Bolsonaro faz hoje o que combinou com Olavo ontem, por Wilson Luiz Müller

Em vídeo, Olavo dá uma demonstração prática da eficiência das técnicas de manipulação e persuasão utilizadas pela máquina de propaganda nazista

(Washington, DC – EUA 17/03/2019) Palavras do Embaixador Sérgio Amaral, Embaixador do Brasil em Washington. Foto: Alan Santos/PR

Bolsonaro faz hoje o que combinou com Olavo ontem

por Wilson Luiz Müller

Quase sempre, quando surge a consciência de que algo deu muito errado, houve antes uma promessa  fundada numa falsa consciência. É o que parece estar acontecendo com importantes setores da sociedade brasileira que até ontem alimentavam ilusões quanto à possibilidade de haver um governo minimamente razoável com Bolsonaro.

Quando se dá o poder a alguém que passou a vida inteira mentindo,  quebrando regras, difamando e agredindo outras pessoas,  não poderia se esperar que essa pessoa, sendo detentora do poder máximo, passasse a ter apreço  à verdade e tratasse com civilidade as pessoas e instituições. Quem acreditou nisso não estava com a mente operando no plano das racionalidades factuais, mas perdido em exercícios místicos, desejando impulsionar um milagre para fazer surgir do sanguinário Saulo o santo Paulo.

Este é o momento do ponto de inflexão em que muitos abandonam as ilusões que ainda tinham sobre o lugar aonde Bolsonaro pretende nos levar. Antes que seja tarde, agora  é preciso separar o que é intenção verdadeira de Bolsonaro – o material de que é feito, o que vai definir seus movimentos táticos na direção do seu objetivo – daquilo que são manobras diversionistas para confundir a opinião pública.

Há na internet um vídeo revelador que pode ajudar a compreender como chegamos ao momento presente. O vídeo pode ser buscado pelo seguinte título: “Hangout de Olavo de Carvalho com a família Bolsonaro – 13 de fev. de 2014”. Trata-se de uma conferência promovida pela Rádio Vox entre o ideólogo Olavo de Carvalho e Jair Bolsonaro, acompanhado de seus filhos Flávio e Carlos. O vídeo é importante porque é uma conversa entre iguais; eles ali são o que são, não encenam.

A conferência ocorreu em fevereiro de 2014. Nessa data não passava pela cabeça de Bolsonaro a ideia de ser candidato a presidente (pelo menos não em 2014). Ele chega a dizer que tem pouca influência no Brasil. Mas ele está empenhado em liderar um grande movimento para estruturar a extrema-direita no país, com o apoio de Olavo de Carvalho.

Em 2018, na montagem do governo Bolsonaro, Olavo indicou três ministros. O fato comprova o reconhecimento da importância que o ideólogo teve – e ainda tem – na estruturação do movimento da extrema-direita que permitiu a chegada Bolsonaro ao poder. Depois de eleito, em viagem aos Estados Unidos, Bolsonaro se reuniu com Olavo de Carvalho e Steve Bannon, um dos estrategistas da campanha de Trump.

Olavo de Carvalho, Steve Bannon e Roger Stone (que incentivava Trump a disputar a presidência desde a década de 80) integram um movimento mundial de ideológicos e empresários bilionários alinhados com a facção do partido republicano que elegeu Trump nos Estados Unidos. Em vários países, esse movimento  obteve êxito na eleição de presidentes identificados com o seu ideário.

A relação de Olavo de Carvalho com os Bolsonaro é antiga. Num outro vídeo, de 2012, Flávio Bolsonaro foi levar pessoalmente ao Olavo,  nos Estados Unidos,  a medalha Tiradentes concedida pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, a mesma que Flávio levou ao capitão Adriano da Nóbrega quando este estava preso. Neste vídeo com Flávio, Olavo abre a fala de terço na mão, pedindo proteção à Virgem Maria.

Na conferência de 2014, Jair e Olavo passam uma hora e meia trocando ideias sobre o que pensam do país. Jair se lançaria candidato a presidente dois anos depois. No vídeo, os dois se apresentam para “salvar o Brasil da ruína causada pelo socialismo”, mas não há uma única palavra sobre os problemas reais do país ou sobre algum plano para melhorar a vida do povo. Toda a conversação é um amontoado (com a licença do plágio presidencial) de ideologia no mau sentido – aquela que é um reflexo invertido do que ocorre no plano real. São frases soltas sem nexo com a realidade factual, sentenças proféticas com a pretensão de serem filosóficas. O único objetivo é o de caracterizar a esquerda como um grande mal que precisa ser extirpado da sociedade.

