A filosofia de Anísio Teixeira na reconstrução da democracia e da educação nacional, por João Augusto de Lima Rocha

Merece destaque a proposta, aparecida há pouco, no sentido de que se crie, imediatamente, uma comissão nacional de personalidades capazes de repensar o Brasil

A filosofia de Anísio Teixeira na reconstrução da democracia e da educação nacional

por João Augusto de Lima Rocha

Sabe-se que, em decorrência de pesquisa recentemente publicada, a morte do educador Anísio Teixeira não ocorreu no dia 11, mas no dia 12 de março de 1971, segundo consta do laudo do Instituto Médico Legal encontrado pela Comissão Nacional da Verdade, em 2013.

É o que apresenta o livro Breve história da vida e morte de Anísio Teixeira (João Augusto de Lima Rocha, Edufba, 2019), no qual  desvenda-se que a morte do educador não se deu em consequência de uma queda em fosso de elevador, tal como até há pouco se acreditava. E, por ter ocorrido no dia 12 de março, um dia após seu desaparecimento, abre-se a possibilidade de ter sido ele assassinado em dependência da Aeronáutica, no Rio de Janeiro, sendo o corpo levado posteriormente para o fundo do fosso do elevador, a fim de dar fundamento à farsa da morte devido à queda. O corpo só foi encontrado no começo da noite de 13 de março de 1971, no fundo do fosso do elevador social do edifício onde residia Aurélio Buarque, na Praia de Botafogo, Rio de Janeiro. Anísio havia marcado para almoçar na residência dele, no dia 11 de março, porém não chegou a seu  destino, mas isso serviu de base para a montagem da farsa da queda, que a imprensa fiel à ditadura militar fez ecoar imediatamente, sem a mínima comprovação!   

É tão expressamente significativa a contribuição de Anísio Teixeira para a educação nacional,  particularmente para a filosofia e o planejamento educacional,  que Florestan Fernandes declarou o seguinte, no pronunciamento que fez na solenidade de  inauguração da Fundação que leva o nome do educador, em Salvador-BA, dia 21 de setembro de 1989: “O que havia de fundamental na personalidade de Anísio Teixeira era o fato de ele ser um filósofo da Educação nascido num país sem nenhuma tradição cultural, para que florescesse uma personalidade com essa envergadura e com tal vocação. Foi o nosso primeiro e último filósofo da educação.”                                  

Nomeado Inspetor Geral do Ensino, na Bahia, pelo governador Francisco Marques de Góes Calmon, em abril de 1924, Anísio  Teixeira foi aos EUA em 1927, em viagem oficial para conhecer a Educação daquele país, em grande parte influenciada pelas ideias do educador e filósofo John Dewey. 

Na volta à Bahia, publica seu primeiro livro: Aspectos Americanos de Educação, no qual relata as visitas realizadas por indicação do Teachers College da Universidade Columbia, onde John Dewey pontificava. Além disso, inclui uma rica síntese das ideias daquele filósofo, cuja extensa obra iria influenciar Anísio por toda a vida.

O Pragmatismo, escola filosófica de Dewey, tinha na democracia o fundamento básico para o processo de reconstrução escolar contínua na sociedade. Com plena autonomia intelectual, Anísio aplicou criativamente essa compreensão no Brasil, o que  lhe valeu dura oposição das forças conservadoras, e logo o taxaram de comunista

Sobre a questão da democracia, diz ele: “Primeiro, a escola deve prover oportunidade para a prática da democracia – o regime social em que cada indivíduo conta plenamente como uma pessoa. Democracia na escola importa em democracia para o mestre e democracia para o aluno, isto é, um regime que procure dar ao mestre e aos alunos o máximo de direção própria e de participação nas responsabilidades de sua vida econômica. Segundo, como democracia é acima de tudo o modo moral da vida do homem moderno, a sua ética social, a criança deve ganhar através da escola esse sentido de independência e direção que lhe permita viver com outros com a máxima tolerância, sem, entretanto, perder a personalidade.” 

Merece destaque a proposta, aparecida há pouco, no sentido de que se crie, imediatamente, uma comissão nacional de personalidades capazes de repensar o Brasil, a fim de que a Nação se encaminhe para um futuro livre da praga nefasta do bolsotrumpismo, talvez tão grave quanto a da Covid 19. Sugere-se que as contribuições de Anísio Teixeira, já aplicadas com sucesso aplicadas em nosso país, até o começo da década de 1960, em particular os princípios nelas implícitos com sólida base científica e filosófica, possam muito bem contribuir como elementos iniciais para o duro trabalho de reconstrução educacional e cultural do país.

Redação

1 Comentário

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  1. Uma comissão nacional de personalidades? Mais uma vez pensar “de cima para baixo”? Precisa mesmo é dar voz a todos, sem tutela. Basta de oligarquia. Deve-se ouvir as bases, não tirar da cartola, mágicamente, um país. Isso ja se fez e deu no que deu.

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