Abraham Weintraub: o extrato Bolsonarista

Com toda certeza ele merece o ostracismo, a repudia nos livros de história, mas Weintraub agora representa uma parcela do Brasil

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, fala à imprensa, durante entrevista, sobre o Enem Portugal.

Por Rodrigo Veloso Silva e Ricardo Manoel de Oliveira Morais

No Justificando

A saída pelas portas dos fundos do cargo ministerial é opaca, se quer mereceu uma coletiva de imprensa. Talvez isso revele a relevância positiva do ministro no seu cargo: Nenhuma. Um desempenho pífio, embasado num projeto negacionista e de retrocesso latente. Porém, é preciso voltar atenções a esse vídeo de cisão entre o governo e Weintraub.

Bolsonaro se elege em 2018 com uma promessa clara: nomear ministro de acordo com suas capacidades técnicas, sem fazer o que ele mesmo denominava de velha política. De técnico a maioria dos seus ministros nada possuem, com exceção de Damares Alves, Ricardo Velez, Onyx (e aqui não estamos falando do Pokémon, mas daquele sujeito que mal consegue articular o português), Ricardo Sales, dentre outros (salientamos que contém ironia). Sobre a grande capacidade dos ministros, perguntaríamos a um bolsonarista: você confiaria a sua coordenação profissional ao dito Pokémon? Você confiaria a proteção individual de sua cidadania à Damares Alves? Você confiaria o jardim da praça de sua cidade ao Ricardo Sales (pressupondo, claro, que você não o que ver pegando fogo)? Você se submeteria a uma cirurgia a ser realizada por um General? E esta seria a questão mais sensível: você confiaria a educação de seu filho (ou mesmo de seu animal doméstico) ao tal ex-ministro?

Agora sem eufemismos, é de se impressionar a incapacidade do ex-ministro em gerir um dos principais ministérios, afinal a educação é o alicerce de um país. O ex-ministro, formado em economia teve uma gestão marcada basicamente por polêmicas. Revelando um enorme desconhecimento das múltiplas realidades do Brasil, defendeu recentemente um discurso meritocrático em meio a uma pandemia, segundo este por ser uma “competição”. O ex-ministro sequer entendia do que falava, vez que ao ser aprovado em concurso da Unifesp em 2014 com nota mínima, ele era o único candidato.[2]

Dito isto, poderíamos nos questionar: qual a finalidade de um ministro sem projeto em um ministério vital a condução do país? Simples. O fim sempre foi político. Weintraub sempre se colocou na linha de frente da ideologia bolsonarista. Defendeu um projeto de combate ao “marxismo cultural” nas universidades, ideia advinda do nazismo alemão, diga-se de passagem; cortou investimentos em universidades acusando de “balbúrdia”, produção massiva e consumo desenfreado de drogas, fez diversas declarações alusivas a regimes ditatoriais, ofendeu minorias, acusou de maneira caluniosa a China, além dos conflitos contra o STF. Vale apenas ressaltar que é de duvidar que um bolsonarista saiba o que é “marxismo”, quanto mais o que seja “cultural”. Chegamos a questionar se um bolsonarista saberia onde fica a China (e, apenas para deixar claro, não há ironia, visto que a geografia é ensinada após a alfabetização, YmpreCyonantemente).

Com a escusa que o povo queria saber o porquê de ele estar ocupando aquele cargo o ministro proferiu sentença ofensiva aos ministros da suprema corte e incitou a prisão destes em reunião ministerial. E realmente, Weintraub consegue nos mostrar porque por tanto tempo ocupou tal posto. Para fazer parte do governo de Bolsonaro não basta a incompetência, ódio a garantias fundamentais, flertes anti-democráticos, é preciso a perpetuação desses vieses ideológicos. Se a incompetência bastasse, Velez teria ficado mais do que 3 meses.

