
Lembrar é desistir?
por Izaías Almada
Tive a oportunidade de assistir no último final de semana, no Teatro de Arena Eugênio Kusnet, a apresentação da peça “Memorial do Futuro Recente”, onde fui colocado diante um espetáculo brilhante, seja na qualidade do texto de Diones Camargo, na direção segura de Nelson Baskerville e, sobretudo, na sensível interpretação do ator Thiago Brianti.
Embora tenhamos sido descobertos no ano de 1500 não temos até os dias de hoje, passados já 524 anos, o sentido do viver coletivo civilizado, o respeito sincero pelas instituições democráticas, a justiça social entendida como sendo um dever de todos.
A narrativa da peça é impulsionada pela memória de um jovem que, quando criança viu a mãe ser torturada pela polícia política de um regime que chegou ao poder através de um golpe civil/militar destituindo o presidente João Goulart, poder esse mantido por 21 anos pelas milhares de prisões, mortes e desaparecimentos de homens e mulheres que lutaram por liberdade, independência econômica e justiça para todos.
O material de divulgação do espetáculo afirma que: “A peça retrata a existência marcada por abandono, perda, luto e pelos horrores de uma Ditadura Militar que perseguia, torturava e apagava qualquer traço de humanidade daqueles que insistiam em confrontá-la. Um trajeto doloroso e obscuro, iluminado apenas pelos lampejos de uma voz inconformada que, apesar de tudo, ainda insiste em se lembrar”.
E lembrar-se de situações como essa é e será sempre resistir aos arbítrios de qualquer natureza.
Em 1999 participei da elaboração de um texto teatral, “Lembrar é Resistir”, apresentado dentro das celas do antigo DEOPS (Departamento de Ordem Política e Social), cuja função era reprimir violentamente aqueles que se rebelaram contra o funesto Golpe de 1964, trinta e cinco anos depois, portanto…
E agora, sessenta anos depois, o teatro retoma a lembrança num espetáculo que emociona até às lágrimas.
Após a curta temporada no Teatro de Arena, a peça voltará ser apresentada entre os dias 21 e 24 de novembro no Teatro Cacilda Becker (Rua Tito, 295 – Lapa) às 21hs de quinta a sábado e no domingo às 19 hs. Entrada gratuita.
Ficha Técnica:
Idealização: Nelson Baskerville e Thiago Brianti
Dramaturgia: Diones Camargo
Direção: Nelson Baskerville
Diretora Assistente e Colaboração Criativa: Anna Zêpa
Atuação: Thiago Brianti
Cenário: Nelson Baskerville
Ilustrações do Cenário: Nelson Baskerville
Pintura da Lona: Eluzai Goulart – ZUZA
Aderecista Banheira: Ludoviko Bütcher
Figurino: Marichilene Artisevskis
Desenho de Luz: Felipe Tchaça
Direção Musical: Daniel Maia
Direção de Imagem e Vídeomapping: André Grynwask e Pri Argoud [Um Cafofo]
Operação de Som: Gabriel Müller
Operação de Luz: Felipe Tchaça e Paula Selva
Operação de Vídeo: Allyson Lemos
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Diagramação e Filmagem: João Paulo Melo
Redes Sociais: May Nimmy
Fotos: Jennifer Glass
Direção de Produção: Iza Marie Miceli
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

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