Idade Média, Arte Bizantina por Rosângela Vig

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Fig. 1 – Nossa Senhora no trono com o Menino, National Gallery of Art, Washington D.C., Andrew W. Mellon Collection. Retábulo provavelmente pintado em Constantinopla em 1280.  / Fig. 2 – Basílica de Santa Sofia, Istambul, Turquia. Foto de Andriy Kravchenko. / Fig. 2.1 – Detalhes da cúpula ou domo da Basílica de Santa Sofia, Istambul, Turquia. Foto de Quincy Dein./ Fig. 3 – Mosaico de Jesus Cristo em Santa Sofia, Istambul, Turquia. Foto de Ihsan Gercelman. / Fig. 4 – Catedral do Sangue Derramado, ou Igreja da Ressurreição, São Petersburgo, Rússia. Foto de Edush Vitaly.

Do Obras de Arte

Idade Média, Arte Bizantina / A Arte da Idade Média – PARTE II – Roma Oriental

Por Rosângela Vig

“A Arte é sob muitos aspectos, semelhante à religião: sua

evolução não se faz mediante novas descobertas que anulam

as antigas verdades, marcando-as com o sinete do

erro (como aparentemente ocorre com a ciência). Sua

evolução se faz mediante súbitos clarões semelhantes ao relâmpago,

mediante explosões que figuram no céu como as girândolas de um fogo

 de artifício para espalhar em torno de si todo um buquê de estrelas de

 múltiplos esplendores.” (KANDINSKY, 1991, p.99)

Não poderia haver forma mais bela de se desenhar o instante da inspiração. Ligado à espiritualidade e influenciado pela Idade Média, Kandinsky (1866 – 1944) soube descrever a alma do artista em seu momento mais intenso. Do encantamento ao profundo pensar; do anseio por demonstrar um conceito ou um ajuizamento, à materialização da ideia, o artista age sobre a cor e sobre a forma, enfeitiçado pela ideia inicial e por ela arrebatado. Suas mãos trabalham apaixonadamente sobre o objeto que cria e é por meio de sua obra que dialoga com o espectador. Os caminhos não devem ter sido diferentes ao artista da Idade Média, no feitio de seu trabalho e tal esmero ficou nítido na Arte Bizantina, em sua forma, em seu estilo incomparável e sofisticado.

Sua história nos leva ao século IV quando, devido às crises no Ocidente, o imperador romano Constantino transferiu a capital para Roma Oriental, na cidade de Bizâncio, mais tarde chamada de Constantinopla, atual Istambul. A decadência de Roma Ocidental culminou em sua queda em 476, fato que delimitou o início da Idade Média. Mas apesar das crises no Ocidente, a vida prosperou no Oriente, em Bizâncio, até a tomada de Constantinopla pelos turcos, um dos fatos que terminou com o período mais longo da História.

<img alt="” border=”0″ height=”1″ src=”file:///C:Usersredac07AppDataLocalTempmsohtmlclip11clip_image001.gif” width=”1″>A Arte Bizantina despontou num Oriente em plena ascensão, chegou a influenciar a Arte do Ocidente e teve seu apogeu no Império de Justiniano, entre os anos de 526 e 565. Após esse período, a crise iconoclasta 1 levou à destruição de imagens, em virtude de conflitos entre o clero e os imperadores. Enquanto Roma Ocidental mantinha vivas as memórias sagradas por meio das imagens, isso era questionado no Oriente, por lembrar os cultos pagãos condenados pela Bíblia. Mas o Papa Gregório o Grande (540-604) atuou em favor da Arte quando declarou que “a pintura pode fazer pelos analfabetos o que a escrita faz para os que sabem ler” (GOMBRICH, 1988, p.95). As imagens serviriam como um livro ilustrado aos devotos que desconheciam a escrita e a leitura e a Arte teria um sentido educativo. Baseados então, no estilo narrativo da Arte Romana, os artistas deveriam mostrar o essencial, para que a compreensão fosse simples. Mas os iconoclastas acabaram por levar vantagem e as imagens foram proibidas na igreja Oriental, no ano de 745, contrariando a argumentação do Papa. Por outro lado, havia os que acreditavam que as imagens eram sagradas e que representavam o mundo sobrenatural. Esse pensamento foi favorável à Arte Bizantina que entrou em um novo período de ouro. A ideia era a de uma Arte para a Igreja, que deveria seguir uma forma de representação rigorosa e padrões tradicionais.

Esse rigor, por certo, levou os artistas a fazerem uso de modelos antigos, o que possibilitou que se preservassem práticas da Arte Grega. Do Oriente, de regiões como a Síria e a Ásia Menor, a Arte Bizantina herdou o luxo, o requinte e a exuberância. Na figura 1 pode-se observar em primeiro plano, os padrões a serem seguidos da frontalidade, da verticalidade e do tema religioso. A forma como o manto cai pelo corpo e se dobra pelos braços e pelas pernas da Virgem e do Menino Jesus, bem como o desenho das mãos e dos rostos; e sobretudo sua simetria e sombra, lembram as pinturas Gregas e Helenísticas. Do Oriente, percebe-se a riqueza de detalhes, a técnica e sobretudo o uso da cor. Ficou nítido que a exigência com a forma, não impediu os artistas de exercerem sua criatividade. Por suas mãos, a Arte Bizantina se destacou como um estilo de inigualável beleza, sofisticação e sobretudo com um sentido espiritual.

