Observatorio de Geopolitica
O Observatório de Geopolítica do GGN tem como propósito analisar, de uma perspectiva crítica, a conjuntura internacional e os principais movimentos do Sistemas Mundial Moderno. Partimos do entendimento que o Sistema Internacional passa por profundas transformações estruturais, de caráter secular. E à partir desta compreensão se direcionam nossas contribuições no campo das Relações Internacionais, da Economia Política Internacional e da Geopolítica.
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Para onde vai a Argentina?, por José Francisco de Lima Gonçalves

É impossível estabilizar a economia argentina sem estabilizar sua moeda e isso significa ter uma moeda estável em relação ao dólar.

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do Observatório de Geopolítica

Para onde vai a Argentina?

por José Francisco de Lima Gonçalves

Passada a escolha dos argentinos de um presidente “anarco-capitalista”, as poucas informações disponíveis se misturam a fake news e desmentidos. Aguardamos reiterações de bandeiras da campanha e retratações em relação a temas tratados com oportunista sofreguidão na propaganda.

Em primeiro lugar, do ponto de vista estritamente político, Milei deve sua vitória a Macri e Bullrich. No cenário mais favorável a ele, será tutelado. Seu vice já se manifestou por revisão de punições a participantes da ditadura. Nada que o afaste de assumir. O importante será o comando sobre a política com um Parlamento de maioria dita de oposição ao novo governo.

Como está em voga, sai um governo dito de esquerda e assume um “liberal”. A história que vem desde 1990 continua. Privatizar o que for privatizável, havendo poucas oportunidades, cortar despesas e demitir gente. Defender a dor de agora para atingir um mundo melhor um dia.

O único resultado garantido é uma forte recessão. As condições da tutela farão viável – ou não – tal estratégia.

As bravatas proferidas na campanha, com destaque para as que se referem às relações internacionais, serão aos poucos relativizadas, senão ignoradas. É impossível estabilizar a economia argentina sem estabilizar sua moeda e isso significa ter uma moeda estável em relação ao dólar. Por sua vez, a única instituição capaz de apoiar a Argentina em tal desafio é o FMI. Desde logo porque ele foi concebido para operações da espécie.

Na estabilização da Grécia, o Fundo entrou com dinheiro, técnica e política, ao lado das instituições do euro e da Europa. Agora, seu aspecto político contará mais. O Mercosul não parece reunir condições de comandar uma atuação conjunta, haja vista a relativa tensão política em sua composição. O momento criado desde 1990, por outro lado, tem por polo a China.

Se o FMI foi instado a atender a tentativa frustrada de Macri de “arrumar as contas” e aumentou sua posição credora a contragosto, o mesmo entendeu-se com a China na recente negociação – parcial – com o governo que sai. Autorizou o uso de garantias em moeda chinesa na rolagem da dívida argentina.

Os dois movimentos são necessários. O aporte generoso e adequado de recursos do FMI para a Argentina, em condições de prazo e custo que permitam fazer alguma conta. De outro lado, acordos comerciais robustos e duradouros, mesmo com o Mercosul, mas com a China de modo a projetar fluxos comerciais sustentáveis.

Evidentemente, os dois movimentos haverão de ser defendidos pelos exportadores argentinos com a internalização das receitas em moeda forte. Quão maior tal compromisso, menos espetacular será o nível que os juros domésticos terão que atingir pelas regras da cartilha.

Dolarizar a economia e fechar o banco central, símbolos do novo mundo que o argentino escolheu, vão demorar um pouco. No curto prazo, trata-se de mostrar compromisso com sound finance. E vender uma transição para o paraíso.

José Francisco Lima Gonçalves é professor da FEA-USP e economista chefe do Banco Fator

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para dicasdepautaggn@gmail.com. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

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1 Comentário

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  1. Não entendi muito bem, dolarização e o fechamento do banco central parecem acabar com os pilares do monetarismo tão querido pelos liberais. FMI só trouxe mais dívidas e só envia cabeças de planilha, com receitas sempre de austeridade .Como vão aplacar a pobreza e miséria da classe média argentina. Se apoiar em Macri e Bulrich me parece se apoiar numa perna só e alquebrada. Não entendi esta análise. Depois de feita a loucura parecem querer dourar uma pílula que não existe. Queria que economistas pudessem fazer uma análise realista sobre tudo isto.

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