Anos atrás hoje massacres em presídios do norte. Devia-se à expansão de organizações criminosas do sudeste invadindo o norte com intenção de chegar aos plantadores de maconha de países vizinhos. A ofensiva ajudou a entender melhor como se organiza a economia do tráfico.
A cadeia produtiva do tóxico funciona assim:
1. Produtores primários: plantadores de maconha e coca, em geral atuando na fronteira ou em países vizinhos.
2. Logística: empresas de transporte rodoviário, hidroviário e aeroviário, levando a matéria prima para os centros produtores.
3. Laboratórios: onde as plantas são processadas.
4. Produtos químicos: pessoas chave em indústrias químicas, garantindo os componentes, através de desvios da produção controlada.
5. Compradores finais: no exterior ou internamente.
Com a especialização nas diversas etapas, surgiu a figura do empreendedor do tóxico, a pessoa capaz de juntar todas as pontas e montar um plano de negócio. Esse plano é encaminhado a um doleiro, que oferece a oportunidade à sua clientela. Terminado o ciclo, os recursos são depositados no exterior e o doleiro se incumbe da partilha.
As organizações criminosas trabalhavam, inicialmente, na ponta da distribuição. Com o tempo se deram conta de que sua função era estratégica. Primeiro, pela dificuldade de montar esquemas de distribuição, operação muito mais complexa do que qualquer outra etapa do processo. Segundo, porque o dinheiro do consumidor entra no circuito através da distribuição. Daí surgiu a ideia – especialmente do Comando Vernelo, do Rio – de controlar todas as etapas do processo.
A partir desse modelo, há que se analisar o impacto da criminalização das drogas na economia e na sociedade brasileira. A criminalização entregou um mercado pujante às organizações criminosas. Com o tempo, elas diversificaram para contrabando de armas, construção de casas, venda de proteção. Mas nada se compara ao que é gerado pelo tráfico. E elas dominam esse mercado exclusivamente devido ao fato da atividade ser criminalizada. Fosse legalizada, o mercado seria ocupado pela economia formal.
É o que está ocorrendo nos Estados Unidos, especialmente depois que California entendeu que os gases com as políticas anti-drogas, além de extremamente onerosos, não trazia resultados práticos. E que seria melhor legalizar a operação e gastar orçamento em educação e outros gastos meritórios. Hoje em dia, há fundos de investimentos – inclusive sendo vendidos no Brasil – para aplicar na nova atividade, a produção de maconha.
No Brasil, a luta contra a droga é o maior fracasso de política pública da história. É extremamente onerosa e anti-social. O Judiciário se transformou em uma máquina de moer pessoas, com condenações pesadas contra qualquer infração relacionada com a droga, especialmente contra jovens portando poucas gramas de droga e mulheres que atuam na linha de trás ou são presas levando drogas para os maridos nos presídios.
A maior parte desses jovens não completou o ensino básico, por óbvias dificuldades econômicas. Presos por infrações leves, são levados a presídios e obrigados a se submeter à proteção das organizações criminosas. Depois de fichado como traficante, não há retorno. Tornam-se mão de obra barata, Fecham-se para eles as possibilidades de emprego na economia formal, de retomada dos estudos.
No futuro, quando passar o tenebroso período de Bolsonaro, será possível montar políticas econômico-sociais expressivas, em cima da legalização das drogas. Legalizando, sua venda se tornará uma atividade econômica normal, como o cigarro e a bebida, O combate à droga se dará através de campanhas educativas, não da prisão em massa. Nas mãos de um governo moderno, a abertura se dará com a inclusão dos jovens negros atuais no novos mercado de trabalho, com apoio para educação e saúde. Haverá um comércio externo pujante, controle sanitário.
Por enquanto ainda é um sonho. Mas será o caminho inexorável. Até lá, o Judiciário continuará se comportando como moedor de carne negra.
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Ok, Nassif. Tecnicamente, seu comentário é pertinente. Entretanto, é preciso lembrar que, em nossa sociedade, o buraco é mais embaixo. Em primeiro lugar, a política de criminalização das drogas é antiga, muito anterior ao governo Bolsonaro (não dá pra apostar que, quando ele sair, tudo vá melhorar). Em segundo, há uma enorme resistência até à discussão desse tema (descriminalização das drogas) – veja-se a dificuldade para o uso medicinal da maconha, por exemplo, já aprovado cientificamente. Também nessa questão, muita água vai rolar por baixo da ponte, até chegarmos a uma solução civilizada.
