A responsabilidade da esquerda na atual conjuntura, por Antônio Augusto de Queiroz

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Antônio Augusto de Queiroz

A responsabilidade da oposição de esquerda na atual conjuntura

De Teoria e Debate

A oposição de esquerda, para sobreviver politicamente e voltar a assumir o poder no país, precisa urgentemente modificar suas formas e métodos de atuação no Congresso Nacional, antes que o desmonte do aparelho de Estado e os retrocessos nos direitos sociais e na soberania nacional se tornem irreversíveis.

O governo Michel Temer, a serviço das forças neoliberais e do mercado financeiro, nos últimos dois anos, provocou grandes estragos em conquistas históricas do povo brasileiro, como a aprovação do congelamento do gasto público (EC 95/16) e da reforma trabalhista (Lei nº 13.467/17), sem que houvesse uma reação à altura das forças de esquerda.

Agora, depois do espetáculo “de compra de deputados” que levou à rejeição da denúncia contra o presidente Michel Temer, o governo retoma o ânimo para avançar com sua agenda em favor do capital e de retrocessos sociais, com o acelerado desmanche do Estado Nacional, tanto em termos de soberania quanto em termos de serviços públicos à população.

E a população, frente aos custos de participação e reação, tem ficado indiferente. Mesmo os setores esclarecidos da sociedade, informados da captura de boa parte das instituições pelo mercado, a começar pela Presidência da República e do Congresso, tem preferido esperar o momento das eleições gerais, para, protegidos pelo voto secreto, trocarem o comando dessas instituições.

Diante dessa realidade, cabe à oposição de esquerda cumprir o papel de dificultar ou até impedir que essa agenda prossiga no Parlamento. Afinal, exigir o devido processo legislativo, defender os direitos das minorias e exercer o direito constitucional de resistência e de obstrução regimental, como fez um grupo de senadoras durante a votação da reforma trabalhista no Senado, são absolutamente legítimos.

E a oposição de esquerda, especialmente na Câmara dos Deputados, não tem feito isso. Ao contrário, tem sido muito cooperativa no sentido de permitir votar matérias contrárias ao seu ideário, mesmo discursando e votando contra. A postura da oposição foi tão comportada, a ponto de fazer acordo de procedimento, como aquele combinado na votação da reforma trabalhista na Câmara, quando, em troca de três votações nominais, os deputados deixaram votar um projeto que representa um verdadeiro atentado aos direitos dos trabalhadores brasileiros. O atual governo não tem escrúpulo nem compromisso com o povo. Dar a ele um tratamento menos duro do que a oposição de direita deu ao governo Dilma é inaceitável. Transigir, mesmo que em troca da votação de outros temas, é capitulação.

É preciso impedir a votação de toda e qualquer matéria contrária ao interesse do povo, porque, conforme já foi exposto, a população não tem clareza dos reflexos dessas medidas sobre sua vida, nem está disposta a arcar com os custos de participação e reação neste momento. É preciso chamar atenção para o mal que essas mudanças representam, e uma das formas de fazê-lo é resistindo à sua votação nos plenários da Câmara e do Senado. É preciso usar, sem peias, os instrumentos legítimos e democráticos de obstrução, e, no limite, recorrer quando as regras do jogo não forem respeitadas e a Constituição ignorada ao próprio Poder Judiciário.

Tudo indica que já a partir de setembro de 2017, em razão da fúria fiscal da equipe econômica, haverá a paralisia do Estado, com a absoluta incapacidade de o governo atender as demandas básicas da população por serviços públicos. Mas isso, se a oposição não denunciar de modo competente e ostensivo essas maldades, não terá o condão de vincular tal paralisia dos serviços públicos às ações, opções e orientações políticas do atual governo.

A responsabilidade da oposição de esquerda, portanto, é muito grande nesta conjuntura, tanto em termos de dificultar e obstruir a votação dessas matérias, quanto em denunciar o desmonte do Estado e os efeitos perversos desses retrocessos sociais sobre a população.

Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

8 Comentários

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  1. Muitíssimo parcial e omisso texto. Democracia e Ponto Final

    E a trajetória do PT com seu Culto À Personalidade, e arrogância da base às cúpulas. fazendo de tudo limpo e nada limpo para afastar possíveis competidores no mesmo campo (posso citar 2 amostras contra Ciro Gomes, o autor deve ou deveria saber, assim como os leitores).Idolatrias despolitizadoras – como afirmou André Singer que já citei por aqui. Um recentíssimo Congres-so do principal partido de centro-esquerda que “renovou” cosmeticamente. Continuam alguns grupos internos a adjetivar demo-cracia como democracia socialista (mas apóia gente de duvidosa qualidade Brasil afora, nas suas Plenárias e Convenções manipuladíssimas,acusações de compra e venda de votos – o caso Recife). Democracia e Ponto Final. Deixemos o adjeitvo Liberal e Socialista, faz parte da História, é avançar na Democracia. Viver de rótulos é enganoso e pode ser muito arriscado a perder extratos imprescindíveis das classes médias).

