Imigração de profissionais para o Brasil: o que diz o jornal e a realidade, por Roberto Kraenkel

E ademais a matéria cita uma empresa multinacional de serviços de imigração, que só menciona platitudes. Propaganda de graça.

Imigração de profissionais para o Brasil: o que diz o jornal e a realidade

por Roberto Kraenkel

A Folha hoje publicou uma matéria que diz: Migração de profissionais estrangeiros para o Brasil cresce 13%. Parece alvissareiro, mas fiquei desconfiado. Em meio a crise, um aumento de procura de empregos por estrangeiros. Fui atrás. O resumo do que achei é que a procura de profissionais estrangeiros pelo Brasil CAIU 13%, mas o total de “autorizações de residência prévias” + “autorização de residência” subiu 13%. Em grande parte por questões ligadas a religiosos. E isso não leva em conta o MERCOSUL. Leia abaixo.

Link para matéria da Folha aqui.

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Análise.

A matéria da Folha está baseada num relatório do Ministério da Justiça que pode ser acessado aqui.

Este relatório refere-se a pedidos aprovados de ” autorização prévia de residência” e “autorização de residência”. Não leva em conta casos de refúgio e asilo. Tampouco aparecem muitos dados de pessoas de nacionalidade de países do Mercosul. Não sou especialista no assunto, mas presumo que estes passem por outra via.

As autorizações prévias destinam-se a pessoas que estão fora do Brasil e as autorizações de residência (não prévias) para quem já está no Brasil. Assim, é o primeiro grupo que representa os estrangeiros vindo ao Brasil para trabalhar. E – adivinhem — este número caiu. No primeiro trimestre de 2018 foram 6486 e no de 2019 foram 5663, uma diminuição de 13%. É o menor nível desde 2014 (o primeiro ano da série). Fiz um gráfico, está em anexo.

Se somarmos as autorizações de residência às autorizações prévias, há, de fato, um aumento de 13%. Vejamos de onde vem este aumento. O número de autorizações de residência (não prévias) teve um grande aumento, passando de 386 a 2109. Parte pode ser devido a mudança de legislação em final de 2017. Mas vejamos as características: 442 são de autorização para residência com fins de trabalho com vínculo empregatício, 305 são de renovação de prazo ou passagem de temporário para permanente. Mas o maior número, é de vistos para atividades religiosas: 726, o que representa 34% do total.

A matéria também afirma que o número de “profissionais com doutorado aumentou 336%”. Aumentou, de fato, o número de autorizações totais de 29 para 135. Passou de 0,4% para 1,7%. Continua ínfimo e nada indica que não possa ser uma flutuação estatística. Não existe uma corrida de doutores para o Brasil. Se olharmos apenas para as autorizações prévias, ou seja, gente que ainda não está no Brasil, aqueles com qualificação de doutor passaram de 24 para 55.

Estes números chamam a atenção para o quão pouco atraente o Brasil é para profissionais qualificados. Segundo estes números, a quantidade de autorizações emitidas corresponde a 0,004% da população brasileira. Na Europa, o número equivalente é aproximadamente 0,1%, um fator 25. Mas sempre vale a ressalva que, aparentemente, cidadãos do Mercosul não entram nesta estatística.

A matéria da Folha começa com ” O número de profissionais estrangeiros no Brasil cresceu 13% no primeiro trimestre deste ano”. Isto mostra a confusão da pessoa que escreve. Nunca foi questão de número de pessoas estrangeiras no Brasil, e me espantaria muito que este número varia-se 13% ao ano. A autora do texto confundiu concessão de vistos por ano com a variação do total da população de estrangeiros no Brasil. Diga-se, de passagem, o Brasil tem uma população de imigrantes da ordem de 0,3% ( há controvérsias, poderia ser maio, perto de 1,5%. Para situação em 2017, veja aqui). A Alemanha tem 12%, os EUA idem, a Argentina tem 3,9%.

Quando se dá um notícia deve-se ter alguma noção do que se diz. Não é o caso desta noticia do Painel da Folha. E ademais a matéria cita uma empresa multinacional de serviços de imigração, que só menciona platitudes. Propaganda de graça.

Redação

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