Observatorio de Geopolitica
O Observatório de Geopolítica do GGN tem como propósito analisar, de uma perspectiva crítica, a conjuntura internacional e os principais movimentos do Sistemas Mundial Moderno. Partimos do entendimento que o Sistema Internacional passa por profundas transformações estruturais, de caráter secular. E à partir desta compreensão se direcionam nossas contribuições no campo das Relações Internacionais, da Economia Política Internacional e da Geopolítica.
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Argentina e as eleições no Brasil em 2026, por Angelita Matos Souza

A Argentina de Milei deve explodir ao final de 2026, ano eleitoral para nosotros, e talvez em 2025 a conjuntura já esteja pré-explosiva.

Quique Marzo – Flickr

Argentina e as eleições no Brasil em 2026

por Angelita Matos Souza

Escrevo desde Resistencia, capital do Chaco, uma das províncias mais pobres da Argentina. Segundo dados do INDEC (Instituto Nacional de Estadística y Censos), na região metropolitana de Resistencia, mais de 76% da população se encontra em situação de pobreza. No país, a pobreza alcança 52,9%, índice 11% maior que há um ano (dados do 1º semestre de 2024). Ou seja, hoje, mais da metade da população argentina é considerada pobre, e chama a atenção o empobrecimento das camadas médias.

Mesmo assim, a popularidade do presidente Javier Milei segue boa. Uma sondagem realizada no início de novembro indicou 49% de aprovação em nível nacional e 50% na província de Buenos Aires. Ouvi de um colega que quem detém a província controla o país, de outro que Buenos Aires não basta, mas a província é considerada crucial (a vida política aqui é bem territorializada).

O principal fator para a manutenção da aprovação popular a um presidente tão polêmico seria a impressão de que economia está melhorando, sendo a queda da inflação a evidência mais apontada pelos meios de comunicação e sondagens da opinião pública (e pelos motoristas de taxi/uber). Pelo jeito, pouco importa que a causa seja, em boa medida, porque “no hay plata” para o consumo.

Do meu ponto de vista, é preocupante a possibilidade real de sucesso do governo, pois pode resultar na replicação do “modelo motosserra” em outros países da região, modelo que o presidente Milei já disse estar exportando para os EUA de Trump (rs). E por “sucesso” entendo apenas o suficiente para garantir a sua reeleição.

No entanto, uma leitura me serviu de alento: Breve história del antipopulismo, de Ernesto Semán (2021). De fato, gostei de uma ideia do autor, segundo a qual, na Argentina, a ambição de restaurar a nação idealizada [existente antes da suposta “decadência populista”], por meio da domesticação dos setores populares, dura três anos. Isto é, a lua de mel entre governantes e insurgentes é de três anos. Se a situação não melhora, o país explode.

Não sei se verossímil, mas o autor aponta dados históricos. Inclusive na última ditadura (iniciada em 1976) teria sido assim. Em que pese todo o terrorismo de Estado, em 1979 a CGT convocou a primeira greve geral.

Assim sendo, a Argentina de Milei deve explodir ao final de 2026, ano eleitoral para nosotros, e talvez em 2025 a conjuntura já esteja pré-explosiva. Agora, se o presidente se reeleger, será no seu segundo mandato. O que pode não ser bom para a campanha eleitoral de 2026 no Brasil.

No mais, a Argentina profunda, o seu Nordeste, é muito bonito. O problema é que o país está muito caro e muitos argentinos (os que ainda podem) já se preparam para passar as férias em Santa Catarina. Certamente, estes votarão pela reeleição de Milei.


Angelita Matos Souza – Cientista Social, docente na UNESP, em intercâmbio na Universidad Nacional del Nordeste (UNNE-Argentina).

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1 Comentário

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  1. También entre los Hermanos há uma grande desigualdade social. Olha o contraste da imagem mostrada na matéria. contraste absoluto. De um lado esse carnaval, do outro, a fome total. Nada obstante o Milei se posicionou contra a Aliança contra a Fome, recuando posteriormente. Esse Milei é mais uma ratazana, tal qual o Bolsonaro e o Elon Musk, entre muitos outros ratos.

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