Um espectro ronda São Paulo, a Feira Nacional da Reforma Agrária, por Igor Felippe Santos

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Foto Rede Brasil Atual

Um espectro ronda São Paulo, a Feira Nacional da Reforma Agrária*

por Igor Felippe Santos

A disputa de projetos para a agricultura brasileira se apresentou para a sociedade na realização na mesma semana de duas grandes feiras. Na cidade de São Paulo, maior centro urbano do país, os acampados e assentados da reforma agrária, organizados pelo MST, promovem a 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária. Em Ribeirão Preto, berço do agronegócio no interior paulista, associações dos grandes latifundiários realizaram uma das maiores feiras do segmento, a 24ª Agrishow.

A feira da reforma agrária, que envolve mais de 800 camponeses e camponesas de 23 estados, comercializa 280 toneladas de alimentos para os paulistanos. É arroz, feijão, tomate, mandioca, cebola, banana, abacaxi, queijos, leite, mel, suco de uva, produzidos em pequenas propriedades, a maior parte sem agrotóxicos.
O evento do agronegócio exibe inovações tecnológicas para a produção em latifúndios, como tratores, colheitadeiras, podadoras, trituradores, escavadeiras, aeronaves, pulverizadores, voltados para a produção em grandes propriedades voltados para exportação, como soja, milho, carnes, algodão e etanol.

Enquanto uma feira expõe a produção de famílias de trabalhadores rurais de todas as regiões, que conquistaram a terra em um programa público de reforma agrária, a outra exibe máquinas modernas fabricadas por grandes empresas privadas, inclusive estrangeiras. (link: http://agrishow.infoexpo.com.mx/2017/ae/web/plano/public?lan=pt&view=1) .

Se uma tem como público-alvo pessoas comuns, famílias que vivem em São Paulo e querem comprar uma variedade de alimentos diretamente dos produtores, a segunda é voltada para médios e grandes empresários que pagam em torno de 30 reais pelo ingresso (https://www.agrishow.com.br/pt/visitar/ingresso-agrishow.html) para conhecer as novidades tecnológicas para renovar seus bens de produção e sobreviver em um mercado altamente competitivo.

Independente do juízo de valor que qualquer um possa fazer em relação às mostras, o caráter público da feira da reforma agrária é mais do que evidente.

No entanto, o Jornal da Band, apresentado na noite desta sexta-feira (5/5), usa tom de denúncia para reportar a “polêmica” cessão de um parque público e acusa o apoio do governo municipal, estadual e federal à feira promovida por trabalhadores rurais que atuam no  MST. (link http://noticias.band.uol.com.br/jornaldaband/videos/ultimos-videos/16209342/parque-publico-e-usado-para-realizacao-de-evento-do-mst.html )

E logo em seguida, sem demonstrar nenhum constrangimento, apresenta uma “reportagem”, na realidade uma propaganda explícita da mostra de tecnologia do agronegócio.

A cessão de um parque público pelo governo estadual para uma feira aberta de camponeses de todo o país e o apoio institucional para a promoção da produção de assentados por meio do programa público de reforma agrária geram “polêmica” para a Band.

No entanto, não gera qualquer polêmica governo federal, governo estadual e prefeitura de Ribeirão Preto bancarem a Agrishow, que atende interesses eminentemente privados e ainda cobra ingressos para a entrada. Inclusive, não gera polêmica alguma o evento acontecer no chamado Centro da Cana, do Instituto Agronômico da secretaria de Agricultura e Abastecimento do governo estadual (http://www.iac.sp.gov.br/areasdepesquisa/cana/).

Ou seja, o governo do estado atuou com isonomia e cedeu espaços públicos tanto para a feira dos assentados como para os latifundiários.

O procurador de Justiça Márcio Fernando Elias Rosa, secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania de São Paulo, atuou de forma republicana. Já o secretário do Meio Ambiente, Ricardo Salles, indicado pelo PP e ex-diretor da Sociedade Rural Brasileira, que tentou barrar a liberação do parque, agiu como cão de guarda dos segmentos mais reacionários do latifúndio.

