Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
[email protected]

A vigésima quinta hora do governo Dilma, por Aldo Fornazieri

A vigésima quinta hora do governo Dilma, por Aldo Fornazieri

O governo Dilma entrou numa fase terminal. Terá que decidir nesta semana se essa hora será o ocaso ou se fará dela a primeira hora de um novo dia. Dado o rosário interminável de incompetências, que fizeram o governo perder todas as oportunidades e respiros que lhe foram dados nesses nove meses de segundo mandato, nada é certo, não dá para apostar. A Operação Lava Jato, por uma dessas tramas que só o acaso e a Deusa Fortuna sabem tecer, é o que ainda segura o governo Dilma em pé.

Na medida em que Fernando Baiano assinou acordo de delação premiada, seria temerário e imprudente tirar Dilma sem saber se virá algo ou não contra a cúpula do PMDB e o próprio Michel Temer. As estruturas fundamentais do Brasil seriam profundamente abaladas se Dilma fosse tirada pelo impeachment e se, depois,  Temer tivesse que sair a golpes de denúncias. Ao menos, até agora, não há nenhuma denúncia que atinja diretamente a presidente. Neste contexto, é menos custoso e arriscado mantê-la do que tirá-la

As incertezas provocadas pela Lava Jato, tanto nos partidos do governo quanto nos de oposição, impedem, até agora, que o PMDB dê um passo decisivo rumo ao rompimento com o governo e criam dúvidas em setores da oposição quanto a conveniência do impeachment. O PT, a rigor, é um partido de oposição ao governo que oscila entre o desejo do impeachment para se livrar da presidente inconveniente deixando Lula livre para tentar reconstruir um caminho para 2018 e o temor de que a queda de Dilma provoque uma derrocada total no partido. Desde os primeiros momentos do governo Lula, em 2003, o PT primou pelo oportunismo: sempre opôs resistências em assumir políticas duras de ajuste que implicassem desgaste e sempre quis aparecer associado e artífice das políticas que rendiam popularidade e votos. Agora, por exemplo, se opõe ao necessário ajuste fiscal ao invés de disputá-lo, propondo medidas de reforma tributária que façam os tributos recaírem sobre os mais ricos, aliviando os que ganham menos.

A  Armação da Tempestade

O agravamento da atual crise econômica teve o concurso de vários atores que agiram, tanto no terreno político quanto nas medidas econômicas, para bloquear soluções razoáveis de contenção e de saídas dos impasses. É verdade que se  pode alegar que a crise econômica tem como pano de fundo o esgotamento do modelo nascido com o Plano Real e continuado no governo Lula com a somatória do tripé exportações de commodities, disponibilidade de crédito e aumento do consumo. Mas se os atores políticos não tivessem concorrido para agravar a crise econômica, o desfecho da mesma seria postergado e remendos seriam adotados até que se buscasse uma alternativa ao modelo ou se desse uma sobrevida ao mesmo.

O governo foi o ator principal do agravamento da crise econômica. Tudo começou com a irresponsável política de deterioração da capacidade fiscal do Estado durante o primeiro mandato – história por demais sabida. Durante a campanha eleitoral, Dilma vendeu fantasias e inverdades que a colocaram em dificuldade para assumir o ajuste fiscal necessário no início do segundo mandato. Ajuste sem o qual o governo não se viabiliza. Junto com o PT, enfraqueceu o ministro da Fazenda, sem romper com a política de ajuste. A falta de clareza e de orientação acerca da política econômica foi gerando a sensação, real, de desgoverno. A gota d’água foi o envio do Orçamento de 2016 com déficit fiscal. Seja o Orçamento uma peça ficcional ou contábil, o fato é que o mercado leu essa iniciativa, patrocinada por Dilma, Aloísio Mercadante e Nelson Barbosa, como uma simbologia indicadora de uma realidade por vir: o abandono, por parte do governo, da busca do ajuste fiscal com a contenção do crescimento da dívida pública.

Era o que faltava para a perda do Grau de Investimento. Tenha-se ou não ojeriza às agências reguladoras, pelo histórico de equívocos e manipulações que ostentam, o fato é que a perda do Grau de Investimento produz efeitos danosos à economia do Brasil, aos investimentos, à produção das empresas, à obtenção de crédito, à dívida pública e ao emprego dos trabalhadores. O cenário dos próximos meses será de deterioração dos indicadores econômicos e sociais.

Semeadores de Vento e Colhedores da Tempestade

As indefinições e falta de rumos do segundo mandato do governo Dilma estimulou a oposição, setores da grande mídia e parte das elites a semearem os ventos da discórdia, do tumulto, do inconformismo, da vendeta e da desestabilização política do país. A oposição, capitaneada pelo inconformado Aécio Neves, transitou para o golpismo, apostando todas as fichas imediatas na cassação da chapa Dilma-Temer e, no limite, no impeachment da presidente. Para inviabilizar o governo e uma saída econômica para a crise, Eduardo Cunha foi eleito presidente da Câmara e a estratégia das pautas-bomba foi implementada com o objetivo de torpedear o ajuste fiscal.

Parte da grande mídia, associada à parcela da elite econômica, insuflou os tumultos de rua de março e abril, também apostando no impeachment e na queda do governo. Dúbio e sem iniciativas, mergulhado no turbilhão da Lava Jato, acossado pelas ruas e perdendo base de sustentação no Congresso, o governo viu as condições de governabilidade se esvaírem.

Os semeadores de ventos começaram a colher a tempestade. Com o governo levado ao corner e com o país sem comando político, a deterioração econômica ficou visível. As perdas atingiriam todos os setores. As empresas, endividadas em dólar, entraram em pânico com a instabilidade cambial. Novos empréstimos só seriam contratados com juros exorbitantes. Bancos, empresas de mídia e grandes indústrias ascenderam o sinal de alerta e todos começaram a jogar água nas labaredas da crise política. Lançou-se mão de cortes de despesas e de demissões. Se isto deu uma sobrevida política a Dilma, o fato é que do ponto de vista econômico, o estrago já estava feito: todos perderam. O Brasil perdeu.

