O 12FLOP, o nem-nem e o balde de água fria na terceira via
por Eliara Santana
Ao que tudo indica, os tais atos agora democráticos da frente ampla não tão ampla foram um retumbante fracasso.
Ontem, o Fantástico fez uma pequena reportagem. Hoje, os três principais jornais do país – Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo – trouxeram o flop do “Nem, Nem” (até parece nome de funk rsrs) na capa. O flop foi a manchete na Folha e teve chamadas de destaque, com fotos grandes, nos demais, como vocês estão vendo abaixo.
Segundo a Folha, o protesto contra Bolsonaro esteve esvaziado porque foi dividido. E o elemento que dividiu o ato foi o PT. Mas claro, a Folha também exibiu foto do boneco de Lula presidiário que estava na Paulista, ao lado do boneco de Bolsonaro, reforçando a percepção que querem difundir de que os dois, afinal, se equivalem. Pelo destaque – a capa foi praticamente o fracasso dos atos de domingo –, a Folha está bem preocupada com a flopagem, dá pra entender por que. Interessante é que não trouxe foto de Doria na capa (talvez os farialimers achem mesmo aquela dancinha de academia muito ridícula).
O Estado de S. Paulo foi menos efusivo, mas a foto do ato na Paulista estava em destaque. O jornal falou em oposição dividida que fez atos esvaziados. A chamada é bem burocrática, ressaltando a pressuposta divisão da oposição, mas sem muitos arroubos.
O Globo também fala em esvaziamento dos atos e oposição dividida. E claro, dá destaque a foto que mostra boneco gigante de Lula abraçado a Bolsonaro. O texto da chamada cita a participação dos outros presidenciáveis e fala que a manifestação “não conseguiu atrair integrantes do PT”.
Ontem no Fantástico, o destaque foi também pequeno. Uma reportagem de três minutos informou que os atos foram realizados em 15 capitais e que foram convocados pelo MBL, na pauta contra Bolsonaro e a favor da terceira via. Mostraram muitas imagens, em várias capitais; claro, também destacando cartazes “Nem, Nem”. Imagens foram todas bem fechadas para não dimensionar tanto a flopagem, e chamaram atenção para o fato de que os manifestantes estavam usando branco – a nova cor “Nem, Nem”. Bem, eu prefiro as cores de Almodóvar e de Frida Kahlo.
O destaque maior no Fantástico ficou para o ato na Paulista, com imagens de todos os políticos que participaram. Houve imagens do alto, poucas, e a maioria foi bem fechada.
Para vcs terem uma ideia da importância dessa pauta na grade do programa, a reportagem sobre documentário que lembra os 10 anos da morte da cantora Amy Winehouse teve nove minutos, ou seja, três vezes mais tempo que as manifestações pedindo a terceira via.
Eu acho que há várias leituras possíveis em relação à flopagem do 12, ou 12FLOP. Vamos considerar algumas.
1 A flopagem esvazia as intenções dos articuladores da terceira via de neutralizar as forças de esquerda. Não porque a população em geral entenda de fato quem está convocando ou não. Mas porque as forças de esquerda – partidos políticos, movimentos sociais, centrais sindicais – têm entrada na sociedade, nos vários agrupamentos, sabem tecer articulações políticas, de reivindicação, conseguem estabelecer e mostrar uma pauta, conseguem mobilizar. E isso fica claro.
2 A flopagem também mostra que, cinco anos após o golpe, as forças de esquerda, apesar de toda a pancadaria, não estão mortas e sepultadas, como muitos gostariam. Como a Fênix, a esquerda renasce. Está bem viva, ao que parece.
3 O 12FLOP mostra também que não há qualquer perspectiva de se fazer política, discutir o cenário, pautar “Fora, Bolsonaro’” e pensar alternativas para o Brasil sem que o Partido dos Trabalhadores esteja incluído. Não adianta fingir apenas que o PT não existe e não convidá-lo para a festa, porque a festa, sem vermelho, flopa.
4 O 12FLOP também abre um interessante espaço para uma possível e necessária conversa e aproximação com a centro-direita, que não é bolsonarista de sapatênis. Isso é uma janela de oportunidades, sobretudo para um gênio político como Lula. Kassab, Kalil, Alckmin não são figuras que vão pegar bandeira do Brasil e fazer coreografia de academia em cima do carro de som. Mas são figuras com capacidade de costura e diálogo. Vejam, por exemplo, a entrevista de Kassab a Miriam Leitão e uma entrevista de Haddad em que ele fala de Alckmin.