Compreende-se a partir do vídeo todas as afirmações anteriores de Bolsonaro, como a matança dos trinta mil, a defesa da tortura, a eliminação de adversários políticos. E não se enganem os não-comunistas; na luta anticomunista tem lugar para todos. Entre os alvos, que fique claro. O conceito de comunismo que Olavo ensinou para Bolsonaro é tão abrangente que nele cabem inclusive os donos da mídia corporativa. O tratamento que o presidente dá aos veículos de comunicação que não lhe são simpáticos é uma demonstração prática de como as lições olavianas foram bem assimiladas.

Ainda há pessoas que olham para Bolsonaro e dizem que ele é um idiota. Isso está errado. Hitler também era considerado um idiota até dois anos antes de assumir o poder na Alemanha. É verdade que naquela época ninguém sabia o que era o fascismo. Por isso, tivemos Hitler, Mussolini, Franco, Pinochet, Médici, Geisel, Figueiredo. E antes que eles cometessem as atrocidades que cometeram, muitos diziam que não representavam nenhum risco, que no máximo eram um pouco toscos.

Na conferência, Olavo dá uma demonstração prática da eficiência das técnicas de manipulação e persuasão utilizadas pela máquina de propaganda nazista: difamar os adversários, caracterizá-los como gente desqualificada, mentirosa, que não trabalha, que vive de explorar a sociedade e as pessoas de bem, que quer destruir a família e a pátria.

Outra técnica que Olavo ensina, e que Bolsonaro assimilou bem, é que a discussão dos temas precisa ser lavada a um extremo absurdo, porque dessa forma é acionado  o plano emocional (ou irracional), para que os fatos não sejam analisados como fatos, mas como ideia, como narrativa que se faz deles. Ou seja: não existe verdade; a verdade é fruto de uma insistente narrativa martelada na cabeça das pessoas.

É a técnica também utilizada por Roger Stone, estrategista primeiro da candidatura de Trump, para quem não há nenhum problema em ser infame, desde que se atinja os resultados pretendidos. Com essa técnica, as pessoas são convencidas, por exemplo, de que todos os políticos não prestam. (Isso é tão eficiente que grande parte da esquerda reproduz esse discurso que ajuda somente a extrema-direita). Mas alguns desses políticos – mesmo que desonestos também – pelo menos tentam salvar a família e a pátria contra a destruição de todos os valores pretendida pelos comunistas.

Os métodos de disputa ideológica de Roger Stone serão  objeto de análise em um outro artigo. Por ora, basta identificar a conexão entre os estrategistas de Trump e Bolsonaro para entender que a subserviência de Bolsonaro reflete a compreensão de que nenhuma ditadura no cone sul pode prosperar sem o apoio estadunidense. E como Bolsonaro quer implantar uma ditadura, ele precisa colocar o Brasil a serviço de Trump.

Muitos não terão estômago para assistir essa conferência entre Jair Bolsonaro e Olavo de Carvalho. Por isso seguem abaixo alguns fragmentos bastante elucidativos.

Trechos reproduzidos da conferência entre Jair e Olavo:

Bolsonaro conta que aconselhou uma passageira de avião, que viajou a seu lado, a votar num ladrão mas não votar na esquerda. Conta para o Olavo como descobriu o kit gay. Fala com desprezo da ministra dos Direitos Humanos, chamando-a de lombriga anêmica. Fala do episódio do ataque à Maria do Rosário, com ameaça de estupro. 

Bolsonaro comenta longamente o caso do rapaz  que foi espancado e amarrado a um poste. Conclui que  “na favela existe pena de morte”, e que por causa do temor do justiçamento, “eles (os vagabundos) vem para o centro infernizar a gente”. 

Olavo resume a fala de Bolsonaro com a sentença: “na favela existe justiça”. 

Olavo fala da necessidade da direita ter um plano para unificar suas forças e ter um candidato único. Olavo enfatiza que é necessário iniciar a formação de militância, que é uma força dirigida, enquanto que o voto do eleitor é como um spray difuso, que se dilui depois da eleição. 

Bolsonaro diz que gays, população carcerária, beneficiários do Bolsa Família, as minorias, votam no PT. Que a política ambientalista contra o agronegócio é criminosa. Diz que ele, Bolsonaro, não tem muita influência no país. 

Olavo diz que  “lumpen-proletariado: bandido, prostituta, marginal, drogado, manda no país; é a revolução do vagabundo. O operário é desprezado, esse eles estão matando de fome”. 

Bolsonaro volta a falar do kit gay: “qual o patrimônio do pobre? O filho. Quando chega em casa e você vê o filho de seis anos brincando de boneca, você acabou com a vida deste pai”.

Olavo: eles se movimentam entre a estupidez e a perversidade. 

Bolsonaro fala contra a lei das palmadas. “Suécia aprovou em 79. Em termos percentuais é onde existe o maior número de estupros. A piazada cresce sem limites e sem freios. O ser humano só respeita o que ele teme. Se não tiver algo na frente que te ameace, você passa e vai embora.” 