A luta irresponsável e sem limites pelo poder político, somada a um governo frágil, equivocado e sabotado por todos os lados, gerou essa tempestade perfeita que atinge a todos, mas principalmente os trabalhadores que perdem emprego e os pobres que sofrem o impacto da inflação. Aécio Neves também colheu sua tempestade: perdeu a confiança das elites.

O governo, por seu turno, ameaçado de soçobrar em poucas semanas, parece ter despertado de sua letargia e do seu torpor no final de semana que passou. O medo da morte o fez ser tomado pelo sentimento de urgência, e alguma coisa de relevante deverá ser anunciado nesta semana. Resta saber se o que virá vem a tempo de salvá-lo ou se está vindo muito tarde.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política.

 

Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

30 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. As variantes colocadas por este analfabeto politico porém,muito

    sacana são intermináveis,de onde se deduz que o nojento não diz coisa com coisa.Com essa oposiçaõ e esses analistas de merda os progressistas terão muitos e muitos anos no poder pela frente.Saravá!

    1. Ad hominem

      Á parte o autor dizer que o modelo de consumo de massa surgiu no governo FHC, o que não é verdade, no que ele está errado? Ahhhh mas é mais fácil (e preguiçoso) dizer que ele é “sacana”, né?

  2. Oposição

    “A rigor, o PT é um partido de oposição ao governo”. Os brasileiros não fazem essa leitura, muito menos associam o PT a uma resistência ao ajuste fiscal. Pelo contrário; os políticos do PT são vistos como oportunistas e mentirosos, por enganarem a população ao defender o indefensável.

  3. Gostaria de saber se alguem aqui sabe

    onde encontrar algum relatório ou estudo sobre essa deterioração da capacidade fiscal das contas públicas feito pelas desonerações.

    Porque pela impressão que eu tenho até agora , esse alarde todo com essa tentativa de ajuste fiscal , mais os ajustes nos preços administrados pelo Governo((combustível,energia,etc) feito numa pancada só e mais a Lavajato afetando as construtoras e o setor de óleo e gás , estão sendo muito mais prejudiciais para a economia do que essa tal deterioração da capacidade fiscal. Além lógico da crise política , essa sim a principal crise.

    Falo isso porque vejo uma grande quantidade de pessoas falando em crise , mes que não diminuiram em nada o padrão de vida. Continuam vivendo como viveram nesses últimos anos. Situação idem nos lugares de grande circulação como shoppings , barzinhos , restaurantes , carros nas estradas(principalmente fins de semana e feriados prolongados). Nem os preços dos imóveis e terrenos tiveram qualquer abalo. E já era para ter afetado bastante , pois faz quase um ano que só se fala em crise aguda.

    Por isso , gostaria de ver um estudo desse com os números bem claros , pois não sei se o governo precisava mesmo fazer todo esse terrorismo em torno desse tal ajuste , reduzindo bastante a perspectiva de melhora futura da economia.

  4. Para haver impeachment é

    Para haver impeachment é preciso que um crime seja imputado diretamente ao Presidente da República, não é? Um bando de políticos safados, exatamente aquele tipo de político safado que se enquadra naquela categoria que o povo despreza, é que está tentando derrubar a Presidenta sem base legal para isso. Dilma não é Collor, o eleitorado de Dilma e a esquerda consciente (aquela da qual PSOL e PSTU não fazem parte) não são midiotas e analfabetos políticos; coxinhas vão às ruas porque são um bando de ignorantes manipulados pela mídia golpista, mas movimentos sociais, militantes de esquerda e progressistas vão às ruas movidos pela sua consciência política. Será que os golpistas estão pensando que simplesmente aceitaremos que eles roubem os nossos votos passivamente, ainda mais por sabermos que justamente os piores safados deste país é que estão por trás do golpe? Bandido bom é bandido preso, a Venezuela acabou de mostrar isso com a prisão do chefão dos golpistas de lá. A casa deles vai cair e será um tombo daqueles.

  5. Depois de ler um texto como

    Depois de ler um texto como esse só nos resta procurar o próximo bote de refugiados para a Europa….

    Boa parcela desses “analistas”, mídia, oposição e assemelhados entrou em um mundo paralelo de conspirações golpistas elaboradas em gabinetes refrigerados.

    O mundo real não passa nem perto dessas cabeças pertubadas.

    Impressionante.

     

  6. Pelo que andei lendo, Dilma

    Pelo que andei lendo, Dilma vai jogar contra os cargos comissionados e postergar por mais dois anos os próximos concursos públicos, podendo, também, impulsionar novasa aposentadorias, como fez Collor no seu governo. Mais uma classe de trabalhadores será atingida. Infelimente quem paga a conta é sempre o trabalhador, com demissões, e a dona de casa para prover o sustento do lar. 

    O pior é que estão envolvidos em corrupção exatamente os partidos que desejam sentar na cadeira de Dilma. Soube que a Lava Jato já tem em novas denúncias os nomes de Aécio (já citado antes no caso de Furnas), Serra e Aloysio Nunes. Quanto a quadros importantes do PMDB, vê-se o mesmo. 

    Como diz Duvivier, estão tentando lavar o chão com bosta, até porque esses que estão sangrando Dilma poderiam, ao menos, dizer o que fariam em seu lugar. 