Em seu breve discurso de despedida, Weintraub diz que certamente há muitos “Weintraubs” no Brasil. E, tristemente, ele parece estar certo. A adoção de posicionamentos meramente políticos em busca do conflito gerou uma empatia daqueles que são simpáticos ao bolsonarismo. Afinal, a baixeza moral gera mais empatia que a cultura geral. Alguns simpatizantes militares e a ala olavista dos fiéis ao desgoverno veem no ex-ministro sua representação; medidas autoritárias, anti-cientificismo e ataques a grupos seletos fizeram parte da trajetória de Weintraub e sua aclamação pelo eleitorado de Bolsonaro.

Ora, se o ex-ministro parecia tão agradável aos olhos do bolsonarismo e da sua base mais engajada e proativa, por que essa saída de certa forma previsível após pronunciamento do presidente sobre ato “inconsequente” do então ministro? Muitas são as possibilidades quando se fala desse governo, o qual nem sempre se mostra claro em suas condutas. Abraham foi duramente criticado pelo presidente após comparecer em movimentos de apoiadores do presidente, coisa que o próprio presidente já fez.[3]

“Até tu, Brutus?”, depois de inúmeras desavenças as críticas surgiram diretamente do Presidente. Mas não se engane ao analisar de maneira fria a situação. É provável que Bolsonaro não esteja tão preocupado com as sucessivas falhas e polêmicas envolvendo o ministério da educação. O governo bolsonarista é egoísta, narcisista ao estilo Luís XIV: “eu sou a constituição”[4]. O objetivo é simplesmente o uso da máquina pública para manutenção e perpetuação de poder. A saída do ministro não revela a mudança ou evolução de um patamar ideológico, mas um mero movimento político. Talvez uma trégua com o STF, uma bandeira branca? Uma possível indicação para alinhamento com o conhecido centrão? Só o tempo irá dizer. Mesmo porque, falar em um “alinhamento” com o centrão pressupõe que o tal centrão possui uma linha clara. Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma e Temer, “alinhados” com o centrão, colocam em xeque o tal alinhamento. Talvez alinhamento seja mero eufemismo (e o “talvez” foi eufêmico – só para constar).

O que preocupa é um ensino sucateado de modelo prussiano tentar falhamente se adequar ao ensino a distância, do fundamental ao superior. Um governo que está há um mês sem Ministro da Saúde abre uma lacuna no Sistema Educacional no momento em que escolas e universidades mais precisam de amparo, e pasmem: com o destino do Exame nacional em xeque. Não que o ministro fizesse um bom trabalho, mas é preocupante a literalidade que esse governo pseudo-liberal faz do “laissez faire laissez passer”. É uma válvula de escape, os problemas são ignorados e não existem perante o Estado, assim como está sendo feito com a pandemia desde o início.

Abraham Weintraub, agora ex-ministro e indicado a cargo de diretor-executivo do Grupo de Acionistas que o Brasil representa no Banco Mundial, é o mais puro fel do bolsonarismo. Ele cultivou o quanto pode os mais vis dos ideais para permanecer alinhado ao governo, promoveu o caos e a desordem, sucateou o ensino e na calada da noite, ao apagar das luzes revogou cotas para negros e indígenas na pós-graduação[5]. Mostrando definitivamente a que veio, ou foi. Com toda certeza ele merece o ostracismo, a repudia nos livros de história, mas Weintraub agora representa uma parcela do Brasil, e infelizmente é provável que esse nome figure nos próximos anos no cenário político brasileiro.

Rodrigo Veloso Silva é acadêmico de direito na Universidade Estadual de Montes Claros, 7º período, estagiário no Instituto Municipal de Previdência dos Servidores de Montes Claros.

Ricardo Manoel de Oliveira Morais é doutor em Direito Político pela UFMG. Mestre em Filosofia Política pela UFMG. Bacharel em Direito (FDMC) e em Filosofia (FAJE). Professor.

Redação

1 Comentário

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  1. O principal fator da saída da Weintreub foi que sua conduta e popularidade entre os fanáticos causou ciúmes em Bolsonaro. O bobo da corte estava começando a ter mais cartaz do que o reidiota. Esse foi a falha fatal de Weintreub. Sem isso, ele cumpriu perfeitamente o propósito desse governo de deixar terra arrasada no ensino, principalmente o universitário público.

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