Protestos no Chile: violência e denúncias de torturas se intensificam

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Oficialmente, os dados dão conta de 18 mortos, denúncias de tortura e centenas de feridos, incluindo idosos e crianças até o momento

Foto: Victor Saavedra

De Santiago, Chile

Jornal GGN – Milhares de pessoas foram às ruas de Santiago e de outras regiões do Chile para responder ao presidente Sebastián Piñera que não estão satisfeitos com as propostas divulgadas na noite de ontem (22). No quinto dia de manifestações, os chilenos pedem a renúncia do mandatário, a saída do ministro do Interior, Andrés Chadwick e a convocatória de uma Assembleia Constituinte.

Logo pela manhã, milhares de santiaguinos se concentraram na Plaza Italia, região central da capital, na Greve Geral que havia sido convocada por movimentos sociais e sindicatos, dando sequência às manifestações que desde o último sábado (19), reivindicam mudanças estruturais no país.

“O presidente mudou o tom, pedir desculpas sempre tem seu mérito, mas quando no nosso país há mortos por decisões que ele tomou para tentar impedir, pela via da repressão, uma mobilização social massiva, as desculpas são absolutamente insuficientes”, afirmou o dirigente da ANEF, Carlos Insunza, aos jornais locais.

A marcha pela Greve Geral na capital seguia durante toda a manhã desta quarta (22) em direção ao Palácio da Moneda, de maneira pacífica. A sede do governo, entretanto, estava bloqueada pelas forças armadas do país que logo com a chegada dos primeiros manifestantes do local, começou a dispersar com jatos de água e bombas de gás lacrimogêneo.

Oficialmente, os dados dão conta de 18 mortos, denúncias de tortura e centenas de feridos, incluindo idosos e crianças até o momento. Nas últimas 12 horas, de acordo com o ministro da Saúde, Jaime Mañalich, 96 pessoas feridas deram entrada nos hospitais na Região Metropolitana, e um total de 229 em todo o país. Há, neste momento, 14 pessoas com risco de morte em Santiago e 6 em outras regiões do país.

No dia de hoje, foi formalizada a acusação contra um militar pela morte de um homem na região de Curicó, e foi confirmada a morte de mais 3 pessoas, durante o dia de ontem, um deles por receber golpes por parte da polícia. Há ainda uma denúncia em tramitação por parte do Instituto Nacional de Derechos Humanos (INDH) de que uma delegacia da polícia, dentro do Metro Baquedano, estava sendo usada pelos policiais para praticar torturas, e outros locais aonde manifestantes afirmam ter sido golpeados e ameaçados: ao todo, já são 20 denúncias de violações nesse sentido.

Ao tratar sobre o tema, o ministro do Interior minimizou as acusações: “O governo, se fica demonstrada que há fatos ilegítimos ou torturas, condenará, como também no caso de falecimentos, mas o que é importante nesta fase é separar o que vem sendo aquela denúncia anônima, que não tem origem, daquela com fundamentos”, disse Chadwick, na manhã de hoje.

A falta de diálogo foi descrita, ainda, por músicos e artistas chilenos, que foram à Moneda entregar uma carta ao presidente Piñera, mas afirmaram que não foram recebidos. Ainda se manifestou o ex-presidente chileno Ricardo Lagos, do Partido Socialista (PS), apoiando uma nova Constituição e pedindo uma convocatória da população.

Também na manhã de hoje, o Congresso foi palco de manifestações da oposição, com a chegada do ministro Chadwick na sessão legislativa, suspendendo as atividades dos parlamentares. Já se espera novo anúncio de toque de recolher para a capital e outras regiões do país.

 

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