  7. Carta ao povo brasileiro tucana
    PROJETO tucano para o brasil: 1. Privatizar toda a água do país (vamos vender, pois temos 12% da água doce do mundo), os brasileiros, se puderem que paguem em dólar o preço desse royalty internacional, afinal o que importa é o lucro e SP foi um bom exemplo do sucesso da empreitada.2. Acabar com a educação (fechamento do FIES, PRONATEC, PROUNI), esses projetos são todos da era FHC e que foram apenas tomados pelo governo petista, além de ter sido desvirtuado, pois só pobres se beneficiaram dos mesmos. O importante é acabar com esses projetos comunistas (já que a educação é a melhor ferramenta de se ter mobilidade social e igualdade de direitos). Teremos apenas universidades públicas, frequentadas pelas zelites do país, que pagam escolas particulares caros para se preparar para as mesmas … Onde já se viu pobre voando de avião, congestionando aeroportos, lotando o nordeste …3. Acabar com o bolsa-família, que também foi uma idéia tucana, que o Lula se apossou. FHC criou o vale-gás, bolsa-escola, que Lula apenas mudou o nome. A abrangência, não tem comentários, visto que não atende quase ninguém (apenas os eleitores do PT)… o PSDB não irá acabar com tudo, podem ficar tranquilos, eles apenas passarão para as prefeituras o direito de escolher os beneficiados, para que possamos montar os currais eleitorais novamente …4. Privatizar a Petrobrax… agora vai… livrar o brasil de um abacaxi que ninguém quer… os gringos vão pegar essa bomba para ajudar o país. Como americano é bonzinho … Fundo do pré-sal pra educação ? para que ? não teremos mais escolas públicas de qualidade para pobres… ENEM, ENAD, avaliação ? isso é mais uma avaliação para a criação da metodologia de ensino comunista na cabeça dos jovens …5. Acabar com a corrupção, colocando a PF sob a chefia de um militante tucano (tucano é acima de quaisquer suspeitas não ? vide o caso do helicoca com 450kg de cocaína, na indonésia seria pelotão de fuzilamento para muitas pessoas, no brasil, hoje não tem nenhum preso e se brincar a droga já está no mercado de novo). um procurador geral que engavete e blinde falsas denúncias (afinal, todas as denúncias contra os tucanos não vem ao caso… brindeiro que o diga), a justiça (ela sempre foi tucanalha).6. E por último, mas não menos importante, nomear o ricardo teixeira para ministro dos esportes. Afinal o brasil ganhou duas copas sob seu comando, ganhou duas CPIs também, da qual o mesmo foi absolvido… o esporte brasileiro ganhará muito (o dr. ricardo foi homenageado pela globo e isso não tem preço, não é sr. marin ?)

  8. “Desde os primeiros momentos

    “Desde os primeiros momentos do governo Lula, em 2003, o PT primou pelo oportunismo: sempre opôs resistência em assumir políticas duras de ajuste que implicassem desgaste e sempre quis aparecer associado e artífice das políticas que rendiam popularidade e voto.” Eis a verdade nua e crua. Na época, uns poucos que denunciavam o populismo do “lulinha paz e amor” eram execrados. A mídia e os setores mais bem informados da sociedade não estavam nem aí para os papagios que eram empurrados para o futuro. Pelo contrário, estava todo mundo embriagado com a ilusão do consumo de massa e de um crescimento sem sustentação, baseado quase unicamente na oferta irresponsável de crédito fácil. Em suma: os governos anteriores, incluindo o primeiro mandato da Dilma, não se preocuparam em contribuir para formar cidadãos, mas tão somente consumidores, para alegria do deus capitalismo. Portanto, Lula e, antes dele, FHC, pariram essa situação e inventaram os coxinhas  que hoje brincam de protestar com panelas teflon e tênis nike. Agora, quem balança a criança é a trapalhona da Dilma. Depois da farra e chegada a ressaca, os pais aloprados sairam de fininho e deixaram a babá maluca balançando o berço.

     

     

  9. necessidade de atacar o PT. Por que?

    professor Aldo, que medida de ajuste, em 2003, os petistas do Congresso Nacional não votaram favoravelmente? Medidas propostas pelo petista Lula e pelo petista Palocci. Medidas que desagradaram sua base eleitoral, inclusive. 

    então, que história é essa do PT ser partido oportunista?

    para que inserir um ataque gratuito em seu artigo ao Partido dos Trabalhadores?

    nós temos memória, lembre disso. 

  10. Ele diz: “Para inviabilizar o

    Ele diz: “Para inviabilizar o governo e uma saída econômica para a crise, Eduardo Cunha foi eleito presidente da Câmara e a estratégia das pautas-bomba foi implementada com o objetivo de torpedear o ajuste fiscal”

    E a culpa é de Dilma.

    Fico imaginando esses teóricos dizer que Lula e Dilma deveriam ter feito isso, ter feito aquilo. Devem entender muito pouco de politica brasileira. Pelo menos em duas situações, Lula, com todo o apoio da Sociedade (80% de aprovação), foi derrotado: (i) quando tentou colocar em discussão a Lei dos médios foi bombardeado pela imprensa hegemonica e Michel Temer, e teve que recuar. (ii) Lutou pelam manutenção da CPMF e também foi derrotado pelo congresso. Ou seja, qualquer outra tentativa de impor mudanças que combatessem os privilégios seria derrotada, porque o congresso era de maioria conservadora e defendia interesses do grande capital. E a culpa é de Lula e do PT que não fizeram o que tinham que fazer.

     

    Dizem que um dos principais problemas do páis é o sistema político. Pois bem, Dilma tentou fazer uma reforma política ouvindo a sociedade, por meio de plebiscito. Foi flagorosamente derrotada, inclusive com o apoio de Michel Temer, e a culpa é de Dilma.

     

    Então, senhores, num pais democrático, se o congresso quiser sacanear com o governo ele sacaneia. E é isso que estão fazendo com Dilma. Por isso Lula teve que no início beijar a mão de Sarney, Renan, Jader……..

     

    E hoje o problema, Sr. Aldo, é fundamentalmente político, porque não querem que o PT assuma mais um mandato.