Olavo conta a história de um parente que participou da guerrilha urbana no Brasil e foi trocado por um embaixador. Foi para a Suécia. Depois de um tempo ele disse: aqui sou mandado pelo meu neto. Vou voltar para o Brasil. Prefiro os milicos, a repressão, o Doi-Codi. E voltou para o Brasil”. 

Olavo: o golpe de 64 foi obrigação dos militares porque Jango cometeu crime de alta traição mandando informações para Cuba. 

Olavo: Dirceu foi oficial do serviço secreto cubano. 

Eles comentam o trabalho da Comissão da Verdade, que chamam de comissão da mentira. 

Olavo: para a esquerda há duas espécies: a raça superior são os guerrilheiros da década de 70. O resto não vale nada, pode matar. 

Bolsonaro: menos o vagabundo que ficou aprisionado num poste. 

Olavo: o que achei extraordinário nesse rapaz do poste é que o único ponto que havia sangue era no nariz. Deram um soco no nariz e amarraram no poste. Não tinha braço quebrado nem perna quebrada.  Isso, no Brasil, é o crime mais hediondo que eles podem conceber. 

Olavo: da esquerda não dá para acreditar em nada do que dizem. A vida deles é uma falsificação. 

Flavio: a internet vai ser o divisor diferencial na eleição deste ano. 

Bolsonaro: se fosse país sério a pena de morte seria bem vinda. 

Olavo: eu também aprovo. Ser contra a pena de morte é defender que nenhuma punição pode ser tão grave quanto o próprio crime. Isso é um absurdo. 

Olavo: estou preocupado com as maquininhas de votação. A empresa que fabrica essas maquininhas aqui foi multada por fraudes. As maquininhas de votar são a última esperança do PT. 

Olavo: a mídia esquerdista bloqueia as informações verdadeiras. Na Venezuela está havendo uma matança neste momento. Mataram três mil. Não sai uma linha na mídia brasileira. Considero os donos da mídia brasileira todos criminosos. 

Olavo: escrevi sobre o Foro de São Paulo. Me cortaram do Globo porque não pode falar do Foro de São Paulo. 

Olavo crítica a ditadura porque não combateu ideologicamente os comunistas. “Se você assume o poder e não queima a reputação do seu inimigo, um dia ele levanta do túmulo e acaba com você”. […] “Se você for eleito presidente, o Estado está todo aparelhado pelo PT e pela esquerda. Eles dominam o funcionalismo público. Você fica cercado de inimigos. Tem que ter um projeto de desmantelar essa coisa. O senhor chega lá e fica como um pato sentado e ficam todos os funcionários acabando com seu governo.” 

Olavo pergunta se Bolsonaro está pensando nisso se chegar na presidência. Bolsonaro pergunta se Olavo está se referindo à presidência da Comissão de Direitos Humanos ou à presidência da república. Olavo diz que está se referindo à presidência da república. Bolsonaro parece surpreso. Olavo quer saber o que Bolsonaro pensa sobre a chegada à presidência. 

Bolsonaro diz que está falando com os candidatos da direita: “tem que se aproximar dos militares, vai ter que ter uma força do seu lado. Fazer acordo com o legislativo não vai dar certo.” […] “acredito nas Forças Armadas como último bastião contra o avanço do socialismo, que o pessoal vai dar a mesma resposta que em 64.” 

Bolsonaro relata um diálogo com João Figueiredo, o último presidente da ditadura. “Figueiredo me disse: vai chegar o dia em que a população vai nos pedir de joelhos para voltar.” […] Hoje a gente tá presa em casa”. 

Olavo: no tempo da ditadura tinha segurança. 

Não deixa de ser assustador o fato de esses diálogos serem a expressão fiel do que pensa e pretende o presidente da república, inspirado pelo principal ideólogo da extrema-direita brasileira. Juntos, com o apoio da mídia corporativa que hoje querem varrer do mapa, eles produziram o clima de ódio reinante no país.

O que acontece hoje é o que planejaram ontem. E o que farão amanhã, se a sociedade não acordar a tempo, também será o que pretendiam fazer ontem. Não há razão para crer que tenham mudado de ideia.

Wilson Luiz Müller – Membro do Coletivo Auditores Fiscais pela Democracia (AFD)

Redação

1 Comentário

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  1. Se o pau do olavo levantasse e ele não andasse cagando pela casa toda, ele seria aquele tarado de esquina, pegando criancinhas em troca de doces e pirulitos.
    Mais que isso, seria capaz de devolve-las na porta de suas casas, sob ameaça, cheias de dores e vergonha, marcando novo abuso para o dia seguinte.
    Mas como ele não tem essa “possibilidade sexual”, ele vai para internet pegar outros incautos para abusar, espalhando as suas idéias venéreas pelo país afora através de seus imbecilizados e contaminados acólitos.

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