sábado, 20 de abril de 2024

De onde vem o nosso super-ministro da economia?, por Ladislau Dowbor

O relatório anual do Valor Econômico de 2015 apresenta o conjunto de empresas controladas pelo grupo BTG Pactual.  Principal executivo André Santos Esteves. Co-fundador Paulo Guedes.

Agência Brasil

De onde vem o nosso super-ministro da economia?

por Ladislau Dowbor

em seu site

Ninguém se reinventa. E ninguém é chamado para dirigir a 8ª economia do mundo sem ser apoiado por um conjunto de interesses. Neste país onde se cobra ao mês juros que no resto do mundo se cobra ao ano, onde afundaram em dívidas 64 milhões de adultos, além das pequenas e médias empresas, e até o Estado com a dívida pública, vale a pena lembrar de quem se trata.

Economist de 13 de dezembro de 2018, na reportagem “Jair Bolsonaro must tackle Brazil´s soaring pensions spending” apresenta o nosso novo ministro da Economia: “Paulo Guedes, who studied at the University of Chicago and co-founded BTG Pactual, Brazil’s foremost home-grown investment bank”. Portanto, universidade de Chicago, onde se formaram os chamados “Chicago boys” que apoiaram ditaduras e desastres sociais por onde passaram. E no Brasil, co-fundador do Banco BTG Pactual.

Vale a pena dar uma olhada no que é esse banco. O relatório anual do Valor Econômico de 2015 apresenta o conjunto de empresas controladas pelo grupo BTG Pactual.  Setores de atividade: bancos comerciais e múltiplos, corretoras e distribuidoras de valores. Principal executivo André Santos Esteves. Co-fundador Paulo Guedes.

Investment bank parece respeitável, mas em inglês não existe o conceito de aplicação financeira, qualquer atividade especulativa é apresentada como investment. Economist por vezes distingue productive investment speculative investment. O que o Pactual faz mesmo é wealth management, ou seja, gestão de fortunas, trabalhando com o que se chama internacionalmente High Net Wealth Individuals, ajudando os muito ricos a ganhar mais dinheiro com dinheiro. E assegura também a intermediação financeira para empresas que buscam “otimizar” os seus fluxos financeiros, na linha do asset management. No conjunto, trata-se de otimizar os ganhos financeiros dos mais ricos. Não se trata, evidentemente, de desenvolver atividades produtivas, pelo contrário, trata-se de drená-las.  

O mecanismo aparece de forma muito clara ao constatarmos a dimensão e importância da “ponte” que foi montada entre os grupos no Brasil e os paraísos fiscais. Elencamos aqui as empresas do BTG Pactual sediadas em paraísos fiscais. A quase totalidade com controle 100%. Não é ilegal ter filiais em paraísos fiscais, mas serve essencialmente para especulação, evasão fiscal, lavagem de dinheiro e acobertamento de corrupção, tanto de empresas como de pessoas físicas. Ter quase 40 filiais em paraísos fiscais deixa claro o perfil de atividades do banco. Não é o único, naturalmente, e o BTGPactual inclusive aprendeu com a UBS (Union des Banques Suisses).

Em 2015, o “Valor Grandes Grupos” publicou um organograma do BTG Pactual, nas páginas 128 a 131, que nos permite acompanhar a lista das filiais do banco. Ele pode ser acessado neste link –   https://dowbor.org/2019/04/btg-pactual-valor-grandes-grupos-2015.html/ –, ou clicando na imagem abaixo:

Ao observarmos o organograma acima, chegamos na lista das filiais do BTG localizadas em paraísos fiscais:

  1. Banco BTG Pactual  (Cayman Branch)
  2. BTG Pactual Overseas Corporation (Ilhas Cayman)
  3. BTG Pactual E&P S.a.r.l. (Luxemburgo)
  4. BTG Pactual Chile International Limited (Ilhas Cayman)
  5. BTG Pactual Oil & Gas S.a.r.l. (Luxemburgo)
  6. BTG Pactual Carry L.P. (Cayman)
  7. BTG Pactual Holding S.a.r.l. (Luxemburgo)
  8. BTG Global Asset Management Limited (Bermuda)
  9. Banco BTG Pactual S.A. Filial (Luxemburgo)
  10. BTG Pactual Chile International Corp. (Panamá)
  11. BTG Bermuda LP Holdco Ltd. (Bermuda)
  12. BTG Investments LP (Bermuda)
  13. BTG Pactual Proprietary Feeder (1) Limited (Ilhas Cayman)
  14. BTG Pactual Brazil Infrastructure Fund II LP (Cayman)
  15. BTG Pactual Reinsurance Holdings  LP (Bermuda)
  16. BTG Pactual Brazil Investment Fund I LP (Cayman)
  17. BTG Pactual Brazil Investment Fund IA LP (Cayman)
  18. BTG Pactual Brazil Investment Fund IB LP (Cayman)
  19. BTG Pactual Prop Feeder (1) S.a.r.l. (Luxembourg)
  20. BTG PactualBrazil Infrastructure Fund II Direct LP (Cayman)
  21. BTG Re Ltd (Bermuda)
  22. BTG Pactual Brazil Investment Fund I LLC (Delaware)
  23. BTG Pactual Brazil Investment Fund IA LLC (Delaware)
  24. Btg Pactual Brazil Investment Fund IB LLC (Delaware)
  25. BTG Pactual Stigma LLC (Delaware)
  26. Reserve Insurance Co Ltd (Gibraltar)
  27. BTG Pactual Brazil Investment Fund I Feeder LLC (Delaware)
  28. BTG Pactual Brazil Investment Fund IA Feeder LLC (Delaware)
  29. BTG Pactual Brazil Investment Fund IB Feeder LLC (Delaware)
  30. BTG Swiss Services S.A. (Suiça)
  31. BTG Pactual Brazil Infrastructure Fund II LLC (Delaware)
  32. BTG Loanco LLC (Delaware)
  33. BTG Pactual Brazil Investment Fund I Feeder LLC (Delaware)
  34. BTG Equity Investments LLC (Delaware)
  35. BTG Pactual Brazil Infrastructure Fund II LLC (Delaware)
  36. BTG Pactual ARF Master Fund LP (Cayman)
  37. BTG Pactual Propertyco LLC (Delaware)
  38. BTG Pactual Propertyco II LLC (Delaware)