    O Sr. que é da Sociologia deveria fazer um histórico do porque Dilma foi levada a essa situação atual. Como não fez vou tentar fazer:

     

    1- No início do primeiro mandato, demitiu vários ministros da base aliada que eram suspeitos de corrupção. Lula teve que pedir a ela para pegar leve. Dilma ganhou a antipatia dos políticos.

    2- Falou em colocar em prática a lei dos médios – ganhou a antipatia da mídia

    3- Reduziu o juros a niveis baixos – ganhou o odio velado dos banqueiros.

    4 – Sugeriu um plebicito para a reforma política – o descontentamento da classe política que já era grande azedou de vez.

    5- em uma concorrencia pública fixou o ganho das empreiteiras – ganhou a ojeriza dos empreiteiros.

    Ou seja, ao meu ver Dilma e Lula lutaram e lutam sim por um Brasil melhor.

    Então, claramente existe uma conspiração para evitar que o PT assuma por mais um mandato. A idéia não é só impedir. É destruir um partido que melhor entende as necessidades da pessoas mais simples, para que eles governem por mais 100 anos.

    O bombardeio é tão forte que até pessoas pobres e de classe média que foram MUITO beneficiadas pela inclusão tem ódio do PT.

     

    Vá entender!!!!!

     

     

  11. Que fase terminal que nada. O

    Que fase terminal que nada. O que está tornando-se terminal é esse discurso antidemocrático de admitir que um governo eleito possa ser defenestrado do poder somente porque, tendo errrado ou não, adote medidas, seja obrigado a correções de rumo, como vem acontecendo. Claro que houve erros, e o mais sério foi não ter se apercebido que  a queda do preço de nossas principais mercadorias de exportação e o do petróleo, fosse uma passageira questão de mercado, mais ligada à especulação, do que também reflexos de problemas da economia internacional, inclusive da China. A oposição que certamente é mais palatável a quem adota esse discurso derrotista, catastrófico, tem dificuldades para apresentar-se com possibilidade de ocupar o Governo, porque sua história (péssima história) não ajuda. Se há esforços para não levar o desemprego para níveis europeus, não entregar nossas riquezas, medidas que com a oposição à frente, aliás por quase uma década foi o procedimento que seguiu, seriam medidas adotadas com todo rigor. O empresariado nacional, cuja ciranda financeira, infelizmente adotada pelo Governo para tentar segurar a inflação, foi a opção que restou, sabe muito bem que lhe é mortal esse tipo de condução dos negócios, embora financeiramente não estejam perdendo, mas tendem a vender seus ativos, e ficar com as contas recheadas, de grana ou de micos. O povo mais pobre (o povão), que passou a desfrutar de outra status de proteção social, seja no salário mínimo, seja no Bolsa Família, seja no emprego mais abundante, dificilmente apoiará ou deixará de se movimentar no sentido de preservar as benesses que lhe chegou às mãos, através de governos de viés trabalhista. Esses são os entraves que impedem que os golpistas vão à frente nos seus desejos de impeachment, golpe de estado, ou golpe paraguaio. O problema é o dia seguinte, como segurar a onda, como se explicar ao mundo, já que o Brasil não é mais uma pequena economia com pequena população como acontecia em 1964, tendo reflexos na economia global, desestabilizando ainda mais importantes economias que já se encontram combalidas, mundo afora.

  12. Frente Brasil Popular

    Deus do céu, agora cai! Toda semana leio um artigo, aqui ou acola, dando conta do fim do governo Dilma Rousseff. Ora apavora ora desanima ora é risivel. Em todo caso, ainda que concorde com algumas afirmações do artigo, o momento, penso eu, é de buscarmos soluções que ajudem o governo, e não afunda-lo. Logo, fico com a Frente Brasil Popular, até o fim lutar por esse governo ai, que não é o pior que ja tivermos. 

    1. O autor em 2005 escreveu um artigo técnico denominado:

      “As razões da crise do governo e do partido dos trabalhadores.” ou seja, é expert em diagnosticar crises no PT, um dia ele acerta.

  13. O próprio governo é que

    O próprio governo é que fomenta toda essa celeuma abordada pelo articulista. Por que o governo elaborou uma proposra orçamentária deficitária,  ao invés de realista?

     Explico: previsão da receita com base na espectativa do PIB/2016, partindo daí para a fixação da despesa. Se isto tivesse sido feito, essa discussão de ajuste fiscal, que dá corda para especulação da mídia e da oposição, enfraquecendo o governo, não estaria acontecendo.

  14. Previsão meteorológica e política tem as suas dificuldades.

    Assim como os meteorologistas os cientistas sociais estão se especializando em decretar o fim de ciclos de tempo e de governos, e como os primeiros eles são ótimos em prever a chuva quando está chovendo e previr o tempo bom da mesma forma, agora quando o tempo está instável a previsão se torna mais um jogo de cara e coroa.

    É importante destacar que o Dr. Aldo Fornazieri detêm uma longa trajetória de demarcação de crises dos governos do PT, pois já em 2005 ele escrevia: “As razões da crise do governo e do partido dos trabalhadores.”, ou seja, já há dez anos ele tentava descrever a crise do governo dos Partidos dos Trabalhadores. Talvez com a sua experiência de identificar crises no PT ele neste momento teria todas as condições de fazer mais um trabalho com o título de “O porquê da resiliência do Partido dos Trabalhadores” do que tentar mais uma vez diagnosticar a crise do próprio.

    A visão de todos é como sempre uma visão política, e como é difícil delimitar mesmo por artigos de opinião qual é exatamente a posição política de cada, fica difícil definir quanto da opinião está baseada em preconceitos e desejos, por isto a crítica aos críticos de situação política torna-se muito difícil.

    Como afirmado, a crítica aos críticos é difícil, tentaremos não criticar o artigo, mas sim levantar hipóteses que demonstram que talvez não seja a 25º hora do governo Dilma, mas algo antes da 24º num valor exato que só o futuro dirá.

