Argentina de Milei envia milhões de reservas em ouro para Londres, sem dar explicações

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Argentina envia ao exterior mais 1.500 barras de ouro do Banco Central avaliadas em 250 milhões de dólares de reservas do país

O ministro da Economia, Luis Caputo, com o presidente da Argentina, Javier Milei – Foto: Redes Sociais

A Argentina de Javier Milei enviou à Londres um terceiro carregamento com o que se calcula ter cerca de 1.500 barras de ouro do Banco Central, avaliadas em 250 milhões de dólares, segundo noticiou o jornal argentino C5N.

Nesta semana, um vídeo com caminhões transportando as reservas de ouro à capital do Reino Unido viralizou, levantando os questionamentos da população argentina e de críticos sobre a falta de transparência e o impacto da remessa milionária ao país.

“Estão levando o ouro e não querem falar”, afirmou o deputado do partido Frente de Todos, Sergio Palazzo, nesta terça-feira (20).

“Temos registrado, no mínimo, quatro ou cinco saídas de ouro do Banco Central para o exterior e quando fazemos a consulta pelos canais oficiais e institucionais que correspondem, a resposta do BCRA [Banco Central] é negar responder a todas as informações que solicitamos”, criticou.

O argumento do governo Milei é de que “qualquer dado ligado à localização estratégica poderá pôr em risco a segurança destes ativos, com o consequente impacto na política monetária e cambial”.

No final de julho, o ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, havia confirmado que o país estava enviando ao exterior barras de ouro das reservas internacionais do Banco Central, restringindo-se a falar que o envio “permitiria ao país obter retornos financeiros que não seriam possíveis de outra forma”.

Mas tanto o ministro, quanto outros canais do governo de Javier Milei não trazem transparência às razões para o retiro das reservas do país em ouro e envio ao Reino Unido. “É um governo que está demonstrando que não quer ser fiscalizado e não quer informar à sociedade o que está fazendo”, disse Palazzo, ao períodico argentino Pagina12.

Analistas entendem que os envios das remessas do país seria para fazer operações comerciais. Entretanto, criticam, uma vez que as reservas em ouro do Banco Central são os principais mecanismos de solidez para sustentar as moedas nacionais.

“Por que levam o ouro? Há diversas operações que podem fazer. Uma, a que o próprio [ministro da Economia] Caputo disse, se chama ‘compra e recompra’ do ouro, que é feita por meio do banco internacional de transações, a Basileia [na Suíça]. Mas por que para Londres? Porque não é possível monetizar o ouro para fazer uma operação mantendo-o no próprio país. Isso significa que vão fazer essa operação”, raciocinou o deputado.

Não só os parlamentares de oposição da Argentina questionaram as remessas, sem qualquer explicação, como diversos setores da sociedade civil. O coordenador de políticas institucionais da Casa de la Provincia de Tierra del Fuego, Alexis Román Kalczynski, também confirmou ao jornal RT que “não se sabe de nada” sobre as movimentações.

Kalczynski explicou que para a retirada do ouro do país é, ainda, necessário formalizar um procedimento junto ao Banco Central, que, por sua vez, não traz nenhum esclarecimento. Segundo o especialista, a saída do ouro “atenta diretamente contra a soberania argentina”, uma vez que Buenos Aires detém cerca de US$ 4,6 bilhões em ouro e não se sabe, exatamente, quanto foi enviado à Londres.

Outros políticos, como o partido União pela Pátria, de Cristina Kirchner e Sergio Massa, emitiram uma petição, pedindo a suspensão imediata do envio das reservas e o detalhamento das operações e riscos.

Ao jornal La Nación, Caputo disse que o envio dos recursos ao exterior possibilitava obter “um retorno sobre ele”, também sem trazer detalhes. “É muito melhor tê-lo guardado lá fora, onde você recebe algo”, limitou-se a responder.

Leia mais:

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Lembrei que o ilustre presidente do Banco Central, entre outros absurdos, fez a mesma coisa e, em que pese todas as suas falcatruas evidenciando claramente uma sabotagem ao Brasil, no máximo, ele vai ser investigado pelo conselho de ética e vai terminar seu mandato a frente do BC com todos os louros.
    Sobre a Inglaterra, é o mecanismo que ela faz há anos, saquear, explorar.. Podemos dizer seguramente que o País tem o título de maior traficante do mundo e, enquanto vendem aos imbecis a ideia de lucro pela especulacao de um valor monetário “imaterial” tomam suas riquezas e recursos. Deus salve a rainha! Ela deve estar tomando um bronze comum “grande comunicador” aqui do Brasil

  2. São grandes e vitoriosas as incursões do império anglo americano por estas bandas. Se numa dessas tardes soldadinhos argentinos enganados perdiam suas vidas reivindicando uma ilha gelada no meio do mar, a concessão inglesa das Malvinas (para los tontos) e Falklands para o império, agora Falklands se confirma enquanto concessão e a Argentina também passa para o domínio inglês, com o ouro, a terra e tudo o que nela há, os argentinhos inclusive.

  3. Duas hipóteses:
    – Ao deixarem o ouro argentino na Inglaterra, esta fica com uma apólice de seguro contra eventual reivindicação futura das Malvinas, com a possibilidade de confisco. Quanto Milei e seu escudeiro estão recebendo do rei na City? Ganharão o título de Sir?
    – Se a esquerda ganhar as próximas eleições argentinas, após a catástrofe Milei, este poderá imitar Juan Guaidó, autoproclamar-se presidente, no que será reconhecido por Washington e Londres – e também receberá as reservas de ouro internacionais do país para administrar…

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador