Cloroquina – vai uma dose, ou prefere tubaína?, por Sergio Saraiva

Cloroquina é uma dose – sim a dosagem é o que importa.

Cloroquina – vai uma dose, ou prefere tubaína?, por Sergio Saraiva

Cloroquina é uma dose – sim a dosagem é o que importa.

Falando um pouco sobre cloroquina. E discutindo o seu uso no tratamento do COVID-19.

A cloroquina é um medicamento seguro?

A cloroquina é conhecida e usada desde 1944, principalmente no tratamento da malária. Usada inclusive com crianças e mulheres grávidas.

O protocolo de uso da cloroquina para esse fim está estabelecido.

Vírus e microrganismos

Mas aqui é necessário entender que a malária é transmitida por um protozoário – Plasmodium malariae –  um microrganismo de apenas uma única célula – mas mesmo assim um ser vivo – que parasita as células do sangue – os glóbulos vermelhos.

Já o que se popularizou chamar de COVID-19 é uma doença infecciosa – síndrome respiratória aguda grave – causado por um vírus (SARS-CoV-2) – o coronavírus.

Existe uma enorme diferença entre um protozoário e um vírus.

Um vírus em última análise não é um ser vivo.

Trata-se de uma informação química – um filete de RNA – ácido ribonucleico – e, às vezes, também DNA – ácido desoxirribonucleico.

Simplificando: uma sequência definida de aminoácidos envelopada em um invólucro de proteína. E uma sequência de aminoácidos não forma um ser vivo.

Um microrganismo necessita retirar o meio celular que infecta o alimento que necessita para viver, processá-lo produzindo energia e se reproduzir – e se reproduz por um processo de divisão – mitose – até romper a célula e atingir a corrente sanguínea do hospedeiro e se disseminar.

Um vírus não é um ser vivo. Permanecerá ativo, mesmo fora de uma célula hospedeira, enquanto sua carapaça de proteína o proteger. Sem nenhum gasto de energia, sem nenhuma atividade “orgânica”.

Depois que penetra a célula hospedeira, o vírus parasita o núcleo dessa célula fazendo com que ele reproduza a informação química que compõem o vírus. Até que a célula rompa e o vírus atinja a corrente sanguínea do hospedeiro e se dissemine.

Os processos podem até se parecidos, mas você pode matar um ser vivo, mesmo que seja um protozoário de apenas uma célula; já uma informação não morre, necessita ser desativada ou destruída.

E aqui começa a diferença entre tratar malária e COVID-19 com cloroquina.

Combatendo vírus e microrganismos

Existem alguns meios de ação para um remédio combater um vírus ou um microrganismo. Um deles é criar um ambiente celular tóxico. Um meio tóxico que interfira no metabolismo do microrganismo mata o microrganismo.

Já com o vírus, os estudos ainda são iniciais, mas sabe-se que a cloroquina inibe os processos relacionados à formação de RNA e DNA da célula hospedeira, dificultando o mecanismo de replicação do vírus. E aqui a questão é: qual o teor de cloroquina necessário para tornar efetivo esse mecanismo de inibição? Qual a dosagem necessária para inibir de modo eficaz a replicação do vírus nas células infectadas?

Por que isso é tão importante? Porque a dosagem pode matar o paciente antes do vírus.

A questão da dosagem da cloroquina

Qual a dose segura para a cloroquina?

Quanto à segurança de uso da cloroquina, ela é segura em doses de até 25 mg por quilo corpóreo do paciente. Até o limite de 600 mg por dia.

E por curto período de tempo, normalmente 3 dias seguidos. Mas que com controle médico pode ser estendido para até 20 dias.

Então, por que tanta discussão?

Ocorre que a cloroquina tem uma característica bastante problemática. Pouca coisa acima dessa dosagem, a cloroquina já se torna altamente tóxica.

Por exemplo, uma dosagem de 30 mg por quilo já pode ser fatal e levar à morte em questão de horas. Lembrando que a cloroquina afeta o funcionamento de rins e coração.

E mesmo na dosagem adequada, por exemplo, se for feita por uma aplicação do tipo intravenosa e muito rápida, ela também pode matar rapidamente.

Embora normalmente a cloroquina seja de uso oral, em comprimidos.

Cloroquina e coranavírus – por que ainda não é possível o uso massivo

É na questão da dosagem que entra também a questão do uso da cloroquina no combate ao coronavírus.

Ela demonstrou ter ação sobre a doença. E o ideal seria seu uso nos estágios iniciais do contágio, quando a carga virótica no corpo do paciente ainda não é alta.

Mas nos estudos que deram bons resultados, em alguns casos, foi usada uma dose elevada, muito maior do que 25 mg/kg. Ou seja, com um grande risco para o paciente.

Isso quer dizer que ela não pode ser usada em dosagens elevadas? Pode.

Mas com um rigoroso acompanhamento médico. Normalmente com o paciente internado em um hospital. Com monitoramento contínuo das funções renal e cardíaca. Necessários para a intervenção imediata do médico, caso o paciente entre em choque devido a dosagem alta de cloroquina.

E essa é a principal dificuldade no uso da cloroquina contra o Covid-19. Temos leitos de hospitais suficientes para o tratamento monitorado em massa? Não.

Isso poderia ser minorado, se já tivéssemos informações suficientes sobre os efeitos colaterais da cloroquina em dose elevadas em relação ao perfil médico ou ao biotipo de cada grupo de pacientes – jovens, velhos, homens, mulheres, crianças, idosos e por aí vai. Mas não temos. As pesquisas estão estágios muito iniciais, ainda.

Por fim, há garantia de que usada nessas condições ela cure a doença?

Infelizmente não. Ou, pelo menos, ainda não se sabemos.

 

PS: Oficina de Concertos Gerais e Poesia – em algum lugar sempre em frente e à esquerda.

Redação

1 Comentário
  1. Caro sérgio, a tua última e mais importante dúvida já tem resposta no artigo publicado na revista The Lancet no dia de hoje intitulado “Hydroxychloroquine or chloroquine with or without a macrolide for treatment of COVID-19: a multinational registry analysis” e fica claro. Tanto tratamentos com com a Hidroxicloroquina e cloroquina a partir da análise de MILHARES de dados em 671 hospitais em seis continentes esses medicamentos ou aumentam as mortes em 100% em relação quem não as toma ou mais do que isso. São mais de 96 mil casos pesquisados, em que mais de 14 mil tomaram diferentes combinações desses remédios e são acachapante as conclusões.

Comentários fechados.

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