistas, não querem mais trabalhar(pescar)….

     

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