As maiores referências da Arquitetura Bizantina são as igrejas e, entre elas, a Basílica de Santa Sofia 2, do século IV, em Istambul, que serviu de inspiração para outras igrejas do Ocidente, como de St. Apollinaire e a de San Vitale, em Ravena; a igreja Santa Maria Maggiore, em Roma; e a Basílica de São Marcos em Veneza. A Basílica de Santa Sofia (Fig. 2) apresenta uma construção que mistura a obra romana à sofisticação e ao misticismo orientais. Sua planta retangular tem o tamanho de até três campos de futebol, o que favorecia o acolhimento dos adeptos da então, nova religião. Mas o que mais impressiona é o domo central e o sistema de sustentação por arcos e pilares. Há, na base do domo, quarenta janelas, por meio das quais a entrada de luz leva à sensação de leveza da estrutura. Os mosaicos e as pinturas em seu interior, com a finalidade de educar os seguidores, enriqueciam o ambiente, conferindo uma beleza única. Após sua construção, em 360, até o final da Idade Média, a Basílica foi utilizada pela Igreja Ortodoxa Bizantina. Entre os anos de 1204 e 1261, foi tomada por religiosos latinos católicos. Ao final da Idade Média, ela passou a ser uma mesquita muçulmana e após 1935, foi transformada em um museu.

Ao lado das igrejas, o mosaico é outro importante exemplo da Arte Bizantina, principalmente no período de Justiniano. Essa Arte serviu para decorar as igrejas, como ilustração para instruir os fiéis, retratando a vida de Cristo, dos profetas e dos imperadores, que eram considerados representantes de Deus na Terra. Havia o uso excessivo de dourado e as convenções que regiam a pintura afresco, regiam também os mosaicos. A pessoas eram representadas de frente, em sentido vertical e expressão solene, como uma forma de reforçar a ideia religiosa, sem a preocupação com perspectiva, volume ou profundidade. O Cristo Pantocrator (Fig. 3), modelo seguido tanto nos mosaicos como nas pinturas Bizantinas, apresentava Jesus com a mão direita em gesto de benção, a esquerda segurando o evangelho e o rosto com expressão de austeridade. Essa representação é usada até hoje em imagens da Igreja Ortodoxa Cristã.

Muito da Escultura Bizantina foi destruído, por decreto imperial, em virtude da crise iconoclasta, o que permitiu que restassem grandes esculturas ou pequenas, como os dípticos ou trípticos, painéis portáteis, em marfim, com desenhos em relevo. Aos moldes da pintura, percebe-se a influência do Oriente, na riqueza de detalhes e na técnica; e da Arte Grega, as pregas e o caimento dos tecidos sobre o corpo. Por outro lado, há poucos detalhes no semblante das pessoas e uma certa formalidade. Os olhos grandes, direcionados para o alto, relembram o pensamento religioso e a ascensão para Deus.

A Arte Bizantina passou por períodos de evolução e com isso, as figuras humanas passaram a apresentar mais detalhes e gestos mais naturais. Essa Arte prosperou, mesmo depois da queda de Constantinopla, em 1453, em locais onde predominava a Igreja Ortodoxa. Na Rússia ainda podem ser vistos ícones e imagens que representam as criações dos artistas bizantinos, como a Catedral do Sangue Derramado (Fig. 4), também conhecida como a Igreja da Ressurreição, na cidade de São Petersburgo, na Rússia, construída entre 1883 e 1907. O rigor da forma talvez tenha acentuado o espírito imaginativo do artista Bizantino. Em sua obra, ficam em evidência o Belo e o Sublime. Segundo Kant (1942, p.11), “a inteligência é sublime; o engenho é belo (…); a audácia é grande e sublime”. O Belo fica evidente, nos desenhos, nas cores, na riqueza de detalhes e na técnica. O Sublime fica por conta da grandiosidade de sua Arquitetura, por sua ousadia em desafiar padrões e ainda assim produzir um rico legado para a humanidade.

Fig. 1 – Nossa Senhora no trono com o Menino, National Gallery of Art, Washington D.C., Andrew W. Mellon Collection. Retábulo provavelmente pintado em Constantinopla em 1280.  

Fig. 2 – Basílica de Santa Sofia, Istambul, Turquia. Foto de Andriy Kravchenko.

Fig. 2.1 – Detalhes da cúpula ou domo da Basílica de Santa Sofia, Istambul, Turquia. Foto de Quincy Dein.

Fig. 3 – Mosaico de Jesus Cristo em Santa Sofia, Istambul, Turquia. Foto de Ihsan Gercelman.

Fig. 4 – Catedral do Sangue Derramado, ou Igreja da Ressurreição, São Petersburgo, Rússia. Foto de Edush Vitaly.

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

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