    1. muitissimo….

      Alguém fala em eleições livres e facultativas? Em voto em cédula de papel em urna de papelão, para que seja gasto apenas 1 milésimo dos 500 milhõesde reais gastos em cada eleição? Em mecanismos de controle da sociedade como votação sobre candidatos e partidos que poderão concorrer, em prévias? Para que serve Tribunais Eleitorais que gastam e nos custam cerca de 100 bilhões de reais? Para que servem Centros de Controle Públicos como CGU,se estamos vendo a farra de corrupção com dinheiro público nestes 30 anos de Constituição Cidadã? OOnde está o Judiciário e controle da sociedade sobre esta Cleptocracia de 40 anos de redemocratização? E nossa Elite e Intelectualóides Esquerdopatas berrando que a salvação é a volta de D.Sebastião Esquerdopata? Até para os padrões brasileiros cincismo e censura temlimites. 

  2. Enquanto a direita joga sujo,

    Enquanto a direita joga sujo, a esquerda acredita que pode virar o jogo respeitando todas as regras. Boa parte dos políticos progressistas comporta-se como inocentes úteis. Será que acreditam, mesmo que a lei é para todos ? A direita,ao contrário do filme, acredita que a lei é para tolos. 

  3. As esquerdas refletem nosso autoritarismo: arrogantes

    não admitem críticas.No máximo pseudo-críticas entre 4 paredes,e não públicas.Não admitem q têm culpa no cartório.É minha opinião:elas erraram e muuuuito.Só inventando outras,só abrindo pra outras pessoas,eliminando prlenárias e convenções mani-puladoras e que afugentam,eliminando Teses de Congresso q só meia dúzia lê e o resto assina,todas as Teses são mais ou me-nos iguais…E só lavando com soda cáustica a nossa mentalidade de submissão,de autoritarismo,de obediência,de endeusa-mento,de trermos líderes imunes às fraquezas da carne.- Sabe de uma coisa? eu não acredito nessa mudança,mas acredito num novo mundo melhor,de que jeito,eu não sei.

  4. Sei lá, hein?

    Dois comentários. O primeiro é que a DIAP deu o sinal de alerta para o tipo de Congresso Nacional que foi eleito (foi lá que li artigo obre a atual constituição parlamentar, antes mesmo deste golpe estar no horizonte).

    Segundo. Infelizmente, poucas pessoas sabem do desastre que está por vir, com, além de uma crise econômica enorme, o fim virtual da CLT e a precarização do trabalho. As pessoas não fazem ideia. Estou particularmente assustado com isto.

    Sobre a esquerda no parlamento, não acredito que possa fazer grande coisa. Sem trabalhador e, sobretudo, sem desempregado nas ruas, a questão não se resolve.

    Agora, tem muito sindicato fazendo “preparação” para o que virá mais adiante (depois de assinado o saco de maldades), há 120 para entrar em vigor). Deveriam ter se preparado nestes 120 dias para uma resistência violenta e feroz, mas não. Tem sindicato querendo participar de congresso sindical que, no momento, não serve pra nada. A vida continua, OK, mas não com os nazistas marchando sobre Paris, digamos.

    Nem mesmo aqueles que se autointitulam de esquerda e que ajudaram a direita no golpe estão se mexendo.

     

     

  5. Farinha do mesmo saco

    Meu teclado nao esta acentuando…..ainda nao consegui resolver……mas vai o comentario assim mesmo. Retorica pura. Essa estoria de esquerda e direita e um conceito ultrapassado, banal e sem sentido logico. A esquerda boazinha representada pela oposiçao e a direita maldosa pela situaçao e so tertulia para bovino dormitar e encher linguiça no post. A conclamaçao pode ser estendida a todos os democratas serios de qualquer partido. A tal direita (situaçao) esta nua e seus podres estao a mostra e e tao desprezivel quanto a esquerda (oposiçao) que a ela se igualou desonrando a promessa de nao roubar e nao deixar roubar. Se o eleitor for muito exigente e critico acabara votando em alguem do partido adversario so de raiva. 

  6. O PT é um partido de centro,
    O PT é um partido de centro, quando muito, social democrata.
    Os demais estão mais ou menos no mesmo espectro ideológico.
    Agora, a bancada paulista do PT é um caso sério: é formada por tartufos de direita.
    Infelizmente, não há partidos de esquerda no Brasil.

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