É útil lembrar que segundo o Tax Justice Network de Londres, em 2012, o Brasil tinha 519,5 bilhões de dólares em paraísos fiscais, equivalentes a cerca de dois trilhões de reais, um estoque que representa, como ponto de referência, quase um terço do PIB do país. É dinheiro que não só não é reinvestido no país, como não paga impostos, e desarticula as políticas econômicas legais.

O site do banco apresenta, como todos, os seus elevados princípios éticos, integridade etc., e os lucros correspondem à altura. Na realidade, trata-se evidentemente de drenos sobre a economia produtiva, e a densidade da rede de paraísos fiscais sob seu controle mostra bem o destino. (Para compreender como funciona, veja o meu capítulo sobre paraísos fiscais em A Era do Capital Improdutivo, capítulo 6, e vídeo de 12 minutos.

O nosso super-ministro tem essas raízes, e navega na solidariedade com os interesses financeiros. Passar a previdência para o controle dos bancos privados, desvincular as receitas do Estado para que possam se apropriar do financiamento da educação, saúde e outras políticas sociais, buscar a apropriação da gestão do FGTS – tudo em nome de reduzir o déficit do Estado, aumentando o rombo que precisamente os bancos geram, é bastante coerente com sua trajetória.

Mas não corresponde às necessidades nem da massa da população que precisa de mais renda e crédito barato, nem das empresas que precisam da demanda dessas famílias para ter para quem vender e de crédito barato para poder investir. O déficit público? Se reduz justamente dinamizando a demanda das famílias e as atividades empresariais, que por sua vez geram mais receitas para o Estado. Há quatro anos estamos parados. O sistema financeiro tem de voltar a financiar a economia, não os rentistas.

Artigo originalmente publicado no Diplo – Brasil:
https://diplomatique.org.br/de-onde-vem-o-nosso-super-ministro-da-economia/?fbclid=IwAR0LxUMeA2S8R52Dfl3BRv4GCmZaOCWk3aPiim5O8RDLmR7UQL2Dg76ZVYo


Redação

4 Comentários

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  1. E recentemente, um membro do governo pediu exoneração exatamente para trabalhar nesse BTG. Com informações privilegiadas foi direto para o banco e, outrora. assim como ele, outros que tais, então autores ou co autores do afamado plano real, que entraram no governo como “bancários” e de lá saíram como “banqueiros” e mais ainda, como espetaculares economistas, a quem não se pode, de modo algum, contestar, porque eles sabem tudo sobre a disciplina e mais ainda sobre todas as coisas do mundo e não raro, do além!!!. Mas um olhar atento sobre o trabalho deles vai mostrar três atividades concretas: 1) privatizar; 2) privatizar mais, 3) privatizar mais ainda!!!!! E nada mais, porque está posto todo o plano e projeto de governo deles. E com esse passe de mágica, vamos nos tornar uma potência sem igual, porque assim vão desejar os empresários e os empreendedores, estes com a coroa do “Self made man”, que começaram a vida vendendo amendoim na porta do supermercado ou mexerica na porta da feira e superaram todos os desafios e concorrentes se tornando milionários .

  2. Quem quer mais? Pegar cerca de 400 milhões de reais emprestados pelo BB que, acrescidos das estrovengas financeiras (multa, juros altíssimos, correções monetárias nas alturas etc e tal), beira um saldo de cerca de 3 bilhões de reais, incobráveis, pois, criminosos e levar pra “casa” pra devolver aos mesmos devedores dos cerca de 3 peçonhentos bilhões de reais de ar, confete e serpentina, por, digamos, um terço? Pois é, riqueza gera riqueza na mão de rentistas-especuladores: sem contar que, como o BB vendeu seus créditos, as anotações cadastrais negativas dos “tomadores” são zeradas de imediato. Então, façamos assim, fiquemos devendo pros BB da vida e depois, por debaixo dos cílios postiços, compremos a nossa (im)própria dívida por cerca de 12% do saldo devedor pagando “algum” pelo transporte entre o BB e o novo “credor”. Negócios melhor não existe. Mera especulação, talvez…

  3. Visão sugere que o Brasil não vai resistir à ganância dessa gente…
    o que tem menos valor para essa gente é o Brasil, é por isso abre mão do seu desenvolvimento

    e quando um avarento abre mão de algo, pode ter certeza absoluta que é para destruir e lucrar com a sua destruição (lucro pelo lucro)

    Tenho alguém lá dentro que é de dar pena; tão jovem e tão pão duro que vive de abrir mão da vida, da sua juventude, só para juntar dinheiro.
    Além de destruir o país, com incentivos à fuga de capitais, destroem pessoas

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