5 Os movimentos de 7 de Setembro, Grito dos Excluídos e 12FLOP revelam um cenário e aspectos interessantes que se interligam: Bolsonaro faz barulho, tem certa força, mas não é o leão que finge ser, e o sistema já percebeu até onde vai o arroubo golpista de Jair; as forças populares fizeram uma frente importante e marcaram um espaço simbólico de enfrentamento, de posicionamento, o que foi muito importante; e o 12FLOP mostrou que o bolsonarismo de sapatênis é fraco e não mobiliza, mesmo fingindo ser democrático e aglutinador.
6 A flopagem deixa evidente que há sim dois polos, que NÃO SÃO equivalentes, mas que disputam o espaço no imaginário e nos desejos do eleitor. E que Lula está numa posição, como candidato, que é quase imbatível. Creio que o sistema dará um jeito em Jair, não o vejo disputando a eleição. Mas, o mar da história é agitado, e no Brasil temos um tsunami após outro. No entanto, a perspectiva de inflação sem controle com economia que encolhe é avassaladora para Jair e para aventuras com o não conhecido (uma terceira via que efetivamente não se descola do bolsonarismo), em termos de processo eleitoral.
7 A flopagem também mostra que a tal terceira via somente tem chance com um dos dois fora do pleito – Jair ou Lula. Jair está enquadrado por ora, e acho que o TSE dará jeito nele. Quanto a Lula, a reportagem requentada da Veja já foi uma tentativa de criar factóide e ver por onde é possível caminhar. Mas a tentativa foi xoxa, ainda não rendeu. O que não significa que noutras não possam vir.
8 O 12FLOP também coloca um certo freio nas intenções midiáticas de construção da terceira via como o caminho glorioso e de salvação para a pobre Nação. A ideia do “Nem, Nem”, se tivesse sido um sucesso, seria encampada espetacularmente pelo sistema midiático. Seria o melhor dos mundos.
Mas, como sempre, eles se esquecem de combinar com os russos.
Eliara Santana é uma jornalista brasileira e Doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), com especialização em Análise do Discurso. Ela atualmente desenvolve pesquisa sobre a desinfodemia no Brasil em interlocução com diferentes grupos de pesquisa.
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Eliara Santana
Como sempre, vc é leitura obrigatória e atenta.
O fracasso do 12FLOP mostra que os “padrinhos da terceira via” se esqueceram de combinar com os “russos”.
Esqueceram-se de convencer a direita empedernida e os arrependidos do Bolsonarismo, e, principalmente, aquela parcela de eleitores que já votaram em Lula e Dilma, e, em 2018, votaram no “capetão”.
Em meio a tragédia social que vivemos, tanto sanitária quanto econômica, parcela decisiva do eleitorado quer o fim de tudo isso, e retomar aos tempos dos dois mandatos do ex-presidente Lula.
Muito claro, bom.
A mídia golpista e seus patrões do coronelato financeiro,sabiam muito bem que não haveriam atos contra o sujeito que ocupa o Palácio do Planalto junto com seus milicos milicianos sem que houvesse a participação dos partidos ,centrais sindicais e movimentos sociais de esquerda.
Assim,após a carta de capitulação,não do sujeito ,mas sim dos golpistas,e isso precisa ficar claro,a mídia golpista juntamente com os tentáculos dos falcões do norte,responsáveis pela deposição sem crime de responsabilidade da presidenta Dilma e da prisão política do presidente Lula,correu rapidamente para a rua para tentar resgatar aquelas ovelhas que pensam em abandonar o seu rebanho e,neste quesito,querendo ou não querendo,a manifestação,do ponto de vista midiático foi um sucesso.
Novamente,alinhados,deram destaques a quem,segundo eles,divide a sociedade,enalteceram o caráter persecutório contra o presidente Lula,mesmo sabendo que ele vem derrubando um a um os processos fraudulentos que moveram contra ele,deram um destaque para os gatos pingados que nunca deram a manifestações muito maiores organizadas pela esquerda.
Pode-se dizer que foi,juntamente com a cartinha,a maior sinalização de capitulação já demonstrada até o momento para esse sujeito.
Tanto a cartinha como as “manifestações” visam,unicamente,mostrar que a parte golpista que ameaçou desgarra-se do sujeito fará tudo para enaltecê-lo e demonizar seu oponente.
A mesma jogada de sempre.
O presidente Lula,atento com sempre,não está parado e já enxergou este movimento com antecedência e já vem buscando alternativas para impedir que o golpismo continue a destruir nosso país.