    Já tivemos no país situações econômicas muito mais complicadas que a atual, já tivemos no país situações políticas também mais complicadas. Governos como o de JK que aparentemente nos dias atuais aparecem como um governo que em cinco avançou cinquenta anos e que era uma época de felicidade e tranquilidade. Todos esquecem que antes do início do governo e após o início do mesmo o presidente JK teve que enfrentar duas revoltas de oficiais da força aérea, sendo que a Revolta de Jacareacanga chegou a ocupar militarmente algumas cidades por um período de duas semanas.

    Se junto com a república nova agregarmos a análise da república velha veremos que as tentativas de golpes foram dezenas, a maioria frustrada e algumas exitosas, com alguns governos sofrendo mais do que uma tentativa de golpe. Já tivemos golpes puramente militares, o exemplo da Revolta de Jacareacanga é um deles, tivemos golpes em que os civis lideraram e ficaram com o governo, tivemos golpes de todos os tipos. Porém uma coisa fica clara, o ânimo beligerante das oposições ferozes e implacáveis, como a da antiga UDN, não é condição suficiente para tanto.

    Se o ânimo beligerante nunca garantiu o sucesso dos golpes talvez tenha que se raciocinar qual é a chave do sucesso destes golpes que deram certo, ou por outro lado, o que levou os outros golpes fracassarem. Fica clara aqui minha opinião que golpes tem êxito não pelas falhas dos governos, mas sim pela capacidade de articulação da oposição e principalmente por um programa claro que esta oposição coloca na sua proposta.

    Analisando os golpes mais importantes que tiveram sucesso no Brasil, a revolução de 30 e o golpe de 64. O que tinham estas tentativas de derrubada dos governos que as levaram ao sucesso. Não se pode dizer que foi a situação econômica da época, pois se assim o fosse governos como o do Sarney que deixou o país em frangalhos econômico com hiperinflação e estagnação teria sido derrubado. Também problemas de corrupção não se podem alegar, pois vários governos foram pródigos em escândalos e poucos foram derrubados por isto.

    Então o que leva ao sucesso de um golpe? Parece-nos que há um pré-requisito fundamental nestes golpes, a visão de uma nova política e de novos atores na situação pós-golpe.

    Em 1930 tivemos como mote a reforma da república, e por trás desta reforma tinha-se claramente a figura de Getúlio Vargas como um político já experimentado e exitoso em seu estado como a figura que iria substituir e reformar a república.

    O golpe de 1930 foi tramado meticulosamente a tal ponto que na época na cidade de Porto Alegre a polícia municipal passou nas semanas anteriores desfilando a frente do comando do 3º Exército, para que os soldados e oficiais se acostumassem e se habituassem ao movimento e no dia do golpe pudesse esta invadir o comando sem muito esforço.

    O golpe de 1964 também foi tramado durante longo período, o Governador Magalhães Pinto chegou a armar um governo provisório até com Ministério das Relações Exteriores, e chegou a ter entrevistas com o Presidente norte-americano John Kennedy, sendo anedótico que numa entrevista após uma dessas reuniões o governador Magalhães Pinto se referia ao presidente norte-americano como o nosso presidente. Mesmo com toda a estratégia de Magalhães Pinto este nunca chegou ao seu objetivo, o de assumir a presidência da República, passando posteriormente a proporcionar cenas ridículas para dar popularidade a sua imagem, como a de aparecer como figurante em uma novela da rede Globo.

    Também que fiquem de lição aos futuros golpistas, golpes dentro de um golpe é mais comum do que se pensa, pois quando a deslealdade e a perda do espírito republicano são manifestadas através do golpe a ética vai para o espaço e traição vira regra. 1930 e 1964 são exemplos típicos disto, quem tramou e lutou intensamente nunca chegou ao poder.

    Voltando para a situação atual o que proporia os golpistas para a situação atual. Uma saída econômica diferente do que o governo federal propõe nos dias atuais? Dificilmente ocorreria isto, provavelmente as condições econômicas sofrerão mais restrições e arrochos do que nos dias atuais. Privatizações não teriam o mesmo impacto do que as já feitas em toda a América Latina há poucos anos. Não há o mesmo ímpeto do capital internacional em se lançar em mercados como o brasileiro. As grandes empresas de petróleo, que teriam algum interesse na aquisição da Petrobrás, salvo se esta for esfacelada e reduzida a várias empresas não há um grande comprador que banque um valor que responda as necessidades do governo atual.

    Na ausência de um grande salto econômico, restará somente uma cruzada contra o PT e seus partidos de apoio. Esta cruzada poderá satisfazer o ânimo de alguns mais ignorantes, porém mesmo depois de algum tempo estes ficarão desiludidos pelas conclusões dos processos e investigações, pois estes não poderão se expandir muito a medida que eles podem atingir com mais vigor a base parlamentar dos golpistas do que do próprio PT.

    A encruzilhada dos golpistas chegará mais cedo do que se pensa, breve vão ter que optar por tentar a legalidade via voto, ou fechar o regime e programar um governo ditatorial com todas as suas mazelas.

    Talvez sem querer eu levantei uma interpretação que sugeri acima, a pesquisa da resiliência de governos democráticos, e esta está baseada na avaliação correta das forças política diversas em sair do que consideram ruim para o incerto e desconhecido, sempre pensando na seguinte máxima, se está ruim ainda pode ficar pior.

  15. Fora a má vontade recorrente

    Fora a má vontade recorrente do autor com o PT, que parece movido por algum ressentimento, a análise acerta um muitos pontos, infelizmente. Não há como negar que o governo esta perdidinho da silva. E que o PMDB só não aderiu ao impeachment devido às incertezas geradas pela Lava a Jato. 

    Fato é que não há autoridade moral o suficiente entre os articuladores do impeachment e possíveis novos governantes para levar o processo adiante com o mínimo de credibilidade, como foi com o Collor. Mas concordo com o autor, o Congresso sem o Lava a jato pairando sobre suas cabeças botaria uma espécio de parlamentarismo emergencial em prático e destituiria o atual governo.

    Quanto à Dilma, creio que ela aposta todas as fichas na Lava a Jato. Espera que esta “limpe” o Congresso, para aí sim aceitar lidar com o que sobrar. No fundo a presidenta é uma moralista de esquerda. Só não é udenista porque estes são hipócritas, ela não. É tão caxias que fazer política torna-se uma impossibildade. 

    1. Sete dias com 60% de acerto.

      Sérgio, só sete dias com mais ou menos 80% de acerto (dependendo da região).

      Agora prever em política é um dia com 50% de acerto!

  16. As conspirações e a discussão no campo da realidade

    As conspirações e a discussão no campo da realidade

    Pode-se aferir uma análise rasa ou superficial, por exemplo, quando o autor do texto repete, de forma acrítica,  a pauta da grande mídia em temas específicos, com potencial lesivo para o governo.

    Exemplo claro deste tipo de ato, é o noticiado envio do orçamento ao Congresso Nacional, prevendo déficit nas contas públicas, e de que isto teria sido a gota d´água para o rebaixamento da nota do país perante as agências que analisam o risco de efetivo pagamento por parte das grandes economias mundiais.

    No caso, trata-se de evidente estratégia destinada a barrar ou ao menos definir claramente a forma de atuação do Congresso Nacional (deputados e senadores), que, até mesmo segundo os setores de oposição e mídia, reputam como irresponsável, na concessão de benefícios a diversos setores, onerando o Estado num momento em que a situação fiscal esta especialmente fragilizada.

    Com o envio de um orçamento deficitário, permite-se que a população veja, ao menos neste espaço, a forma como os deputados e senadores estão atuando para equalizarem ou para prejudicarem o governo na tentativa deste de resolver as atuais pendencias econômicas, ou seja, torna claro, aos leigos, uma determinada face, desconhecida do grande público, mas que, em determinados episódios se torna de fácil compreensão, no que se convencionou chamar de pautas bomba.

    Até mesmo estas simples constatações passam ao largo destes textos altissonantes que prenunciam o Apocalipse e se destinam apenas a demarcar posições, ainda que totalmente descoladas da realidade, e isso pode ser traduzido por total falta de compreensão da matéria ou por necessidade de se manter em conformidade com determinados setores e assim preservar seu status quo e espaço de intervenção, sem sair da cinzenta zona de conforto que habitam há mais de três décadas.  

    Nesta mesma linha, a ilação de que o PT desejaria se livrar de uma Presidente inconveniente (de seu partido e eleita com o esforço deste partido) é de uma tal insanidade que agride a inteligência até mesmo de pessoas desacostumadas a pensar, de modo que chego a conclusão de que o autor que veicula tais boatos, nestes casos, traduz um desejo pessoal, o qual, por um lapso incluiu no texto, num momento de descuido, mas que revela, de forma clara, sua falta de conteúdo.

    A destituição da Presidente Dilma, não ameaça o partido dos trabalhadores, ameaça a Democracia, e, sem democracia, não há projeto de nenhum partido, mas apenas dominação e repressão,  e neste caso, não é necessário ser nenhum estudioso ou intelectual orgânico para ao menos vislumbrar tal cenário.

    Em sequencia e não menos superficial, e a conclusão de que o “golpe” não ocorre pois, em face da provável delação de Fernando Baiano, teriam ficado indefinidos os próximos implicados na operação Lava-Jato, que poderia atingir Michel Temer e seu partido, o PMDB.

    Esquecem que, entre investigados, temos, Eduardo Cunha, Presidente da Câmara dos Deputados, Renan Calheiros, Presidente do Senado, diretamente ligados a linha de sucessão presidencial e que, no final das contas, atuariam decisivamente num processo de impeachment, sendo que ambos são do PMDB.

    A possível ampliação da Lava-Jato, não é motivo para que se adie o “golpe”, mas sim para que se acelerem tais movimentos, uma vez que, claramente coloca uma Presidente até agora sem nenhuma implicação como culpada do escândalo de corrupção e propina, como centro de uma trama, em que os seus algozes, que servirão como juízes, é que estão sob a suspeita de estarem envolvidos em todo este assalto ao Estado brasileiro.

    Por fim, ao contrário das previsões, de caráter politico conspiratórias, a solução para o governo Dilma, passa necessariamente pela economia, e, neste caso, como ainda não visualizado claramente nem pela oposição nem pelos analistas de plantão (tipo Globo e outros), a discussão e definição do Orçamento é peça fundamental na redefinição das atribuições, responsabilidades e culpas de cada esfera de poder.

    Este é o espaço de disputa hoje, e quem quiser defender a democracia, tem que se posicionar de modo a deixar claras as responsabilidades e o tipo de Estado e prioridades que serão adotadas.

    Pausa.

    Alguns destes – não todos -, hoje chamados pela grande mídia de cientistas políticos, título por eles orgulhosamente exibido, são indivíduos que, depois de um tempo de rebeldia juvenil,  dedicaram-se a construírem espaços de inserção puramente intelectual (sem compromisso com a realidade) em uma auto denominada esquerda nacional, ou seja, passaram a atuar num campo específico, mais precisamente, no espaço da academia.

    Esta “esquerda” ilustrada, que estudou Marx, Lênin e Trotski, que adentrou nos meandros da revolução francesa, e que, em suma, passou mais de três décadas, analisando e enquadrando todos os movimentos que se haviam posto sob tal prisma, ou seja, todos os movimentos que se poderiam definir como tendo uma origem popular de insurreição e de ideologia que pudesse ser considerada de “esquerda”, eram logo catalogados e minuciosamente estudados para ver sua identidade histórica e, desta forma, poder ser analisado seu potencial revolucionário e de transformação da sociedade, apenas vislumbrado em livros.