A reportagem claramente encomendada da Band tem objetivos claros: queimar o secretário Marcio Fernando, criar constrangimentos para o poder público e impor dificuldades para a realização das próximas feiras da reforma agrária.

A Agrishow está na sua 24ª edição, mas a família Saad e os segmentos mais atrasados do agronegócio não querem uma terceira feira nacional da reforma agrária no Parque da Água Branca, no coração da cidade de São Paulo.

Não admitem que os assentados tenham a oportunidade de mostrar à população a produção da reforma agrária. Não querem desvelar o potencial da pequena agricultura, que produz em quantidade e qualidade com apenas 15% do crédito destinado pelo governo federal no Plano Safra.

Não têm serenidade em acompanhar, com um raro sentimento de impotência, que milhares de pessoas possam ver com os próprios olhos não apenas a farta produção, mas o rosto, as mãos, o cuidado e a dedicação de um povo trabalhador que costuma ser chamado nos noticiários de invasores, baderneiros e bandidos.

Não suportam que aqueles que “invadem terra” melhoram de vida, obtém conquistas e, por meio da luta e do suor do próprio trabalho sem patrão, ocupem um parque no centro de São Paulo com a sua produção de alimentos, cultura, cara e coragem.

Não aguentam ver que a realidade fabricada – pelos latifundiários e seus braços ideológicos na grande mídia – cair por terra, diante da contradição imposta pela experiência concreta que a feira da reforma agrária proporciona a milhares de paulistanos desejosos de alimentos saudáveis de qualidade, quando se deparam com os resultados da luta do MST e da reforma agrária popular.

Os cães ladram e a caravana passa. Até a próxima feira nacional da reforma agrária em 2018!

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

4 Comentários

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  1. Alimentos Orgânicos na mesa do brasileiro

    Alimentos Orgânicos na mesa do brasileiro. Mais barato… Isso é conquista do Governo PT.

     

  2. um….

    Tamanha ignorância e bipolaridade é que acorrentam este país ao atraso. Com esta ideologia dos anos de 1960 e visão de Mundo de ilusões passadas, mas que se sucedem no comando do país, que entregamos de bandeja, totalmente de graça,  a maior parte do segmento da agropecuária nacional. Máquinas, tratores, especialistas, Centros de Excelência e Tecnologia, fertilizantes, Defensivos Agrícolas, remédios, quimicos, etc, etc, etc….E depois pagamos uma fortuna, preços extorsivos pelo que pideríamos produzir, Caro Felipe, me desculpe, mas que visão limitada que representa muito da nossa politica nacional? As grandes fazendas e grandes produtores não representam 10% da agropecuária brasileira. Informe-se. Se você tem nojinho de pisar em bosta de vaca, indico ler os artigos de um tal Rui Daher. Me parece que ele escreve em CartaCapital. abs.     

  3. Agricultura Familiar

    Recentemente participei de um encontro, em Alvorada do Norte/GO, sobre a titularização de terras. Tive a infelicidade, necessária, de assistir apologias ao Solidariedade, dono do Incra, agora. Um discurso sem noção do sem noção Zé Rainha Fº, e por aí foi. O que ficou claro, diante da urgência nas titularizações, é que sejam destinadas ao agrotudotóxico e aos estranjeiros. Senão vejamos: a região do Nordeste Goiano, conhecida como “Corredor da Miséria”, que tinha o menor IDH, há pouco mais de 5 anos atrás, recebeu, de 2010 à 2015, algo em torno de R$ 2.000.000,00, pelo P.A.A. Doação, através da Conab, isso, em 4 Municípios: Alto Paraíso de Goiás, Colinas do Sul, São João d’Aliança eTeresina de Goiás. Em 2016, a Conab Goiás amargou R$ 25.000.000,00 em Projetos aprovados e impedidos de opercionalizar por falta de repasse desse Governo. Vamos voltar ao corredor. Entregar as terras pro Latitudo, e ver a Chapada, que era dos Veadeiros, tornar-se a Chapada da Sojeira. 

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