Sou totalmente favorável a descriminalizar a venda de todo – TODO – tipo de droga. Mas há de se considerar um ponto: se de hoje pra manhã houver a descriminalização, os que têm poder nas redes de tráfico não vão fazer currículo e colocar no linkedin. Eles vão ter que suprir essa queda grande de fonte de renda em outras atividades : assalto, roubos, extorsões, sequestros, etc. Porque a venda de drogas é o único ramo do crime em que o criminoso não tem que ir atrás de alguém pra arrancar o dinheiro dela. É a pessoa que vai até eles para comprar o produto que não acha no mercado legal. Então, haverá provavelmente aumento de outros crimes – e isso é algo que teria que ser passado para a sociedade, pra ela não achar que descriminalizada a droga, no outro dia some ou vira algo muito fraco facções como PCC, Comando Vermelho, etc.
Acho que a coisa já está no ponto temido. As pessoas são apresentadas às drogas, primeiro sem ter que pagar. Depois pagam para consumir. Depois se viciam e consomem mais do que podem pagar. Aí os credores dão um jeito de coletar o recebível.
Os que não trabalham para o tráfico para suprir seu vício, acabem vítimas de crimes junto com suas famílias.
Luis e Lourdes
Perfeita e oportuna matéria.
O exemplo dos USA, na chamada “Lei Seca”, é exemplar neste sentido. Criminalizaram o consumo de álcool (Lei Seca) e anos depois, na maior surdina, legalizaram o que pouco tempo antes era crime de lesa-pátria.
Naturalmente, hoje, a maioria no Brasil só conhece o assunto pelos “filmes de hollywood”, que nos mostram “paladinos da justiça” (Elliott Ness, …) combatendo os “bandidos” dos traficantes de álcool.
“Qualquer semelhança com a Operação Lava Jato é mera coincidência”, rsrsrs…
Fica a sugestão de pauta para o jornal GGN. Apresentar uma matéria sobre a legalização das drogas em Portugal.
Ninguém está achando que descriminalizar ascdrogas será facil, considerando todas as questaões apontadas e outras não apontadas. Mas depois do 1o impacto e da adaptação de procedimentos (que não será tão rápido assim), as coisas se acomodarão. E pelo menos esse bicho papåo dos hipócritas será domesticado. Ainda bem.
Falam também que um ou outro policial (civil, militar, do estado, de município, da união) jamais gostaria que drogas fossem descriminalizadas, porque eles ganham dinheiro ou deixando passar, ou impedindo que outros participem do negócio.
Quando li sobre os 400 quilos no helicóptero que seria de um senador, ou os 39 quilos num avião da FAB de reserva da presidência, achei que vai ser mais difícil liberar venda e consumo de drogas.
Deus queira.
Se bem que, não nos iludamos: assim que liberadas as drogas e os mercados estiverem regulados direitinho, outras maneiras ilícitas de jungir os indivíduos mais indefesos para ganhar dinheiro por baixo dos panos.
Luis, Lourdes e outros
Deixei a preguiça de lado e fiz uma busca na Internet.
Vejam que bela matéria de “El País” sobre a descriminalização das drogas em Portugal, feita há 20 anos.
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/02/internacional/1556794358_113193.html.
Mais uma vez, Portugal é um exemplo de civilização a servir de referência para o Brasil.
Ao invés de mirarmos sempre a realidade americana e querermos ser uma caricatura das mazelas daquela sociedade, é recomendável prestarmos atenção naquilo que acontece em terras lusitanas.
A legalização das drogas será o primeiro passo para a distribuição gratuita de drogas sintéticas de baixo custo.
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Ou seja, uma forma de retirar por completo a vontade de um povo procurar outra saída que não seja o desemprego estrutural ao nível acima de 90% da população, algo que se vai nessa direção a passos rápidos, é uma das soluções das oligarquias internacionais.
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1) Criação de uma renda mínima universal.
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2) Distribuição de opioides e antidepressivos para dando felicidade sintética transformar todos em zumbis;
O que coloquei acima é algo apocalíptico e distópico, porém depois da eleição de Bolsonaro ficamos livres de pensar em tudo, pois o caminho atual do capitalismo é provocar um desemprego estrutural em massa e para entorpecê-las nada melhor do que drogá-las, não com maconha, crack ou cocaína, mas com opioides vendido em farmácias com receita médica e tudo.
Por enquanto ainda é um sonho. Mas será o caminho inexorável. Até lá, o Judiciário continuará se comportando como moedor de carne negra.
Entre outras coisas…