    Redefiniam, desta forma, sob seus parâmetros, os movimentos, e os idealizavam ou impiedosamente lhes vaticinavam a destruição ou pior, à sucumbência pequeno burguesa, espaço ao qual – apesar de negarem-, com o tempo, ficaram de tal forma ligados, que isso passou a lhes turvar a visão.

    Passaram a repetir-se, pois os parâmetros eram seculares, e as ideias, cópias mal feitas dos mestres, pois deslocados no tempo e espaço históricos, fadados ao erro,  e os potenciais Príncipes, fossem partidos ou instituições revelaram-se logo adiante pura miragem, “se desmanchavam no ar”.

    Apesar disso, apesar de verem suas teorias, uma a uma serem postas abaixo por um incompreendido mundo moderno que não permitia fosse colocada a roupa autoritária de suas verdades empoeiradas e saídas  de um baú, renegado até mesmo pelos piratas mais fajutos, ainda assim, não conseguiram, até hoje, se desvencilharem de suas ideias fixas de 30 anos atrás, tornaram-se prisioneiros de sua condição social, são intelectuais que exibem sua cultura antiga e conhecimentos hermeticamente fechados, como um fim em si mesmo, sua justificação social e eterna incompreensão perante o mundo.

    Por isso escrevem compulsivamente sobre os problemas da esquerda no poder, mais precisamente sob as agruras do PT, ao qual acompanham desde a origem, e a cada passo apontam improváveis desvios, ainda que imaginários, ainda que frutos da vilania ideológica, que, muitas vezes, serve apenas para manter seu status quo, para manter sua visão crítica de mundo, como parcela essencial da humanidade.

    Esquecem, por óbvio, por viverem de teorias com interpretações estanques da realidade, que passamos a viver num mundo cada vez mais sob o jugo do capital, seja produtivo ou rentista, e que, sob qualquer ótica, tem pleno controle dos mercados, sendo que, com a derrocada do estado europeu do bem estar social, a margem de manobra de setores mais progressistas, nem mesmo ouso falar de esquerda, ou mesmo vagamente socialistas, ficou deveras restrita, dependendo da capacidade de novos dirigentes de se reinventarem, e assim, nestes reduzidos espaços, tecerem novas formas de inserção e participação social. 

    Nesta conjuntura adversa, aqui no Brasil, o primeiro passo foi dado, a retirada das pessoas de sua condição de indigência e miséria, a criação de uma consciência, ainda que embrionária, de que são sujeitos de direito, tanto econômicos quanto sociais, são cidadãos, e, isso, por ter sido internalizado como fator integrante da personalidade das pessoas, patrimônio indisponível, não mais se faz possível que alguém tente lhes retirar tal condição, sem resistência e luta.

    Este famoso acumulo de forças, tão incensado em épocas pretéritas por esta academia “socialista”, neste momento, ao invés de incentivo a sua consolidação e maturação, deu lugar a uma cobrança pela adoção de projetos de ruptura social e antagonismo de classes na forma pura e primitiva, uma volta ao passado em detrimento de sua concepção mais coerente e atual, ou seja, de evolução das relações de poder e estruturação social, somente alcançável pela disponibilização dos denominados direitos sociais, educação, moradia, saúde e trabalho.

    O modelo antigo de ruptura, traz,  ainda, o germe da violência e tem no atual modelo global corporativista e rentista, um inimigo mortal, imensamente superior em armas, manipulações e capacidade de cooptação, que inviabilizaria qualquer tentativa de eventual tomada de poder pela força.

    Longe de captarem tal conjuntura, muitos “cientistas políticos”, cujo academicismo fez com que sempre olhassem o povo de longe, apesar disso, sonharam em educar este povo segundo suas fórmulas, ao invés de conhecê-lo e tentarem fundir suas convergências.

    Este é um dos maiores erros de grandes setores da “esquerda” que ainda os consideram seus condutores e mentores, sem se darem conta que o PT tem pago um preço amargo por tais disputas de manutenção de tal  discurso de “esquerda”, tanto os de ruptura como os de adequação.

    Estes intelectuais, com tal visão e formação (que ainda tem laços com o partido, em seu sentido histórico de ideia e origem, ainda que não hegemônicos em sua intervenção partidária), não conseguem vislumbrar a realidade, nem mesmo quando Lula lhes deu inúmeras lições e, talvez por isso, ainda hoje não o perdoem, pois, com seu pragmatismo e conhecimento da realidade sempre suplantou com sobras, a visão acadêmica desses que, com seus antolhos e binóculos, voltados não somente ao passado, mas a um lugar mais próximo, aos seus umbigos, sempre tiveram travados seus passos.

    Olhem o panorama mundial, vejam como se movem as peças, vejam como se move a economia.

    Até hoje, se ressentem do fato de Lula através de uma simples percepção, ter tirado o Brasil da crise mundial de 2008 e depois ter consolidado um excepcional progresso nas condições sociais e econômicas da população mais pobre.

    Não foi nenhuma análise aprofundada, fruto de estudos de economistas dignos de ganhar um prêmio  Nobel. Sim, não foi nada perceptível para doutores, ensimesmados em livros que não tem o condão de dizerem nada além do passado, o qual de nada serve a quem não adquiriu a sabedoria para interpretar os dados da realidade para projetar o futuro.

    A economia, e em especial a economia brasileira, tem um forte, excepcional, componente anímico.

    Assim, quando Lula afirmou, no alto de seu carisma que no Brasil, a crise seria uma marolinha, nada mais fez que estimular o mercado os trabalhadores as pessoas a exercitarem seus afazeres, a criarem e produzirem riquezas, para todos.

    E ao fazer isso, disse ao mundo inteiro, ensimesmado e recolhido, que queria ter relações comerciais com todos e, deste modo, deu uma lição aos arautos da ruína, pois ofertou oportunidades e coisas e gentes e boa vontade, e se espalhou, em forma de Brasil, por todos os espaços do globo.

    O povo entendeu isso, e entenderia se de novo Lula lhes conduzisse, e isso, por um singelo motivo, as pessoas acreditam no ex-presidente e na forma como ele, sem otimismos descolados da realidade, disseca e desvenda o atual momento que a economia e a sociedade mundial vivem, e descobre os caminhos que levam a busca do bem estar comum.

    O tempo das utopias se constrói lentamente.

    E neste momento, a única coisa imprescindível, como sempre, é o povo e suas condições de vida, a disputa não se dá, no campo da economia, mas dos agentes que a movem enquanto sociedade e sustentáculo desta estrutura baseada na proteção e segurança das pessoas que a constroem.

    O Partido dos Trabalhadores, não se define em sua burocracia nem nos intelectuais que atestam sua iminente morte, ele se construiu no tempo como patrimônio de todo o povo brasileiro, e , nenhum dos que partilharam deste projeto, que conspiraram pela vida, pode desistir de lhe dar o rumo do qual nunca deveria ter se desviado.

    Há tempo de criar, há tempo de descansar, mas,  agora, é novamente o tempo de lutar, de novamente retomarmos a condução de nossas aspirações, sem retrocessos sociais, mas com a imprescindível luta para mantê-los e ampliá-los.

    E, sem ajustes sociais(anti).

    Sim, meus caros sociólogos de chá  uísque  vinhos caros e bibliotecas cheias de livros lidos e raramente compreendidos, porque a filosofia e a sociologia e até mesmo a economia é feita de gente e vontade, e, sinto lhes dizer, enquanto não saírem de suas tocas e verem a textura, a face, os risos, destes que são o substrato de suas teses, nada do que construírem terá consistência, serão quais castelos de areia, ou casas edificadas sobre a areia, sem o necessário alicerce feito da pedra bruta das gentes que efetivamente são ao fim e ao cabo, o que importa e define este conjunto excepcional que se convencionou chamar sociedade, e que na realidade, deveria se pautar pelo simples reconhecimento da vida humana como pilar fundamental.

    Observem o mundo, privilegiem a visão clara dos que estão sendo subjugados, vilipendiados, e dai extraiam suas teorias, mas, nunca, jamais, de forma alguma, ainda que sob o disfarce de teses elaboradas, tentem decretar a extinção,  desta forma generosa de ver o mundo que encantou e ainda encanta pessoas simples que acreditam que a luta pela emancipação e respeito a dignidade de todos os seres humanos basta pra coroar, de forma plena, sua existência. 

  17. Fala sério… Justificativas

    Fala sério… Justificativas para a queda do governo Dilma. 

    Lamento Aldo, mas o que está em jogo não são erros que justifiquem a cassação de uma presidente legitimamente eleita e sem qualquer motivo grave que a macule. É a maturidade do Estado brasileiro e a responsabilidade de suas instituições e da sua população em respeitar as regras de um estado democrático de direito. Se Dilma cai, nenhum outro governante brasileiro terá força para fazer qualquer mudança estrutural no país que deixe de satisfazer os aproveitadores políticos e os encastelados, como a imprensa, no poder. Também está em jogo a possível resistência das instituições brasileiras aos ataques de paises estrangeiros que pela geopolitica ou interesse em riquezas naturais pratiquem ações obscuras para a desestabilização do país.

    Todos os países democráticos tem ou tiveram presidentes que erraram administrativamente. Nenhum deles violam ou violaram regras e leis para derrubá-los. 

     

  18. Palavras ao vento.

    Por quê falar em tirar a Presidente se, na opinião do autor, “não há nenhuma denúncia que atinja diretamente a presidente” ?

    A lista de realizações executadas ou financiadas pelo governo federal é enorme. Ignorá-las é ingenuidade ou falta de honestidade intelectual.

    Ela fica, não porque o PMDB está “permitindo”,  mas porque tem fibra e garra e não vai entregar o governo para os entreguistas de plantão.

     

     

     

    1. Não diria o governo Dilma!

      Não diria o governo Dilma! Diria que o banco central é o Guadião dos bancos 30 Horas!

      Se não enfrentar o controle do BC e, devolvê-lo à Nação, o País fica aos ditames dos bancos!

       

  19. O cara tá louco pro governo

    O cara tá louco pro governo cair e, com ele a democracia e coloca seu desejo na conta do PT. Fica torcendo, na encolha pq não tem cotagem de se colocar, de uma vez, ao lado dos golpistas.

  20. Curioso

    Li e reli o artigo, e não encontrei uma só linha em que o autor defendesse o impeachment de Dilma. Ao contrário, afirma com razão que os golpistas deram com os burros n’água em sua campanha pelo impeachment, o ferrabrás dessa campanha à frente: “Aécio Neves também colheu sua tempestade: perdeu a confiança das elites.”

    Parece também que ninguém leu o último parágrafo, em que ele diz que a movimentação do governo este último fim de semana e as medidas que vai apresentar “vem a tempo de salvá-lo ou se está vindo muito tarde”. Quem viver, verá.

    Por outro lado, dizer que o gov. pode naufragar em breve, hipótese a que o Nassif também alude hoje, não tem nada a ver com querer o ipeachment de Dilma. Essa correlação só existe na cabeça desses comentadores. O gov. pode perfeitamente continuar até 2018, como um morto-vivo. E é essa, aliás, uma estratégia de parte da oposição, do Serra inclusive ao que parece: deixar Dilma se arrastar até o fim do seu mandato, desgastando-a dia a dia, para inviabilizar Lula 2018, o grande pesadelo dessa gente.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador